sábado, 28 de novembro de 2015

Advento, deixa-te surpreender

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana -CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do Primeiro Domingo do Advento - Ano Litúrgico (Ano C), preparando-nos para as festividades do Natal.


 “...levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lucas 21,28) 

Mais uma vez o Advento vem ao nosso encontro, e com ele o convite para continuar ampliando espaços para Deus em nossas vidas. Uma oportunidade para escutar de novo sua promessa: promessa de nova vida, de um novo ânimo, uma nova esperança.

Podemos acolher este tempo com a marca da rotina (mais um ano, repetir as mesmas palavras, a espera, o “vem, Senhor”...); ou mobilizando-nos e abrindo-nos à surpresa de Deus, que virá a nós como chamado, como possibilidade, como grito para despertar-nos... Que nos abramos ao novo!

O melhor do Deus que vem é que Ele se manifesta de maneiras inesperadas: desfaz certezas, rompe convenções, renova sonhos, não busca brilhos ou ornamentos, aplausos ou adesões forçadas. Sua chegada não exige cobranças nem condiciona com exigências desmedidas. A esperança abre passagem por onde menos esperamos. E Deus continua aparecendo onde e quando ninguém espera.

Para “conhecer” a realidade e a verdade do Advento precisamos de olhos novos e de um coração novo.
É necessário despertar aquela “sensibilidade” escondida e abafada pelo ativismo e pelo ritmo estressante de nossa vida. No Advento, toda a humanidade é atingida como que por um raio, é tomada de surpresa. 
A sua noite, o seu silêncio, o seu sono, a sua rotina diária... é quebrada por uma novidade absoluta.
O Advento é, por sua própria natureza, uma surpresa que quebra a solidão das pessoas abandonadas a si mesmas, que irrompe no meio de uma vida sem sentido e sem direção, que traz luz para os ambientes fechados e frios.

A “sensibilidade” despertada pelo Advento recupera em nós o sentido da surpresa,  recobra a atitude da expectativa, da novidade, do assombro... diante da vida. Porque é no traçado das horas e dos dias que Deus prepara sempre a sua novidade, a sua surpresa, o seu dom natalício. Tal surpresa faz brotar o entusiasmo para enfrentarmos os desafios da vida, despertando projetos arquivados, suscitando dinamismo novo no cotidiano pesado, fazendo-nos levantar de novo e retomar o caminho...

Precisamos conservar límpidos os olhos do espírito, prontos para perceber a maravilha que está germinando na nossa vida. O Advento quer reafirmar a possibilidade de uma alternativa, da chegada de um hóspede inesperado, porque é “boa nova”, é evangelho.
Por isso, o cristão não deve jamais cair na resignação, mas permanecer em vigília, na expectativa; ele deve ser também uma surpresa para os outros, com seu gesto de amor imprevisto, com sua palavra que reanima, com sua visita que consola, com sua atenção para com todos os que levam uma vida obscura e monótona. Ele olha o mundo com inteligência, sim, mas também com a simplicidade das pombas; sabe intuir o bem secreto, também sabe apreciar a poesia da vida e da natureza.


No evangelho de hoje, Jesus dá por suposto a existência de situações desastrosas que nos sacodem, enchendo-nos de ansiedade e preocupação; mas, onde nós só vemos catástrofes, Jesus vê “sinais”. E a condição para descobri-los é erguer a cabeça, levantar os olhos, ir mais além do imediato que nos cega e nos prende em redes de desejos insatisfeitos, em obsessões por conservar modos de vida que considerávamos definitivos, em temores que embotam nosso coração impedindo o fluir da vida.

Curvados sobre nós mesmos, sem horizonte, sem poder olhar de frente, nem entrar em relação de reciprocidade, carregando durante longo tempo um peso excessivamente grande (culpa, ressentimento, vergonha), bloqueados, privados de nosso próprio potencial: este é o drama que nos desumaniza. Nossos corpos encurvados se fazem texto, linguagem, grito, petição... para serem endireitados. Nesse contexto ressoa com força o apelo de Jesus: “levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”.

Nosso corpo fala mais e com mais veracidade que nossas palavras, o que irradiamos revela algo sobre nós. E há corpos que em silêncio clamam por cura e cuidado. É preciso interrogar nossos corpos para que eles nos contem suas histórias guardadas: seus segredos, suas dores, suas vivências. Devemos ser capazes de lê-los e respeitá-los, para poder devolver-lhes sua harmonia e sua beleza originais.

É nosso próprio corpo posto de pé, é nossa própria vida circulando sem  ataduras, é a libertação de nossas forças afetivas, a possibilidade de olhar outros olhos sem temor e de entrar em comunicação... que nos faz experimentar uma relação nova com a vida.

Aspiração, sede, ansiedade, expectativa, estar de pé: isso é o que nos invade quando sentimos que se aproxima algo que desejamos de verdade. Pois isso é o Advento: tempo para os grandes sonhos.
Só os medíocres ou os desesperados renunciam a sonhar.
Pois bem, se o desânimo nos assalta, é tempo novo para levantar a cabeça, olhar ao longe, bem para fora, bem para dentro. Deixar que ressoe como uma promessa a Voz de um Deus que atravessa o tempo para dizer-nos: “aproxima-se vossa libertação”. 
Mergulhados naquilo que é margem, passageiro, na superfície das coisas, perdemos de vista o essencial e caímos na resignação. Perdida a capacidade de maravilhar-nos, o Advento esvazia-se e torna-se mais um tempo litúrgico rotineiro.

Poderíamos dizer que o Advento nos apresenta uma “espiritualidade do despertar”. Se estamos adormecidos ou anestesiados, sem nos encantar com a maravilha e o desafio de estarmos vivos, precisamos despertar. Despertar para a gratuidade da vida, para o chamado à convivência e comunhão, despertar para uma presença misericordiosa. Jesus vem despertar-nos e ativar nossa esperança.
É preciso saber olhar, abrir os olhos, ler a vida e despertar-nos para aquilo que acontece à nossa volta.
Se há uma palavra que perpassa todas as tradições religiosas, essa palavra é “despertar”, não no sentido individualista e moralizante, ou seja, manter um adequado comportamento moral para, desse modo, alcançar a salvação.
O chamado original a “despertar” reveste-se de uma profundidade muito maior, que conecta com aquela palavra com a qual Jesus inicia sua atividade pública: “convertei-vos”. Na realidade, trata-se de um novo modo de olhar ou de conhecer, de um “conhecer mais além da aparência”.
Quê significa “despertar”? Em quê sonhos estamos mergulhados? Como dar-nos conta de que estamos “adormecidos”? Há algo que possamos fazer?... Todas estas questões são evocadas pelo convite que aparece na boca da Jesus: “Estai sempre despertos”.
A pessoa desperta é aquela que experimentou intensamente a vida e, graças a isso, vive ancorada, enraizada e conectada com a sua verdadeira identidade, ao seu eu original e universal.

Texto bíblico:  Lucas 21,25-28.34-36

Na oração: Quando foi Deus, para você, o Deus inesperado?”

                     Em quê se concretiza para você a promessa de Deus? Quê espera ou deseja de verdade? Qual é a boa notícia na qual você acredita? Como vive você este Advento? Quê há, em sua vida, de busca, sonho, aspiração, desejo... Em sintonia com Deus?

Retiro Advento 2015

O Tempo do Advento abre o ano litúrgico e nos prepara para as festividades do Natal. Este período é caracterizado pela simplicidade de elementos externos que tornam a celebração litúrgica mais sóbria e, ao mesmo tempo, estimula a profundidade da espiritualidade, que brota das orações e dos textos da sagrada escritura.
O SIES (Serviço Inaciano de Espiritualidade) de Manaus (AM) preparou e disponibilizou o material para o Retiro do Advento 2015. Durante a experiência, o participante deverá dedicar 30 minutos diários a oração. Nesse período, é importante encontrar um tempo propício para estes exercícios.
Segundo o padre Luís Renato Carvalho de Oliveira, assessor do SIES, "o Advento é tempo de espera, de preparação e de chegada. Tempo forte carregado de sentido, que nos faz ter acesso àquilo que é mais humano em nós: o sentido da esperança, a travessia, o encontro com o novo". O material do Retiro do Advento baseia-se em exercícios de oração, sugeridos e elaborados pelo SIES.

As paróquias ou grupos que tiverem interesse podem organizar esta experiência em seus próprios lugares. Para aqueles que não tem condições de reunir fisicamente um grupo, é possível promover o encontro on-line. Todos os anos, a EAD Século 21 oferece o Retiro do Advento em sua plataforma. Além de disponibilizar os textos, são oferecidos também Fóruns de Debates pelos quais os participantes podem partilhar sua experiência de oração e meditação. Acesse o conteúdo pelo site www.rs21.com.br/ead.  
 
O material do Retiro do Advento 2015 está disponível em PDF nos links abaixo:

Tempo do Advento


Estamos começando um novo Ano Litúrgico!

O Ano Litúrgico é o “calendário católico”. Contém as datas dos acontecimentos da história da salvação, a partir de uma perspectiva cristã. Não coincide com o ano civil, que começa no dia primeiro de janeiro e termina no dia 31 de dezembro. O Ano Litúrgico começa e termina quatro semanas antes do Natal. Tem como base as fases da lua. Compõe-se de dois grandes ciclos: o Natal e a Páscoa. São como dois pólos em torno dos quais gira todo o Ano Litúrgico.

O Natal tem um tempo de preparação, que é o Advento; e a Páscoa tem também um tempo de preparação, que é a Quaresma. Ao lado do Natal e da Páscoa está um período longo, de 34 semanas, chamado Tempo Comum. O Ano Litúrgico começa com o Primeiro Domingo do Advento e termina com o último sábado do Tempo Comum, que é na véspera do Primeiro Domingo do Advento. (Fonte: Portal Catequese Católica)

  http://www.cifnsv.com/2009/images/stories/advento2%202.jpg

Tempo do Advento
A palavra “advento” tem origem latina e significa “chegada”, “aproximação”, “vinda”. No Ano Litúrgico, o Advento é um tempo de preparação para a segunda maior festa cristã: o Natal do Senhor. Neste tempo, celebramos duas verdades de nossa fé: a primeira vinda (o nascimento de Jesus em Belém) e a segunda vinda de Jesus (a Parusia). Assim, a Igreja comemora a vinda do Filho de Deus entre os homens (aspecto histórico) e vive alegre expectativa da segunda vinda d’Ele, em poder e glória, em dia e hora desconhecidos (aspecto escatológico).

Como se estrutura o Tempo do Advento

O tempo do Advento não tem um número fixo de dias e depende sempre da solenidade do Natal. Ele começa na tarde (1ª Vésperas) do primeiro domingo após a Solenidade de Cristo Rei e se desenvolve até o momento anterior à tarde (1ª Vésperas) do Natal. Ele possui quatro semanas e, por isso, quatro domingos celebrativos. O terceiro domingo do Advento é chamado de domingo da alegria (gaudete, em latim) por causa da antífona de entrada da missa (Alegrai-vos sempre no Senhor), mostrando a alegria da proximidade da celebração do Natal. O tempo do Advento se divide em duas partes. A primeira, que vai até o dia 16 de dezembro, é marcada pela espera alegre da segunda vinda de Jesus. A segunda, os dias que antecedem o Natal, se destaca pela recordação sobre o nascimento de Jesus em Belém.

As figuras Bíblicas principais do Advento

Dois personagens bíblicos ganham destaque na celebração do Advento: Maria e João Batista. Ela porque foi escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador, e ele porque foi vocacionado a ser o precursor do Messias. Ela se torna modelo do coração que sabe acolher a Palavra e gerar Jesus. Ele se torna modelo de uma vida que sabe esperar nas promessas de Deus e agir anunciando e preparando a chegada da salvação. Em ambos se manifesta a realização da esperança messiânica judaica e o anúncio da plenitude dos tempos.

Espiritualidade do Advento

A espiritualidade do Advento é marcada por algumas atitudes básicas: a preparação para receber o Cristo; a oração e a vivência da esperança cristã. A preparação para receber o Senhor se dá na vivência da conversão e da ascese. Devemos ter um olhar atento sobre nós e a realidade que nos cerca e nos empenharmos para correspondermos com a ação do Espírito de Deus que quer restaurar todas as coisas. O nosso relacionamento com o nosso corpo e os nossos afetos, com nossos familiares e pessoas íntimas, nossa participação na vida eclesial e social devem estar no foco de nossa atenção. A preparação para celebrar o Natal demanda uma confissão sacramental bem feita e um propósito firme de renovação interior.

“Orai a todo momento”

Este tempo é marcado por uma vivência mais profunda da vida de oração. A leitura orante deste período nos coloca em contato com as profecias de salvação do Antigo Testamento, com a expectativa que os cristãos da Igreja primitiva tinham da Parusia e com os eventos principais que antecederam o nascimento de Jesus. A recordação dos eventos que antecederam a primeira vinda de Cristo se torna a base da preparação da Igreja para o novo Advento do Senhor.

O Advento nos propõe entendermos todas as coisas na sua relação com Deus e usarmos elas como meios de estarmos com Ele, colocando nossa esperança nas realidades que não passam.

(Texto do Pe. Vitor Gino Finelon - Fonte: Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro)

Leitura complementar sugerida: Advento - Tempo de espera e esperança 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Dia de Ação de Graças

Hoje (26/11/2015) é o Dia Nacional (e Internacional) de Ação de Graças. 

Dia de rezar a virtude da gratidão: a Deus, aos irmãos, à família, à comunidade, à natureza, à vida... Por tantos dons e por todo o bem que se realiza a cada instante.

Origens do Dia de Ação de Graças: 

O primeiro Dia de Ação de Graças foi celebrado em Plymouth, Massachusetts em 1621, pelos colonos ingleses que fundaram essa vila no ano anterior. 
A colheita de 1620 foi má, e os colonos somente sobreviveram o inverno rigoroso pela ajuda do povo indígena. No ano seguinte tiveram uma boa colheita de milho. 
Por ordem do governador da vila, agradecendo a Deus por esta safra que garantia a sobrevivência em outro inverno, a festa foi marcada no início do outono de 1621. 
Homens de Plymouth mataram patos e perus. Outros alimentos que faziam parte do cardápio foram peixes e milho. Cerca de noventa índios também participaram do festival. 
Todos comeram ao ar livre em grandes mesas. (Pe. Paul A. Schweitzer, SJ - Assessor Regional da CVX-Rio de Janeiro)


sábado, 21 de novembro de 2015

Verdade des-velada

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana -CEI), como sugestão para rezar o Evangelho da Festa de Cristo Rei, celebrada este ano no dia 22 de novembro, de acordo com o calendário litúrgico. 

 “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37)


A liturgia encerra o “ano litúrgico” celebrando “Cristo rei”, festividade promulgada em 1925 pelo Papa Pio XI. Mas, no atual contexto sociocultural, como soa em nossos ouvidos o título de “Cristo rei”? Este título nos permite fazer uma ideia justa de quem é Jesus de Nazaré? Tem sentido falar de “Cristo rei”?
Para começar, é preciso reconhecer que se trata de um “rei” pouco convencional: seu trono é uma cruz e sua coroa é de espinhos. Um rei bem estranho, pois afirmou: “Não vim para ser servido, mas para servir”.
Frente a isto, o evangelho de hoje revela-se surpreendente e até escandaloso, porque nos apresenta esse título numa situação de humilhação e impotência extrema: na Paixão, com insultos, escárnios e zombarias dos chefes judeus, de Pilatos, dos soldados romanos...
Diante dos donos do poder e das autoridades religiosas que se julgavam em posse da verdade e que tinham um Deus feito à medida de seus interesses, Jesus afirma que “veio para dar testemunho da verdade”. De acordo com o evangelista João “ser rei” equivale a ser “testemunha da verdade”; e isso a tal ponto que com essas palavras se define a missão de Jesus: “Eu nasci e vim ao mundo para isto”.

Esta afirmação desvela e define a trajetória profética de Jesus: sua vontade de viver na verdade de Deus. Jesus não só diz a verdade, senão que busca a verdade e só a verdade de um Deus que quer um mundo mais humano para todos os seus filhos e filhas. Diante dessa verdade Jesus se revela verdadeiro, pura transparência. “Por isso Jesus fala com autoridade, mas sem falsos autoritarismos. Fala com sinceridade, mas sem dogmatismos. Não fala como os fanáticos que procuram impor sua verdade. Tampouco fala como os funcionários que a defendem por obrigação embora não creiam nela. Não se sente nunca guardião da verdade mas testemunha” (A. Pagola).
Jesus não transforma a verdade de Deus em propaganda. Não a utiliza em proveito próprio mas em defesa dos pobres e excluídos. Não tolera a mentira ou o encobrimento das injustiças. Não suporta as manipulações. Jesus se converte assim em “voz dos sem voz, e voz contra os que tem demasiada voz” (Jon Sobrino).

Quem é verdadeiro se move com muita liberdade em direção à verdade presente nos outros; não usa máscaras, não se impõe... Sua verdade vibra e se encanta com a verdade presente no outro. Verdades que se encontram, que entram em comunhão, que humanizam...
Toda pessoa verdadeira, transparente... incomoda, é provocativa... porque desmascara as nossas mentiras, nossas falsidades ocultas... Por isso é rejeitada.
É difícil até definir e discernir o que seja a verdade, sobre o que é verdadeiro ou falso.
Pilatos, no evangelho de João, pergunta a Jesus: “O que é a verdade?” (18,38).
Maior dificuldade ainda reside na imposição da verdade, em querer fazer o outro aceitar como verdadeiro aquilo em que eu acredito. Tentar convencer os outros gera conflito. Mas nem sempre nos contentamos com os argumentos. Especialmente quando o assunto é religião, existe a tendência de querer impor, pela força, pelo medo, aquilo que acreditamos ser verdadeiro.
Quanto fanatismo! Quanto dogmatismo! Quanto fundamentalismo! E tudo isso em nome de Deus.
“A verdade também pode ter suas vítimas”.

A verdade não é um dogma e sim um caminho. Quanto mais verdades absolutas, mais estreito vai ficando o nosso mundo. Nunca podemos abrir mão de uma busca por uma verdade que subverta.
Verdade não é apenas um princípio abstrato. Verdade é a realidade existente, o fato concreto, o conhecimento comprovado. A verdade des-vela o desconhecido, salienta a dignidade da pessoa, reivindica liberdade e igualdade, sustenta o significado essencial do ser humano, preserva os valores consistentes.
“Conhecer a verdade” é aspiração humana inata. O ser humano tem sede de verdade. Vai buscá-la nas encostas do mundo e nos recôncavos de seu espírito. Descobrir a verdade é conquista alvissareira.
Compensa atravessar vigílias e trilhar veredas para chegar à verdade. Uma das angústias humanas é não alcançar o manancial da verdade. Enquanto existir verdade encoberta, o ser humano vive inquieto.
A verdade clareia a vida. Sem a verdade, a existência é sombria. A verdade gera autenticidade. Onde falta a verdade, instala-se uma lacuna na existência. Quem não vive a verdade, está carunchado por dentro. Impregnar-se da verdade é humanizar-se.
Onde há verdade há humanidade transparente. Há rosto fascinante. Quando a verdade se des-vela e se faz visível, o ser humano se ilumina.


A humanidade busca a verdade, mas também pode asfixiá-la. Costuma-se reprimir a verdade que incomoda. E aqui tocamos um ponto tão nuclear como habitualmente mal entendido e pior vivido. A verdade não é uma crença (um conjunto de crenças), nem uma formulação ou uma doutrina.
Quando um cristão diz: “Eu tenho a verdade, porque Jesus disse que Ele era a Verdade, e eu creio nele”, caiu numa armadilha e, com frequência, numa danosa confusão. Ter uma crença não nos garante estar na verdade. Como se explica que alguém, em nome da “verdade”, cometa violência aos outros ou simplesmente os desqualifica? Quem faz isso é claro que não está na verdade. Quando a verdade se identifica com “crenças”, “formulações” ou “doutrinas”, acontecem efeitos estranhos, como o de confessar verbalmente uma coisa e estar vivendo a contrária.
Por isso, assim como a crença forçosamente tende a separar (os que creem e os que não creem), a Verdade sempre integra. Seguir a Jesus não significa ter determinadas crenças, mas estar dispostos a realizar a Verdade, o que Ele viu e viveu. Por isso, frente ao fanatismo que revela fechamento e estreiteza, a verdade requer abertura humilde, questionamento e flexibilidade. E é precisamente a pessoa que vive isto aquela que “é da verdade”.

Ser “testemunha da verdade” requer “viver na verdade”, não em algumas crenças. E viver na verdade inclui o reconhecimento e a aceitação da própria verdade, e da verdade presente no outro. Não pode estar na verdade quem não se aceita com toda sua verdade, com suas luzes e suas sombras; não pode estar na verdade quem vive identificado com seu ego ou com sua imagem idealizada. Pelo contrário, quando alguém se aceita assim, começa a viver na humildade e isso é já “caminhar em verdade”.
Afirmando de um modo mais claro: só conhece a verdade quem é verdadeiro, sem máscara ou disfarces. Quando se é verdade, conhece-se a verdade.
É significativo que os antigos gregos entenderam a verdade como “a-létheia” (“sem véu”): quando “tiramos o véu” é quando emerge a Verdade do que somos. Aqui, cabe o termo “inventar”, que significa “descobrir o que está oculto”, e também significa “criar, fazer surgir o novo”.
Importa “inventar” a verdade, ir à morada da verdade, encontrar a verdade.

Isso é o que Jesus viveu. Porque chegou a experimentar a verdade profunda de si mesmo, pode dizer: “Eu sou a verdade”. Essa não era uma afirmação egóica, nem tampouco se referia a nenhuma crença ou ideia em particular. Era a proclamação-constatação humilde e jubilosa de quem des-velou e viu o “segredo” último de sua vida.

Texto bíblicoJo 18,33-37
                 
Na oração: Revele-se diante de Deus e deixe transparecer a verdade de sua vida: na confiança filial, des-cubra o que está recoberto, des-vele o que está velado, des-oculte o que está escondido, des-lumbre o que está ensombreado,  des-mascare o que está camuflado, des-emudeça o que está calado, des-cative o que está algemado.
- A verdade que somos nunca pode ser algo que alguém tem e possa transmitir ou impor aos outros, mas a Presença que a todos sustenta e a todos abraça. Só a presença d’Aquele que é a Verdade ativa a verdade escondida em nosso interior.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Filme Francisco, o Jesuíta

O Canal History (Net Canal 83 - RJ) apresentará nos dias 03 de 04 de dezembro de 2015, às 22 h o filme Francisco, o jesuíta. O filme é baseado no livro "El Jesuita" ("O Jesuíta"), escrito a partir de entrevistas do jornalista argentino Sergio Rubin e da italiana Francesca Ambrogetti ao cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco.

Maiores informações: History
Trailer: Aqui

domingo, 15 de novembro de 2015

A Esperança de Viver o Presente de Maneira Criativa

Olá a todos!
O Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana -CEI) semanalmente disponibiliza um texto como sugestão para rezar o Evangelho dos domingos. Pedimos sua autorização para divulgar seus textos neste espaço e ele nos autorizou. 
Desta forma, apresentamos a seguir o texto com a sugestão para rezar o Evangelho do 33º Domingo do Tempo Comum - Ano B.

A ESPERANÇA DE VIVER O PRESENTE DE MANEIRA CRIATIVA

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13,31)

Estamos chegando ao final de mais um “ano litúrgico” (este é penúltimo domingo), e a liturgia nos propõe leituras que, fazendo referência aos “últimos tempos”, querem nos convidar à “vigilância” e a atenção ao tempo presente.
O Evangelho de hoje é parte do capítulo 13 do Evangelho de Marcos, que contém um breve “apocalipse”, ou seja uma revelação, um desvelamento, um desnudamento dos múltiplos véus que revestem o palco, lúdico e trágico, da encenação do drama humano, com suas contradições, incertezas, promessas e esperanças.
Devido às imagens que este gênero literário utiliza, com frequência atribui-se ao termo “apocalipse” um significado de “catástrofe” ou “destruição”. A realidade, no entanto, é diferente. Etimologicamente “apokalypsis” significa “destapar o que está escondido”, “tirar o véu”, “desvelar”, ou seja, “revelação”.
À mesma raiz pertence a palavra “eucalipto”, cujo significa etimológico é: “eu-bem”; “kalypsis- escondido”, fazendo referência ao fato de que tem perfeitamente escondidas suas minúsculas sementes.

Assim pois, etimologicamente, “apocalipse” equivale a “verdade” (“aletheia”=sem véu). E, como consequência, o escrito apocalíptico pretende “retirar o véu” que nos impede reconhecer as coisas como são, ou seja, revelar-nos o que se encontra por debaixo da superfície, em um nível mais profundo. É como se o autor quisesse nos dizer: “as coisas não são o que parecem ser”.
Em cada momento histórico o texto do Apocalipse é lido e interpretado em função dos acontecimentos. Este gênero literário é uma luz que nos ajuda a “ler” a realidade (interior e exterior), desvelando tudo o que acontece nela e assim poder assumir uma atitude mais coerente com a proposta do Evangelho.
Assim, pode-se “ler” esse texto como se escutasse um sonho revelador.
O Apocalipse, portanto, é um empenho da comunidade cristã em dar sentido a tudo o que está acontecendo e assim reencontrar sua dignidade no coração das situações mais difíceis.

A revelação que ocorre no interior de cada um e na realidade que nos envolve é o desvelar (tirar o véu) de uma Presença. No centro de nossa solidão e de nosso exílio  não estamos sozinhos, mas temos a visão de Alguém, que vem ao nosso encontro.
No texto evangélico de hoje nos é revelado, através de sinais (abalos celestes e terrestres, tribulações...), que esta ordem das coisas (o “mundo”) vai ser renovado em profundidade. Tudo desmorona à nossa volta, tudo vai desaparecer; mas o que o texto parece resgatar é a contundente confiança na afirmação e na promessa de Jesus: “O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão”. As Palavras do Filho do Homem constituem o nosso rochedo, são a nossa força. É um convite a nos recentrar.
Quando somos transformados pelos acontecimentos e somos levados pelas nossas emoções, pelas nossas reações, pelos nossos medos, é preciso voltar ao centro.
O ciclone tem uma violência enorme e gira velozmente, mas seu centro é calmo, imóvel.
É preciso voltar ao centro do ciclone onde está o “Filho do Homem”, onde está o coração, onde está o Cordeiro. Esta vida nova está no centro da situação que vivemos, no centro desse mundo que é o nosso.
É a partir do interior que algo pode mudar.

Nesse sentido, o gênero “apocalíptico” vem nos dizer que, para além daquilo que possa ocorrer na superfície da história pessoal e coletiva, há uma Realidade estável que nos sustenta e que podemos experimentá-la como “rocha firme” sobre a qual firmar nossos pés. A velha ordem virá abaixo para ser substituída por um mundo novo que será inaugurado pela presença do Filho do Homem, reunindo toda a humanidade (“os quatro cantos”) e estabelecendo o “Reinado de Deus”.
Trata-se de um anúncio esperançador e certo. Esperança representada pela imagem da figueira que, carregando-se de brotos, anuncia a primavera. Esse é o nosso destino: caminhamos para uma Primavera que não conhecerá ocaso.
Na realidade, os discursos apocalípticos, apesar de sua aparência, são sempre um chamado à esperança, que não é uma projeção para um determinado futuro, que serve para fugir do presente ou para poder “suportá-lo”; nem pode ser entendida como mera “expectativa” que nos afasta do presente, senão que nos faz ancorar nele, ou seja, viver na Plenitude do que é, no Presente pleno e com sentido.

A esperança, talvez mais do que qualquer outra inclinação ou disposição, está bem no cerne do ser humano e de sua existência, fazendo-o viver e dando sentido à aventura de sua existência. Basta pensar no que significa o desespero, a ausência de horizonte, a falta ou a perda de todo projeto possível, para compreender que a esperança emerge das profundezas do ser humano. Sem esperança , ele não pode viver.
O ser humano é ser “esperante”.
Segundo Rubem Alves, a esperança é o oposto do otimismo. Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração. Otimismo é alegria “por causa de”: coisa humana, natural. Esperança é alegria “apesar de”: coisa divina. O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade.

A esperança carrega uma força misteriosa, um sopro criador, um alento espiritual que nos leva a olhar tudo com fé e encantamento; é um princípio vital, expresso na sábia e verdadeira constatação de que “enquanto há vida há esperança”. Mesmo diante de intransponíveis situações, vislumbramos possibilidades de saída, achamos possível ser de outro modo, inventamos e reinventamos alternativas, recusamos a possibilidade de as realidades nos dominarem e, sem cessar, sonhamos com o mais e o melhor.
A esperança é gestora do futuro e rompedora da dureza do existir.
Paulo Freire insistia que não se pode confundir esperança do verbo “esperançar” com esperança do verbo “esperar”. Esperançar é se levantar, é ir atrás; esperançar é construir e não desistir. Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo.

Uma das coisa mais perniciosas que vivemos no atual momento é o esvaziamento da esperança, que se expressa no desalento, desânimo ou até na covardia tolerante.
Michelângelo dizia que “Deus concedeu uma irmã à recordação, e chamou-se esperança”.
A esperança, portanto, é como esse impulso que desafia o presente imediato, sempre curto e sem raízes no futuro; é ela que nos permite escrever nossa história com mais criatividade e ousadia, nos abre à invenção de possibilidades que nos fazem viver, corrige o passado e nos faz recomeçar, mantém a coragem de ser, transforma em nós o ser de puras exigências e de simples necessidades em seres capazes de dom e de desejo. Na esperança, encontramos a abertura e a amplitude de nossa vida.
Não basta esperar, é preciso uma paixão de esperança, a qual somente é possível se conduz para um horizonte plenificante, para um além da vida do dia-a-dia.

Texto bíblicoMc 13,24-32

Na oração: Como se situa diante dos desafios que é chamado a assumir? Não se sente cansado por já ter vivido tantas mudanças?
- Você se arriscaria por um novo começo?
- Ou talvez desanimado porque as coisas não aconteceram como havia previsto? Ou, ao contrário, cheio de energia, entusiasmado por ser protagonista de uma época considerada de graça e de bênção?
- Quê esperanças você carrega no coração?

Texto: Pe. Adroaldo Palaoro, sj

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Retiro de Preparação para o Natal 2015

Nos dias 28 e 29 de novembro, a Equipe de Leigos do Centro Loyola organiza o Retiro de Preparação para o Natal. 
O encontro parte da Espiritualidade Inaciana para suscitar a reflexão sobre o sentido do Natal, preparando os participantes para vivenciar esse tempo litúrgico em um momento de profundo encontro com Deus e consigo mesmo. 
O retiro será na sede do Centro Loyola, na Estrada da Gavea, 1, no sábado, das 8h às 17h, e no domingo, das 8h às 13h. 
O pagamento da taxa de R$ 60 refere-se aos custos com o material do encontro, lanches e o almoço de sábado. 
Inscreva-se em nosso site: www.clfc.puc-rio.br.