sábado, 28 de outubro de 2017

Um coração cheio de Deus e de Nomes

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 30º Domingo do Tempo Comum - Ano A.

“Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos: amor a Deus e amor ao próximo”

Jesus, no seu ministério em favor da vida, se depara com inúmeras perguntas; muitas delas escondiam uma pretensão de colocá-lo à prova e desmoralizá-lo diante dos outros. Desta vez aparece uma pergunta fundamental e radical: “qual é o primeiro de todos os mandamentos da Lei”?
Jesus, em primeiro lugar, responde à pergunta tal e como lhe fazem. De sua boca, o mandamento bíblico do amor recebe toda sua profundidade, não somente como compêndio da lei, mas como síntese da vida: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento”. Trata-se de amar com tudo o que existe em nosso ser, em termos de capacidade de decisão (coração), de alento vital (alma), de consciência (mente) e de força vital (forças).
Amar a Deus com todo o coração é amá-lo com o que há nele: com seu lado de luz e de sombra, com seu trigo e sua cizânia, com sua terra boa e sua terra baldia...; podemos amá-lo sem medo, podemos amá-lo sem ter que esconder nossas fragilidades, podemos amá-lo a partir de qualquer situação de nossa vida, pois nada do que é humano fica fora, tudo se converte em motivo para deixar-nos habitar por sua ternura amorosa. Isso significa que não teremos que esperar chegar à perfeição para poder amá-lo com todas as nossas forças, que não precisamos ter tudo resolvido dentro de nós, que não temos que ter a casa de nossa vida ordenada... mas que é Ele quem, ao entrar em nosso interior e habitá-lo, vai ordenando tudo à sua maneira e nos faz capazes de acolher e de amar os outros.

Mas, Jesus aproveita também para responder à pergunta que não lhe fora feita, mais profunda e reveladora. Jesus é mestre em fazer nova pergunta em cima de outra pergunta; Ele não perde a ocasião e aproveita das perguntas para chamar a atenção para algo mais importante.
Jesus responde, em primeiro lugar, aquilo que todos já conheciam; mas, para que não ficassem acomodados com o primeiro mandamento, acrescenta-lhes o segundo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
No fundo, Jesus veio lhes dizer que sim, que o principal é o amor a Deus, mas que o amor a Deus não era verdadeiro se não era acompanhado do amor ao próximo. Mais ainda, Jesus quis indicar que o mandamento do amor ao próximo é de igual valor e de igual importância que o mandamento do amor a Deus.
Além disso, Jesus simplificou as coisas, porque frente aos 248 preceitos e as 365 proibições reduziu tudo a dois. E com isso era suficiente: “ama a Deus e ama o teu próximo”.
Por esta resposta eles não esperavam, mesmo dizendo-lhes que estes dois mandamentos são toda a Lei. E que com estes dois mandamentos todas as demais normas e leis são secundárias.

Nós, certamente, não temos a pretensão de tentar e nem de colocar Jesus à prova. Mas é possível que tenhamos medo de lhe fazer a mesma pergunta dos fariseus, pois temos uma infinidade de leis, a maioria inúteis e sem sentido. Encantam-nos a floresta de leis; basta olhar o Código de Direito Canônico e nos encontramos com 1752 leis e vários Apêndices; cada Diocese e paróquia tem suas normas e leis; e se levarmos em consideração o Código Civil, o Código Penal e demais códigos...
Jesus é muito mais simples e direto; para Ele dois mandamentos são suficientes.
Nós também temos medo de lhe perguntar pelo essencial, pois temos medo de lhe perguntar sobre o amor; até nos atreveríamos perguntar pelo amor a Deus, mas que não diga que temos de amar o próximo “como a nós mesmos”.
No entanto, no seguimento e identificação com Jesus, precisamos de dois remos: o amor a Deus e o amor ao próximo. Se nos falta um deles, nossa fé não caminha. Não caminha se não amamos a Deus com todo nosso coração; tampouco caminha se não amamos os outros “como a nós mesmos”.
Temos inventado mil e uma devoções e nos sentimos bons; criamos uma infinidade de orações e de ritos, e nos sentimos merecedores do prêmio celeste; cumprimos uma infinidade de ritos para pacificar nossa relação com Deus. E, no entanto, sabemos que de nada vale todo este arsenal de coisas piedosas e rituais, se não somos capazes de amar. O coração que não ama é um coração de casca, estéril, seco... O coração que não ama é um coração vazio de Deus e dos seres humanos.

“No final do meu caminho me dirão: - E tu, viveste? Amaste? E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes” (D. Pedro Casaldáliga).
O coração humano deveria ser também uma espécie de agenda onde, como diz Casaldáliga, no final da vida, quando seremos perguntados sobre o amor, nos bastará abrir o coração para que Deus o veja cheio de nomes. E isso será um dos sinais de que temos vivido e amado.
Quando amamos, escrevemos o nome das pessoas em nossos corações. Por isso, podemos imaginar o coração de Deus cheio de nomes: o teu, o meu e o de todos. Também os daqueles a quem ninguém chama e a quem ninguém os leva em seu coração.
Quando quero saber se de verdade amo a Deus, olho se levo seu Nome em meu coração.
Quando quero saber se de verdade amor o meu próximo, me pergunto quantos nomes carrego escritos no coração. Quando quero saber a quantos não amo, olho o meu coração e vejo quantos nomes apaguei ou quanto nunca escrevi nele ou quantos faltam.
Ser seguidor(a) de Jesus é encher o coração de nomes, muitos deles nunca temos escutado e até é possível que nem saibamos pronunciá-los.
O(a) seguido(a), que entrega sua vida pela causa do Evangelho e por amor à humanidade, tem o coração cheio de nomes, inclusive aqueles que nem conhece e nem conhecerá nunca, mas que ele(ela) continua amando e continua investindo sua vida para que algum dia também eles entrem no fluxo do amor divino.

Esta é a razão pela qual o “segundo mandamento” – “amarás o teu próximo como a ti mesmo” – é “semelhante ao primeiro”. Não amamos por imposição, mas porque somos amor. No amor, nada é obrigação, tudo é dom! É certo que podemos viver na superfície mais egocêntrica, ignorando e bloqueando nossa realidade mais profunda. Mas, na medida em que vivemos a partir dessa realidade profunda, tudo aparece unificado e harmonioso; tudo fica admiravelmente integrado: uma existência sem costuras, sem emendas, tecida e mantida no Amor fontal de Deus.
O amor unifica tudo a partir do mais profundo. Ele dá unidade a toda a nossa atividade, por mais dispersa que ela possa parecer. O amor é a força que pode dinamizar e unificar nossa existência. Podemos fazer muitas coisas, comprometer-nos com mil atividades, todos os dias; no entanto, o mais importante é fazê-lo sempre da mesma maneira: com amor.
O amor estimula o que há de melhor em nós. Ele ilumina nossa mente proporcionando clareza de pensamento e criatividade; dinamiza toda nossa pessoa; faz crescer nossas energias; desperta nossa capacidade para a busca do que é me-lhor; dá um novo colorido à nossa vida cotidiana; capacita-nos a realizar nossas atividades com mais inspiração; enraíza-nos no mais profundo da vida, nessa corrente vital que flui de um Deus, que é mistério de amor. É por isso que o amor cura e salva.
Texto bíblicoMt 22,34-40

Na oração:
Faça uma leitura das “marcas” do Amor de Deus em sua vida; crie um clima de ação de graças.


sábado, 21 de outubro de 2017

DEUS ou CÉSAR: a partir de onde e de quem nós vivemos?

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 29º Domingo do Tempo Comum - Ano A.


“Devolvei a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (Mt 22,21)
               
Jesus sempre foi presença desconcertante; sua vida desconcertava a todos; seu modo de falar e de agir, sua liberdade de espírito desconcertava sobretudo aqueles que eram investidos de “poder religioso”.
Os fariseus mandam seus discípulos fazerem uma pergunta maldosa a Jesus; eles não têm coragem de olhar Jesus de frente e por isso mandam outros. Duas atitudes inautênticas: aqueles que mandam, porque não tem coragem de fazer a pergunta e ouvir o que não querem; e aqueles que são “mandados”, sem personalidade própria, fazem o que os outros dizem para fazer... 
Parece que Jesus era um mestre em desativar perguntas com intencionalidade enganosa e desmascarar criativamente aqueles que urdiam armadilhas com a única finalidade de enredá-lo nelas.
Isso já ocorrera em outras situações; mas o evangelho de hoje trata de uma questão particularmente sensível para um povo dominado pelo império romano e submetido a uma agravante pressão através do pagamento escorchante dos impostos.
Aqui os fariseus revelam uma confusão de “poderes” ao dirigirem uma capciosa pergunta a Jesus sobre a licitude ou não em pagar o imposto a César.
Mas Jesus não só desmascara a incoerência daqueles que estendem a armadilha, senão que introduz uma afirmação carregada de consequências, que transcende por completo a “anedota” do debate: “Devolvei a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”.

Jesus, que não vivia a serviço do imperador de Roma, senão “buscando o Reino de Deus e sua justiça”, acrescenta uma grave advertência sobre algo que ninguém lhe perguntou: “devolvei a Deus, o que é de Deus”.
A moeda, que representa o Imperador César, tem um valor relativo, mas o ser humano tem um valor absoluto, porque é imagem e semelhança de Deus.
A moeda traz a “imagem” de Tibério, mas o ser humano é “imagem” de Deus: pertence só a Deus. As pessoas nunca podem ser sacrificadas a nenhum poder.
Jesus não põe Deus e César no mesmo nível, senão que toma partido por Deus.
César se impõe (imposto) pelo poder, que oprime e exclui; Deus não se impõe (não é imposto); faz-se dom, se esvazia de todo poder e se aproxima de nós, se faz comunhão. Por isso, o relacionamento entre o ser humano e Deus dá-se na esfera da mais pura liberdade, lá onde as decisões são ditadas pelo amor.

Normalmente utiliza-se a frase “devolvei a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” para justificar o poder. Se algo está claro no evangelho é que todo poder é nefasto porque massacra o ser humano. Ouvimos repetir com insistência que todo poder vem de Deus. Pois bem, segundo o Evangelho, nenhum poder pode vir de Deus, nem o político nem o religioso. Em toda organização humana, quem está à frente, está ali para servir aos outros, não para dominá-los ou submetê-los.  
Porque o que a resposta de Jesus faz é desativar por completo toda absolutização do poder. Ninguém nem nada pode atribuir a si um poder absoluto. Só Deus é Deus.
Jesus não busca defender os interesses de Deus frente aos interesses de César, senão defender o ser humano de toda escravidão; Ele não está propondo uma dupla tarefa para os humanos, mas a única tarefa que lhe pode levar à sua plenitude: servir ao outro.
Jesus deixa muito claro que César não é Deus, mas, muitas vezes, nós nos apressamos em converter a Deus em um César. É preciso ter clara consciência que Deus não é um César superior e que nem atua como César. Quando alguém atua com poder, atua como um César.

A frase do Evangelho também foi entendida como que é preciso estar mais dependente do “César religioso” do que do “César civil”. Nenhum exercício do poder é evangélico. Não há nada mais contrário à mensagem de Jesus que o poder. Nenhum ser humano é mais que outro nem está acima do outro. “Não chameis a ninguém de pai, não chameis a ninguém chefe, não chameis a ninguém senhor, porque todos vós sois irmãos”. A única autoridade que Jesus admite é o serviço.
Aqui se trata de dividir atribuições, nem sequer com vantagens para Deus. Deus não compete com nenhum poder terreno, simplesmente porque Deus não atua a partir da categoria de poder.
Além disso, todo aquele que procura atuar com o poder de Deus, está se enganando. Jesus nunca defendeu o poder senão as pessoas, sobretudo àqueles que mais precisam de defesa: marginalizados, explorados, excluídos...

A única maneira de entender todo o alcance da mensagem de hoje é superar a imagem de Deus que estamos arrastando há muito tempo. Deus, ao criar, não se separa da criação. A Criação é o transbordamento do coração de Deus. Não há nada que não seja de Deus, porque nada há fora d’Ele. O ser humano é o grau máximo da presença de Deus na Criação. Somos criaturas de Deus, só a Ele pertencemos totalmente.
A palavra de Jesus, portanto, aponta para um modo de se viver; ou, mais exatamente, questiona sobre o “a partir de onde e de quem” nós vivemos: a partir do nível do relativo (césar) ou a partir do nível profundo (Deus)?
Alimentamos diferentes “césares” em nosso coração, aos quais nos fazemos submissos: instinto de posse, busca de poder e prestígio, consumismo, obsessão por um bem-estar material sempre maior, o espírito de competição... Quando é “césar’ que determina nossa vida, sua influência envenena nossa relação com Deus, deforma nossa verdadeira identidade e rompe nossa comunhão com os outros; nos desumanizamos.
Como seguidores de Jesus, devemos buscar n’Ele a inspiração e o alento para viver de maneira livre e solidária.

O Deus que Jesus nos revelou é o Deus que se faz presente no pequeno, no simples, naqueles que não tem voz e nem vez neste mundo. Não é o Deus do poder absoluto, nem o Deus que exige obediência e submissão àqueles que se apresentam como “representantes” do divino.
O Deus de Jesus é o Deus que responde e corresponde aos anseios de respeito, dignidade e felicidade, que todos trazem inscritos no sangue de suas vidas e nos sentimentos mais autênticos e nobres.
O Deus Misericordioso não impulsiona ninguém a desejar poderes, por mais nobres que possam parecer. Ele é o Deus que só legitima a identificação e até a fusão com o destino das vítimas deste mundo.
Esta foi a principal fonte de conflitos de Jesus com os fariseus e sacerdotes que, em nome de Deus, exerciam o poder e a dominação sobre as pessoas e sobre o mais íntimo que há em cada um: sua consciência e sua liberdade para tomar decisões na vida e expressar sua fé em Deus. 

Texto bíblicoMt 22,15-21
Na oração: 
Quem é o “senhor” que move seu coração?
- Deixar Deus desalojar os “césares” que carrega em seu interior.

sábado, 14 de outubro de 2017

A provocativa encruzilhada

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 28º Domingo do Tempo Comum - Ano A.


“Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes” (Mt 22,9)

Através de suas parábolas Jesus nos revela uma profunda visão contemplativa da vida; e esta Sua visão não o afasta da realidade; pelo contrário, mantém-no sempre em contato com a fragilidade da existência humana: sentou-se à mesa e comeu com os pecadores; misturou-se com os doentes e os impuros; comprometeu-se solidariamente com os mais pobres, oprimidos e excluídos de seu tempo; revelou sua presença compassiva junto aos mais fracos e sofredores, vítimas de uma estrutura social e religiosa injusta.
Jesus destruiu as categorias de puro e impuro, perfeito e imperfeito, justo e pecador... E anunciou um banquete para todos, “maus e bons”.
O Deus que Jesus revelou mostra o seu rosto na proximidade e na reconciliação para com todos. Ele não tem vergonha de se aproximar e de se misturar com a pobreza e a fragilidade dos seus filhos e filhas; Deus encontra-se mergulhado no humano, acolhe tudo e plenifica tudo (inclusive a fragilidade). Ele se apresenta como um “Deus errante”, que corre ao encontro daquele que está perdido.
O Deus de Jesus não age do mesmo modo que o “deus dos fariseus”. Ele não faz comparações entre uns e outros; não coloca os impuros em situação de desvantagem. Ele é o Deus “festeiro”, que sempre propõe a “mesa da inclusão” a todos os seus filhos e filhas.

Jesus põe no centro de seu anúncio a indigência, a fragilidade, o limite... e não a perfeição, a pureza... Ele sabia que a pessoa consciente de suas fragilidades e pobrezas é mais disponível e aberta à Graça de Deus.
Para Jesus, a experiência da fragilidade dá a conhecer a profundeza da existência humana.
É reconhecendo-se fraco e limitado que o ser humano se abre para Deus e para os outros; é sua própria fragilidade e pobreza que o fazem sensível à escuta e acolhida do convite de Deus para participar da mesa do Reino. Este é o caminho de Deus em direção ao ser humano, e do ser humano rumo a Deus.
Para fundamentar a imagem do Deus que se deixa afetar por aqueles que estão excluídos nas encruzilhadas da vida, Jesus conta a parábola de um rei que prepara um banquete de casamento do seu filho para muitos convidados.
Como toda parábola, o ponto de inflexão está em rejeitar a oferta. Ninguém rejeita um banquete. Mas o primeiro e o segundo grupo de convidados, com o coração marcado pela ingratidão e afeiçoados aos seus bens e interesses, fazem-se de surdos diante do convite. O campo, os negócios, a violência... é mais importante que a festa da vida.
Quando nenhum dos convidados comparece, o dono da casa ordena aos empregados: “ide às encruzilhadas dos caminhos...”, para que convidem a todos, maus e bons. O importante é que haja banquete, que haja festa.
E com frequência, os mais disponíveis são precisamente aqueles que não podem fazer grandes festas.
Os pobres e excluídos tem poucas festas, mas encanta-lhes as festas; são aqueles que mais sabem festejar.
São eles que dizem sim ao primeiro convite; são eles que não podem comprar campos, nem juntas de bois. E Deus enche a sala com todos eles.

É provável que as pessoas, às quais o texto se refere originalmente, tenham sido aquelas que viviam fora de Jerusalém, em meio a um mundo de pobreza e exclusão. Tal situação as impedia participar de qualquer festa. Mas se entendermos a parábola em chave de interioridade, como motivação para nosso caminho em direção a uma vida maior, podemos afirmar: o chamado a uma vida em profundidade pode ficar ofuscado pelo ego fechado e superficial.
O apego aos bens e aos negócios podem nos impedir de escolher o caminho da vida expansiva; uma vida bem-sucedida é o maior inimigo da transformação. Quem se acomoda no sucesso não prosseguirá em sua caminhada interior e ficará parado em sua imaturidade humana. Quem confia demais em seus próprios negócios ou em seu sucesso pode romper o vínculo com o coração e renegar seu verdadeiro eu.
O perigo está em ter ouvidos para os cantos das sereias, e não para o convite que vem do mais profundo de nosso ser, que nos chama a uma plenitude humana.

Por outro lado, o que a parábola está querendo também nos revelar é isto: também aquilo que faz parte do nosso inconsciente, que deixamos abandonado em algum ponto da nossa encruzilhada interior, ou seja, tudo aquilo que em nós foi rejeitado e reprimido, também quer ser incluído e ter um lugar na mesa festiva com Deus. Toda a nossa história é importante, tudo o que jamais foi experimentado e vivenciado deve ser convidado para a integração. Cada aspecto de nossa vida, rico ou pobre, faz parte da nossa humanidade, e
tudo o que é humano é lugar de salvação; não devemos negar nossos desvios e fracassos, pois eles também querem contribuir para à nossa verdadeira identidade em Deus. Justamente os aspectos rejeitados e excluídos de nossa vida é que estão mais sensíveis ao convite à vida plena.
Só podemos nos tornar plenos em Deus quando lhe oferecermos nossas fraquezas, limitações e fragilidades. Tudo aquilo que escondermos de Deus fará falta na nossa humanização. Se não aceitarmos os aspectos abandonados e excluídos nas esquinas e encruzilhadas da nossa existência, atravessaremos a vida apenas com metade daquilo que somos: um ser humano que apenas quer revelar seu lado positivo. Quando nos encontramos assim, sentimos que nada pode fluir, porque algo nos falta.

Essa força terapêutica da parábola nos transmite uma grande esperança: tudo o que compõe nossa história, rica e pobre, positiva e negativa, compõe nossa vida; nada deve ser rejeitado e nem julgado; tudo deve ser acolhido e tudo deve ser oferecido ao Senhor da festa.
Toda a nossa vida, todo o nosso ser, tudo o que carregamos em nosso interior, bom e mau, quer ser transformado pelo Espírito e pelo amor de Deus; só assim, aquela imagem original que Ele tem de cada um pode se revelar e brilhar em qualquer circunstância de nossa vida.
Podemos, então, afirmar que a vida está nas encruzilhadas de nossa existência; afirmando de outro modo: as encruzilhadas estão também carregadas de vida. É das encruzilhadas existências que pode nos surpreender com o surgimento do novo. É ali que o convite à plenitude de vida ressoa com mais intensidade.
Nossa razão, nosso “eu perfeccionista”, nosso “ego inflado”, nossas afeições desordenadas...não se deixam impactar pelo convite para a festa da vida. Estão seguros de si, atrofiados e petrificados em seus mundos...

Mas há ainda uma outra imagem surpreendente, revelada pela parábola deste domingo: os maus também são convidados para o banquete festivo. De repente, porém, a atmosfera muda mais uma vez. Entre os convidados, o rei descobre um homem sem a “roupa” apropriada para o casamento. Quando o homem não sabe responder à pergunta por que comparecera à festa sem a roupa de casamento, o senhor ordena que seja jogado lá fora na escuridão.
Todos os nossos aspectos são convidados ao banquete da completude, tantos os aspectos bons quantos os maus, mas nós também precisamos fazer algo.
Esta é uma notícia boa: tudo em nós pode alcançar a união com Deus – também nossos aspectos sombrios e maus -, mas precisamos revesti-los com a roupa do amor, precisamos oferecê-los conscientemente a Deus. Se assim não o fizermos, eles não serão transformados, mas continuarão excluídos na escuridão de nossa existência; com isso não haverá uma festa de casamento, não haverá plenitude de vida.

Texto bíblico: Mt 22,1-14

Na oração:
“Fazer estrada com Deus” nos recorda constantemente que Ele está nos chamando nas provocativas encruzilhadas de nossa existência. O desafio permanente é este: examinar as “coisas” que estão ocupando por completo nosso coração e “tomando conta de nós” a ponto de bloquear o fluxo da Graça e da Vida.
No fundo, a questão fundamental é esta: a quê “reino” você está servindo? O reino do seu “ego” ou do Deus da vida?

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

APARECIDA: uma mulher, uma festa, uma presença inspiradora

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho da festa de N. Senhora Aparecida.


“A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Paraíba do Sul, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele” (Homilia do Papa Francisco em Aparecida – 2013)
Uma festa mariana é sempre um motivo de alegria; a festa da mãe Aparecida é, para o povo brasileiro, um momento de inspiração e de profundidade. Neste dia festivo, o que se pode afirmar de mais grandioso a respeito de Maria é que ela foi uma mulher absolutamente humana; nessa humanidade devemos descobrir a grandeza de sua pessoa. Se fundamentamos sua grandeza nos brocados e indumentárias que fomos acrescentando durante séculos, estaremos minimizando seu verdadeiro ser e dando a entender que, em si mesma, Maria não é suficientemente importante, já que a valorizamos mais pelos adornos que vamos colocando sobre ela.
Em Maria descobrimos aquilo que, na essência, todos somos. Conhecer seu verdadeiro ser é a chave para a interpretação atualizada da festa de hoje. Não devemos nos conformar em olhar Maria para ficarmos extasiados diante de sua beleza. O que descobrimos nela, devemos também descobrir em nosso próprio ser. O que importa realmente é que em Maria e em todo ser humano há um núcleo intocável que nada nem ninguém pode manchar. O que há de divino em nós será sempre imaculado. Tomar consciência desta realidade, seria o começo de uma nova maneira de entender a nós mesmos e de entender os outros.

Maria é grande em sua simplicidade e não temos nada que acrescentar ao que ela foi desde o princípio. Basta olhar para o seu verdadeiro ser e sua maneira original de se fazer presente junto aos outros para, então, descobrir o que há de Deus em seu interior; isso é que sempre será puríssimo, imaculado. Se descobrimos isso nela, é para tomar consciência de que também está presente em cada um de nós.
Como a imagem negra e despojada encontrada no rio Paraíba do Sul, Maria não necessita nenhum adorno. Néscio é aquele que pinta um diamante; tolo é aquele que cobre uma pérola de purpurina; fantasioso é aquele que pretende enfeitar uma rosa que acaba de se abrir pela manhã; insensato é aquele que tenta acariciar uma borboleta que acaba de sair de seu casulo. Maria é o diamante, a pérola, a rosa, a borboleta. Livre de toda indumentária, ela é mais formosa.
De nada nos servirá descobrir a pérola em Maria se não a descobrimos também em nós mesmos. Somos milhões de diamantes que habitamos esta terra, embora cobertos de terra e barro. De nada nos servirá descobrir a pérola em Maria se não a descobrimos em nós em nós também.
Contemplar Maria e deixar des-velar (tiar o véu) a nobreza humano-divina escondida em nosso interior.

Em todos nós, algo de bom, de inocente, de imaculado, continua a dizer “sim” ao incompreensível Amor... É preciso encontrar esta dimensão interior por onde entra a vida, este lugar por onde entra o amor. É uma experiência de silêncio, uma experiência de intimidade, alguma coisa de mais profundo do que aquilo que aparentamos ser; existe em nós alguma coisa de mais divino e mais profundo, que é a beatitude original.
Somos habitados por uma realidade mais profunda que a nossa resistência, um sim mais profundo que todos os nossos “nãos”, uma inocência original que todos os nossos medos e feridas...
Maria é a nossa verdadeira natureza, é a nossa verdadeira inocência original, aberta à presença do divino.
Nesse sentido dizemos que ela é Imaculada como referência única de uma humanidade que também é capaz de escutar Deus e de responder-lhe; ela é Imaculada porque nos “des-vela” que também nós podemos romper as amarras que nos desumanizam; ela é Imaculada porque “re-vela” que o ser humano é “lugar” de abertura a Deus, que é possível viver em liberdade, dialogando com os outros, a serviço da comunhão e da vida.

Porque se fez presente a Deus, Maria vai se fazendo presente na vida das pessoas de uma maneira sempre mais criativa e atenta; presença que se faz manancial de vida para os outros, tornando-se, ao mesmo tempo, amiga, irmã e mãe de todos.
A presença silenciosa, original e mobilizadora de Maria desperta e ativa também em nós uma presença inspiradora, ou seja, descentrar-nos para estar sintonizados com a realidade e suas carências. Tal atitude nos mobiliza a encontrar outras vidas, outras histórias, outras situações; escutar relatos que trazem luz para nossa própria vida; ver a partir de um horizonte mais amplo, que ajuda a relativizar nossas pretensões absolutas e a compreender um pouco mais o valor daquilo que acontece ao nosso redor; escutar de tal maneira que aquilo que ouvimos penetre na nossa própria vida; implicar-nos afetivamente, relacionar-nos com pessoas, não com etiquetas e títulos; acolher na própria vida outras vidas; histórias  que afetam nossas entranhas e permanecem na memória e no coração.

Escutando as palavras de Maria – “Fazei tudo o que Ele vos disser!” -  nosso ouvido interior se afinará para perceber melhor o clamor dos empobrecidos e excluídos da festa da vida. É o clamor de nosso mundo.
Maria de Nazaré nos recorda que a falta de vinho é esquecimento da fraternidade, é falta de amor e de comunhao, é ausencia do Reinado de Deus entre nós. Por outro lado, em meio a tantas carencias, também se fazem visíveis os sinais do Reino: desejos de solidariedade, gente que protege a vida, homens e mulheres que buscam a Deus e se comprometem com a vida, tantas vezes ameaçada. Maria nos atrai para a festa que nunca se acaba: compartilhar nossa existencia com muita gente e viver sob os impulsos do Espírito.
A festa de hoje nos ajuda a ativar uma sensibilidade solidária, pois é muito frequente estar próximo e não perceber os outros, estar junto e não ter consciência dos problemas e dificuldades dos outros. É preciso ampliar o olhar para entrar em sintonia compromissada com a realidade carente.
O mundo nos reconhecerá pelos nossos gestos de solidariedade.

EvangelhoJo 2,1-11


Na oração:
Com a imaginação, situe-se em Caná e coloque-se junto a uma das talhas cheias de água que João, intencionalmente, diz que eram “de pedra, destinadas às purificações rituais dos judeus”. É a maneira dele fazer ver a rigidez pétrea e a inutilidade da água na hora de animar uma festa.
- Sinta tudo o que há de água depositada e parada em sua vida, com a desculpa de usá-la como purificação na relação com Deus; sinta-se como talha de pedra, fria e rígida, que o(a) torna incapaz de mobilizar sua vida em favor da vida.
- Reconheça e agradeça tudo o que na sua vida se parece com o vinho, que lhe dilata e lhe dá sentido de festa. Vinho expansivo que provoca alegria, abundância, reconstrução de novas relações...

sábado, 7 de outubro de 2017

Há uma vinha plantada dentro de nós

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 27º Domingo do Tempo Comum - Ano A.

“Certo proprietário plantou uma vinha...” (Mt 21,33)

Segundo o relato da Criação, nós viemos da argila, do húmus... Por isso carregamos em nosso corpo os mesmos elementos físico químicos da natureza: minerais, plantas, animais...
O universo inteiro mora, adormecido, dentro de nossos corpos. Cada ser humano carrega latente em seu íntimo toda a sabedoria do universo. O poeta americano Walt Whitman nos legou uma frase maravilhosa e emblemática sobre este tema: "Eu sou contraditório, eu sou imenso. Há multidões dentro de mim".
Há multidões dentro de nós, não só de animais, plantas, pássaros, peixes, minerais... como também de homens e mulheres de todas as etnias, os jardineiros da criação divina. Há um universo inteiro dentro do corpo, universo mais fantástico, mais colorido,  mais belo que o universo que existe do lado de fora.
E o maior desafio é, justamente, a convivência e a harmonia com todo o universo que carregamos em nosso próprio interior.
Partindo do evangelho de hoje, podemos dizer que há uma vinha em nosso interior, plantada com todo cuidado. A vinha interior é plantada por Deus em função da vida; por isso ela é sagrada e é lugar de contemplação e encontro íntimo com o Criador; ela é o teatro da glória de Deus, isto é, da manifestação da presença divina. Ela deve ser o lugar da fecundidade, da convivência e da celebração.
A vinha interior é o “mundo” de nossa psique, de nossos afetos, de nossas energias, de nossa espiritualidade, de nossos sentimentos e desejos, de nossas relações básicas, quer conosco mesmos e com os outros, quer com as criaturas e com Deus. Quando todos estes dinamismos estão pacificados e integrados, cria-se um “cosmos” interior, expressão da “vinha secreta” que todos carregamos.
Esta vinha é expansiva, acolhedora, aberta a todos, compartilhando seus frutos abundantes. Ela é lugar de movimento, de encontro, de desafio, lugar provocativo e criativo..., enfim, lugar carregado de presenças. Somos a verdadeira vinha a partir da qual Deus nos encontra e se dá a conhecer; cada um de nós é autêntica vinha da eterna presença de Deus.

Na perspectiva bíblica, a imagem da vinha nos fala de convivência, harmonia, alegria, de acolhida e da gratuidade, por ela ser dada em herança.
Os homens e as mulheres de todos os tempos e lugares trazem, como que enraizados nas fendas mais profundas de sua interioridade, sonhos de rara beleza. São desejos de convívio, de superação da dor e da solidão, sonhos de fraternidade e da harmonia... O “eu interior” é uma vinha que se des-vela e se re-vela aos olhos encantados.Toda pessoa possui, nas profundezas de si mesma, um lugar misterioso onde a vinha se esconde, muitas vezes em meio a entulhos de feridas, traumas, rejeições.... Ela deve reencontrar a “vinha perdida”, não fora mas nas profundezas de si mesma. Há dentro dela uma vinha secreta, fechada, que precisa ser aberta.
Caminhar pelo vinha interior é uma aventura, um desafio... Essa é a peregrinação interior: ampliar o espaço da vinha para que ela seja sempre lugar da acolhida e da festa.
É nesta direção que a imagem bíblica da vinha também aponta: torná-la uma fonte de bênçãos, de comunhão com as outras pessoas e estreitamento de relações com o próprio Criador. A vinha é o lugar no qual não só existimos e revelamos nossa verdadeira identidade, mas onde somos chamados a uma plenitude de vida, em aliança e comunhão com Deus e com todos.

No entanto, há sempre em nós uma tendência a delimitar, defender e fechar-nos em nossa própria vinha. Isso fazemos de maneira tão zelosa que nem vemos aquilo que está para além da nossa vinha. São grandes os riscos de vivermos em horizontes tão estreitos. Tal estreiteza atrofia a solidariedade e dá margem à indiferença, à insensibilidade social, à falta de compromisso com as mudanças que se fazem urgentes. A própria vinha se torna uma “bolha de proteção” e o sentido do serviço some do horizonte inspirador de tudo aquilo que fazemos.
Contemplando o cenário do nosso interior vamos também tomando consciência que perdemos o sentido da corrente da vida e de sua imensa diversidade. Esquecemos a teia das inter-dependências e da comunhão de todos com a Fonte originária de tudo.
Segundo a imagem bíblica da Vinha, quando rompemos a aliança com Deus e nos afastamos d’Ele, ela fica estéril. Por nossa atitude de arrogância e de autossuficiência, nós nos fazemos centro e vamos deixando que nossos instintos de poder, vaidade, prestígio... ocupem o espaço da vinha interior. Este auto-centramento se revela como uma força de desintegração de nós mesmos com nossa fonte Original, como força de auto-destruição e, por fim, como ruptura de comunhão com o Todo.
A “centração em nós mesmos”, sem levar em conta a rede de relações que nos envolve, provoca a quebra da “religação” com tudo e com todos. Este é o veneno que nos corrói por dentro: a petrificação de nossa interioridade, o embrutecimento de nossa sensibilidade, a perda do gosto pela verdade, pelo bem e pelo belo, o extravio da ternura e da transcendência, a atrofia da comunhão com todos...
E nossa vinha interior deixa de ser fecunda e oblativa.

Deus investiu pesado no plantio e no cuidado desta vinha interior, esperando frutos saborosos.
Uma leitura honesta do texto do evangelho de hoje nos move a fazer-nos graves perguntas: Estamos produzindo em nossos tempos os frutos que Deus espera de sua vinha: justiça para com os excluídos, solidariedade, compaixão para com quem sofre, a vivência do perdão...?
No entanto, quê coisas horríveis fizemos com a vinha interior!
Ferir nossa vinha é ferir o próprio Criador, é atrofiar a vida e suas possibilidades.
Quando observamos esta vinha outra verdejante, lugar da criatividade, da relação, da comunhão... e agora entulhada de lixo, de contaminação... uma sensação de violação, de sacrilégio, se manifesta em nosso interior. E uma voz ecoa das profundezas de nosso ser: “Que fizestes de minha vinha!”
Deus não tem por que abençoar uma vinha estéril da qual não recebe os frutos que espera. Não tem porque identificar-se com nossa mediocridade, nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Se não respondemos às suas expectativas, Deus continuará abrindo caminhos novos para seu projeto de salvação com outras pessoas que produzam frutos de justiça.

Ampliar a vinha do coração implica agilidade, flexibilidade, criatividade, solidariedade e abertura às mudanças e às novas descobertas. Algumas fortalezas e seguranças pessoais caem quando a “vinha interior”, abrasada e iluminada pela força do Espírito, começa a romper as paredes de proteção e se conecta com a grande “vinha exterior”: lugar da missão, do compromisso, do empenho em favor do Reino.
Não tem sentido ampliar a “vinha externa” se nossa mente permanece estreita, se nosso coração continua insensível, se nossas mãos estão atrofiadas, se nossa criatividade sente-se bloqueada... Vinha ampla é convite a sonhar alto, a pensar grande..., ousar ir além, rompendo o modo rotineiro de viver.
Por isso, nós e o universo só seremos felizes quando todos formos uma grande vinha, por onde o Senhor passeia, à hora da brisa fresca da tarde (Gen 3,8) . A vinha é a face graciosa que Deus oferece à humanidade. Na vinha, Deus realiza seu sonho. E fica feliz.


Texto bíblicoMt 21,33-43

Na oração: deixe o Espírito transitar pela sua vinha interior, para que aí Ele estabeleça o “cosmos” (harmonia e beleza”) e crie um coração novo, de onde brotarão frutos de refinado sabor.

- Dê nomes aos “frutos” de sua vinha interior.