Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 1º Domingo da Páscoa, onde celebramos a Ressurreição do Senhor.
“De repente, houve um grande tremor de
terra: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, retirou a pedra e
sentou-se nela” (Mateus
28,2)
Iniciamos
o Tempo Quaresmal sendo convocados a refletir sobre os “biomas brasileiros e
defesa da vida”. Tal como Jesus, a natureza é também lugar do padecido,
da harmonia quebrada, da bondade violentada, da beleza ferida... “A criação geme em dores de parto” (Rom 8,22).
Jesus
e a Criação carregam a Cruz às costas até o Gólgota.
Há
uma crise ecológica que se alastra rapidamente, quebrando o
equilíbrio vital que sustenta a natureza toda. O uso desordenado dos recursos
naturais e o “descuido” como modo habitual de viver, faz sofrer tanto o ser
humano como a própria natureza.
No
entanto, a novidade do universo é expressa pelo Apocalipse: “Eis que faço novas todas as coisas”- 21,5).
A
Ressurreição de Jesus nos oferece uma perspectiva para ver essa novidade
, enquanto a “comunidade de vida” se desenvolve e caminha em direção ao “Grande
Mar Cósmico”.
“Na verdade,
o ventre da Terra contraiu-se, a natureza gemeu em dores de parto.
O túmulo rompeu-se e a pedra rolou. De repente
a Vida!” (Zé Vicente)
O
“mistério pascal” é o salto para a novidade, para a beleza, para a
transcendência. Imersos na natureza, a Ressurreição nos faz descobrir a
verdadeira extensão da Vida.
A luz da Ressurreição ilumina
toda a Criação: a vida de Cristo na vida da Terra nos traz
alegria e esperança. O universo inteiro é o “habitat” do Cristo Cósmico.
A
aparição de Jesus Ressuscitado no primeiro dia da semana foi entendida como a
aurora do “primeiro dia” da Nova Criação de todas as coisas. À
luz deste “novo dia” de Deus, Cristo aparece como o primogênito de toda
a Criação, que reconcilia todas as coisas no céu e na terra.
O “primogênito entre os mortos” é
também o “primogênito de toda criatura”, por quem todas as coisas
foram criadas. A Ressurreição
pulsa em nós e na natureza com o coração de Deus.
Em Cristo, todas as criaturas apontam para o
Criador. Elas também apontam para além de si mesmas, para o futuro da redenção,
para sua forma verdadeira e permanente no Reino de Deus.
À luz da Ressurreição compreendemos a Criação como “criação
de Deus”, porque confiamos na fidelidade de seu Criador, e percebemos a
capacidade que ela tem de se transformar, em vista de sua plenitude.
A Ressurreição é colocada no grande contexto
da Criação em que o próprio ser humano participa.
A Ressurreição é encontro com a vida plena,
em um processo da Criação que chega a seu desfecho.
Pela Ressurreição, romperam-se todas as
amarras do espaço e do tempo. Cristo ganhou uma dimensão cósmica. A evolução
se transformou numa verdadeira revolução.
O Gólgota remete aos gemidos de parto, e o túmulo
vazio representa a concretização do parto. Nova história, nova criação está
iniciada. O Cristo cósmico surge
então como motor da evolução, como seu libertador e seu plenificador.
A salvação é salvação de toda a Criação e de
todas as criaturas, e não pode ficar restrita à “salvação da alma humana” nem à
bem-aventurança da existência humana. A “ressurreição dos mortos” ocorre
nesta terra e leva os que receberam a vida para uma “nova terra onde mora a justiça, de acordo com sua
promessa” (2Pd.
3,13). O Reino de Deus não é um reino “no” céu, mas
ele vem “assim na
terra como no céu”. Ressurreição e vida eterna são
promessas de Deus para os todos os seres desta terra.
Por isso,
também a ressurreição da natureza há de levar não para o Além,
mas para o Aquém da nova criação de todas as coisas. Não é para o céu que Deus
salva sua Criação, mas Ele renova a terra.
A terra
é o palco da vinda do Reino de Deus, por isso a ressurreição para o
Reino de Deus é a esperança desta terra. Sobre esta terra embebida em
sangue esteve a Cruz de Cristo, por isso Deus lhe permanece fiel e afastará
dela toda dor, sofrimento e morte, para Ele mesmo nela vir morar.
“O Reino de Deus é o reino da
ressurreição na terra” (Bonhoeffer).
Somos
já “seres ressuscitados”: sentimos hoje a urgência de seguir os
caminhos de uma ética ecológica para que possamos nos situar, na Criação, numa
atitude participativa e de cuidado responsável. Cresce um novo modo de pensar e
de conceber o universo enquanto “teia de relações”. Isto
significa que há uma unidade fundamental e uma vasta rede de inter-relações,
conectados a todos os elementos da natureza.
Todos
os seres, vivos e não vivos, são parceiros numa verdadeira “dança
cósmica”, numa grande comunhão universal. Fazemos parte de uma “rede”
de relações múltiplas e recíprocas, nas quais o próprio Cristo Ressuscitado se
faz presente, como fonte de vida. Para chegar a viver o Novo Céu
e a Nova Terra é preciso renovar radicalmente este céu tantas vezes
opaco e esta terra tão violada.
Se não houver uma “salvação da natureza”,
também não poderá haver uma salvação definitiva do ser humano, pois os seres
humanos são seres da natureza. Isto obriga a todos os que esperam a ressurreição
a permanecerem fiéis à terra, a respeitá-la, cuidá-la e amá-la como a si
mesmos.
Na perspectiva da natureza, a ressurreição
de Cristo significa que com Ele teve início a universal “destruição da morte” (1Cor. 15,26), e que se torna visível o futuro da Nova Criação,
quando a morte deixar de existir.
A ressurreição dos mortos, a destruição
da morte e a ressurreição da natureza constituem os
pressupostos para a eterna Criação que participa da habitação do Deus vivo e
eterno.
A Criação “no princípio” está
orientada para este fim. De acordo com isto “toda a Criação geme conosco” e esta é a verdadeira ressurreição da natureza.
Este é o lado cósmico da esperança da ressurreição.
As forças do pecado e da morte, destrutivas e contrárias a Deus, são
expulsas da criação, que é boa, e na presença do Deus vivo esta se transformará
em uma criação eternamente viva.
O Deus que ressuscita os mortos é o mesmo Deus que
chamou todas as coisas do nada à existência; Aquele que ressuscitou Jesus dos
mortos é o Criador do novo ser de todas as coisas.
Ressurreição
e Criação constituem,
portanto, uma unidade, pois a ressurreição dos mortos e a destruição da morte
são a completude da criação original.
Texto
bíblico: Mateus 28,1-10
Na oração:
Fico
maravilhado com a nova comunidade universal de vida que emerge da Noite Pascal.
A Luz da Ressurreição integra tudo.
Considero
como nosso Senhor ressuscitado revela toda a vida futura do universo como uma comunidade em evolução de esplendor e
diversidade crescentes. Reflito como Cristo nos leva a evoluir para uma humanidade em plenitude, vivendo uma
relação plena com todas as criaturas.
Fraternizo
com todas as criaturas e me faço humano em toda minha plenitude.
Páscoa: um salto
para a transcendência... para o Novo Céu e Nova terra.
Uma inspirada
Páscoa a todos(as)!
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