Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj, como sugestão para rezar e meditar os acontecimentos da Semana Santa 2022: Segunda-feira Santa.
“Jesus foi a Betânia...; lá, ofereceram-lhe um jantar” (Jo 12,1-2)
+ Prepare-se para a oração, criando um clima de silêncio e escuta
amorosa.
+ Permaneça, por uns
instantes, saboreando o silêncio do seu coração, pois onde há silêncio, aí está
Deus presente.
+ Peça a Deus a graça de poder transformar a sua casa/comunidade
em nova
Betânia: casa da acolhida, da amizade, da partilha solidária, da
convivência sadia...
+ Antes de “entrar em contemplação”, leia os “pontos” abaixo:
Para inspirar sua
missão como seguidor(a) de Jesus, sinta-se conduzida pelo Espírito a viver
Betânia, a ser Betânia, a assumir Betânia. Sinta-se convidado(a) a entrar na casa em
Betânia: casa de encontro, comunidade de amor e coração de humanidade. Deixe-se
inspirar por este ambiente humanizador, para prolongá-lo em seu cotidiano
familiar, social, comunitário...
O relato evangélico em Betânia confere um intenso
clima pascal à oração: a ceia é prelúdio da morte de Jesus, visibilizado pela
unção que Maria fez em honra ao Mestre. Mas também é anúncio da Ressurreição,
mediante a presença do Lázaro ressuscitado, testemunho eloquente da vitória da
vida sobre a morte.
E foi neste ambiente de relações de amizade que
Jesus encontrou a estabilidade e o ânimo para viver sua entrega radical.
Betânia é um lugar simbólico e instigante
para a vida cristã; ela é o ícone de uma comunidade de seguidores(as); nela
busca-se inspiração e motivação para viver a seguimento de Jesus na missão.
Buscamos Betânias, somos gratos
quando as encontramos, sentimos saudades quando elas nos faltam... É um espaço
de nutrientes e de alimento em sentido amplo: afeto, calor, cuidados, atenção,
presença, ternura e contato.
Betânia significa “casa dos pobres” (Beth-anawim): nela, em primeiro lugar, habitam
as pobrezas pessoais e comunitárias, a pequenez e a fragilidade; mas, também,
onde as pobrezas de nosso mundo, da humanidade, têm lugar e tocam nosso estilo
de viver, de nos relacionar, de nos mobilizar em nosso seguimento de Jesus.
Betânia é lugar da acolhida, da hospitalidade,
da escuta, da amizade e do serviço, onde todos são irmãos(ãs) sentados(as) à
mesma mesa, junto ao Mestre, em quem se centra a hospitalidade e a
atenção.
Betânia é espaço educativo, onde todos
expressam o melhor e mais original que há no interior de cada um; espaço de
aprendizagem mútua, onde todos se enriquecem com os dons compartilhados. Em
Betânia não aprendemos doutrinas, mas gestos humanizadores, gestos descentrados
e carregados de vida.
Betânia é o templo onde Jesus percebe a presença e o agir de Deus nos fatos
mais simples da vida cotidiana; Betânia é, para Jesus, um prolongamento de
Nazaré, o lugar do cotidiano, do pequeno, do simples: o lugar da revelação.
Neste
ambiente, já não há mais rivalidade entre as duas irmãs, Marta e Maria,
mas colaboração, complementariedade e reciprocidade. Servem à mesa e ungem os pés.
Juntas se fazem transparentes para algo maior que elas mesmas. Certamente Jesus
se deixou impactar por aquilo que viu fazer estas duas mulheres. E Ele, como
eterno aprendiz, vai prolongar os gestos delas na sua última Ceia.
Jesus se
deixou fazer, para poder fazer isso com outros e quis tomar para si os gestos
destas mulheres para fazer memória de sua vida. Agora é Jesus quem se mostra
necessitado, e elas são as verdadeiras educadoras, pois expandem sua capacidade
de cuidado e de ternura.
Preparar a mesa e ungir os pés: dois gestos
que se complementam mutuamente; amor que se faz serviço, serviço que é feito
com amor; amor e serviço vividos como unção.
Marta nos ensina que servir não é algo
que acrescentamos à nossa vida, nem algo que seja mérito nosso; o serviço é a
expansão natural daquilo que somos, a visibilização de
nossa interioridade.
Maria pode ser considerada como um ícone
da sensibilidade nova que o evangelho nos oferece; ela expande todo o seu afeto
num gesto de enorme ternura para com Jesus: suas mãos acariciam os pés do
Mestre e enxuga-os cuidadosamente com seus próprios cabelos.
Sua criatividade feminina encontrou
no perfume
um símbolo para expressar com grande delicadeza o que nesse momento seu coração
transbordava. Maria investiu num gesto gratuito e desmedido, expressão de um
amor exagerado. O perfume de Maria é o símbolo da vida e do amor da comunidade.
É um amor que não tem preço. Aqui, no centro do Evangelho de João, a
comunidade, reconstruída no amor, exala o bom perfume que enche toda a casa.
Na cena do jantar em Betânia, outro personagem
aparece compartilhando a mesa com Jesus. Lázaro
é um personagem pascal, um ressuscitado; presença silenciosa, não tem nenhuma
ação a realizar. Lázaro é símbolo do humano pobre, enquanto necessitado e
frágil, dependente... Ele pode representar os membros de nossas famílias e comunidades,
marcados pela vulnerabilidade, enfermidade e idade avançada, carentes de ajuda
e cuidado; mas ele pertence à casa, é companheiro de mesa com Jesus. Percebemos
que não são suas ações, trabalhos, compromissos ou qualidades que fundamentam
sua amizade com Jesus; podemos pensar que Jesus o amava “porque sim”, para além
do que Lázaro pudesse fazer algo por Ele.
Frente aos enganos que acompanham
com frequência nosso “fazer”, com suas tendências insanas, o caminho do
seguimento de Jesus nos convida a fomentar o “ser” e o “estar” mais que o
“fazer”.
Lázaro, “o passivo”, nos ajuda a
reconhecer com alegria que, em nossa vida, tudo é dom gratuito e o melhor dela
não depende de nosso esforço: é um presente do qual somos fundamentalmente
“receptores”.
Mas, neste jantar festivo que os
três amigos oferecem a Jesus, há um personagem que destoa: Judas. Ele
não consegue entrar em sintonia com aquilo que está acontecendo durante a ceia;
não compreende que em torno a Jesus tudo é gratidão e gratuidade; não
compreende o gesto amoroso de uma mulher secando com seus cabelos os pés de seu
amigo e derramando perfume sobre ele.
Judas aparece nos três relatos
evangélicos destes dias (segunda, terça e quarta-feira). Não como protagonista,
mas como contra-ponto, deslocado.
Há atitudes e gestos que estão mais além do valor
monetário: a delicadeza com as pessoas, com os irmãos mais necessitados, a
acolhida carinhosa, a companhia amigável... A vida de comunidade é feita de
detalhes carinhosos, não de racionalizações e conveniências ao nosso gosto.
A entrega amorosa de cada dia revela seu verdadeiro sentido. Só o que brota do amor tem sentido na Igreja. A infinidade de cristãos que lavam os pés de Jesus nos pobres do mundo, enche “toda a casa” (a Igreja) de um extraordinário perfume.
Pontos
para Oração:
- Como
preparação para a contemplação, leia uma ou duas vezes o texto do Evangelho
indicado para este dia (Jo 12,1-11).
- Com a
imaginação, faça-se presente à casa em Betânia; procure olhar atentamente cada
uma das pessoas (Jesus, Lázaro, Marta e Maria); sinta o clima de alegria e
amizade; procure escutar o que elas dizem; observe as reações, gestos,
acolhida... de cada uma das pessoas.
-
Naquele espaço inspirador, deixe que eles lhe ensinem a descobrir a força
sanadora da amizade, a amadurecer-se nas perdas, a tecer afetos em momentos de
adversidade, a servir a partir do coração, a ungir com as mãos terapêuticas,
expressão do amor oblativo.
- Sinta o
perfume do frasco quebrado tomando conta da casa.
- Participe
ativamente da cena, conversando, perguntando, ajudando a servir...
- Faça um colóquio
com Jesus, falando do clima “pesado” que existe em Jerusalém, pois estão à
procura dele para matá-lo. Permaneça aí, deixando-se impactar pelo clima humano
reinante nesta casa.
- Finalize
sua oração, dando graças por esta convivência amistosa.
- Registre
no caderno de vida os sentimentos predominantes durante a oração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário