Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj como sugestão para rezar o Evangelho da celebração da Epifania do Senhor.
“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante
deles, até que parou sobre o lugar onde estava o menino” (Mt 9,2)
A chave da celebração da Epifania é a
universalidade da mensagem. No Natal nos encontramos com o “Deus
encarnado”; hoje celebramos o “Deus manifestado”. E a
manifestação de Deus é universal, enquanto ao tempo e enquanto ao espaço, ou
seja, Ele está continuamente se manifestando e se manifesta em toda a Criação e
em toda a humanidade. Tudo é transparência de Deus, ou melhor, Deus se deixa “transparecer”
em tudo e em todos; Ele sempre se manifesta a todos, embora só consegue descobri-Lo
aquele que O busca, todo aquele que tem um olhar contemplativo e atento.
O relato dos Magos vai nesta
direção. Eles descobriram a estrela porque se dedicavam a investigar o
firmamento; foram capazes de levantar os olhos da terra. Eles, apesar de
estarem distantes, viram a estrela; a imensa maioria daqueles que estavam ao
redor do recém-nascido nem se deram conta, pois estavam preocupados em
encontrar Deus nos “lugares” manipulados pelas autoridades religiosas. Outros
estavam empenhados em descobri-lo no extraordinário, mas a verdade é que Deus
se manifesta exatamente nos acontecimentos mais simples e cotidianos. É preciso
ter uma fina sensibilidade para descobrir essa presença.
A Epifania, como manifestação da
presença de Deus no mundo, ultrapassa toda fronteira geográfica, religiosa,
racial..., preenchendo de luz, de verdade e de vida tudo quanto existe
em todo tempo e espaço.
Os Magos não eram judeus, mas estrangeiros;
viram brilhar a luz na noite da vida. São eles que buscam e encontram a Luz,
pois Deus não é patrimônio exclusivo de um lugar ou de uma nação. Deus se dá a
conhecer a todos, seja de que nação for.
Mas, Herodes e a instituição do Templo não sabiam
onde tinha de nascer a luz, o Messias. “Os sábios e entendidos” conhecem tudo,
mas não creem em nada; conhecem a verdade, mas estão longe dela, pois permanecem
fechados em suas doutrinas e ritos; não dão um passo sequer para “seguir a estrela”
em busca da verdade e da esperança. Eles já sabem tudo sobre o Messias, mas,
instalados em seus privilégios religiosos e sociais, não movem um dedo sequer
para comprovar. Estão muito satisfeitos com o que tem. Permanecem com seu
conhecimento e seus livros.
A mensagem do relato da Epifania nos
faz compreender que o amor à Verdade e a busca da Luz nos fazem nômades,
ao contrário dos instalados e satisfeitos. Quantas vezes, nós cristãos, temos
conformado em indicar a direção aos outros sem sair de nossos lugares
atrofiados para acompanhá-los.
Esta diferente atitude dos “magos”
nos faz pensar.
O fato de que em um determinado
momento, os magos perguntem a Herodes e este, por sua vez, pergunte aos que
conhecem as Escrituras é muito interessante. As Escrituras podem servir de
pauta, podem nos indicar o caminho a seguir quando atravessamos lugares ou
tempos sem estrela. Mas o valor da Escritura depende da atitude daquele que a
lê. É preciso aproximar-se da Bíblia sem pré-juizos; não para buscar argumentos
a favor daquilo que já acreditamos, mas abertos ao que ela vai nos dizer e
indicar, embora seja diferente daquilo que esperamos.
Diante de milhões de estrelas que
brilham no firmamento, os magos descobrem a de Jesus; diante de milhares de
estrelas que chamam a atenção em nosso mundo, precisamos descobrir a nossa.
A luz da estrela põe os Magos em marcha.
Preciosa mediação que mobiliza sua busca e direciona suas vidas para o encontro.
Os sinais são mínimos, cotidianos, demasiado simples.
Mateus descreve a reação deles afirmando que “ao ver a
estrela, encheram-se de imensa alegria”.
Buscavam o Rei dos judeus e se encontraram com um
Menino em um presépio. Buscavam a Deus e viram um Menino. Buscavam um Palácio
real e encontraram com uma gruta de pastores. Ficaram assustados e assombrados
com a descoberta. Conta o relato de Mateus que aqueles sábios do Oriente
chegaram até onde estava o Menino, e caíram de joelhos (prostraram-se) diante
dele. Não diz que se ajoelharam, mas que caíram, literalmente. É algo que na
vida dos seres humanos acontece poucas vezes.
Diante do Mistério não se discute;
diante do mistério prostra-se. O Mistério não é para ser compreendido, mas adorado.
Diante do mistério de Deus é preciso que a razão se ponha de joelhos; frente ao
mistério de Deus só resta a admiração, o espanto. Quando queremos conhecer “algo”
de Deus, são melhores os joelhos que a razão. Quando queremos “entrar” no
mistério de Deus, melhor é nos determos à porta para adorá-Lo. Quando queremos
encontrar a Deus, é melhor caminharmos de joelhos.
Os representantes religiosos e
sociais de Israel não foram a Belém para adorar o Menino Deus. Eles “conheciam”,
de algum modo, o mistério, sabiam que o Messias devia nascer em Belém, mas não
quiseram ir ao seu encontro para lhe oferecerem o tesouro de suas vidas, pois
estavam petrificados em suas sacralidades doutrinárias e legais. A subida
messiânica a Jerusalém ficou truncada desde o nascimento de Jesus, pois esta
cidade nunca o acolheu.
Os representantes religiosos da
época (os sacerdotes) e a cultura do momento (os letrados) se limitaram a cumprir
seu papel. Deram toda informação necessária a Herodes para chegar a Jesus, mas,
acomodados e instalados em seu saber e posição social, não sentiram o mínimo
interesse em se deslocar até Ele; talvez não sentissem necessidade de
libertador algum.
Nossa história de salvação está repleta de
pessoas que, à luz da normalidade da vida, são diferentes. São homens e
mulheres que acolhem, em sonhos ou despertos, as delicadas luzes que só o Deus
de amor pode presentear com sua delicadeza. Com sua luz tênue e constante em
seu interior, apontam sempre para Aquele que é Fonte de toda luz.
Na experiência da vida cristã buscamos ser como
os magos: desejosos de encontrar a Vontade de Deus, atentos para
reconhecer “estrelas” na noite e ágeis para segui-las, capazes de pedir ajuda
quando nos perdemos e apaixonados por descobrir um caminho que, no fundo, é o
caminho do mesmo Deus.
Como os Magos, também nós nos dirigimos
primeiramente aos palácios de nossa sociedade do bem-estar e aos “Herodes”
contemporâneos, até que nos damos conta de que ali não encontramos o que
estamos buscando, que ali se anula e se anestesia a vida, essa vida de
Deus que quer crescer em nós.
É preciso, de tempos em tempos, viver a atitude
da “prostração” como gesto de humildade, descendo do pódio existencial quando
acreditamos ser os melhores, os mais sábios, os mais perfeitos...
Epifania é esvaziamento de nosso “ego” para que a Luz de Belém seja a nossa referência constante.
Texto bíblico: Mt 2,1-12
Na oração: É próprio, neste momento festivo,
fazer esta pergunta: quem ou o que foi
estrela, revelação em minha vida, neste ano que findou? A quê estrela sigo? Para onde ela me conduz?
-
Ou, pelo contrário, perdi a estrela de minha vida e são sei para onde vou?
- Sou estrela-guia para os outros?