Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana), como sugestão para rezar e meditar os acontecimentos da Semana Santa: QUINTA-FEIRA SANTA.
+ Prepare
sua oração, ativando uma disposição interna para viver o Mistério do Lava-pés.
- Dê
especial atenção às “adições”: lugar, posição corporal, pacificação interior, consciência
de estar diante de Deus...
+ Faça
sua costumeira oração preparatória, bem como a composição vendo o lugar, a
petição da graça...
+
Mobilize seus sentidos para que eles o ajudem a fazer uma contemplação; os
“pontos para a oração”, indicados abaixo, podem preparar o terreno interior
para acolher o gesto ousado de Jesus no Lava-pés:
- O gesto do “lava-pés”
é exemplar para todo(a) seguidor(a) de Jesus Cristo; constitui um dos gestos
mais expressivos da missão e da identidade para aqueles que exercem algum serviço
em sua comunidade. É revelação e ensinamento. É amor e mandamento. É
gesto-vida, gesto-horizonte, gesto-luz...
A cena do lava-pés
revela profundidade e delicadeza, mútuo dom e acolhimento, comunhão e
pressentimento. É um gesto profético, repleto de generosidade e de humildade.
Jesus deixa transbordar os segredos de seu coração.
Ele revela o rosto de Deus, que é Amor.
Não se pode amar alguém e olhá-lo de cima. Não se
trata também de se “humilhar”, de se colocar “abaixo” de seus pés, mas de cuidar
de seus pés para que esse alguém possa se manter de pé, para que ambos possam
estar face a face e caminhar juntos.
- Jesus sabia que seus discípulos tinham pés
frágeis, pés de argila. Amar alguém não é querer que ele fique deitado a seus
pés, mas é querer que ele se mantenha de pé, na plenitude de sua grandeza. Amar
alguém é querê-lo com os pés “livres, leves e soltos”. Lavar os pés é gesto de
humanização e gesto humanizante. É devolver ao outro a dignidade e capacidade
de dar destino à sua vida.
Jesus está no meio das pessoas como Aquele que
serve; por isso “despoja-se do manto”
(sinal de dignidade do “senhor”) e pega o avental
(toalha, “ferramenta” do servo). É o Senhor que se torna “servo”. O amor-serviço tem como primeiro símbolo o avental.
“Despojar-se
do manto” significa “dar a vida” sob a forma de serviço.
Jesus coloca toda a sua pessoa aos pés dos seus
discípulos. O Criador põe-se aos pés da criatura para revelar como ela é amada
e como deve amar.
A cena é fortemente simbólica: Jesus continua sendo sempre aquele que serve.
A partir de então, o lava-pés passa a ser o “modo
de proceder” ou o “estilo de vida” da comunidade dos
seus seguidores.
“Tal Cristo, tal cristão”: na vivência do serviço
evangélico, somos chamados a vestir o “avental
de Jesus”. “Vestir o coração” com
o avental da simplicidade, da ternura acolhedora, da escuta comprometida, da
presença atenciosa, do serviço desinteressado...
“Tirar o manto” é a atitude firme de quem se dispõe a “arrancar” tudo aquilo
que impede a agilidade e a prontidão no serviço (nossa redoma, nossa máscara,
nossa capa de proteção); é mover-nos, despojado, em direção ao outro; é optar
pela solidariedade e a partilha; é renovar a vontade de “incluir” o outro no
nosso próprio projeto de vida.
- Precisamos “levantar-nos da mesa”
cotidianamente. Há sempre um lar que nos espera, um ambiente carente, um
serviço urgente. Há pessoas que aguardam nossa presença compassiva e servidora,
nosso coração aberto, nossa acolhida e cuidado...
Sempre teremos “pés” para lavar, mãos estendidas
para acolher, irmãos que nos esperam, situações delicadas a serem enfrentadas
com coragem...
Sempre teremos, também, a necessidade de nos “sentar
à mesa” para renovarmos as forças e redobrarmos a coragem de nos
levantar e, na humildade, sem manto, servir com amor, do jeito de Jesus.
“Levantar-nos
da mesa” – “sentar-nos à mesa”: movimento
de partida e de chegada; prolongamento do gesto provocativo e escandaloso de
Jesus.
+ Na contemplação do Lava-pés (Jo 13,1-17),
observe silenciosamente os gestos de
Jesus, pois todos eles possuem uma sacralidade própria, uma reverência, uma paz
e calma especial. Não há pressa, não há agressividade, não há nada que possa
dar a mínima aparência de algo que fosse obrigado.
+
“Levantou-se da mesa”: gesto que nos revela que não se pode servir
permanecendo no comodismo. O gesto de levantar denota que há algo por ser
feito.
+ “Ficar
de pé” é
posição que expressa prontidão para servir; para isso é preciso deslocar-se do
próprio “lugar” e descer até o “lugar” do outro. É desinstalar-se do próprio
bem-estar, é dinamismo. “Estar à mesa” é sempre sinal de fraternidade, de
comunhão, mas é necessário saber levantar-se na hora certa para poder servir
com amor.
+“Tirou o
manto”: Ele mesmo
se despoja. Abrir mão do manto é uma iniciativa livre e soberana, que nasce de
seu próprio interior. O manto impede a liberdade de movimentos, não permite
fazer o serviço com facilidade. Há “mantos” que são sinais de poder.
O Senhor
assume, em tudo, a condição de servo, para servir. Troca o manto pela
toalha-avental: este parece ser o distintivo fundamental, divisor de águas
entre a religião antes e depois de Jesus Cristo. Não há serviço sem se despir
de todas as aparências de poder, de força, de prestígio.
+“Colocou água numa bacia...” Jesus assume os preparativos, não
faz trabalho pela metade. A água derramada não é feita com violência, nem com
força, mas com extrema delicadeza, com atenção e amor.
+ “...e começa a lavar os pés dos discípulos e a
enxugá-los com a toalha”.
Jesus
inclina-se aos pés dos seus discípulos, até o chão, com reverência, cuidado,
acolhida, sem fazer distinção de ninguém. Lava os pés de todos igualmente.
+ “Depois... voltou à mesa...” Jesus volta ao lugar em que
estava antes, mas volta diferente. Ele repõe o manto, mas não depõe a
toalha-avental. Ele assume e visibiliza uma nova realidade que caracteriza o
novo modo de ser, que é próprio dos cristãos.
- Depois
de contemplar com “todo acatamento” os gestos
de Jesus, converse com Ele sobre a sua admiração e sobre o seu desejo de
prolongar estes mesmos gestos no seu cotidiano.
Traga à
memória as pessoas que você precisa lavar os pés...
- Revele
sua gratidão para esta experiência tão íntima e tão intensa.
- Registre no seu caderno as “moções” mais fortes experimentadas na oração.
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