“...depois
voltaram a Jerusalém com grande alegria...”
(Lucas 24,52)
Para
viver a alegria, exercitar-se na alegria: este deveria ser o
slogan do (a) seguidor (a) de Jesus.
A
alegria brota de um encontro com a Pessoa do Ressuscitado que suscita
entusiasmo, nos seduz e nos faz vibrar com a “vida nova” que, nele, o Pai nos
manifesta.
Na
experiência da Ascensão, somos
movidos e recuperar o ardor e a fascinação pela pessoa de Jesus; somos chamados
a ser mensageiros da “conversão pastoral” feita de alegria, beleza,
proximidade, encontro, ternura, amor e misericórdia. Esse é, pois, a marca que
nos identifica como seguidores de Jesus, capaz de ativar e despertar a alegria,
pois tudo o que nasce verdadeiramente de um encontro profundo e verdadeiro com
Ele, gera uma alegria que ninguém pode tirar.
Precisamos
nos converter à alegria de Deus que é autêntica paixão pelo ser humano.
“A alegria do Evangelho enche o coração e a
vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce
e renasce a alegria” (Papa Francisco - Ev. Gaudium).
A alegria é um estado de ânimo
central na experiência cristã. Nisto consiste a verdadeira alegria: em sentir
que um grande mistério, o mistério do amor misericordioso de Deus, visita e
plenifica nossa existência pessoal e comunitária.
Temos de contagiar a alegria do
Evangelho. É preciso remover obstáculos que impedem a alegria; é preciso
remover a pedra de nossos sepulcros e viver como ressuscitados.
Um sinal de identidade da alegria é
o olhar profundo, amplo e largo da vida. Mesmo em meio à dor e ao sofrimento,
não faltam o bom humor e a ternura. Quem é cristãmente alegre mantém-se sereno
frente aos conflitos, integra melhor os acontecimentos, é feliz e faz felizes
os outros.
Na
antropologia, o vocábulo “alegria”
faz referência a emoções, sentimentos e aspirações alcançadas. Vincula-se ao
estado de plenitude humana, à criatividade, ao entusiasmo, ao prazer, ao
contentamento, à satisfação, à sorte, ao regozijo, à felicidade. Fala-se da
alegria pela ação, por estar ou viver juntos, a alegria de viver, a alegria da
festa, a alegria nos triunfos e nas adversidades.
A
alegria sempre indica que a vida expandiu, que ganhou terreno, que conseguiu
uma vitória. Onde queira que haja alegria há criatividade; quanto mais rica é a
criatividade, mais profunda é a alegria.
A alegria é incondicional. Não depende diretamente dos esforços
pessoais nem da posse alguma de um bem temporal, mas do sentido global da
pessoa. A alegria brota do interior, é coisa do coração; ela mana dentro,
calada, com raízes profundas. É um dom do Espírito. “O fruto do Espírito é: amor, alegria” (Gal 5,22). Este dom nos faz
filhos (as) de Deus, capazes de viver e vibrar diante de sua bondade e
misericórdia. Não é correto que os cristãos associem com tanta frequência a fé
à dor, à renúncia, à mortificação, mas à alegria, à vida em plenitude.
Nossa alegria é Cristo ressuscitado. Ele é a causa de nossa alegria. Ele
nos dá vida em plenitude.
A alegria está ligada à gratuidade;
a alegria não é voluntarismo; não é objeto de decisão, como tampouco de
decreto. Podemos diferenciar uma alegria ocasional e outra constitutiva ou um
estado de ânimo intenso da pessoa; daí a importância de distinguir “estar
alegre” de “ser alegre”. A alegria exige um clima favorável: um estado de
espírito semelhante a um estado de graça.
Os
Evangelhos nos revelam que Jesus vivia sereno, feliz ,alegre . As
bem-aventuranças são o fiel reflexo de sua vida. Seu íntimo trato com o Pai,
sua paixão pelo Reino, suas relações pessoais, suas amizades, seu modo de
enfrentar a “hora”, sua aceitação da vontade do Pai, sua paixão e morte são
vividas em paz.
Jesus
nos revela que Deus é alegria em si mesmo e para nós. Disse-nos que a salvação
definitiva é “entrar na
alegria do seu Senhor” (Mateus 25,21). Diante
dos prodígios e milagres que vai realizando em sua vida pública, Jesus exulta
de alegria no Espírito Santo.
A alegria cristã aninha-se e cresce na vivência do mistério pascal. A
ressurreição de Jesus causou uma imensa alegria na comunidade dos discípulos. A
alegria é contagiosa. Tem uma dimensão social e comunitária. Nós não estamos
alegres porque Jesus está vivo mas porque nos fez partícipes de sua
ressurreição, de sua nova vida. Assim nossa alegria é a alegria de Jesus.
Os Apóstolos, depois da Ascensão de
Jesus, retornaram a Jerusalém; a certeza da promessa do envio do Espírito Santo
os enchia de alegria; anunciavam com alegria e entusiasmo a ressurreição do
Senhor.
“Sede
alegres!”: isto é o que Deus deseja de nós, os cristãos.
Uma alegria que é preciso manifestar, hoje, mediante uma sensibilidade e
ternura humanas. A Igreja, por vocação e missão, deve ser alegre. Toda ela é
profecia de alegria e esperança.
Quem
vive a partir da alegria, vive a partir do essencial e sabe discernir o
autêntico das aparências e o útil do supérfluo. A alegria mantém alta a utopia
e não se cansa em sua irradiação. Seguimos o conselho agostiniano: “A felicidade consiste em tomar com
alegria o que a vida nos dá, e deixar com a mesma alegria o que ela nos tira”.
Quem é transparente e coerente
transmite alegria em seu falar e em seu agir. Costumamos dizer: “alegrar a
casa”, “alegrar a cor”, alegrar o fogo”..., ou seja, dar-lhe vida.
Quem vive na alegria se sente
sereno, livre, pensa positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as
adversidades, integra suas contradições,
ama sem pôr condições, louva, canta e bendiz sem cessar.
De fato, a alegria experimentada
não nos põe na retaguarda nem nos acomoda; pelo contrário, ela nos pede que
sejamos mais radicais no discernimento e nos compromissos. Está em jogo a
glória de Deus e a dignidade de seus filhos e filhas.
Os
(as) grandes santos e santas, por viverem profundamente no amor de Deus, foram
testemunhas da alegria. Este amor é o que os fez sair de si mesmos,
reencontrar-se e entregar-se aos demais. E aqui está o peso do amor, o vigor da
alegria.
A alegria, como sentimento
expansivo, tende a impulsionar nossa pessoa para fora, nos move a fazer a
travessia em direção aos outros. Ser alegre não significa ser impassível,
insensível diante da injustiça e da violência, diante da pobreza e da exclusão.
As virtudes que acompanham a alegria fazem que quem é alegre seja compassivo e
misericordioso e trabalhe pela paz e pela justiça.
Sua vida alegre desmonta a
hipocrisia, as ambições, os escândalos de corrupção e afãs de aparência...
Quando servimos os outros,
recebemos acrescentada a alegria. “Dormia e sonhava que a vida era
alegria.
Despertei-me e vi que a vida era serviço. Pus-me a servir e descobri que o serviço era alegria” (Tagore).
Texto bíblico: Lucas
24,46-53
Na oração: A alegria é cultivada na ação e na
oração; por sua vez, a oração desperta a alegria, este estado de ânimo intenso
e fora do normal, facilmente perceptível e que tem ressonância no modo de
viver.
S. Inácio chama consolação a esse estado de ânimo, pois
se trata de uma experiência nítida da Graça.
- Uma das expressões
da alegria evangélica é viver em sintonia com esta Graça abundante e permitir
que a vida seja uma contínua ação de graças.
- Há tantos motivos
pelos quais festejar, pelos quais manifestar a alegria do Evangelho;
explicite-os.
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