sábado, 28 de maio de 2016

HUMILDADE: “andar na verdade”

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a Liturgia do 9º Domingo do Tempo Comum.

“...não sou digno de que entres em minha casa; mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado” (Lucas 7,6-7)

Neste belo relato do Evangelho de Lucas nos é apresentado, com simplicidade, a força e a intrepidez que se revelam numa pessoa de fé. Podemos imaginar o que significou para aquele centurião romano o gesto de ter que acudir a alguém do povo a quem dominava, buscando a cura de seu empregado. Teve de superar muitas barreiras e impedimentos e esvaziar-se de seu orgulho e amor próprio para realizar aquele gesto humilde de solicitar ajuda a um judeu.

Cultivar a humildade é uma das maiores e mais difíceis virtudes humanas. Ela está vinculada ao amor à verdade. "Ser humilde é amar a verdade mais que a si mesmo", escreve o filósofo  Comte-Sponville.
Em outras palavras, é assumir tudo o que a pessoa é, reconhecer-se diante de Deus e dos outros, ativando seus recursos e capacidades e acolhendo suas limitações, sua fragilidade e seus medos, com a disposição de viver o caminho do crescimento.
A humildade não deve ser entendida como humilhação, mas como a capacidade de ser verdadeiro, transparente em nossa vida, reconhecendo-nos necessitados dos outros e de Deus.
Humildade, dizia S. Teresa, é andar na verdade. Não se trata de atrofiar e esconder nossas próprias capacidades ou de desvalorizar-nos. Trata-se de reconhecer e expressar, com simplicidade, quem somos. Humildade é agradecer as capacidades e talentos e superar as limitações e fragilidades. É a virtude que mais humaniza, pois nos faz descer em direção à nossa própria humanidade e, a partir desta perspectiva, entrar no movimento que nos leva para além de nós mesmos.
A radicalidade que o Evangelho nos propõe é a radicalidade de ser radicalmente humanos. E a humildade nos despoja de tudo o que é ilusão, falsas imagens de nós mesmos, vazias pretensões de poder, prestígio e vaidade... fazendo emergir o que há de mais humano, portanto, mais divino, em nosso interior.

Na história da humanidade e da Igreja grandes homens e mulheres deixaram transparecer em suas vidas a marca da humildade; e a humildade se expande no coração daquele que vive sinceramente sua existência.
O termo latino “humilis” deriva-se de “humus”, a terra ou o solo.
Todos surgimos deste fecundo húmus fundamental, onde “humildemente” acolhemos o dom da vida, onde toda existência funda suas raízes que a nutrem e se faz “humilde” e verdadeiramente “humana”.
Nós somos o solo, o húmus, onde o Deus-semente pode germinar, criar raízes e florir.
Só admitindo nossa própria fragilidade e limite e descendo ao fundo de nossa realidade, podemos retornar transformados e com abundantes riquezas descobertas no garimpo do nosso coração.
O caminho de descida ao nosso próprio “húmus”, à nossa própria condição terrena onde Deus plantou sua tenda, nos revela quem realmente somos, nos preserva de considerarmos como “deuses” e nos liberta do orgulho e do auto-centramento que nos destroem.
À medida que, verdadeira e completamente, nos aceitamos e nos acolhemos como húmus, mergulhamos na graça de Deus, pois ela já fala dentro de nós desde nosso nascimento.
Todas as grandes correntes espirituais, tanto do Oriente como do Ocidente, conduzem à humildade.
Reconhecer nossa realidade humana é a condição não apenas para a humanização autêntica, mas também para a verdadeira experiência de Deus. Sem humildade, facilmente corremos o risco de nos apossarmos de Deus; sem humildade, facilmente procuraríamos nos identificar com Deus.
“Sereis como deuses” (Gen. 3,5): este é o grande pecado de origem. A humildade é a virtude do ser humano que reconhece não ser “deus”. Nesse sentido, ela é a virtude dos santos e santas.

 “Onde está a humildade, está também a caridade” (S. Agostinho). É que a humildade leva ao amor, e todo amor verdadeiro a supõe; sem a humildade, o eu ocupa o espaço disponível, e só vê o outro como objeto ou como inimigo. A humildade é essa atitude pelo qual o eu se liberta das ilusões que tem sobre si mesmo. Nesse sentido, a humildade significa adotar uma atitude gratuita e receptiva, de um amor agradecido que dirige tudo a Deus e entrega-se por completo à Sua Vontade.
Podemos, portanto, dizer que ser humilde é ser humano simplesmente, com a capacidade de amar. A humildade é o contrário do orgulho, soberba, prepotência... que abrem a porta para todas as injustiças: o desprezo do fraco, a exploração do pobre, a exclusão do marginalizado e o ferido da vida.
Só podemos aceitar o presente da graça divina quando temos consciência de nossa própria condição humana. Por isso, aqueles que mais avançaram no caminho espiritual foram os que mais viveram a humildade. Eles passaram pela experiência de que só podemos nos aproximar de Deus com humildade.

A humildade é o pólo terreno em nossa caminhada espiritual. Para permitir que Deus atue nas profundezas de nosso ser faz-se necessário o auto-esvaziamento, para ser preenchido por Sua presença. Agora, sim, podemos escutar a voz de Deus e sentir a sua presença em nosso próprio coração, em nossos sonhos e desejos, em nossas paixões, em nosso corpo e .nossos sentimentos
Nós “subimos” a Deus quando “descemos” à nossa humanidade. Este é o caminho da liberdade, este é o caminho do amor e da humildade, da mansidão e da misericórdia; é o caminho de Jesus também para nós.
O coração, a quem não é estranho nada do que é “humano”, alarga-se, enche-se do amor de Deus, que transforma tudo o que é humano. O caminho da humildade é o caminho da transformação.
Ao fazer, junto com Jesus Cristo, o caminho da “descida”, o ser humano vai ao encontro de sua realidade e coloca-se diante de Deus para que Ele transforme em amor tudo quanto existe nele, para que ele seja totalmente perpassado pelo Espírito de Deus.

No Novo Testamento, a humildade é entendida não apenas como atitude para com Deus, mas também para com os outros. Por isso, a humildade é vista juntamente com a mansidão, brandura, perdão... Os elevados “ideais de perfeição” nos impedem de envolver-nos com as pessoas reais e com suas feridas.
A humildade pressupõe um descentramento, um êxodo para o encontro com o outro, acolhendo-o tal como é; ela nos conduz à pura gratuidade do amor desinteressado; ela pressupõe, essencialmente, o reconhecimento da alteridade.
Por isso, não é possível viver a alteridade sem efetuar essa renúncia à posição narcisista na qual a pessoa se centra sobre si mesma, caindo numa fria insensibilidade diante de tudo o que acontece ao seu redor.
Quando alguém encontrou sua própria condição humana, reconcilia-se com tudo aquilo que é humano, quebra a rigidez na relação com o mais fraco e o enfermo, com o imperfeito e o fracassado.

Vê tudo envolvido pelo olhar de bondade e misericórdia de Deus.

Texto bíblico:   Lucas 7,1-10  

Na oração:  A oração significa uma necessária “escavação”, esse esvaziamento que finalmente abrirá um lugar para Deus. Somos chama-dos à santidade. Entretanto, como tudo na Criação, também a santidade está em processo, em gestação, em crescimento, em trabalho de auto-esvaziamento. Ela floresce na liberdade, na abertura e na humildade que leva à ação eficaz
- Para Jung, a humildade é a coragem de olhar a própria sombra.
  Como você lida com seus conflitos, seus limites e fragilidades, suas paixões...?

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Espiritualidade do Corpo

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) .


“Jesus: CORPO de Deus entre nós, CORPO que se dá aos homens, CORPO para os corpos, como carne e sangue, pão e vinho. E o CORPO de Deus, Jesus Cristo, se expande, incha, tomando o universo inteiro...
É bem aí, no CORPO, que Deus e o homem se encontram.
A humanidade de Deus nos incomoda. Coisa que os primeiros cristãos descobriram com espanto.
Eles entenderam que para falar de Deus é necessário deixar de falar de Deus, e falar sobre um homem, um rosto, uma vida... Foi então que eles ficaram cristãos.
Deus, para falar de si, tornou-se homem. Fala sobre Deus é fala sobre um homem.
          A PALAVRA se fez CARNE. Nosso irmão. Um de nós. Nasceu, viveu, morreu... ressuscitou” (Rubem Alves)

“A festa de Corpus Christi quer nos fazer recordar que CORPO é cálice, onde se bebe o vinho da alegria e da salvação, inserido no CORPO místico e cósmico de Cristo. Só haverá futuro digno quando todos os CORPOS viverem em comunhão, saciados da fome de pão e de beleza” (Frei Betto).

Celebramos o “Corpo de Cristo”, uma das festas mais ricas que nos faz pensar em seu conteúdo e simbolismo, mas que nos faz pensar também neste “Corpo de Cristo” no meio de tantos outros corpos.
Aceitamos, pela fé, a presença real de Cristo na Eucaristia; isso implica comunhão bem maior com sua vida, seu testemunho de amor, de partilha, solidariedade, dedicação pela transformação de tudo aquilo que não dignifica a vida ou não dignifica os “corpos”.
Participamos, com muita fé, dedicação e respeito, das celebrações do “Corpo de Cristo”,  mas pode ser que, às vezes, façamos uma profunda cisão ou ruptura entre o que celebramos e a realidade que nos cerca, ou seja, os famosos “corpos”: explorados, manipulados, usados, escravizados, destruídos...
Pode ser que, às vezes, tenhamos um profundo amor e respeito pelo “Corpo de Cristo vivo e presente na Eucaristia”, e não O vejamos nos “corpos” que estão aí, aqui, ali, lá, dos nossos lados...

Por meio da Encarnação e por meio da Ressurreição de Jesus, a carne se converteu em espelho da divindade. Assim, o corpo humano começou a ocupar um lugar central.
Parece que não sabemos lidar muito bem com esse estranho e (des)conhecido que são os nossos “corpos”. Do corpo temos tido suspeitas e o temos olhado com desconfiança.
É preciso estabelecer o diálogo com o corpo. Não se trata apenas de uma reconciliação amistosa, mas de uma descoberta radical. Ignoramos nosso corpo, apesar de tê-lo tão próximo; é preciso dar-nos conta das riquezas que tem, o muito que sabe, a importância do que tem a nos dizer, a necessidade de seu apoio e a sabedoria de sua amizade.
Aqui está nosso melhor amigo, fielmente junto a nós, e nem sempre o percebemos.
A corporeidade penetra toda a nossa auto-realização como seres humanos. O corpo não é simplesmente “organismo vivo” ou mera “exterioridade” ou mero “instrumento do espírito”. O corpo não é o túmulo da alma, mas o templo do Espírito, o lugar onde o “Verbo se fez carne”.
O corpo é de importância máxima para a experiência que temos de nós mesmos e para a comunicação com Deus, com os outros e com a natureza.
A consciência do respeito e do valor ao corpo é necessária para a maturidade afetiva. A desvalorização do corpo, por outro lado, resulta na mutilação da expressividade, da comunicação de sentimentos e prejudica a maturidade afetiva-social-espiritual.
Uma relação negativa com a corporeidade equivale a uma relação negativa consigo mesmo, com os outros e até mesmo com Deus. Não aceitar o corpo é atentar contra a vida.

A pessoa é uma totalidade unificada, um “todo espiritual” e um “todo corpóreo”, tanto que não existe fenômeno corpóreo que não tenha um reflexo no espírito, nem experiência espiritual que não se reflita no corpo. O corpo participa, de maneira imprescindível, na atuação do eu espiritual e vice-versa.
A “linguagem espiritual” acompanha a “linguagem corporal”, assim como a linguagem do corpo reforça a linguagem espiritual.
O corpo fala por si mesmo, comunica, reage... O corpo é expressão de nossa masculinidade ou feminilidade, de nossa sexualidade integrada ou reprimida, de nossa saúde ou doença, de nossa alegria ou tristeza, realização ou frustração, de nossa consolação ou desolação.
O corpo é expressão e comunicação daquilo que somos.

O próprio Deus se fez corpo, no corpo de uma mulher: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
A espiritualidade cristã é “encarnada”.
A Encarnação foi o caminho que a Trindade escolheu para se aproximar da humanidade e fazer história conosco. Nosso corpo humano, feito de barro – vaso frágil e quebradiço – tornou-se o lugar privilegiado da chegada e da revelação do amor trinitário.
“Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós?” (1Cor, 6,19)
O nosso corpo é o “templo” santo e santificado, onde Deus Trino faz sua morada.

Se nos fixarmos nas palavras e nos gestos de Jesus na última Ceia, descobriremos que suas palavras (“isto é meu corpo”) e seus gestos (partir e repartir o pão) constituem a essência afetiva e social (de amor e justiça) do cristianismo, a verdade do Evangelho.
Eucaristia é “Corpo” e é corpo doado e partilhado, não pura intimidade de pensamento, nem desejo separado da vida. A Eucaristia é Corpo feito de amor expansivo e oblativo, que se expressa no trabalho da terra, na comunhão do pão e do vinho, no respeito mútuo frente o valor sagrado da vida, no meio do mundo, nas casas de todos, em plena rua. Não são necessários grandes templos e nem suntuosas procissões para celebrar a festo do Corpo de Deus; basta a vida que se faz doação e partilha, no amor, como Jesus fez.
É assim porque no gesto do partir e repartir o pão se condensou todo o caminho de Jesus: vida que se doou para aliviar todo “sofrimento humano” (curas), para proporcionar a “refeição partilhada” (ceias e multiplicação dos pães) e para ativar “novas relações humanas” (sermão da montanha).
Celebrar o “Corpus Christi” é atualizar estas três preocupações centrais da vida de Jesus. Aqui se conecta a essência de Sua vida na vida dos seus seguidores.
Diante do Corpo de Cristo, nosso corpo se plenifica na comunhão com outros corpos, com Deus e com o corpo da natureza. Nosso humilde corpo é parte da Criação inteira e nosso bem-estar faz sorrir a natureza.
Nosso corpo é pura relação. Nele ficam registradas todas as marcas de nossa vida, de nossa história.
O corpo é presença e linguagem - tudo nele fala: fala o rosto, falam os olhos, falam os movimentos e as posturas, falam os gestos, acompanhando, reforçando e expressando a intenção íntima.
Celebrar “Corpus Christi” é “cristificar” nossos corpos.


Texto bíblicoLucas 9,11-17

Na oração:  Nosso corpo é tocado pela encarnação de Jesus. E lembre-se de que Deus conhece nossa estrutura. Ele sabe de que barro somos feitos.
Reze sua humanidade, seu corpo de homem ou mulher. Leve para sua oração os desafios do cotidiano, os imprevistos da vida.
Seja humano diante de Deus, deixe seu corpo falar a Deus.

Reze com seu corpo. E agradecido(a) bendiga sempre o Senhor.

domingo, 22 de maio de 2016

A mística da tríplice conexão: a Fonte, o Caminho, a Respiração

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a celebração de Santíssima Trindade.


“Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro”. (Papa Francisco – Misericordiae Vultus n. 2)

Jesus nos revelou quem é Deus e quem é o ser humano. Tal revelação encheu nosso coração de profunda gratidão. Por isso, o que importa verdadeiramente não é satisfazer uma curiosidade especulativa sobre a essência do Deus Trindade, mas acolher esta Boa Notícia: Deus é Pai-Mãe (Fonte), que deixou transparecer Seu rosto misericordioso no Filho (Caminho) em quem somos filhos pela força e alento de seu Espírito (Sopro) presente e atuante em tudo e em todos.
O mais urgente neste momento para o cristianismo, não é explicar melhor o dogma da Trindade, e menos ainda, uma nova doutrina sobre Deus Trino.  O decisivo aqui é a busca de um encontro vivo com Deus, comunhão de pessoas. Não se trata de demonstrar a existência da luz, mas de abrir os olhos para ver melhor.
A festa da Trindade nos mobiliza para uma nova maneira de viver e de nos relacionar com o Deus de Jesus,  cuja presença preenche o cosmos, irrompe na vida, habita decididamente no interior de cada pessoa e é vivido em comunidade.
A Trindade “des-vela” a maneira de ser de Deus, como Amor que se expande, em si e fora de si, de uma maneira “redentora”, inserindo-se na história da humanidade. Deus é Amor e só amor.
Isto é a essência do Evangelho. Esta é a melhor notícia que devemos acolher. É também o fundamento de nossa confiança em Deus.

É a partir do Amor trinitário, circulante e expansivo, que podemos compreender melhor o ser humano, criado à imagem da Trindade: ele é tanto mais pessoa quanto mais se assemelha às pessoas divinas.
Deus não é estático, nem sequer em seu próprio interior. No mais profundo de seu ser, Deus é relação, é comunhão de maneira permanente e dinâmica. E a comunhão entre pessoas é sustentada pelo Amor. Precisamente o amor é o que une as pessoas. O amor cria unidade e a unidade mais forte é a que brota do amor. Nesta linha se compreende o Deus cristão: um só Deus em comunhão de pessoas. Por isso, temos com Deus uma relação personalizada: somos filhos do Pai, irmãos do Filho, amigos do Espírito.
“Trindade” é um conceito abstrato que corre o risco de afastar a presença divina para as alturas dos dogmas, doutrinas e especulações racionais, desprovidas de calor e vida.
Em vez do “Mistério da Santíssima Trindade”, o importante para o cristão é a experiência histórica e vital do encontro com a atividade vivificadora da Fonte da Vida, no percurso do Caminho do Amor e respirando o Sopro da Esperança, que tudo pacifica, alenta e reconcilia.
 “Pai-Abba” é uma palavra-chave, que remete à origem radical, Vida da vida. Traduz-se como Pai e Mãe, mas quer dizer mais que pai e mais que mãe.
“Filho” é palavra-chave para referir-se ao sentido da vida de Jesus, rosto visível da Misericórdia de Deus, imagem, presença real e proximidade encarnada de Abba: filiação sem limite e fraternidade sem fronteiras.
“Espírito” é palavra-chave, que expressa a riqueza da presença vivificadora do Deus em todos e em tudo, no rio imprevisível da história e na intimidade inefável de cada vida pessoal.

Diante da presença e da ação do Deus Trinitário, afogam-se as palavras, desfalecem as imagens e morrem as especulações. Só nos restam o silêncio, a adoração e a contemplação.
Aqui temos de retornar à simplicidade da linguagem evangélica e utilizar a parábola, a alegoria, o exemplo simples, como fazia Jesus. Como a Trindade é o mistério que liga e religa tudo, que deixa transbordar seu Amor criativo no coração de toda a humanidade e no universo inteiro, podemos usar uma imagem que hoje faz parte do nosso cotidiano: a “conexão”
Nós entendemos muito bem o que significa “estar conectados”. A “desconexão” nos priva da energia disponível e de tantas relações que são possíveis. Quando nos deslocamos de um lugar a outro buscamos espaços de “cobertura” ou de conexão. Às vezes, requer-se para isso, conhecer a “senha”; em outros casos são oferecidas redes abertas. Conectados, descobrimos que não estamos sozinhos, que é possível entrar em um espaço instigante de informação, relação e intercâmbio.

Podemos usar esta imagem para falar da “tríplice conexão” na vida cristã, como centro e sentido de nossa existência. Aqui se trata, nada mais e nada menos, da “conexão” com as três Pessoas da Santíssima Trindade. Sem esta “conexão trinitária” nossa vida perde a ligação com a Fonte, extravia-se do Caminho do Amor e se asfixia sem a Respiração da Esperança.
Na vida espiritual, a conexão trinitária nos liberta da solidão vazia, do enclausuramento em nosso ego, do narcisismo. Graças a esta grande Conexão vital nos descobrimos no Todo, num contexto de transbordamento de vida em todas as direções: vida expansiva, aberta e profundamente religada com todas as demais expressões de vida. A “tríplice Conexão” nos faz entrar em sintonia com todos e com tudo e mantém interconectados todos os fios da vida. O amor circulante no interior da Trindade se expande e se faz visível na grande rede de vida da criação. Quão decisivo é descobrir a misteriosa relação trinitária na qual estamos inseridos!

Não podemos nós, que cremos na comunhão das Pessoas divinas, estabelecer que tal tipo de conexão trinitária se converta em realidade?
Precisamos de ousadia para estabelecer conexões que em lugar de rupturas e quebras interiores, nos dinamizem muito mais do que podemos imaginar. E não basta uma conexão; só na “tríplice conexão” se encontra a reanimação, a revitalização, a possibilidade de uma vida plenificada e com sentido.
Ninguém poderá se encontrar só com o Filho ou só com o Pai, ou só com o Espírito Santo. Nossa relação será sempre com o Deus Uno e Trino. Urge tomar consciência de que quando falamos de qualquer uma das três pessoas relacionando-se conosco, estamos falando de Deus. Nem o Pai só cria, nem o Filho só salva, nem o Espírito Santo santifica por sua conta. Tudo é sempre “obra” do Deus Uno e Trino.

Que a festa da Trindade ajude a nos descobrir envolvidos nessa corrente de Vida: nascendo de Deus Pai-Mãe, sendo configurados à imagem do Filho, escutando a melodia do Espírito que des-vela constantemente nossa identidade. Estamos continuamente renascendo da Fonte da qual procede tudo o que existe; no Caminho do Filho nossa vida se torna uma grande “travessia” e no Sopro do Espírito, emerge do nosso interior uma criatividade surpreendente e mobilizadora.
Se somos filhos e filhas da Trindade, se cremos de verdade nisso, como não descobrir as “pegadas” da Trindade em nós? Também nós somos Fonte geradora de vida, Caminho aberto ao infinito e Sopro criativo. A “conexão” com a Trindade potencia nossa vida, energiza nosso ser, desperta nossos dinamismos interiores para participarmos do mesmo Amor circulante e expansivo do Deus Uno e Trino, iluminando toda nossa existência.

Texto bíblico:  João 16,12-15

Na oração:
A conexão com a Trindade é permanente, ininterrupta, inserindo-nos na grande corrente de Vida e de Amor que perpassa toda a Criação, religando tudo e conduzindo tudo para a plenitude: o retorno ao interior da própria Trindade.
- Que possibilidades criadoras há em mim que ainda não tive oportunidade de desenvolver?

- Como viver conectado com o Todo para que tudo tenha eco em mim?

domingo, 15 de maio de 2016

Pentecostes da Misericórdia

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a celebração de Pentecostes, a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos e discípulas de Jesus.

“...soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados...” (João 20,22)

Pentecostes é uma festa litúrgica que pretende ativar em nós a plenitude da vida. “Cinquenta” é o número da consumação. Esse dia plenifica em nós tudo o que ainda se revela limitado e frágil. “Cinquenta” é também o número da liberdade. A cada 50 anos o povo hebreu ouvia o alegre som do “jobel” (corneta de chifre de carneiro) que ecoava nas montanhas e nos vales, convocando a todos (“jobil”) para celebrar um ano jubilar. Neste tempo devia-se recuperar a boa relação com Deus, com o próximo e com toda a Criação, fundada na gratuidade. Era um ano do perdão: os pobres ficavam livres de suas dívidas, os escravos recuperavam a liberdade, os camponeses recuperavam suas propriedades perdidas... Podiam respirar, podiam viver, era o jubileu. Deste modo, cada jubileu significava começar um novo ciclo de oportunidades. Pentecostes, portanto, recorda e celebra a promessa de que fomos libertados verdadeiramente pelo Espírito do Ressuscitado.

Neste mundo tão agitado e sem direção, precisamos urgentemente de um novo Pentecostes. Na realidade o que precisamos é abrir-nos a esse Fogo e a esse Vento do Espírito que, às vezes, parece estar soprando em vão. É que estamos trancados em nossos “cenáculos” e não queremos abrir as portas para arejar nossos ambientes, interno e externo. Pentecostes é isto: abrir-se ao que está aí como possibilidade e surpresa, deixando-nos transformar pelo Espírito, sacudindo nossas comodidades e medos.
É altamente significativo e simbólico que a abertura do Jubileu da Misericórdia tenha começado com o destravamento das portas das igrejas em todo o mundo. Mais significativo ainda foi o gesto do papa Francisco em abrir a Porta Santa do Ano da Misericórdia em Bangui (cidade marcada pela miséria e violência), na África, antes mesmo de fazê-lo em Roma, sede central do catolicismo.  
O Espírito que sopra desde a África, com a abertura da Porta Santa, nos abre então a porta para palmilhar a estrada da experiência cristã, marcada pela luz da Misericórdia.
O Deus de Misericórdia não é o Deus das portas fechadas; é o Deus das portas sempre abertas a todos, que, a partir de seu coração misericordioso, sempre está disponível a receber-nos; é o Deus que nunca está ocupado para atender-nos, que acolhe a todos, que continuamente nos diz a cada dia: “Passai por aqui, a porta está sempre aberta”.

Só o amor misericordioso de Deus nos reconstrói por dentro, destrava nosso coração e nos move em direção a horizontes maiores de busca, responsabilidade e compromisso.
Pentecostes vem nos revelar que a Misericórdia é a primeira, a última, a única verdade da Igreja, de todas as suas doutrinas, cânones e ritos. É o critério de juízo de todas as religiões.
Pentecostes da Misericórdia põe em movimento os grandes dinamismos de nossa vida; debaixo do modo paralisado e petrificado de viver, existe uma possibilidade de vida nova nunca ativada.
A misericórdia é a luz e a chave de nossa vida tão preciosa e frágil, de nosso pequeno planeta tão vulnerável, do universo imenso e interrelacionado e do qual fazemos parte.
Tal experiência provoca um movimento que rompe fronteiras e barreiras. Assim, o Espírito faz superar o fundamentalismo, a hipocrisia, a apatia e o medo. Não há nada de mágico. O Espírito age de modo silencioso, mas com extraordinária eficácia: a sua força se mostra irresistível. O seu sopro, penetrando em nossos corpos, nos recoloca de pé e nos faz, finalmente, viver como ressuscitados.
Deixar-se conduzir pelo Espírito, que habita o universo e os corações, é deixar-se levar pelo sopro divino.

No Evangelho de hoje, o Ressuscitado comunica seu próprio Espírito. A imagem de “soprar sobre eles” contém uma riqueza profunda: significa que Jesus compartilhou com os seus discípulos o que é mais “vital”, sua própria “respiração”, seu desejo profundo, sua criatividade..., fazendo-os partícipes de seu próprio Dinamismo e impulso vital, do mesmo Espírito que O conduziu durante toda sua vida.
O sopro do Ressuscitado sobre os seus discípulos nos remete ao sopro de Deus no Gênesis, sopro que dá a vida ao ser humano. Aqui, o sopro de Cristo significa a Vida nova dada aos discípulos, pelo dom do Espírito Santo, indicando um novo Tempo, uma nova Criação e um novo Mundo.
Entretanto, uma coisa é essencial para que nasça esse mundo novo: o perdão. “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,23). Cabe a nós, portanto, fazer nascer esse mundo novo através de nossa presença misericordiosa, sendo mediação do perdão divino.
O perdão é fundamental para a recriação do mundo, e o Espírito nos dá a possibilidade de dá-lo ao outro e de recebê-lo do outro, a fim de que nasça esse mundo novo desejado pelo Cristo da Páscoa.

O perdão é o primeiro dom do Espírito Santo. Sob o impulso do Espírito de Pentecostes, o perdão prepara o terreno para o novo, para a surpresa, para colocar-nos em movimento.
O Espírito é movimento e entrar no movimento da Misericórdia humaniza e cristifica essencialmente a pessoa, porque a Misericórdia constitui “a estrutura fundamental do humano e do divino”.
 “O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração”. (Papa Francisco – Misericordiae Vultus, n.9)

Como seguidores (as) de Jesus, o rosto visível da Misericórdia, somos chamados a ser presença misericordiosa; é sobretudo através do perdão que ativamos a “faísca de misericórdia” presente em nosso interior. O Espírito Santo, o “Sopro” do Ressuscitado é quem ativa esta “faísca”, revelando que a originalidade do cristianismo está na grandeza e na vivência desta única força capaz de movimentar a história, pessoal e coletiva, impulsionando a todos a romper o círculo vicioso dos sentimentos negativos, escrupulosidades, culpabilidades, julgamentos...
O perdão é o mais divino dos atributos divinos, pois só Deus podia inventá-lo. Perdoar é ser semelhante a Deus, pois este modo divino de proceder está ao nosso alcance. O perdão é divino em seus efeitos e em seu próprio processo de vida que desencadeia.
Os recursos do verdadeiro perdão são infinitos; eles jamais acabam. O perdão é um estilo de vida, é uma disposição permanente. Na verdade, no nível mais profundo, o perdão não é o que a pessoa faz, é algo que a pessoa é. Por isso é a dimensão que mais nos distingue como seguidores (as) de Jesus.

Texto bíblico:  João 20,19-23

Na oração:
A experiência de Pentecostes implica escancarar as portas de nossa interioridade, abrindo passagem para que a Misericórdia divina transite com liberdade pelos recantos escondidos e sombrios, ativando e despertando dinamismos e recursos que ainda não tiveram oportunidade de se expressar. Ao mesmo tempo, tal experiência ilumina, destrava e integra toda a nossa história, todas as dimensões de nossa vida, arrancando-a de um fatal “ponto morto” e colocando-a num movimento em direção a uma vida expansiva, aberta e acolhedora, em comunhão com o Todo e com todos.
- Recordar situações cotidianas que clamam por sua presença misericordiosa.

sábado, 7 de maio de 2016

ASCENSÃO: o horizonte é a alegria

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a celebração da  Ascensão do Senhor.

“...depois voltaram a Jerusalém com grande alegria...” (Lucas 24,52)

Para viver a alegria, exercitar-se na alegria: este deveria ser o slogan do (a) seguidor (a) de Jesus.
A alegria brota de um encontro com a Pessoa do Ressuscitado que suscita entusiasmo, nos seduz e nos faz vibrar com a “vida nova” que, nele, o Pai nos manifesta.
Na experiência da Ascensão, somos movidos e recuperar o ardor e a fascinação pela pessoa de Jesus; somos chamados a ser mensageiros da “conversão pastoral” feita de alegria, beleza, proximidade, encontro, ternura, amor e misericórdia. Esse é, pois, a marca que nos identifica como seguidores de Jesus, capaz de ativar e despertar a alegria, pois tudo o que nasce verdadeiramente de um encontro profundo e verdadeiro com Ele, gera uma alegria que ninguém pode tirar.
Precisamos nos converter à alegria de Deus que é autêntica paixão pelo ser humano.
 “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria” (Papa Francisco - Ev. Gaudium).
A alegria é um estado de ânimo central na experiência cristã. Nisto consiste a verdadeira alegria: em sentir que um grande mistério, o mistério do amor misericordioso de Deus, visita e plenifica nossa existência pessoal e comunitária.
Temos de contagiar a alegria do Evangelho. É preciso remover obstáculos que impedem a alegria; é preciso remover a pedra de nossos sepulcros e viver como ressuscitados.
Um sinal de identidade da alegria é o olhar profundo, amplo e largo da vida. Mesmo em meio à dor e ao sofrimento, não faltam o bom humor e a ternura. Quem é cristãmente alegre mantém-se sereno frente aos conflitos, integra melhor os acontecimentos, é feliz e faz felizes os outros.

Na antropologia, o vocábulo “alegria” faz referência a emoções, sentimentos e aspirações alcançadas. Vincula-se ao estado de plenitude humana, à criatividade, ao entusiasmo, ao prazer, ao contentamento, à satisfação, à sorte, ao regozijo, à felicidade. Fala-se da alegria pela ação, por estar ou viver juntos, a alegria de viver, a alegria da festa, a alegria nos triunfos e nas adversidades.
A alegria sempre indica que a vida expandiu, que ganhou terreno, que conseguiu uma vitória. Onde queira que haja alegria há criatividade; quanto mais rica é a criatividade, mais profunda é a alegria.
A alegria é incondicional. Não depende diretamente dos esforços pessoais nem da posse alguma de um bem temporal, mas do sentido global da pessoa. A alegria brota do interior, é coisa do coração; ela mana dentro, calada, com raízes profundas. É um dom do Espírito. “O fruto do Espírito é: amor, alegria” (Gal 5,22). Este dom nos faz filhos (as) de Deus, capazes de viver e vibrar diante de sua bondade e misericórdia. Não é correto que os cristãos associem com tanta frequência a fé à dor, à renúncia, à mortificação, mas à alegria, à vida em plenitude.
Nossa alegria é Cristo ressuscitado. Ele é a causa de nossa alegria. Ele nos dá vida em plenitude.
A alegria está ligada à gratuidade; a alegria não é voluntarismo; não é objeto de decisão, como tampouco de decreto. Podemos diferenciar uma alegria ocasional e outra constitutiva ou um estado de ânimo intenso da pessoa; daí a importância de distinguir “estar alegre” de “ser alegre”. A alegria exige um clima favorável: um estado de espírito semelhante a um estado de graça.

Os Evangelhos nos revelam que Jesus vivia sereno, feliz ,alegre . As bem-aventuranças são o fiel reflexo de sua vida. Seu íntimo trato com o Pai, sua paixão pelo Reino, suas relações pessoais, suas amizades, seu modo de enfrentar a “hora”, sua aceitação da vontade do Pai, sua paixão e morte são vividas em paz.
Jesus nos revela que Deus é alegria em si mesmo e para nós. Disse-nos que a salvação definitiva é “entrar na alegria do seu Senhor” (Mateus 25,21). Diante dos prodígios e milagres que vai realizando em sua vida pública, Jesus exulta de alegria no Espírito Santo.
A alegria cristã aninha-se e cresce na vivência do mistério pascal. A ressurreição de Jesus causou uma imensa alegria na comunidade dos discípulos. A alegria é contagiosa. Tem uma dimensão social e comunitária. Nós não estamos alegres porque Jesus está vivo mas porque nos fez partícipes de sua ressurreição, de sua nova vida. Assim nossa alegria é a alegria de Jesus.
Os Apóstolos, depois da Ascensão de Jesus, retornaram a Jerusalém; a certeza da promessa do envio do Espírito Santo os enchia de alegria; anunciavam com alegria e entusiasmo a ressurreição do Senhor.

“Sede alegres!”: isto é o que Deus deseja de nós, os cristãos. Uma alegria que é preciso manifestar, hoje, mediante uma sensibilidade e ternura humanas. A Igreja, por vocação e missão, deve ser alegre. Toda ela é profecia de alegria e esperança.
Quem vive a partir da alegria, vive a partir do essencial e sabe discernir o autêntico das aparências e o útil do supérfluo. A alegria mantém alta a utopia e não se cansa em sua irradiação. Seguimos o conselho agostiniano: “A felicidade consiste em tomar com alegria o que a vida nos dá, e deixar com a mesma alegria o que ela nos tira”.
Quem é transparente e coerente transmite alegria em seu falar e em seu agir. Costumamos dizer: “alegrar a casa”, “alegrar a cor”, alegrar o fogo”..., ou seja, dar-lhe vida.
Quem vive na alegria se sente sereno, livre, pensa positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as adversidades,  integra suas contradições, ama sem pôr condições, louva, canta e bendiz sem cessar.
De fato, a alegria experimentada não nos põe na retaguarda nem nos acomoda; pelo contrário, ela nos pede que sejamos mais radicais no discernimento e nos compromissos. Está em jogo a glória de Deus e a dignidade de seus filhos e filhas.

Os (as) grandes santos e santas, por viverem profundamente no amor de Deus, foram testemunhas da alegria. Este amor é o que os fez sair de si mesmos, reencontrar-se e entregar-se aos demais. E aqui está o peso do amor, o vigor da alegria.
A alegria, como sentimento expansivo, tende a impulsionar nossa pessoa para fora, nos move a fazer a travessia em direção aos outros. Ser alegre não significa ser impassível, insensível diante da injustiça e da violência, diante da pobreza e da exclusão. As virtudes que acompanham a alegria fazem que quem é alegre seja compassivo e misericordioso e trabalhe pela paz e pela justiça.
Sua vida alegre desmonta a hipocrisia, as ambições, os escândalos de corrupção e afãs de aparência...
Quando servimos os outros, recebemos acrescentada a alegria. “Dormia e sonhava que a vida era alegria. Despertei-me e vi que a vida era serviço. Pus-me a servir e descobri que o serviço era alegria” (Tagore).

Texto bíblicoLucas 24,46-53

Na oração: A alegria é cultivada na ação e na oração; por sua vez, a oração desperta a alegria, este estado de ânimo intenso e fora do normal, facilmente perceptível e que tem ressonância no modo de viver.
S. Inácio chama consolação a esse estado de ânimo, pois se trata de uma experiência nítida da Graça.
- Uma das expressões da alegria evangélica é viver em sintonia com esta Graça abundante e permitir que a vida seja uma contínua ação de graças.

- Há tantos motivos pelos quais festejar, pelos quais manifestar a alegria do Evangelho; explicite-os.