segunda-feira, 31 de julho de 2017

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 31

Julho é o mês em que celebramos a memória de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus e idealizador da atualmente conhecida Espiritualidade Inaciana. Seu dia é celebrado em 31/07, mas assumimos a proposta de passar os 31 dias do mês com Santo Inácio. Hoje, 31/07, concluímos esta missão com o último texto da Série 31 dias com Santo Inácio de Loyola.


Dia 31: Dez Princípios de Santo Inácio para lidar com a jornada da vida

Uma manhã de junho, Brendan McManus, SJ saiu para uma caminhada mais do que necessária – para ser exato – uma caminhada de 800 km no famoso Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Poucos anos antes, seu irmão havia cometido suicídio, e a tragédia o deixou física, psicológica e espiritualmente ferido. Alguma coisa bem radical era necessária para reacender sua paixão pela vida e renovar sua fé em Deus.
No livro Redemption Road: From Grief to Peace through Walking the Camino de Santiago (Caminho da Redenção: da perda à paz através do Caminho de Santiago), McManus conta a história da sua caminhada, através da lente da espiritualidade inaciana. Não surpreendentemente, ele aprendeu várias lições ao longo do caminho para negociar a jornada da vida.

1) Lembre-se que você é um peregrino que está apenas passando pela vida. Coloque-se na estrada, uma jornada para o desconhecido, e esteja aberto a ouvir o chamado de Deus.

2) Deus é um peregrino que está sempre tentando nos encontrar, mesmo nas situações difíceis. Deus está conosco mesmo que não estejamos com Deus.

3) A caminhada nos coloca em contato com nossos desejos mais profundos, o que realmente nós desejamos. Seguir esses sentimentos nos levará para Deus.

4) Mantenha-se no caminho seguindo os sinais que são encontrados somente com reflexão e meditação. Acredite na sua bússola interior para guia-lo.

5) Aproveite para refletir regularmente sobre a sua caminhada (ou seja, Revisão do dia); seja flexível ao alterar progressivamente as coisas à medida que você caminha. Não tenha medo da mudança.

6) Dedique tempo para tomar suas decisões; elas são momentos importantes de encruzilhada na sua vida. Nunca tome uma decisão apressada - antes, tenha tempo e pondere as opções internamente antes de decidir.

7) Se você se perder, seja humilde o suficiente para retroceder para um ponto conhecido e seguro. Cuidado com o orgulho que o conduz, que pode deixa-lo ainda mais perdido. 

8) As coisas que possuímos são sempre temporárias: não se prenda as coisas com firmeza. Pratique o desapego: use as coisas na medida em que elas sejam úteis, e descarte-as quando elas travem o caminho.

9) Você pode esperar fortes tempestades no caminho. Uma coisa importante é não ser dissuadido do seu propósito, mas manter-se firme nas estruturas de apoio que você confia (oração, discernimento e reflexão). Não altere o curso, anule as decisões ou altere a estrutura no meio da tempestade.

10) Proteger-se é importante, assim como ter boas defesas contra o que pode vir. Isto significa conhecer seus próprios pontos fracos, e áreas 'não livres', onde você pode ser vulnerável. (Inácio recomenda fortificar suas defesas para antecipar os desafios)

Lista extraída do livro Redemption Road, de Brendan McManus, SJ.

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

domingo, 30 de julho de 2017

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 30

Dia 30: Dar nome à graça


Quanto mais nos aproximamos de Cristo, mais queremos compartilhar com ele as coisas que vivemos, até mesmo aquelas aparentemente insignificantes. Esse desejo de partilha nos provoca porque sabemos que ele está lá, no meio de tudo isso, e desejamos tocar sua presença ali na lama e em barro, nos lápis e batatas fritas da minha vida complicada, porém incrivelmente comum. É por isso que o Exame Diário é tão incrível e poderoso. Ele traz meu coração para Deus e Deus para o meu coração.

A palavra graça é usada de muitas maneiras diferentes. Nós podemos considera-la como um dom espiritual ou uma virtude. Se você pudesse pedir a Deus um dom espiritual exatamente agora, o que pediria? Coragem? Paz? Amor? Paciência? Sabedoria? Fortaleza?

Santo Inácio acreditava que é importante estar conscientes da graça (dom espiritual ou virtude) que estamos necessitando ou querendo. Por exemplo: se você teve um desentendimento com um colega de trabalho pela manhã e ficou irritado com isso, deve rezar pedindo a graça da paciência ou da temperança. 

Esse exercício de estar atento à graça que precisamos pode ser feito para qualquer situação vivenciada no dia a dia. Por isso devemos prestar atenção aos nossos movimentos interiores, em quais reações, sentimentos, apelos que surgem durante o dia.

O Exame Diário nos ajuda a perceber os sentimentos que marcaram o nosso dia, como reagimos ao encontro com uma pessoa, a uma reclamação do chefe, a uma reunião de trabalho, a um necessitado que encontramos na rua e nos entende a mão, à perda de um objeto, ao fato de não termos conseguido realizar uma atividade planejada para aquele dia... As reações e sentimentos que experimento diante de cada acontecimento marcante do meu dia me fazem perceber de que graça eu preciso? 

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

sábado, 29 de julho de 2017

Olhos abertos às surpresas de Deus

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 17º Domingo do Tempo Comum - Ano A.

“Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e a compra”

As parábolas do evangelho de hoje nos colocam diante de um fenômeno humano conhecido como serendipitia, serendipidade ou serendipismo: termos que expressam o sentimento de alegria quando encontramos alguma coisa surpreendentemente boa sem que, necessariamente, estejamos procurando por ela; referem-se às descobertas afortunadas feitas por acaso; trata-se de uma forma especial de criatividade, na qual saímos em busca de uma coisa e acabamos encontrando outras muito mais importantes e valiosas.
Estes termos se originam da palavra inglesa “serendipity”, criada pelo escritor britânico Horace Walpole em 1754, a partir do conto persa infantil “os três príncipes de Serendip”. O conto revela as aventuras de três príncipes do Ceilão, hoje Sri Lanka, que viviam fazendo descobertas inesperadas durante o seu caminho. Graças à capacidade deles que aliava perseverança, sagacidade, inteligência e senso de observação, os príncipes acabavam encontrando “acidentalmente” soluções para seus dilemas. Isso revelava uma mente aberta para as múltiplas possibilidades.

A ciência está repleta de casos famosos que podem ser classificados como serendipismo, mas estes só ocorreram porque as pessoas estavam “abertas” a estas descobertas, preparadas e com o senso de observação apurado. A descoberta ocasional dos manuscritos de Qumram, a fotografia, o raio x, a penicilina, a lei da gravidade, a descoberta de Colombo... tem em comum que não foram diretamente buscados, mas, por serem descobertas afortunadas e inesperadas, abriram novos horizontes e tornaram a vida mais bonita e mais agradável. O serendipismo é a pitada que falta no nosso espírito inovador e criativo, que é estar sempre aberto ao inesperado.

O conceito de “serendipidade” é aplicado em muitos setores da vida humana, inclusive no campo da espiritualidade. Serendipidade se refere às descobertas ou encontros afortunados feitos aparentemente por acaso, que muitas vezes possibilitam transformações radicais e positivas em nossas vidas.
Na vida espiritual, o estilo serendipitico ativa em nós o olhar atento, para dentro e para fora, fomenta o assombro e a admiração diante da nossa realidade cotidiana, nos mantém em atitude de abertura para o gratuito e nos faz abertos à Graça e à sua surpreendente novidade.
O verdadeiro segredo está em abrir-nos às oportunidades que a vida nos oferece; é viver a arte de uma apurada sensibilidade e atenção a tudo o que acontece ao nosso redor; trata-se de reconhecer e aproveitar as descobertas inesperadas. Reconhecer, receber, viver e agradecer.
A vida é uma busca incessante por aquilo que consideramos essencial e as descobertas surpreendentes só acontecem quando nos deixamos mover por esse espírito de busca; ser buscador significa ter olhar contemplativo, ou seja, transformar simples observações do nosso dia-a-dia em grandes descobertas.
Por isso, é nas entranhas do cotidiano que brotam as grandes intuições, as experiências místicas, a criatividade artística, os sonhos ousados...; pois é no cotidiano que irrompe o novo e o revolucionário.
É a atitude contemplativa que nos desperta da letargia do cotidiano. E despertos descobriremos que o cotidiano guarda segredos, novidades, energias ocultas que sempre podem acordar e conferir novo sentido e brilho à vida.

A vida espiritual está cheia de “momentos serendipiticos”, ou seja, encontros reveladores e inesperados com Aquele que se revela sempre de maneira surpreendente, através das surpresas da vida. Só aquele que segue as intuições do coração, estando aberto às infinitas possibilidades, pode entrar em sintonia com Aquele que “trabalha em tudo e em todos”. Ao confiar na sua orientação interior, a pessoa vive a sua vida com discernimento, carregando-a de amor e paixão.
Deus constantemente nos surpreende no singelo, nas coisas simples da vida. Muitas vezes nós perdemos a capacidade de ver a sua ação nas pequenas coisas e ficamos esperando grandes sinais. Cada instante é uma chance para perceber esse amor que Ele tem por nós. Se vivemos cada momento ordinário de forma extraordinária, certamente perceberemos a sua ação e seremos surpreendidos por Ele - um encontro com alguém, um gesto de bondade, uma palavra que alguém nos dá, uma paisagem que vemos, enfim, infinitos momentos em que Deus nos fala e nos busca surpreender. Mas, por não prestarmos atenção, por estarmos dispersos em tantas preocupações, por não fazer silêncio em nosso interior, acabamos não percebendo.

O Evangelho também está cheio desses momentos serendípiticos: uma multidão faminta em busca por alimento e aparece um menino com apenas cinco pães e dois peixes; uma mulher samaritana em busca de água e inesperadamente encontra-se com o autor da água viva; o baixinho Zaqueu que desejava apenas matar a curiosidade, é surpreendido por Jesus que deseja ser hóspede em sua casa; as parábolas da descoberta inesperada do tesouro e da pérola...
O papa Francisco, em uma Homilia proferida no Santuário Nacional de Aparecida, convidou-nos a constantemente "deixar-nos surpreender por Deus".
Deus espera que nos deixemos “surpreender por seu amor, que acolhamos as suas surpresas”
O papa nos mostrou como modelo a história do Santuário: três pescadores depois de um dia inteiro sem apanhar peixe encontram, nas águas do Rio Paraíba, a imagem da Senhora Aparecida. Sabemos que os pescadores, após encontrarem a imagem milagrosamente, têm uma pesca abundante e conseguem o que precisavam para atender ao conde de Assumar. O Papa Francisco vai além, vai ao essencial desse episódio para entendermos melhor como Deus atua: “Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, torna-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, sempre nos reserva o melhor”.

O evangelho deste domingo nos motiva a “des-velar” nosso “eu profundo”, o lugar onde habitam os aspectos benéficos da nossa personalidade, as boas tendências, as qualidades positivas, os dons naturais, as riquezas do ser, as beatitudes originais, as aspirações de grande fôlego, as ideias-força, os dinamismos da vida... Ao transitar, de maneira atenta e contemplativa pelos espaços interiores, seremos surpreendidos por descobertas inesperadas que farão toda a diferença em nossas vidas.
O “tesouro do ser” (certezas, intuições, projetos, valores...) ainda que pareça esquecido, permanece armazenado em sua mensagem essencial, e pode tornar-se a força que orienta toda a vida, a sabedoria da própria vida, um lugar de fecundidade, de criatividade, fonte de renovação...
Dentro de nós temos forças construtivas que podem mudar-nos eficazmente. E é preciso dar-lhes curso, não as ocultando e nem as desprezando, mas deixando-as aflorar espontaneamente.
“Que eu me conheça e que te conheça, Senhor! Quantas riquezas entesoura o homem em seu interior!
 Mas de que lhe servem, se não se sondam e investigam” (S. Agostinho)
É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novas vivências, novas experiências... Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode enriquecer-nos...
A vida está cheia de possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, lições que aprenderemos e nos farão um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples...


Texto bíblico:  Evangelho segundo Mateus 13,44-52

Na oração:
A oração ajuda a liberar o “olhar” para contemplar a realidade de outra maneira. Com isso, cada um pode descobrir melhor no seu cotidiano o que há de novidade positiva e salvadora.
-- Contemplar é ter uma sensibilidade para deixar-se surpreender por Deus hoje, ou seja, re-educar o olhar para deixar-se impactar pelo novo, pelo inesperado...

-- Na sua vivência cristã, identifique algumas ocasiões em que você não estava esperando e descobriu algo que se revelou importante para sua vida.

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 29

Dia 29: O Chamado do Rei Eterno


Uma das meditações centrais dos Exercícios Espirituais propostos por Santo Inácio de Loyola é o chamado de Cristo Rei (EE 91), que faz parte da Segunda Semana dos Exercícios Espirituais.

Santo Inácio, ao propor a metodologia dos exercícios espirituais, usou uma linguagem própria baseada na sua experiência de soldado em um reino medieval, era um soldado a serviço de um rei, que convocava soldados para suas batalhas, para defender o seu reino. 

Agora imagine um chamado de um líder temporal que nos inspirou e em seguida imagine Cristo nos chamando para se juntar a ele para ajudá-lo a construir o Reino de Deus na Terra. Isso nos excita ou nos assusta? Isso nos faz esperar? O que o sonho de Deus para o mundo significa para nós?

No vídeo a seguir o Pe. Kevin O’Brien, SJ explica um pouco do objetivo dessa meditação e nos convida a refletir como nos sentimos diante do chamado a assumir a batalhas do Rei Eterno no mundo de hoje e na nossa vida diária. Nossa resposta traduz a disposição de um soldado valente que dá a vida por seu Rei ou de um soldado temeroso que se amedronta diante de uma batalha? 



Se as batalhas e desafios desta vida terrena nos inspiram e impulsionam a dar o melhor de nós, a fazer tudo o que podemos, quão deve nos fascinar o chamado do Rei Eterno a servi-lo e construir o seu Reino... O chamado do Rei Eterno deve nos conduzir ao MAGIS.

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

sexta-feira, 28 de julho de 2017

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 28

Dia 28: Alegria e missão


Jesus não é um missionário solitário, ele não quer cumprir sozinho sua missão, mas envolve seus discípulos. Ao incluir os doze discípulos, ele chama outros setenta e dois e os envia para os vilarejos, dois a dois, para proclamar que o Reino de Deus está próximo de nós. Isto é formidável! 

Jesus não quer agir sozinho, Ele veio para trazer o amor de Deus ao mundo, e Ele quer espalhar isso por meio da comunhão e da fraternidade. É por isso que ele imediatamente forma uma comunidade de discípulos, que é uma comunidade missionária. Ele os treina imediatamente para a missão, para sair.

O Evangelho de Lucas nos relata que os setenta e dois, ao voltar da missão, estavam cheios de alegria porque tiveram a experiência do poder do nome de Cristo sobre o mal. Porém Jesus os alertou: “alegrem-se não porque os demônios se submeteram a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” (Lc 10,20). Não devemos nos vangloriar como se fôssemos os protagonistas, há apenas um: o Senhor! A graça do Senhor é a protagonista! Ele é o único herói, e nossa alegria deve ser apenas essa, sermos seus discípulos, seus amigos.

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

quinta-feira, 27 de julho de 2017

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 27

Dia 27: O processo interno de “deixar ir”


O que tem que acontecer em nosso interior antes que possamos deixar ir os apegos (ou afeições) que estão nos prejudicando? O apego pode ser físico, tal como uma casa ou uma lembrança; pode ser emocional, como um ressentimento sobre um incidente ou o medo de um resultado indesejado. Os apegos podem ser necessidades... A necessidade de entender tudo completamente, ou a necessidade de forçar as coisas a acontecerem de forma que possamos controlar. Os apegos podem ainda ser relacionamentos ou empregos, ou mesmo sonhos.

Quando chegamos à maturidade, a maioria de nós já teve que lidar com um apego que precisava de libertar. Vamos passar por isso muitas vezes antes de concluirmos nossa jornada. Isso pode nos ajudar a refletir sobre o que o processo de desapego é para nós, porque cada um de nós tem um processo que é único para a nossa personalidade, história e situação.

Em termos gerais, temos nos itens a seguir alguns desafios de desapego. Alguns deles podem ser aplicáveis a nós, e alguns não. O objetivo desta lista é nos ajudar a refletir sobre a nossa experiência pessoal.

-- Frustração: Começamos a sentir os efeitos do apego doentio. Sentimos a necessidade de escapar, pelo menos parte do tempo. Tornamo-nos mais impacientes com o relacionamento, com o hábito ou com a posse das coisas.

-- Tristeza: Quando chega a hora de deixar ir, há uma espécie de luto envolvido. Mesmo se você realmente quer deixar algo partir, algo que o acompanhou por algum tempo, você pode experimentar a tristeza da despedida.

-- Raiva: Depois que um apego doentio o feriu repetidamente, a dor pode muito bem dar lugar à ira. Isso não é necessariamente uma coisa ruim, especialmente se isso lhe dá a energia necessária para fazer a ruptura com o que você está agarrando.

-- Visão: Como você abandona sua necessidade de controlar os detalhes de sua vida? Você vislumbra como seria se libertar dessa obsessão. Em uma tarde qualquer você pode experimentar a sensação de desistir da necessidade do controle - e descobrir que foi uma tarde muito agradável! Se o seu apego doentio for uma dieta ruim, você pode desenvolver uma visão diferente de sua vida comendo de forma mais saudável por alguns dias e descobrindo o quanto melhor você se sente.

-- Alívio: Um dia, lhe ocorre a sensação de que você realmente não precisa se apegar a aquele sonho, ou status social ou carro ou apartamento... E você está inundado com essa maravilhosa sensação - isso se chama alívio. Depois de ter experimentado esse alívio - ou pode ser uma coisa mais profunda, como Deus que o perdoa por não ser perfeito - por que voltar?

Esta lista poderia continuar, mas já temos uma ideia geral. Reflita sobre o seu processo de desapego... Que coisas, sentimentos, metas ou sonhos lhe causam ansiedade, aflição, inquietude, frustração, tristeza... E veja o que é preciso deixar ir.  

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

quarta-feira, 26 de julho de 2017

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 26

Dia 26: A oração de consideração


Jesus usava o mundo familiar à sua volta para ensinar as pessoas sobre Deus. Ele convidou as pessoas a prestar atenção nos pardais (Mt 6,26), na semente da mostarda (Mt 13,31-32) ou na figueira (Mt 24,32-35). 
Ele considerava as pessoas e as observava, tais como a mulher samaritana no poço (Jo 4, 4-29) e o cego de Jericó na estrada (Mc 10, 46-52). Jesus usava imagens e estórias baseadas em trabalhos comuns do seu tempo, como os trabalhadores da vinha (Mt 20,1-16) e a parábola dos talentos (Mt 25,14-30)

Hoje, podemos considerar o mundo a nossa volta, as pessoas em nossas vidas e o nosso trabalho, assim como Jesus fez, e ver o que Deus pode estar nos ensinando por meio dessas coisas. Pe. Joseph Tetlow, SJ, em seu manual sobre a anotação 19 dos Exercícios Espirituais, sugere que esta oração de consideração faz mais sentido para aqueles que vivem uma vida agitada e ativa no mundo. Este é um método de oração no qual elevamos a mente e o coração para Deus a partir das circunstâncias concretas de nossa vida cotidiana.

Um dos princípios fundamentais da espiritualidade inaciana é encontrar Deus em todas as coisas. O Princípio e Fundamento nos lembram o valor de buscar Deus em todas coisas: “Todas as coisas neste mundo são dons de Deus, nos são dados para que possamos conhecer mais facilmente a Deus e retornar o Amor mais facilmente”.

Viver uma vida inaciana significa perceber os presentes do mundo e refletir: Como isso me ajuda a conhecer melhor a Deus?

Como podemos incorporar a oração de consideração em nossas vidas diárias? Seguem algumas ideias:

-- Considerar a Criação: olhar para a presença de Deus na beleza da natureza. O que Deus está nos ensinando sobre o ato contínuo da criação?
-- Considerar as Pessoas: após um encontro com alguém, perguntar a Deus, O que está acontecendo com essa pessoa? Como eu experimentei isso?
-- Considerar o Trabalho: observar seus colegas, seus projetos, e suas habilidades profissionais. Fale com Deus sobre seu trabalho.
-- Considerar as Crianças: crianças são mestres sábios. Observe as crianças na sua vida. O que elas estão lhe ensinando sobre Deus?

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

terça-feira, 25 de julho de 2017

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 25

Dia 25: Uma vida examinada


O fruto da prática regular do Exame – ou mais amplamente, a vida de reflexão regular, cumulativa e formativa – consiste em viver com maior atenção, maior prontidão, maior antecipação aos sussurros de Deus.

Eu senti essa disposição interior no final de uma tarde, em uma missão filha mais velha. Nós estávamos visitando lojas em busca de uns materiais que ela precisava para um projeto de feira de ciências do colégio – no meio da hora do rush! – quando, em um momento, simplesmente me ocorreu: Eu realmente estou gostando disso. Apenas minha filha e eu, passando um tempo juntos – foi maravilhoso. Ela está com um pé na infância e outro na adolescência, e fiquei tão feliz em passar esse momento apreciando-a.

O amor nos permite perceber o mistério, a profunda fonte da personalidade da pessoa amada. Naquele momento, eu estava bebendo as memórias de nossa viagem à China para adotá-la: ela era apenas um bebê meses... Eu estava lembrando momentos desses nove anos de convivência... Eu estava ansioso para que chegassem os tempos do ensino fundamental, do colegial, da faculdade, da vida conjugal... Meus medos para com ela, minhas grandes esperanças... Uma série de pensamentos me envolvia. E foi nesse momento em que entramos no carro e retomamos nossas ocupações e pensamentos ordinários.

Uma vida não examinada não vale a pena ser vivida - disse Platão; também, em essência, disse Inácio. É fácil perceber porquê: você perderia muito. 

Então: Examine sua vida, seu dia, suas vivências e experiências e, com muito mais facilidade, perceberá Deus em todas as coisas.

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

segunda-feira, 24 de julho de 2017

A Calúnia e a Verdade

Hoje na Galleria degli Uffizi, em Florença, vi o famoso quadro ‘O nascimento de Vênus’, do pintor italiano renascentista Sandro Botticceli. Mas confesso que o quadro que mais me chamou a atenção se encontrava do lado. Chama-se ‘A Calúnia’, também de Sandro Botticceli. 
‘A Calúnia’

Esta obra leva a reflexões éticas sérias que são fundamentais, principalmente nesta época em que vivemos. Os personagens do quadro são: ao lado direito o rei, que se prepara para julgar o acusado, está sendo mal aconselhado pela Suspeita e a Ignorância. 
Ao centro temos a Calúnia arrastando pelos cabelos o acusado ou caluniado. Ela segura em uma de suas mãos a tocha, como se estivesse mostrando a luz e é conduzida até ao rei pelo Rancor, que está vestido de preto e segura suas mãos. Também a Fraude e a Maldade, belas, adornam o Calúnia. 
À esquerda está o Arrependimento (como uma velha) olhando envergonhado para a Verdade que está totalmente nua, assim como o acusado que não tem nada a esconder. 
Ora, a verdade é nua, tudo revela e, na composição do quadro com todos estes personagens, provoca logo a pergunta “o que é a verdade de um discurso acusatório?” ou então “onde está a nudez?”. 
Considerando a dimensão dual sobre a qual se construiu o mundo ocidental, é válido recordar que cada um destes personagens invoca o seu oposto. Neste sentido, a falta de sabedoria e discernimento leva a acreditar nos conselhos dados pela ignorância, já que em nenhum momento é feita a pergunta “o que é a verdade?”. 
A calúnia é guiada pelo rancor e ressentimento que cega todos aqueles que por ela são contaminados, i.e, ofusca a verdade e sua nudez com a tocha que engana. Isso provoca a questão: “que afetos movem o agir verdadeiramente ético”?. 
Ressentimentos e rancor conduzem a injustiças e isso fica claro nesta era das redes sociais e da intolerância em que notícias falsas (seja da internet ou algo que alguém simplesmente disse no bar) se espalham, são lidas e escutadas como verdade, provocam o rancor e, por vezes, conduzem a barbáries tal qual linchamento público, como já ocorreu, ou a defesa de posições políticas completamente arbitrárias. 
Isso tudo é adornado e enfeitado, assim como ocorre com a cabeça da Calúnia, levando muitos a acreditarem que estão sendo justos, retos e bondosos, enquanto é justamente o contrário. 
Todavia, talvez o mais impactante do quadro seja o Arrependimento (ou a penitência, como estava na explicação em italiano da obra) olhando com vergonha para a verdade. Trata-se de uma vergonha não apenas de ter feito uma injustiça, mas também porque a verdade revela a nossa própria nudez. 
O rancor encobre aquilo que nós somos, mas que caluniamos no outro: mentirosos, egoístas, fraudadores, em certa medida assassinos (mesmo que seja com a própria língua que, com acusações, é capaz de destruir a vida de alguém), injustos e tantos outros vícios que simplesmente temos vergonha de ver em nós. 
A Verdade retratada no quadro de alguma maneira lembra muito ‘O Nascimento de Vênus’ (o que é analisado pelos historiadores da arte), que, na Galleria degli Uffizi, se encontra ao lado da Calúnia. 

‘O Nascimento de Vênus’


Isso de certa forma leva também a pensar na relação entre a verdade com a beleza e o amor, o que também conduz à pergunta “o que é a beleza?” e “o que é o amor e amar?”. 
Apesar de ter pensado um pouco nestas coisas, reparei muito nos brasileiros em cima do quadro “O Nascimento de Vênus”. Talvez seja isso que esteja faltando nos brasileiros: deixar de ficar tirando selfies com quadros famosos só para ficar mostrando para os outros e começar a valorizar a arte, saboreando quadros como 'A Calúnia' de Botticelli... 
A arte também provoca uma educação de si, seja no pensamento teórico ou no agir prático.

Texto de Hugo Estevam, graduado, mestre e doutorando em Filosofia (IFCS/UFRJ) 

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 24

Dia 24: Aplicação dos sentidos


Santo Inácio nos sugere que podemos orar sobre sentidos do mesmo modo que oramos sobre guardar os mandamentos (EE 247). Ele sugere que usemos nossos sentidos para começar a contemplar: ver as pessoas, ouvir o que elas dizem, observar o que elas fazem. Estes são os tradicionais usos dos sentidos.

A aplicação dos sentidos usada na contemplação inaciana é bem distinta e começa logo na Segunda Semana dos Exercícios Espirituais. A partir dele, contemplamos um evento da vida de Jesus por quatro horas a cada dia, começando na primeira hora, por volta da meia-noite. À tarde, sua memória está repleta de imagens, sua mente de significados e seu coração ocupado por afetos e sentimentos. A seguir passa-se para a quinta hora, aplicando os cincos sentidos sobre o evento que tenha sido contemplado (EE 121).

Inácio explica que é só olhar e sentir a infinita fragrância e saborear a doçura da divindade (EE 124). Mas não se abstraia demais: como abraçar ou senta-se embaixo de uma árvore que apareceu na cena do Evangelho. Você deve mesmo é aplicar seus sentidos na alma e nas virtudes das pessoas que você está contemplando: posso sentir o anseio do Jovem Rico (Mt 19,16-22)? Tomé tirou a sua mão quando Jesus a colocou no seu lado (Jo 20, 24-29)?

Com esta aplicação dos sentidos, a contemplação inaciana nunca será uma experiência de sair do corpo, mesmo no seu mais profundo. Nunca é apenas sobre você, porque é tudo sobre os espíritos envolvidos entre eles, você. 

Veja um exemplo de contemplação: 
Eu estou de cócoras em um canto do Cenáculo. Sinto uma calorosa fragrância de pão assando. Nossa Senhora tomou a mão de São Pedro no seu colo, sentados perto de uma parede. O jovem João estava deitado com a cabeça no colo de Tomé, os dois estavam chorando. Ninguém dizia nada. Então todos ouviram um pequeno barulho. Todos pularam: Jesus está de pé lá, sorrindo. Ele diz: “Paz”. Sua voz é profundamente bonita. Ele acariciou o rosto de sua mãe. Pedro ficou ali em pé e Jesus colocou seu braço nos ombros de Pedro. Eles se olharam e alguma intimidade apareceu entre eles. Alguma coisa me consolou e fiquei surpreso como Jesus se aproxima de cada um, afetuosamente. De repente, quase não consigo respirar. Jesus está de pé na minha frente e diz: “Levante-se”. Eu senti a sua mão no meu rosto. Ele me fez olhar para ele, eu vi que ele me ama. Eu continuo olhando e vejo em êxtase: ele me pede para amá-lo. Ele quer que o ame. Isto pareceu acontecer num longo tempo.

Então um sino tocou e eu voltei ao meu quarto, contente de estar entre meus amigos.

Proposta: Faça a experiência de viver uma cena do Evangelho, de perceber os sentimentos, os olhares, os anseios das pessoas envolvidas na cena... Deixe-se tocar pela presença de Jesus, usando todos os seus sentidos.

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

domingo, 23 de julho de 2017

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 23

Dia 23: Ouvindo meu filho
Veja este relato:

Como pais de primeira viagem, meu marido e eu estamos aprendendo um pouco nos últimos tempos. As últimas semanas têm sido preenchidas com novas vistas e sons, novas esperanças e novos medos. No meio de tudo isso, são frequentemente oferecidos conselhos que muitas vezes não são solicitados ou são contraditórios, ainda que bem-intencionados. E assim nós ouvimos, acenamos com a cabeça e deixamos que ele nos lave, absorvendo o que parece valer a pena.

E estamos priorizando ouvir o nosso filho, tentando ler suas reações e sussurros, enquanto ele aprende a nos contar o que ele quer da melhor maneira possível. Claro, esse tipo de vigilância pode ser exaustivo.

Uma conversa frequente com meu marido tem sido algo assim:
Eu, falando sobre o nosso filho, enquanto meu marido o arruma no berço: Ele está respirando?
Meu marido, pausando brevemente: Sim.
Eu: Você tem certeza?
Meu marido: Sim.
Eu: Você pode verificar?
Meu marido, me dando uma olhada e depois obedecendo: Sim.

Então, estou tentando pedir a Deus para acalmar esses medos e preocupações, para me ajudar a estar presente ao meu filho, não por preocupação, mas com uma sensação de alegria e amor. 
É claro que a resposta de Deus a isso às vezes é tão difícil de interpretar quanto os sussurros do meu filho. Ainda assim, trabalho para encontrar esse equilíbrio.

No final de uma noite quente, uma luz externa ao nosso apartamento passa pela janela, mas não é suficiente para iluminar o rosto do meu filho enquanto ele está dormindo no cercadinho em nossa sala. E então eu me aproximo dele e seguro o meu próprio suspiro por um momento para ouvir o dele. E eu ouço suas pequenas respirações, e eu sorrio e volto para a cama. E então eu ouço um pequeno sussurro, meus novos sons favoritos. Eu o abençoo. Então dou graças por tudo isso, por essa pequena voz que me diz muito sem dizer nenhuma palavra.

Para refletir: Como procuro ouvir os sussurros de Deus em minha vida? 

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

sábado, 22 de julho de 2017

O “Lado Mau Amado” de Nossa Vida

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 16º Domingo do Tempo Comum - Ano A.

“Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita” (Mt 13,29-30)

A Bíblia fala sempre da vida humana. Nela encontramos inúmeras referências à questão da sombra ou do lado obscuro em nossa vida.
Textos emblemáticos são as parábolas de Jesus que des-velam o que somos, o que está acontecendo em nosso interior; em certo sentido, assemelham-se a uma descrição de nossa realidade interior. Não são contos moralizadores; todos os personagens que aparecem somos nós. Por isso, as parábolas são tremendamente iluminadoras. Com efeito, cada um de nós é um tipo diferente de terreno; cada um, o trigo e o joio; cada um, os dois filhos; cada um, o fariseu e o publicano..., e assim por diante, em todas as parábolas.
O primeiro e o mais claro que se revela na parábola que a liturgia nos propõe para este domingo, é que a realidade da vida humana é de tal condição, que nela sempre vão estar mesclados o bem e o mal, o trigo e o joio, a boa e a má erva. Este é o fato.
Todos gostaríamos que as coisas acontecessem de outra maneira. E que, portanto, não teríamos que ver cada dia tanto joio sufocando o bom trigo que cresce e dá vida.
Em nosso interior também sentimos cruamente o trigo e joio, e gostaríamos de ser um bom campo de trigo, desses movidos pelo vento, que antecipam um pão abundante; e todo joio que aparece junto a esse trigo nos molesta, desejaríamos arrancá-la e como, depois de muito esforço, não conseguimos, então empreendemos a tarefa de ir buscar joios em campos alheios com um fervor que impressiona.

A parábola do joio e do trigo revela a tendência humana em realizar os ideais de perfeição e distanciar-se cada vez mais de sua condição de criatura. O ideal é o ser humano “puro” e “justo”, sem qualquer imperfeição ou fraqueza. Tal tendência nos leva ao rigorismo contra nós mesmos, ou seja, nos leva a proceder com violência contra nossas próprias limitações.
Aquele que, a qualquer preço, deseja ser “perfeito”, em seu campo não irá crescer senão um trigo raquítico. Nas nossas raízes o joio está intimamente misturado com o trigo. Quando alguém não admite em si nenhuma falha, com suas paixões ele arranca também a própria vitalidade, com a fraqueza ele destrói também a própria força. Muitos perfeccionistas e idealistas se fixam de tal maneira sobre o joio em seu interior que só pensam em eliminar as falhas, de tal modo que a vida mesma fica prejudicada.
De tão perfeitos, eles ficam sem força, sem paixão, sem coração.
Numa espiritualidade “perfeccionista”, o ideal é o homem-mulher puro (a) e santo (a), sem defeitos nem fraquezas. Mas isso leva a um rigorismo moral, contra o qual parece dirigir-se a parábola deste domingo. A arte da humanização consiste na reconciliação com a própria sombra. O ser humano comporta em si amor e ódio, razão e emoção, gentileza e dureza...
Muitas vezes vivemos apenas um polo e recalcamos o outro. Enquanto este permanecer nas sombras terá um efeito destrutivo. Muitos ficam chocados quando, apesar de todo esforço para serem pessoas amáveis e gentis, descobrem em si lados insensíveis, antipáticos e ofensivos.

Um outro aspecto que aparece na parábola é que os “trabalhadores do Senhor”, ou seja, os que se veem a si mesmos como os vigilantes da ortodoxia e da moralidade, tem a tendência de querer logo arrancar o joio. Ou seja, não toleram que o bem e o mal estejam misturados. E querem um campo limpo de tudo o que eles veem como joio. Normalmente, esta tendência daqueles que se consideram como “vigilantes do bem” costuma desembocar na intolerância e inclusive na intransigência e no fanatismo.
Na “parábola do trigo e do joio” , o impaciente é nosso orgulho, que gostaria de chegar de imediato aos resultados para ficar “satisfeito”.
Enquanto vivermos, o joio crescerá no campo do nosso interior. Conviver com isso nos faz mais humildes e nos protege de uma dureza falsa em relação a nós mesmos e aos outros.
A sabedoria de Jesus convida-nos a reconhecer em nós, misturados, o trigo e o joio. Este último, que é semeado “durante a noite”, isto é, na obscuridade do inconsciente, podem ser nossas próprias sombras, aquilo que tentamos eliminar porque se mostra incômodo para nós e não combina com nossos ideais pré-fixados... E Jesus não nos pede que sejamos só trigo – essa é a armadilha de toda espiritualidade farisaica –, mas que aceitemos nossa verdade completa e reconciliemos também com o “nosso lado obscuro”

Numa leitura moralista e dualista da vida, nós gostamos de separar o bom do mau, os que pensam como nós e os que não pensam como nós, os que são dos nossos e aqueles aos quais não os levamos em conta.
Há muitas pessoas que, não só se sentem capacitadas, senão que além disso estão empenhadas em arrancar o quanto antes o que elas pensam que é a erva má. São os intolerantes, os que não suportam aqueles que fazem ou dizem o que eles creem que não se deve fazer nem dizer. Por isso não respeitam o pluralismo, nem a diversidade. Exigem que todos lhes respeite, mas eles se consideram com direito a não respeitar o dissidente, o diferente ou simplesmente o outro.
No entanto, o Senhor (dono do grande campo da vida) não quer que ninguém se veja no direito de discernir o que é trigo e o que é joio. Mas, sobretudo, o Senhor não tolera que ninguém se constitua em juiz que, como consequência, vai pela vida arrancando tudo o que a ele lhe parece que é joio. Porque pode equivocar-se. A religião não tem nem autoridade nem competência para decidir o que é joio na sociedade. E menos ainda tem competência para arrancar essa presumível joio.
Somente o Senhor pode saber quem é trigo e quem é joio.

O ensinamento do evangelho de hoje é claro: sejamos tolerantes e respeitosos. Não julguemos, não condenemos e deixemos a Deus ser Deus. Nós não somos “deuses”.
A fertilidade da nossa vida nunca é expressão de uma impecabilidade absoluta, mas resulta da confiança no fato de que o trigo é mais forte do que o joio e de que o joio poderá ser separado na colheita.
Em tudo que fazemos devemos ser permeáveis ao Espírito de Deus. Mas sempre devemos permanecer humildes e contar com a possibilidade de que nossas atividades cotidianas se misturem com segundas intenções. Essas são o joio. Mas isso não significa que devemos deixar o joio determinar a nossa vida, através do seu crescimento irrefreado.
A questão de fundo é esta: qual dos dois alimentamos em nossa vida: o joio ou o trigo?
Aqui se trata de pôr ambos, o trigo que cresce em nós e o joio que espreita, sob o olhar e o cuidado do Semeador; porque só Ele é que pode fazer a colheita. O decisivo é colocar o Senhor no centro de nossa vida; e onde Ele encontra espaço de atuação, ali o trigo cresce viçoso e produz frutos.
O caminho do seguimento de Jesus não visa nos transformar em pessoas perfeitas e impecáveis. Antes, deseja encorajar-nos a conviver com nossos lados sombrios. O seguimento de Jesus, portanto, não é combate interno que desgasta, visando eliminar o joio, mas abrir espaço para que o Semeador atue com sua Graça.

Texto bíblico:  Mt 13,24-43

Na oração:
A vida cristã nos faz especialistas em interioridade precisamente porque somos levados a percorrer, mil e uma vezes, todos os meandros de nosso interior para encontrar, transcendendo luzes e sombras, a Presença criadora que tudo sustenta e vivifica.
E é simplesmente dessa maneira que nos tornamos mais humanos e, portanto, mais divinos.

- Quê lucidez você tem de sua própria sombra (joio) e qual a sua atitude com relação a ela? Quê atitudes você assume para que o trigo determine sua vida?

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 22

Dia 22: Encontrar Deus nas emoções negativas


Enquanto frequentemente enfatizamos o papel da consolação na Espiritualidade Inaciana, devemos pensar sobre como encontrar Deus nas emoções negativas.  Sem querer enfocar os sentimentos de tristeza, raiva, decepções ou outras fortes emoções que Deus vem para nos confortar, amenizar ou nos encorajar, também é verdadeiro pensar nos casos em que as emoções são negativas, emoções que não nos fazem sentir bem- apesar de indicar a existência da presença de Deus. 

Aqui vão três exemplos:

-- RAIVA JUSTA: Enquanto muitos pensam que a raiva é uma emoção ruim, a visão de Aristóteles considera que a raiva justa é uma virtude se for direcionada para as pessoas certas, sobre um direito e por um certo período de tempo. Devemos considerar as instâncias de injustiça social, a fome depois de uma tempestade, os sistemáticos atos de racismo, ou a terrível pobreza em contraste com uma grande riqueza social. A raiva pode ser um primeiro ato do despertar a consciência, que nos ajuda a perceber a injustiça.

No livro do profeta Amós, Deus expressa raiva sobre os povos ricos de Israel por “comprarem o pobre com moedas de prata e o necessitado por um par de sandálias” (Amós 8,6)

Não se deve alimentar nossa raiva. Eventualmente a raiva pode se transformar em amor, compaixão e paciência, mesmo contra aqueles que causam ou perpetuam a injustiça. Porém raiva pode ser tornar uma emoção saudável pela qual Deus nos guia a considerar a injustiça social.

--TRISTEZA: Muitas vezes não são os outros, mas nos mesmos que causamos uma injustiça ou machucamos os outros. Tristeza e contrição pode nos deixar péssimos. 

Quando jovem, na escola, ocasionei um acidente jogando uma bola num famoso candelabro. Me senti completamente envergonhada e tive que confessar aos professores o que tinha feito. Felizmente os professores entenderam e eu não fiquei com reputação de ser para sempre "a menina que quebrou o candelabro "

Porém tristeza e pesar são emoções quando atuamos erradamente. A verdadeira tristeza nos leva ao outro um “me desculpe”. Tristeza pode nos levar a conversação, a humildade e finalmente ao perdão. Desta maneira, tristeza já é um sinal de Deus em nos.

-- SAUDADE: Quando estamos longe da pessoa que amamos, sentimos a perda de sua presença. Sentimos pesar por aqueles que foram antes de nos. Sentimos saudade quando perdemos uma comunidade de pessoas depois de uma interessante troca de experiências. Saudade nos traz uma sensação de “um buraco no coração”. 

Esses sentimentos de saudade são sinais de um grande apreço e conexão com o outro. Sentimos saudades na falta de nossos parentes quando vamos viver em outra parte do país.

Da mesma maneira podemos sentir que Deus está ausente e nessa sensação a consolação desaparece e sentimos então uma sensação de secura e aridez. 

Porém Deus ainda está presente, mesmo numa grande saudade,  e para os outros que estão conectados com Ele, a saudade nos aponta para Deus, a fonte mais profunda e o objeto do nosso amor.

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality

sexta-feira, 21 de julho de 2017

31 dias com Santo Inácio de Loyola – Dia 21

Dia 21: Prove e veja: Experimentando Deus com o sentido do Olfato


Pare e cheire as rosas: é um convite familiar. É um chamado para diminuir a velocidade e aproveitar a vida à medida em que a vivemos.
Existem muitas maneiras diferentes de fazer pausas na vida. Nós poderíamos sugerir: parar e olhar para o céu ou parar e ouvir o canto dos pássaros... Mas vamos considerar agora o sentido do Olfato, reconhecendo o poder do cheiro e de perfume em influenciar positivamente nossa vida diária.

Obviamente, há momentos em que o sentido do olfato parece mais uma maldição do que uma bênção. Uma fralda fedida, um lixo rançoso ou aquele perfume superforte em um elevador lotado pela manhã pode nos fazer desejar, temporariamente, que houvesse quatro sentidos em vez de cinco.

Mas o fato é que o sentido do olfato pode ser uma boa oportunidade para melhorar nossa qualidade de vida. Quando você considera o encanto das velas perfumadas e da aromaterapia, você vê o poder que um perfume agradável pode ter e com que frequência o usamos para melhorar nosso bem-estar.

O cheiro também está muito conectado com a memória, tanto que uma certa fragrância pode trazer de volta o passado em instantes. Anos atrás, lembro-me de estar na fila da Comunhão atrás de uma senhora que estava com um perfume igual ao último que a minha avó usava.  Embora tivessem passado anos desde a morte da minha avó, o cheiro me inundou com a súbita lembrança de sua presença. Foi um pequeno presente, como a graça, que vem do nada, mas é tão bem-vinda.

Mesmo que não seja traga memórias, uma fragrância convidativa pode mudar nossa experiência de um momento. Quando cheiramos algo que amamos, queremos saborear, o que implica pausar o que quer que estejamos fazendo, e inalar profundamente, saboreando a fragrância. Isso é diferente da nossa respiração na maior parte do tempo, que muitas vezes é superficial e rápida, principalmente quando estamos ocupados. Saborear o aroma de algo significa respirar intencionalmente, devagar. Isso significa preencher nossos pulmões de uma forma que nos centra e nos relaxa. Significa pausar em uma apreciação que é seu próprio tipo de oração.

Então, parar e cheirar rosas – ou um café fresco, ou uma floresta de pinheiros, ou as páginas de um livro novo – é algo realmente muito bom. É bom para o corpo; é bom para a nossa mente; é bom para nossas memórias. E, como lembrança da doçura da criação de Deus, é bom para a alma.

Proposta de ORAÇÃO:

Inicie: Centralize-se. Respire profundamente três vezes e procure se abrir a presença de Deus.

Agradeça: Agradeça a Deus pelo dom do olfato, pelas coisas do mundo criado que geram aromas convidativos e pelas lembranças do seu passado.

Reveja: Pense nos seus aromas favoritos. Faça uma lista deles se desejar. Pense nos momentos em que você os apreciou e pela alegria que eles lhe trouxeram.

Você já teve a experiência de cheirar algo e instantaneamente s lembrar de um lugar, uma pessoa ou uma experiência?  Como foi? Compartilhe a memória com Deus.

Pense em algumas de suas atividades favoritas. Qual o papel do cheiro em cada um deles? Imagine tomar um café no final da tarde sem sentir o cheiro... Comer um bolo de cenoura sem seu perfume... Ir a praia sem o cheiro do mar... Pense em como esses cheiros melhoram a experiência.

Olhe adiante: Amanhã, preste especial atenção aos cheiros que você encontra ao longo do seu dia. Quando terminar o dia, demore alguns minutos para revisá-los e perceber dos quais mais gostou.

EXPERIMENTE: 
Quando você sentir um cheiro que o agrade muito, tome um tempo para apreciá-lo. Respire profundamente e deixe seu corpo relaxar ao saborear o perfume. Pense na bondade e no amor de Deus enchendo você com cada respiração lenta e renovadora.

Fonte: Adaptação livre do site Ignatian Spirituality