Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj como sugestão para rezar o Evangelho do 2º. Domingo do Tempo Comum (Ano B).
“Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: o que estais buscando?”
Nem todas as perguntas são iguais. Às
vezes surge uma pergunta, algo nos interessa e logo queremos saber; basta uma
simples busca rápida para saciar nossa curiosidade; poucas curiosidades
permanecem em nossa mente, pois logo são satisfeitas com muitas informações que
não tem nenhuma ressonância em nossas vidas. Tal pergunta superficial revela um
perigo: pelo fato de serem respondidas em questão de segundos, nossos desejos
mais profundos se acostumam a se mover nessa velocidade.
É preciso situar-nos diante de outro tipo de perguntas,
as mais decisivas e essenciais, aquelas que não podem ser respondidas com um
“click” e nos movem a uma tomada de decisão. São perguntas que exigem
tempo, um ritmo diferente e tem a ver com o núcleo escondido do interior de
nossas vidas: que
quero fazer de minha vida? Que estou
buscando? Por que há algo que sempre me remorde por dentro dizendo que eu
poderia investir mais e melhor na minha missão? Que desejos me mobilizam, dando
calor e sabor à minha vida?
Estas perguntas são mais difíceis de serem respondidas.
Às vezes ficam ali, em um rincão de nossa vida, mas enquanto permanecem vivas
são como umas brasas que voltam a se acender cada vez que a vida as sopra. Tais
perguntas nos fazem mais humanos e são tão importantes como o ar que
respiramos.
Por isso, continuamente deveríamos nos perguntar:
sinto vivas em mim as perguntas radicais?
É neste nível que se situa a pergunta de
Jesus aos dois discípulos de João. O Mestre propõe a pergunta fundamental, “e vós, o que estais buscando?”; uma pergunta que exige
deles um exame sério, que tomem consciência do que pretendem, que explicitem as
reais motivações da busca por Ele.
A pergunta de Jesus é desafiadora, e não
simples curiosidade e inquietação, e se dirige a todos nós. Cada um tem de dar
sua resposta. Ela exige uma tomada de posição, um ato de fé. Por isso, o
processo da busca dos dois discípulos se amplia, despertando nos outros
igual movimento de busca; um encontro não termina em Quem encontra: a partilha
da descoberta faz brotar uma “reação em cadeia”.
Porque buscam, os dois discípulos movem os
outros à busca.
“O Evangelho é um itinerário para
abrir com profundidade a interioridade humana” (Rovira Belloso), e nele vemos como Jesus provoca nas
pessoas o retorno ao interior; sua pedagogia é a da pergunta que
des-vela e move a pessoa a entrar no interior de si mesma para encontrar-se com
a fonte que mana e corre.
Quando os discípulos de João descobrem a Jesus, este,
em vez de dar uma explicação ou uma exortação, lhes dirige uma pergunta que os
remete ao centro de seu coração, àquilo que os move: “quê buscais?”
O evangelho de João apresenta diferentes perguntas: no
diálogo com a samaritana e com Nicodemos, o Mestre os conduz ao profundo deles
mesmos; com Maria Madalena Ele se aproxima como desconhecido e faz a mesma
pergunta dirigida aos primeiros discípulos: “Mulher, que buscas?”; com Simão
Pedro, após a ressurreição, por três vezes lhe pergunta sobre o amor.
Podemos então afirmar que a busca de Deus e o encontro
com Ele, a partir de Sua iniciativa, coincidem com a busca e o encontro de nós
mesmos, de modo que buscar a Deus é buscar-nos a nós mesmos, na nossa própria
interioridade, onde o Senhor nos habita e nos move.
Encantam-nos as pessoas que têm mais perguntas
que respostas. Aquelas que se apresentam com muitas respostas e poucas
perguntas nos provocam tédio, nos cansam e acabam provocando afastamento. São
encontradas em todos os lugares: nas igrejas, nos partidos políticos, no
trabalho, nos meios de comunicação, nas redes sociais... Felizmente, também
encontramos, em todos os lugares, muitas pessoas que têm mais perguntas que
respostas. Embora tenham visões e crenças diferentes, nos sentimos em profunda
comunhão com elas; com suas perguntas, elas nos provocam, nos enriquecem,
mobilizam nossos melhores recursos e ativam a criatividade; essas pessoas nos
ajudam a buscar, nos fazem perguntas novas que nos movem a sair de nós mesmos.
Com elas podemos ver a realidade de maneira diferente, sob outra perspectiva.
Suas perguntas despertam em nós outras perguntas e assim nossa vida entra em
outro movimento. As perguntas movimentam, as respostas paralisam.
Alguém já afirmou que as perguntas têm uma força que
não encontramos nas respostas. Só o fato de nos perguntar ou ouvir alguém que
nos pergunta, pulsa em nós uma força, uma curiosidade que não se apaga com uma
simples resposta. Perguntar-se na vida é o que nos mantém em busca. Como são
nossas perguntas?
Deveríamos agradecer por tantas perguntas que nos
foram feitas. Em um diálogo, as perguntas são a ponte entre as vozes, a
confluência de corações, a faísca de luz partilhada. Todas e cada uma delas nos
fizeram crescer, mesmo aquela mais trivial. Porque cada pergunta vem carregada
de matizes: umas de carinho, outras
de atenção ou de interesse, e inclusive, algumas
de desafio. Umas foram respondidas, outras ainda não soubemos respondê-las,
talvez nunca saibamos respondê-las...
Quantas perguntas deixamos de fazer com
frequência! A pergunta verdadeira tem sempre o aroma da humildade: é o
reconhecimento de nossa ignorância e o da capacidade de nosso irmão para nos
ajudar. A pergunta é uma frase não concluída, um verso que busca palavras de
outro para dar cumprimento à sua beleza e à sua mensagem. A pergunta tem a cor
do respeito infinito pela liberdade do outro.
Jesus se revelou como um homem das perguntas
mobilizadoras. Há uma infinidade de vezes que Jesus se aproxima das pessoas e
as interroga. Desde o “que
buscais?” inicial
em João, à tríplice interpelação a Pedro – “tu me amas?” -, ou o apelo ao cego – “que queres que eu te faça? -, ou a delicadeza com o
cego na piscina de Betesda – “queres
ficar curado?”.
Aquele que é Verdade, Caminho e Vida também revela
sua identidade através de perguntas que despertam o melhor que há em cada
pessoa.
Não é fácil responder à pergunta
simples, direta, fundamental, a partir do interior de uma cultura “fechada”
como a nossa, que se revela como “cultura da superficialidade”, onde a
preocupação está centrada só com as aparências, com a vaidade e o prestígio...
Que é o que buscamos exatamente?
Para alguns, a vida é um grande
supermercado e o único que lhes interessa é adquirir coisas com os quais poder
consolar um pouco sua existência. Outros, buscam escapar da enfermidade, da
solidão, da tristeza, dos conflitos e do medo. Mas, escapar para onde? Para
quem?
Outros já não buscam mais; o que querem
é que lhes deixem sozinhos: esquecer os outros e ser esquecidos por todos. Não
se preocupam com ninguém e que ninguém se preocupe com eles.
A maioria busca simplesmente cobrir
suas necessidades diárias e continuar lutando por ver realizados seus pequenos
desejos. Mas, mesmo que todos eles se realizem, ficaria seu coração
insatisfeito. Não apaziguaria sua sede de consolo, libertação, felicidade
plena...
As verdadeiras perguntas estão
empapadas de ternura e delicadeza. É impossível o diálogo sem perguntas; é
impossível que uma criança fale com sua mãe ou pai sem perguntas, nem um amigo
com outro amigo, nem um esposo com sua esposa. Não é possível o amor sem
perguntas. Não é possível a oração sem perguntas. Chegará o “Dia do Senhor”, o
dia da Grande Resposta. Mas, até lá, as perguntas farão parte de
nosso viver, farão emergir o mais verdadeiro de nosso ser, darão sabor e calor
ao nosso peregrinar.
Vive agora as perguntas. Talvez assim, pouco a pouco, sem dar-te conta, possas algum dia viver as respostas” (Rainer Maria Rilke).
Texto bíblico: Evangelho segundo João 1,35-42
Na
oração:
Ter os olhos centrados em Jesus deixando-se impactar
pelo Seu modo de viver, Sua paixão pelo Reino, Sua missão, Suas perguntas...
- O que você busca ao fixar os olhos em Jesus? O que
sente ao perceber os olhos de
Jesus fixos em você?
- Que consequências tem para sua vida o modo de ser,
de viver e de fazer do próprio Jesus?
- Quais são seus sonhos? Quê esperanças você carrega
no coração?
- A quê você se anima a gastar sua vida? que medos o(a) paralisam?
- Compaixão; inspiração; ser uma pessoa melhor a cada dia; e não conseguir seguir os seus ensinos. (Mãe carioca)
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