Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj, como sugestão para rezar o relato da "Entrada de Jesus em Jerusalém" - Domingo de Ramos.
“... alguns
dos fariseus disseram a Jesus: ‘Mestre, repreende teus discípulos!’
Jesus respondeu: ‘Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19,39-40)
- Entre em
seu “santuário interior”, espaço sagrado, tenda de encontro consigo
mesmo(a) e com Deus; prepare a “terra do coração” para receber a Palavra e que
ela possa fecundá-lo(a).
- Comece
sua oração, mobilizando todo o seu ser (corpo-mente-afetividade) para o
encontro com Jesus que vive a fidelidade ao Reino até sua entrega radical.
- Faça uso
dos preâmbulos: oração preparatória, a composição vendo o lugar, petição da
graça...
- Antes de fazer uma contemplação, aqueça o seu coração com as “considerações” abaixo:
Jesus participava do
sonho de todo o povo de Israel que via em
Jerusalém a cidade da promessa de paz e plenitude futura, lugar onde deviam
vir em procissão todos os povos da terra. A tradição profética havia anunciado
uma “subida” dos povos, que viriam a Jerusalém para iniciar um caminho de
comunhão e justiça e adorar a Deus no Templo, que estaria aberto para todos. Toda
a cidade se converteria num grande Templo, lugar onde se cumpririam as
esperanças dos povos.
Com sua entrada em Jerusalém, Jesus quis recuperar a cidade como lugar do encontro e da comunhão, como espaço da paz e da solidariedade..., desalojando aqueles que se fechavam a qualquer tentativa de mudança. Por isso, seu gesto provocativo e escandaloso de entrar na cidade montado num jumentinho, símbolo da simplicidade e do despojamento de qualquer pretensão de poder e força, causou violenta reação naqueles que se beneficiavam da estrutura política e religiosa da cidade.
Jesus
entra em Jerusalém rodeado pelo povo simples. Este povo, escravo e oprimido, o
aclama porque vê n’Ele uma luz de esperança, de vida, de libertação; escutou seus
ensinamentos e viu seus feitos durante alguns anos; sentiu-se tocado pelas
palavras de vida, de justiça, de amor, de misericórdia, de paz... Também
viu seus
gestos de cura dos enfermos, de defesa dos fracos, de oferta de alimento aos
famintos, de reabilitação dos desprezados, de acolhimento dos marginalizados,
de denúncia dos opressores...
Jesus quis
continuar anunciando e realizando na cidade de Jerusalém aquilo que fizera na
região excluída da Galileia; quis também humanizar esta cidade para que ela fosse
sol de justiça e paz para todos os povos.
E nós, se queremos continuar percorrendo o caminho
que Jesus abriu, temos de ser também buscadores de alternativas em nossos
espaços urbanos. Vivemos em uma sociedade na qual parece que já não é mais
possível outra economia, outra educação, outra política, outra justiça...; a
impressão que temos é a de que é preciso nos resignar com o que nos é imposto,
que não há alternativas, que só são possíveis pequenos retoques no sistema
sócio-econômico-político que nos rodeia.
O Deus, presente nas
cidades, é um Deus que nos chama e nos interpela a partir do reverso da
história, a partir dos últimos e dos excluídos, a partir dos lugares ocultos,
dos “outros-espaços” mais inspiradores.
Esta é a
cidade que Deus deseja: uma praça de encontro, uma mesa
celebrativa para todos, um espaço educativo que
inspira. A praça é de todos e todos podem ter acesso a ela, todos podem
circular livremente, criar relações e convivência, fazendo a experiência de serem
aceitos e reconhecidos como humanos.
A mesa,
no centro da praça, é lugar de hospitalidade, de festa e de memória, lugar de
chegada e de inclusão da pluralidade e da diversidade.
O espaço educativo, aberto e inclusivo, ativa a criatividade, a construção do saber alternativo e a mobilização dos recursos e dos dons de cada um.
“Entrar na nossa
Jerusalém” é comprometer-nos com uma cidade mais humana e humanizadora; a cidade
que sonhamos e que queremos: a Cidade Nova. E o(a) seguidor(a) de Jesus tem em
quem se inspirar.
A cidade é o lugar por excelência do discernimento, porque é o espaço de decisão onde se constrói o futuro
comum. Lugar da política, da
cultura, da educação, da saúde... onde
se forjam as mudanças, a capacidade de criar novos modos de existir, de romper
com as estruturas caducas que desumanizam e buscar o diferente, o novo, o
desconhecido...
Nossas cidades devem ser o espaço das inovações, dos riscos, dos experimentos e da criatividade. Nelas se encontra o lugar dos sonhos, dos desejos, da liberdade e autonomia.
“Cristificar” o espaço
urbano é ter como meta a formação
integral das pessoas; o ser humano deve ser considerado como ser em movimento, protagonista da mudança,
Vivemos, em nosso contexto
urbano, o deserto assolado pelos ventos da pobreza, da exclusão, da
violência cotidiana, da corrupção, da falta de educação... Ou seja, o deserto
da perda do horizonte de sentido, da fragmentação cultural, com sua carga de
rupturas de vínculos de pertença, onde custa reconhecer-nos uns aos outros,
onde as identidades se confundem e as responsabilidades se esvaziam...
O mundo urbano é, certamente, área de missão
da Igreja e dos cristãos. Sua principal preocupação deve ser a defesa integral
da vida e de seu sentido último, o
mundo dos valores éticos que
iluminam o homem e a mulher na sua ação no mundo. Para concretizar essa missão, os cristãos devem assumir uma atitude
testemunhal, tendo como proposta uma ética comunitária, fundada no valor sagrado da pessoa humana e de
suas relações, sobretudo com o mais fraco e pobre como interpelação do Deus
vivo.
Inspirados
no “Divino Mestre”, “todos somos educadores e exercemos esse ministério o tempo todo”;
todos somos chamados a ser guias e responsáveis uns dos outros nos
desertos das grandes cidades.
E guias para orientar, animar,
motivar; testemunhas e garantidores de sentido.
Guiar no deserto da educação é
desafiante e requer fortes doses de ousadia.
Mas, acima de tudo, assumir o
deserto é ativar, pessoal e comunitariamente, a esperança.
É preciso recuperar o sentido de educar
como um ato vital de entrega para ajudar a construir ou resgatar vidas. Com a
educação se trata de abrir possibilidades para que todos, desenvolvendo suas
próprias riquezas, sejam capazes de viver em plenitude e com dignidade, de
assumir com responsabilidade sua condição cidadã, de desejar humanizar e
transformar sua realidade.
O(a)
educador(a) na cidade, para tornar
eficaz sua ação, deve estar sempre na porta de entrada, com o olhar voltado
para as necessidades do interior das cidades. Sua função é ser “fermento
na massa”.
É
aquele(a) que ultrapassa todas as fronteiras, com uma alternativa sempre nova:
a Boa Notícia.
O Evangelho ilumina a vida das cidades e exige dos evangelizadores atitudes novas, propostas ousadas...
Pontos para Oração:
- Leia
atentamente o Evangelho indicado para este dia (Lc 19,28-40);
- Prepare-se
para fazer uma contemplação.
- Com a
imaginação recrie a cena evangélica: a cidade de Jerusalém, o grande Templo, a
diversidade de pessoas... Com a chegada de Jesus, montado em um burrinho e uma
grande multidão, faça-se presente, procurando olhar as pessoas, escutar o que
elas dizem, observar o que elas fazem...
- Em quê
lugar da multidão você se encontra? Como reage diante do gesto de Jesus? Como
você participa? Ou você fica olhando de longe, sem se comprometer...
Deixe-se
conduzir pelo movimento dramático da cena...
- Faça um colóquio
com Jesus, expressando sua admiração pela atitude ousada e corajosa dele. Fale com Ele sobre sua presença na
cidade onde mora: desejo de ser presença inspiradora, profética, de compromisso
com a construção de relações humanizadoras...
- Faça
“memória” daquilo que é mais desumano na sua cidade: como você reage diante
disso? passivo? suporta? denuncia? atua?... Relate a Jesus.
- Você participa
de alguma instituição, organismo, Ong... que ajuda a humanizar mais a sua
cidade?
- Faça uma
“leitura orante” deste tempo de oração e registre os principais sentimentos.
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