quarta-feira, 31 de julho de 2019

INÁCIO DE LOYOLA: do percurso interior à itinerância geográfica


Para celebrar a memória de Santo Inácio de Loyola neste 31 de julho, compartilhamos uma reflexão do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ para ajudar a "aquecer a memória" deste homem que deixou uma marca original no seu tempo; sua experiência tem valor universal, sobretudo aquela que está contida nos Exercícios Espirituais, e que tem transformado a vida de tantas pessoas.

Inácio de Loyola foi um homem da mudança, da transição no tempo, dos tempos novos, agitados, turbulentos, de transbordantes novidades que punham em questão tudo o que até então ele recebera; mas não se fechou a elas e, sim, abriu-se ao diferente e novo. Um novo “movimento” começa em sua vida e Inácio passa a viver a aventura de contínuos deslocamentos, internos e geográficos. Torna-se o peregrino do Absoluto.
Sempre em marcha, sem encurtar os passos, o peregrino Inácio avança como homem livre, sem deixar-se aprisionar por nada nem por ninguém, aberto aos acontecimentos, pronto a servir a Deus ali onde O encontra. A peregrinação interna e geográfica o torna mais humano, com maior visão, grandes desejos.
A grande originalidade na história e na vida de Inácio não é a que ocorreu fora, mas a que aconteceu dentro dele mesmo. Sua principal contribuição à história da humanidade não é o que pessoalmente ele realizou em suas atividades de apostolado e de governo, ou sua obra exterior mais conhecida, a Companhia de Jesus, mas a descoberta de seu “mundo interior” e, através dela, a descoberta desse continente sempre inexplorado e surpreendente, que é o coração de cada ser humano, onde acontece o mais importante e decisivo em cada pessoa.
Imobilizado e impossibilitado fisicamente, Inácio se surpreende a si mesmo escavando e trazendo à tona toda sua capacidade de aventura neste continente inexplorado (o de seu mundo interior e o da ação de Deus nele). Enquanto seus contemporâneos aventuravam-se na descoberta de novas terras, seu descobrimento não é menos importante, e é de maior alcance humano que o daqueles. Sem ruído, sem galeões, sem dinheiro, sem pólvora, sem armas, sem sangue, sem violência, sem vencidos e humilhados, Inácio abrirá caminhos nesse continente interior, próprio e de cada ser humano, “conduzido, sabiamente ignorante” do que vai encontrar, deixando-se levar e observando como é levado.
A partir do seu percurso interior, inicia-se um movimento de itinerância geográfica. Mais que um simples deslocar-se, trata-se de um modo de viver e de situar-se no mundo. Depois de ter posto materialmente seus pés sobre as pegadas de seu Senhor e beijar o solo que Ele havia pisado, Inácio compreende que a terra de Cristo era o vasto mundo de seu tempo. Desde então, para além do deserto e da peregrinação a Jerusalém, abre-se diante de seus olhos, outro caminho.
Iluminado pela luz divina, faz-se peregrino de Deus. Peregrinar é avançar pelos caminhos do mundo, conhecer povos e costumes, escutar ideias novas e opiniões diferentes, sentir-se solidário com outros caminhantes.
                                               Assim se dilataram infinitamente seus horizontes.
Decididamente, Inácio se volta para o mundo, esse borbulhar de acontecimentos sócio-político-religiosos, no qual reconhece o lugar da Encarnação.
Buscando considerar todas as coisas em sua referência a Deus, Inácio quer serví-Lo em toda circunstância. Dado que seu Criador e Senhor está presente e ativo em todo e qualquer lugar, ele se dirige ao mundo sem temor a nada, seguro de que cada um de seus passos o conduz ao lugar da adoração e do serviço.
Inácio contempla o mundo com Deus; longe de representar um espaço de perdição e de dispersão, o mundo é para ele o lugar do serviço. O olhar que pousa sobre a realidade reacende nele a saudade de Deus e o sentimento de sua presença.
A partir de então, o mundo o aproxima de Deus e a saudade de Deus não o afasta do mundo.
Àqueles que desejam segui-lo, Inácio lhes propõe um itinerário para “encontrar Deus em todas as coisas”: olhar a criação, acolher cada criatura e cada acontecimento como uma mensagem divina, aceitar a própria história e deixar-se levar por seu dinamismo.
Santo Inácio de Loyola foi um homem universal: basco, castelhano, catalão, parisino, veneziano, romano e europeu. Seu coração era tão grande como o mundo, sempre livre para a maior glória de Deus.
Para fazer-se presente neste vasto mundo, de uma maneira original e criativa, decidiu “estudar”. Formou-se em Paris, onde conquistou o título de Mestre em Artes.
Ali se matriculou com um nome novo, no dizer de Ribadeneira, “por ser mais universal”: Inácio.
Mesmo durante o período de 1541 até 1556, ano de sua morte, quando se instalou em Roma, continuou sendo o peregrino que escolheu ser. A partir de seu pequeno quarto, estava presente em todos os pontos do mundo onde algo novo brotava.
Suas preocupações e suas cartas estão cheias de nomes de toda a geografia universal até então conhecida, desde o Congo ao Brasil, desde a Espanha até a China ou Etiópia.
O basco Inácio de Loyola alcançou, assim, sua plenitude humana e divina precisamente porque foi capaz de abrir-se à universalidade de todas as terras, de todos os povos e de todas as culturas, sem distinção de raças nem exclusão de ninguém. Foi norma sua que “o bem quanto mais universal, mais divino”.
Nestes novos tempos, tão conturbados e carregados de violência preconceituosa e intolerante, o Espírito continua chamando cada um de nós a uma presença mais aberta e livre, mais inspiradora e compassiva, no relacionamento com todos aqueles que são os outros. Afinal “somos pessoas para os outros e com os outros”.
A cultura do mundo no qual agora vivemos requer outro tipo de presença: “viver a cultura do encontro, frente à cultura da indiferença” (Papa Francisco)
Somos desafiados a “viver uma vida no mundo e no coração da humanidade” (P. Kolvenbach).
Tal desafio implica fidelidade à realidade que nos cerca, para poder descobrir a novidade de Deus numa experiência “mística” que nos faça tocar no mais profundo desta mesma realidade.
Não se trata de fugir da realidade, mas de perceber sua última dimensão, na mais profunda dinâmica, ali onde o Espírito de Deus e o nosso se fundem em uma combustão que nos torna criadores da novidade neste mundo.
Estes nossos tempos, novos e turbulentos, pedem de todos nós, críticos, inquietos e vigilantes, uma constante re-leitura dos novos “sinais” que surgem, a necessidade de viver em estado de atenção permanente, capaz de nos deixar impactar por tudo o que acontece e, no discernimento, assumir decisões mais ousadas e criativas.
Se alguém se mantém constantemente de olhos abertos diante do que está vivendo, como fez Inácio, se está aberto às novas formas de socialização que estão transformando o nosso mundo, se alimenta as novas esperanças de uma humanidade que é diferente, se valoriza as novas formas de expressar a experiência religiosa..., certamente estará assumindo uma atitude ativa e acolherá tudo o que humaniza e rejeitará tudo o que desumaniza.
Que Santo Inácio nos inspire a “estar no mundo..., sem sair do mundo”, à maneira de Jesus, com o coração cheio de compaixão, com os pés sempre em movimento quebrando distâncias, com as mãos sempre abertas para o serviço solidário...

JESUS Orante nos Ensina a Orar

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 17º Domingo do Tempo Comum - Ano C.


“Jesus estava orando num certo lugar” (Lc 11,1)

Nos Evangelhos encontramos várias passagens nas quais Jesus é apresentado orando no silêncio da noite,
em profunda e prolongada comunhão com o Pai. Em geral, a oração solitária de Jesus precede ou segue a algum acontecimento muito importante.
A sua solidão não é vazia; está habitada pela intimidade com o Pai, pelo sonho do Reino, pelos rostos dos prediletos do Reino: os pecadores, os pobres, os doentes, os oprimidos...
Quando Jesus parece estar mais afastado deles é quando na realidade está em mais profunda comunhão com eles; quando aparentemente está mais solitário é quando Ele se revela mais solidário.
Por isso, toda forma de oração, toda forma de relacionamento com Deus que não leva ao serviço concreto do Projeto do Pai, não é a oração do discípulo de Jesus, é uma oração alienada.
Uma oração que não se traduz em compromisso com a justiça do Reino, que não se traduz em serviço aos mais necessitados, não é de fato dirigida ao Deus de Jesus.

Para Jesus, a oração não só fazia parte da vida: ela era a sua vida. Em cada instante, vivia em profunda sintonia na presença de Deus, seu Pai. Jesus não esconde nada ao Pai. As suas alegrias e dores, as suas esperanças e as suas noites foram sempre partilhadas com o Pai.
Na experiência de Jesus, Deus é “Aquele que está aí como um Pai” que cuida de seus filhos e filhas, que tem um coração sensível aos nossos sofrimentos, que seu olhar repousa sobre nossos problemas e seu ouvido é atento aos nossos clamores.
Jesus, o artista da madeira, soube “tornear” hábeis palavras para expressar essa profunda intimidade entre o ser humano e Deus. É isso que encontramos na oração do “Pai-Nosso”, que o evangelho deste domingo nos apresenta na versão de Lucas.
O novo está justamente no modo como as pessoas devem se relacionar com Deus: “Quando orardes, dizei: Pai!” É uma relação nova e inédita. Os(as) seguidores(as) de Jesus não são somente amigos(as), são filhos(as) de Deus, que é Pai.
A principal oração cristã não se reduz a um conjunto de pedidos, mas é a expressão de uma relação confiante e filial. Essa é a originalidade de Jesus. O apelo direto ao Pai não é comum na tradição judaica.
Jamais palavras simples tiveram tanta profundidade. Jamais um texto tão pequeno foi tão revolucionário.
Com efeito, a oração do Pai-Nosso é a mais clara e mais expressiva síntese que temos da mensagem de Jesus. Ela não é uma fórmula a ser decorada, mas um projeto de vida cujas atitudes levam a uma assimilação progressiva da filiação e da fraternidade.
Com o discípulo Filipe, nós também podemos dizer: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14,8).

É significativo que, no espaço de uma prece tão sóbria como é o Pai-Nosso, Jesus deseja reconduzir o coração orante à sua essência: o próprio Pai. O ser humano é alvo do amor carinhoso de Deus-Pai, cujo nome ele conhece e guarda no coração. Podemos dizer que o objetivo da oração é colocar-nos no Pai, inscrever-nos no seu coração: “eu sou no Pai, existo no Pai”.
A oração cristã é aquela que se desenvolve seguindo os passos de Jesus e, aí, orar é viver, com todas as nossas forças, com todo o nosso afeto e com toda a nossa realidade, na presença de Deus. Nesse sentido, a oração não pode ser um compartimento do dia, um pequeno nicho que preenchemos com pensamentos e fórmulas piedosas.
Clamar “Abba, Pai” significa ser e estar diante d’Aquele que nos convida a um diálogo sem censuras, de sentir-nos envolvidos por inteiro e continuamente por uma presença providente, com uma atenção vigilante. Não se trata de oferecer a Deus alguns pensamentos, mas colocar em suas mãos toda a nossa vida, tudo o que somos e experimentamos.
Tal oração pede uma conversão de atitude, porque a verdadeira oração cristã descentra-nos de nós mesmos e orienta-nos para Deus, de modo que tudo o que passamos a desejar é a vontade de Deus, o dom do seu amor compassivo.

Ao rezar o Pai-Nosso, vamos percebendo que Jesus transforma todas as nossas questões em desejos e nossos desejos em oração. Tudo está dito aí, mas tudo resta a viver. É agora que começa o movimento da vida, não apenas a prece, mas a encarnação da prece; não apenas o desejo, mas a realização dos grandes desejos. E realizar todos os desejos que o Pai-Nosso exprime é nos tornar aquilo que somos chamados a ser, é nos tornar realmente humanos e realmente divinos.

O “Abba” de Jesus não é um Deus insensível e impassível, mas um Pai solidário, que quebra distâncias e se faz íntimo dos seus filhos e filhas. Não é um Deus que imprime culpa e controla comportamentos, mas um pai apaixonado que deseja ardentemente ser conhecido e criar vínculos de amor.
Aos cuidados deste Deus-Pai o ser humano pode confiar, sentir-se filho. “Abba” significa, portanto, “Deus-está-em-nosso-meio”, encontra-se junto aos seus, com misericórdia, bondade, ternura.
Nessa oração, nenhum miserável foi excluído, nenhum errante foi rejeitado, nem sacrifício foi pedido, nenhum dogma proclamado, nenhuma lei estabelecida. Ela é pura visibilização do Amor. E basta!

Ao dizer “Abba”, Jesus dirigia-se a Deus como uma criança a seu pai, com a mesma simplicidade íntima, o mesmo abandono confiante. Esta expressão revela, ao mesmo tempo, o segredo da relação íntima de Jesus com o Pai e a manifestação perfeita do mistério de sua missão.
A expressão “Abba” é a prece da criancinha que balbucia tentando dizer a palavra “pai”, a prece não articulada que ainda pertence ao silêncio, ao Inefável.
É a primeira expressão do desejo do outro, quando o outro é chamado através do seu balbuciar.
É a primeira expressão de confiança do bebê em relação ao seu pai ou à sua mãe.
O “Pai-Nosso” é este balbuciar interior, que se volta para o Infinito, para o Absoluto, e que nenhuma palavra pode expressar. É uma palavra anterior à palavra “pai” e à palavra “mãe”.
É o desejo que vem da criança e que se reconhece no olhar do pai ou da mãe como um ser amado, porque uma relação particular foi estabelecida.
Na expressão “Abba” há simplicidade demais, espontaneidade demais e muita inocência. Estas qualidades de coração e de inocência é necessário que as encontremos quando recitamos o Pai-Nosso.
O mais importante é estar à escuta desse desejo profundo e silencioso da “criança divina” que habita cada um de nós.

Texto bíblico:  Lc 11,1-13

Na oração:
Deter-se na contemplação desta dupla dimensão do ministério de Jesus, que revela o mais profundo da sua vida: a oração e a ação, a solidão e a solidariedade, a intimidade mais profunda com o Pai e o engajamento mais radical no serviço aos necessitados. Em Jesus, estas duas di-mensões são vividas não só como complementares, mas como necessariamente referidas uma à outra.
- Pedir a Jesus que Ele nos ensine a orar ao Pai como Ele orava; penetrar um pouco na intimidade da oração d’Ele. Na nossa oração podemos nos apropriar de algumas orações ou palavras de Jesus que aflorarem espontaneamente à nossa memória e convertê-las em nossa própria oração, fazendo com que elas saiam do nosso coração.
Podemos também rezar a partir do coração de Jesus a oração que Ele nos ensinou, e que Ele mesmo rezou melhor que ninguém: “Abba, Pai!”.

domingo, 21 de julho de 2019

Trabalho Contemplativo

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 16º Domingo do Tempo Comum - Ano C.


“Maria sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua palavra” (Lc 10,39)

Neste domingo, a liturgia nos desloca até Betânia, a viver Betânia, a ser Betânia, lugar de acolhida e hospitalidade; ali somos convidados a entrar em casa de Marta e Maria, junto com Jesus, para deixar-nos impactar por tudo o que acontece nesse ambiente tão familiar e humano. 
Betania, “casa do pão”, simboliza um lugar de nutrientes, de alimento em sentido amplo: afeto, distensão, sensibilidade, cuidados, atenção, presença e ternura.
Para Jesus, Betânia é um lugar de intimidade e de descobertas; busca acolhida na casa das duas irmãs, nesse anseio tão humano de companhia, hospitalidade e contato. É frente às suas amigas de Betânia que Jesus deixa transparecer, de um modo mais explícito, a dimensão feminina de sua vida.

Quando Jesus passa e se permite o encontro, as pessoas são transformadas. Ao hospedar-se na casa de Marta e Maria surge a novidade: uma mulher senta-se aos pés do mestre em horário dos trabalhos domésticos. As palavras de Jesus embelezam o coração mediante os ouvidos atentos de Maria. Ela bebe do poço profundo do “novo” ensinamento. A Jesus também não lhe interessa outra coisa que não seja formar mais uma discípula.
À luz deste relato, abre-se uma nova perspectiva para a mulher. Maria, é acolhida por Jesus como interlocutora privilegiada. Talvez seja o relato mais subversivo do evangelho. “Sentada aos pés de Jesus, escutava sua palavra”. Maria está ali como discípula. A parte essencial, que não lhe será tirada, é a marca dessa experiência aos pés de Jesus.
Isto desloca toda uma concepção machista da época que não permitia às mulheres serem discípulas de um mestre. Mas, para Jesus, a mulher também precisa desenvolver sua interioridade, precisa ativar seus recursos internos para o seu enriquecimento como pessoa humana. Quando se elimina a gratuidade do encontro e da acolhida, a vida pode perder seu sabor e seu sentido.
Na atitude de Maria, Jesus convida todas as mulheres a desenvolver seus valores espirituais; Maria, por sua vez, oferece a ocasião para Jesus des-velar tudo isso.

Se queremos compreender mais profundamente o verdadeiro sentido do texto deste domingo, não devemos esquecer o contexto do evangelho de Lucas. Situado dentro da viagem a Jerusalém, este relato procura revelar o perfil daqueles(as) que querem seguir Jesus. Durante essa subida, Ele vai formando os(as) seus(suas) discípulos(as).
Lucas é o único que relata este episódio em Betânia e não é casualidade que, uma vez mais, se sinta interessado em destacar a importância das mulheres na vida pública de Jesus.
Não tem nenhum sentido extrair deste relato uma distinção ou uma oposição entre a vida contemplativa e a vida ativa; tampouco deixa transparecer a pretendida superioridade de uma sobre outra.
Não é correto interpretar este evangelho como proclamação de dois tipos de cristãos: uns que se dedicam à vida ativa e outros à contemplativa.

Poderíamos dizer que esta imagem caseira do encontro amistoso entre Jesus e as irmãs revela uma atitude sensata na vida, de acordo com a tradição sapiencial: “Tudo tem sem momento, e cada coisa seu tempo” (Ecle 3,1). Jesus não censura Marta por trabalhar; o que Ele censura é a sua inquietação, a sua preocupação, o fato de andar agitada no seu “tarefismo”, “com um olhar atravessado” para sua irmã, a quem se queixa e clama uma intervenção de Jesus.
Jesus chamará Marta por duas vezes, como Moisés foi chamado por Deus diante da sarça ardente, porque o lugar que ela pisa, sua própria casa, é sagrado e há nela um fogo que não se consome. Ele a chama para que não se identifique com sua função, nem com seus afazeres, mas que vá progredindo em direção ao seu “eu profundo”, que saia da dinâmica das comparações e se atreva a ser “Marta completa”.
O que Jesus censura em Marta é, sobretudo, o seu estrabismo. Dois olhos que olham, cada um para uma direção diferente. No entanto, “uma única coisa é necessária”. Com efeito, Marta tenta olhar, ao mesmo tempo, para Jesus e para a irmã; dessa forma, não consegue enxergar o único Bem-Amado.
Compara-se com a irmã, está possuída pelo que os antigos chamavam o “demônio da comparação”.
Trata-se de uma tendência, presente em todos nós, de nos comparar, nos avaliar, viver incessantemente equiparando-nos aos outros. Esse “demônio” é sempre atual e acaba por envenenar múltiplas relações.
Quando comparamos, passamos ao largo do único necessário. A comparação faz com que nós não percebamos “a única coisa necessária”. A “melhor parte” não é somente a contemplação, é não ver Je-

sus. A melhor parte é olhar em direção a Ele, é termos o desejo orientado para o Senhor.
E se nosso desejo é orientado para o Senhor, nós podemos ter momentos de contemplação e momentos de ação.  Não são momentos opostos. A não-dualidade entre ação e contemplação, trabalho e repouso, encontra-se nessa unificação ou nesse despertar do olhar em direção ao Único.
A qualidade da ação e da contemplação depende da orientação do coração e da inteligência em direção Àquele que mantém unidas todas as coisas.

A cena de Betânia nos está dizendo: todos somos, ao mesmo tempo, Marta e Maria. Todos nos sentimos, com frequência, ansiosos, angustiados, dispersos e tentados a fazer da eficácia nossa principal preocupação. Mas, vivemos também a experiência do sossego e da unificação, que nos faz ordenar nossas prioridades e viver centrados no essencial. E, uma vez mais, somos convidados a saborear a Palavra que, no mais profundo de nós mesmos, se converte em uma fonte de assombro e de prazer e nos re-envia a um serviço mais generoso e mais livre.
Marta representa um lado nosso que calcula, que mede e que compara. É preciso reencontrar Marta em união com Maria. Não é nada fácil manter o equilíbrio, integrando-as. Marta e Maria são como os dois olhos de um olhar, ou as duas faces do mesmo rosto. Os dois olhando em direção ao Único. Significa unir em nós, Marta e Maria, a contemplação e a ação, o silêncio e a palavra.
A “melhor parte” está por todo lado: é o Senhor que deve ser acolhido em nossa ação e em nossa contemplação, no trabalho e no descanso.
Ser humano é ser capaz de ação e ser capaz de contemplação. Mas o único necessário nesta ação ou nesta contemplação, no trabalho ou no repouso, é amar o Senhor.
Em cada momento devemos buscar alcançar nosso “eu profundo” – exatamente onde jorra a vida – e formar uma só coisa com essa Vida que atua incessantemente no nosso interior. Estar centrado na Fonte: eis a melhor parte.

Texto bíblico:  Lc 10,38-42

Na oração:
Entre em sua “Betânia interior”: verifique se ela é lugar de integração, unidade e pacificação. Ou, pelo contrário, espaço de divisão, ruídos, ansiedade e preocupação.
- “Betânia interior” se projeta na “Betânia exterior”: peça a Deus a graça de poder transformar a sua casa em nova Betânia: casa da acolhida, da amizade, da partilha solidária, da convivência sadia...

domingo, 14 de julho de 2019

SOLIDARIEDADE: o amor como êxodo solidário

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 15º Domingo do Tempo Comum - Ano C.

“Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes” (Lc 10,36)

Em todo ser humano sempre há reservas e redutos de bondade e compaixão, adormecidas muitas vezes, mas que podem ser ativadas diante do sofrimento dos outros. Nas pessoas sofredoras, nos crucificados da história, nos excluídos da dignidade, há algo que atrai e convoca, que nos inquieta, que nos pode fazer sair de nós mesmos; aí está a origem da solidariedade. Junto ao sentimento ético de fazer algo, aparece o mais profundo e decisivo: o sentimento de proximidade com as vítimas deste mundo.
A parábola do Bom Samaritano é uma parábola sem palavras e com muita vida: há silêncios que dão significado aos gestos oferecidos ou negados, à decisão de acudir ou fechar os olhos frente ao homem ferido. Os gestos falam da força do amor que vai mais além de todos os credos e culturas, transformando o outro estranho em próximo.
No evangelho deste domingo, diante da pergunta do especialista em leis - “quem é o meu próximo?” -, Jesus responde, invertendo e reformulando a pergunta: “quem se torna próximo?”.
Contudo, dentro da pergunta do “quem se torna próximo?”, Jesus responde à pergunta de “quem é o meu próximo?”: uma pessoa “qualquer”, sem nome, que passa ao nosso lado e que, independentemente de qualquer ligação de afinidade ou de pertença, cai em desgraça e clama por auxílio.
A “proximidade” se define pela “travessia” em direção à margem do sofrimento e da exclusão.

Todo ser humano, dotado de “valor” e de “riquezas pessoais”, é também, em sua essência, um ser fraco e necessitado que, como criança recém-nascida, é carente de proteção e ternura.
O infeliz da parábola lucana é o paradigma do ser humano que, em sua realidade constitutiva e mais profunda, é ser de necessidade que grita e espera auxílio. Ele é o representante da alteridade nua e radical, onde o outro se ergue diante do eu não mais como “corpo em forma” mas “ferido” que, em sua carência, questiona o meu eu, impelindo-me para o êxodo da responsabilidade.
A parábola do samaritano revela um sentido ainda mais profundo: do silêncio do corpo daquele infeliz - de quem não se sabe o nome, não se vê o seu rosto e nem sequer se diz que pediu ajuda - levanta-se uma “voz” que, em sua dramaticidade, interrompe o caminho dos passantes e os convoca à responsabilidade urgente; responder positivamente àquele grito, assumindo-o na compaixão, ou então se negar a isso, permanecendo agarrado ao próprio eu – eis a questão.

O sacerdote e o levita viram bem e entenderam o que tinha acontecido, através de um olhar de banda, carregado de suspeita, receio e desconfiança. Seguramente se perguntaram: “Que pode acontecer comigo se me aproximo dele e o ajudo?” Seu comportamento teria sido certamente diferente se se perguntassem: “Quê pode acontecer a este homem, se me aproximo dele e o ajudo?”
O pecado deles é o da omissão: não fazem nada, nem mau nem bom. São piedosos, mas insensíveis; praticam o culto e a liturgia, mas não adoram a Deus em espírito e verdade; enganam-se pensando que se chega a Deus pelo caminho vertical, e não por um caminho estreito e horizontal por onde se encontram as pessoas mais vulneráveis e necessitadas; amam a Deus só de palavras e de boca, e não com obras e segundo a verdade; não se dão conta que só no amor ao próximo é que se revela o amor a Deus.
“Viram” o ferido, porém, não se deixaram afetar. O amor a Deus foi incapaz de se expressar como amor ao próximo. Julgavam-se estar muito unidos a Deus mas, na verdade, estavam muito distantes do irmão sofredor. A desconectou-se da ética.
Além disso, o “legalismo” falou mais forte que a lei da vida no coração dos dois responsáveis pela religião. Invocando a lei da pureza ritual (proibia o contato com cadáveres), sentiram-se dispensados de acudir o outro necessitado. A obediência ritual superou o apelo moral.

Mais contrastante foi a atitude do samaritano: “chegou perto, viu e sentiu compaixão”.
É a dinâmica da misericórdia! Tudo começa com o “aproximar-se”. É impossível ser afetado pelo outro sem proximidade. Enquanto o sacerdote e o levita se desviaram do homem caído no chão, o samaritano “achegou-se”. A proximidade física permitiu-o “vê-lo” de fato.
O “ver” do samaritano vem depois de chegar junto ao ferido; aproximar-se é o primeiro passo; se alguém não se aproxima não pode ver, e a originalidade e qualidade desta visão é o despertador da própria consciência e é aquela que dá passagem à ação solidária. O samaritano também conhecia as leis sobre a impureza legal, mas optou pelo mandamento do amor.
Portanto, o “ver” do sacerdote e do levita foram qualitativamente distintos do “ver” do samaritano.

A qualidade deste olhar provém da “compaixão”.
A experiência cristã se constitui como uma “mística de olhos abertos” (J.B. Metz), que, tal como um colírio, dilata as pupilas dos olhos para captar o horror tremendo do inferno da pobreza e da exclusão.
A espiritualidade cristã nos ajuda a transitar pelos cenários humanos com os olhos abertos, e nos oferece uma nova fonte de conhecimento que brota da indignação diante de tanto sofrimento inocente e injusto que nos fere.
Olhar-nos com os olhos do outro que nos visita supõe uma autêntica revolução interior. O olhar do outro nos arranca do “ensimesmamento” que nos cega e desmascara a enfermidade raiz de nossa cultura atual:  a indiferença e a cínica apatia diante da dor dos pobres e marginalizados.

É aqui que a parábola do samaritano desvela seu significado último e perturbador: o “outro” é o lugar originário no qual Deus nos fala e nos encontra, convocando-nos para a responsabilidade e solidariedade.
Por ser presença de uma linguagem, o corpo é o outro em seu ser de necessidade, a alteridade em sua dignidade que nos desperta de nosso isolamento e dos nossos projetos intimistas.
“Onde está Deus?” Não está entre os conhecedores de Sua identidade, não está nas instituições que o representam, mas está lá, onde ninguém o espera: quem não é “nada” O hospeda e O aponta.
Jesus deslocou Deus, transferindo seu habitat do templo para o corpo daquele que está à “beira da estrada”. O excluído é doravante, a revelação da Sua presença.
O motivo pelo qual o lugar de onde Deus fala é o excluído da vida é porque é desse lugar que Ele convoca o eu para “fazer estrada”, viver o êxodo permanente, gerando-me continuamente para a responsabilidade como pura gratuidade e generosidade. Libertando-me do auto-aprisionamento, o eu tem acesso a uma nova proximidade carregada de compaixão.
O “próximo” é todo homem e toda mulher através de quem o amor de Deus encontra o meu “eu”, chamando-me para sair de sua terra e caminhar em direção ao outro. É o rosto que derruba o “eu” de seu pedestal e de seus preconceitos e o convoca à bondade, à santidade, à compaixão e à generosidade. Importa “re-inventar” com urgência a solidariedade como valor ético e como atitude permanente de vida...; não uma solidariedade ocasional, mas uma solidariedade cotidiana que se encarna nos pequenos gestos de inclusão.

Texto bíblicoLc 10,25-37

Na oração:
Alguns sociólogos têm estudado um fenômeno pós-moderno, a “invisibilidade urbana”. Hoje nos acostumamos com a miséria, com a violência, com o sofrimento e exclusão... E essas realidades não nos chocam. É como se não víssemos. “Caímos na globalização da indiferença. Nós nos habituamos ao sofrimento do outro” (Papa Francisco).
- Considerar a “invisibilidade” das pessoas nas estradas de sua vida: que atitudes brotam de seu coração?
- Considerar a gratuidade do samaritano: “ele viu, sentiu compaixão e cuidou do ferido”. Você se deixa afetar pela situação do excluído e marginalizado, vítimas de uma sociedade insensível?

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Estar no Mundo à Maneira de Jesus

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 14º Domingo do Tempo Comum - Ano C.


“...e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde Ele própria devia ir” (Lc 10,1)

Ainda carregamos resquícios de uma falsa visão da santidade como afastamento do mundo e de seus perigos e buscar refúgio no deserto, nas montanhas ou nos conventos. O(a) santo(a) não se afasta do mundo para encontrar a Deus; ele(ela) faz a “experiência” do Deus agindo no mundo.
Aí O encontra e caminha com Ele; o(a) santo(a) é aquele(a) que faz o que Deus faz neste mundo, aquele que faz com que este mundo seja justo, santo, salvo. O mundo não é só o “habitat” da sua missão: é sobretudo a fonte da sua espiritualidade, o lugar certo para encontrar a Deus e escutar o Seu chamado.
Pondo-nos na escola do Evangelho, é aqui, neste mundo, que Jesus nos chama a estender o Reinado do Pai, trabalhando cada dia como amigos seus que passam, observam, curam, se compadecem, ajudam, transformam, multiplicam os esforços humanos.
Apaixonados pelo Reino, nos apaixonamos pelo mundo que, em sua diversidade, riqueza, simplicidade, profundidade, fragilidade, sabedoria... nos fala com novos traços do Deus que buscamos com desvelo. E amando e investigando tudo o que é do mundo, adoramos o Deus Santo que habita em tudo.
O(a) santo(a) seguidor(a) de Jesus é aquele(a) que, na liberdade, afirma: “Fora do mundo não há salvação”. Ele(ela) descobre na realidade do mundo e da história os “sinais dos tempos” e entra em comunhão com tudo, porque tudo é “diafania” de Deus. Enraíza sua convicção nesta visão, nesta mística da presença de Deus em sua obra, na contemplação de um mundo chamado a re-converter-se em justo e belo, verdadeiro e pacífico, unido e reconciliado, entranhado em Deus, como no primeiro dia da Criação.

A vocação à santidade ativa em nós a paixão pelo Reino, mobilizando-nos a levar adiante a missão, a ir aos lugares do mundo onde há mais necessidade e ali realizar obras duradouras de maior proveito e fruto.
Como seguidores(as) de Jesus, movidos(as) por um olhar novo, entramos em comunhão com a realidade tal como ela é. Trata-se de olhar o mundo como “sacramento de Deus”. Um olhar capaz de descobrir os sinais de esperança que existem no mundo; um olhar afetivo, marcado pela ternura, compassivo e por isso gerador de misericórdia; olhar que compromete solidariamente.
O(a) discípulo(a) missionário(a) não é aquele(a) que, por medo, se distancia do mundo, mas é aquele(a) que, movido(a) por uma radical paixão, desce ao coração da realidade em que se encontra, aí se encarna e aí revela os traços da velada presença do Inefável; o mundo já não é percebido como ameaça ou como objeto de conquista, mas como dom pelo qual Deus mesmo se faz encontrar. O mundo não é lugar da exploração e da depredação, mas é o lugar da receptividade, da oferenda e do encontro inspirador.

Para realizar esta nobre missão, não podemos permanecer sentados. Seguir Jesus exige de nós uma dinâmica continuada, um colocar-nos a caminho em direção às margens. Não podemos viver o chamado do “Rei Eterno” a partir de uma cômoda instalação pessoal. A disponibilidade, o despojamento e a mobilidade são exigências básicas.
Corremos o risco de viver em mundos-bolha; podemos construir nossa vida encapsulada em espaços feitos de hábito e segurança, convivendo com pessoas semelhantes a nós e dentro de situações estáveis. É difícil romper e sair do terreno conhecido, deixar o convencional. Tudo parece conspirar para que nos mantenhamos dentro dos limites politicamente corretos. Todos podemos terminar estabelecendo fronteiras vitais e sociais impermeáveis ao diferente. Se isso acontece, acabamos tendo perspectivas pequenas, visões atrofiadas e horizontes limitados, ignorando um mundo amplo, complexo e cheio de surpresas. Muitas vezes “vemos” o diferente, mas só como notícia, como o olhar do espectador que sabe das “coisas que acontecem”, mas não sente e nem se compadece por elas.

Viver a santidade no mundo de hoje nos move a encontrar outras vidas, outras histórias, outras situações…; escutar outros relatos que trazem muita luz para a nossa própria vida. Olhar a partir de um horizonte mais amplo, ajuda a relativizar nossos próprios absolutos e deixar-nos impactar pelos valores presentes no outro. Escutar de tal maneira que o que ouvimos penetra na nossa própria vida; isso significa implicar-nos afetivamente, relacionar-nos com pessoas, não com etiquetas. Acolher na nossa própria vida outras vidas; abrir espaços para que as histórias dos excluídos e diferentes encontrem morada nas nossas entranhas, na nossa memória e no nosso coração.
O encontro com o diferente possibilita também o encontro consigo mesmo, ou seja, encontrar a própria verdade. Isso implica em se perguntar pela própria identidade, por aquilo que dá sentido à própria vida, o impulso por viver de uma maneira cristificada, conforme os valores do Reino.
Para que haja verdadeiro encontro com o outro, o deslocamento expõe quem se desloca, deixa-o vulnerável e “contaminado” pela realidade que encontrou. Quando alguém se desloca e se aproxima de realidades diferentes, é para encontrar, encontrar-se e aprender.

Como discípulos(as)-missionários(as) de Jesus, nosso desafio não é fugir da realidade, mas aproximarmos dela com todos os nossos sentidos bem abertos para olhar e contemplar, escutar e acolher, percebendo no mais profundo dela a presença ativa do Deus que nos ama com criatividade infinita, para encontrar-nos com Ele e trabalhar juntos por seu Reino. O mundo precisa de místicos(as) santos(as) que descubram onde está Deus criando algo novo, para proclamar esta boa notícia.
Nós cristãos honramos a santidade universal sem fronteiras de raça, de credo, de cultura...
Santidade é dizer sim à vida; é um caminho a ser percorrido “de dois em dois”.
Porquê esta insistência em fazer o caminho ao menos junto a outro(a)? Do envio dos discípulos e discípulas de dois em dois, podemos tirar duas consequências: uma para os momentos de fragilidade, de cansaço e de desânimo; a outra para quando nos sobrevém inesperadamente a luz, a alegria...
Precisamos fazer o caminho em companhia para poder estendermos a mão quando caímos, para aprender a sustentar mutuamente... E, também de “dois em dois” para ter alguém ao nosso lado com quem poder brindar, porque é uma ação que não é possível realizá-la sozi-nhos. Celebrar, agradecer, brindar a vida... para isso, quanto mais companheiros(as) de estrada, melhor.

Textos bíblicos:  Lc 10,1-12.17-20

Na oração:
Todas as narrativas acerca do chamado conservam a marca intencional de um encontro surpreendente, inesperado e expansivo: deixar a vida estreita para entrar no amplo espaço de vida proposto por Jesus.
- Diante de Jesus, que “passa e chama” a todos, responda: como você vive, hoje, sua missão no trabalho, no seu ambiente, na sua comunida-de? Que sentido você quer dar à sua própria vida?... em quê gastar suas forças, capacidades? Como viver, no seu cotidiano, sua vocação de discípulo(a)-missionário(a)?