Olá a todos!
O Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana -CEI) semanalmente disponibiliza um texto como sugestão para rezar o Evangelho dos domingos. Pedimos sua autorização para divulgar seus textos neste espaço e ele nos autorizou.
Desta forma, apresentamos a seguir o texto com a sugestão para rezar o Evangelho do 33º Domingo do Tempo Comum - Ano B.
A ESPERANÇA DE VIVER O PRESENTE DE MANEIRA
CRIATIVA
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc
13,31)
Estamos
chegando ao final de mais um “ano litúrgico” (este é penúltimo domingo), e a
liturgia nos propõe leituras que, fazendo referência aos “últimos tempos”,
querem nos convidar à “vigilância” e a atenção ao tempo presente.
O Evangelho de hoje
é parte do capítulo 13 do Evangelho de Marcos, que contém um breve “apocalipse”, ou
seja uma revelação, um desvelamento, um desnudamento dos múltiplos véus que
revestem o palco, lúdico e trágico, da encenação do drama humano, com suas
contradições, incertezas, promessas e esperanças.
Devido às imagens que este gênero
literário utiliza, com frequência atribui-se ao termo “apocalipse” um significado de “catástrofe” ou “destruição”. A
realidade, no entanto, é diferente. Etimologicamente “apokalypsis” significa
“destapar o que está escondido”, “tirar o véu”, “desvelar”, ou seja,
“revelação”.
À mesma raiz pertence a palavra
“eucalipto”, cujo significa etimológico é: “eu-bem”; “kalypsis- escondido”,
fazendo referência ao fato de que tem perfeitamente escondidas suas minúsculas
sementes.
Assim pois,
etimologicamente, “apocalipse” equivale a “verdade”
(“aletheia”=sem véu). E, como consequência, o escrito apocalíptico pretende
“retirar o véu” que nos impede reconhecer as coisas como são, ou seja,
revelar-nos o que se encontra por debaixo da superfície, em um nível mais
profundo. É como se o autor quisesse nos dizer: “as coisas
não são o que parecem ser”.
Em cada momento
histórico o texto do Apocalipse é lido e interpretado em função dos
acontecimentos. Este gênero literário é uma luz que nos ajuda a “ler” a realidade (interior e exterior),
desvelando tudo o que acontece nela e assim poder assumir uma atitude mais
coerente com a proposta do Evangelho.
Assim, pode-se
“ler” esse texto como se escutasse um sonho revelador.
O Apocalipse, portanto, é um empenho da
comunidade cristã em dar sentido a tudo o que está acontecendo e assim
reencontrar sua dignidade no coração das situações mais difíceis.
A revelação que ocorre no interior de
cada um e na realidade que nos envolve é o desvelar (tirar o véu) de uma Presença.
No centro de nossa solidão e de nosso exílio
não estamos sozinhos, mas temos a visão de Alguém, que vem ao nosso encontro.
No texto
evangélico de hoje nos é revelado, através de sinais (abalos celestes e
terrestres, tribulações...), que esta ordem das coisas (o “mundo”) vai ser
renovado em profundidade. Tudo
desmorona à nossa volta, tudo vai desaparecer; mas o que o texto parece resgatar é a contundente
confiança na afirmação e na promessa de Jesus: “O céu e a
terra passarão, mas minhas palavras não passarão”. As Palavras do Filho do Homem
constituem o nosso rochedo, são a nossa força. É um convite a nos recentrar.
Quando somos
transformados pelos acontecimentos e somos levados pelas nossas emoções, pelas
nossas reações, pelos nossos medos, é preciso voltar ao centro.
O ciclone tem uma
violência enorme e gira velozmente, mas seu centro é calmo, imóvel.
É preciso voltar
ao centro do ciclone onde está o “Filho do Homem”, onde está o coração, onde
está o Cordeiro. Esta vida nova está no centro da situação que vivemos, no
centro desse mundo que é o nosso.
É a partir do interior
que algo pode mudar.
Nesse
sentido, o gênero “apocalíptico” vem nos dizer que, para além daquilo que possa
ocorrer na superfície da história pessoal e coletiva, há uma Realidade
estável que nos sustenta e que podemos experimentá-la como “rocha
firme” sobre a qual firmar nossos pés. A velha ordem virá abaixo para ser
substituída por um mundo novo que será inaugurado pela presença do Filho do
Homem, reunindo toda a humanidade (“os quatro cantos”) e estabelecendo o
“Reinado de Deus”.
Trata-se de um anúncio
esperançador e certo. Esperança
representada pela imagem da figueira que, carregando-se de brotos, anuncia a
primavera. Esse é o nosso destino: caminhamos para uma Primavera que não
conhecerá ocaso.
Na realidade, os discursos
apocalípticos, apesar de sua aparência, são sempre um chamado à esperança, que não é uma projeção para um
determinado futuro, que serve para fugir do presente ou para poder
“suportá-lo”; nem pode ser entendida como mera “expectativa” que nos afasta do
presente, senão que nos faz ancorar nele, ou seja, viver na Plenitude do que é,
no Presente pleno e com sentido.
A esperança, talvez mais do que qualquer
outra inclinação ou disposição, está bem no cerne do ser humano e de sua
existência, fazendo-o viver e dando sentido à aventura de sua existência. Basta
pensar no que significa o desespero, a ausência de horizonte, a falta ou a
perda de todo projeto possível, para compreender que a esperança emerge das profundezas do ser
humano. Sem esperança , ele não pode viver.
O ser humano é ser “esperante”.
Segundo Rubem Alves, a esperança é o oposto do otimismo. Otimismo é quando, sendo primavera do
lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam
as fontes a borbulhar dentro do coração. Otimismo
é alegria “por causa de”: coisa humana, natural. Esperança é alegria “apesar de”: coisa divina. O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na
eternidade.
A esperança carrega uma força misteriosa,
um sopro criador, um alento espiritual que nos leva a olhar tudo com fé e
encantamento; é um princípio vital, expresso na sábia e verdadeira constatação
de que “enquanto há vida há esperança”. Mesmo diante de intransponíveis
situações, vislumbramos possibilidades de saída, achamos possível ser de outro
modo, inventamos e reinventamos alternativas, recusamos a possibilidade de as
realidades nos dominarem e, sem cessar, sonhamos com o mais e o melhor.
A
esperança é gestora do futuro e rompedora da dureza do existir.
Paulo Freire
insistia que não se pode confundir esperança do verbo “esperançar” com esperança do verbo “esperar”. Esperançar é se levantar, é ir atrás; esperançar é
construir e não desistir. Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se
com outros para fazer de outro modo.
Uma
das coisa mais perniciosas que vivemos no atual momento é o esvaziamento da
esperança, que se expressa no desalento, desânimo ou até na covardia tolerante.
Michelângelo
dizia que “Deus concedeu uma irmã à recordação, e
chamou-se esperança”.
A esperança, portanto, é como esse
impulso que desafia o presente imediato, sempre curto e sem raízes no futuro; é
ela que nos permite escrever nossa história com mais criatividade e ousadia, nos
abre à invenção de possibilidades que nos fazem viver, corrige o passado e nos
faz recomeçar, mantém a coragem de ser, transforma em nós o ser de puras
exigências e de simples necessidades em seres capazes de dom e de desejo. Na
esperança, encontramos a abertura e a amplitude de nossa vida.
Não basta esperar,
é preciso uma paixão de esperança, a qual somente é possível se conduz para
um horizonte plenificante, para um além da vida do dia-a-dia.
Texto bíblico: Mc 13,24-32
Na oração: Como se situa
diante dos desafios que é chamado a assumir? Não se sente cansado
por já ter vivido tantas mudanças?
- Você se arriscaria por um novo começo?
- Ou talvez desanimado porque as coisas não
aconteceram como havia previsto? Ou, ao contrário, cheio de energia, entusiasmado
por ser protagonista de uma época considerada de graça e de bênção?
- Quê esperanças você carrega no coração?
Texto: Pe. Adroaldo Palaoro, sj
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