Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana), como sugestão para rezar o Evangelho do 32º Domingo do Tempo Comum (Ano A).
“Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando” (Mt 25,8)
As parábolas
são relatos provocadores, que revelam o sentido da vida a partir de uma
perspectiva diferente. Não são histórias edificantes, nem meditações piedosas,
mas enigmas para pensar, decifrar e decidir o horizonte da vida. As parábolas
não fecham a mensagem (não são dogmas, nem demonstrações), pois são sinais que
cada um deve interpretar e resolver a partir de sua própria vida.
Frente às parábolas, uma pessoa pode rebelar-se,
outra pode descobrir o lado oculto de sua vida... Por isso, são imagens
interativas que não tem a solução dada de antemão.
É surpreendente a insistência com
que Jesus fala da vigilância; são numerosas as parábolas que nos convidam a
adotar uma atitude desperta e atenta frente à existência, para que esta tenha
um sentido.
Interpretar a parábola deste domingo no sentido de que devemos estar preparados para o dia da morte, é falsificar o evangelho. A parábola não está centrada no fim, mas na inutilidade de uma espera que não é acompanhada de uma atitude de amor e de serviço. As lâmpadas devem estar sempre acesas, para ajudar a acolher as gratas surpresas da vida e poder participar da festa d’Aquele que continuamente vem ao nosso encontro. Se não queremos ser insensatos (sem sentido, sem direção), precisamos estar alertas, para entrar em sintonia com a realidade e viver a vida como deve ser vivida.
Nossa maior insensatez seria viver “sem horizonte”,
sem desejos e sonhos, sem uma causa mobilizadora... Submergimos no presente sem
outra perspectiva mais ampla; e assim afogamos nossa vocação de infinitos na
vulgaridade de uma vida superficial e satisfeita. Se estamos adormecidos, é
preciso despertar, porque, do contrário, perderemos a oportunidade de entrar na
festa das núpcias.
Portanto, ser “imprudentes” significa viver
“dispersos”, “distraídos”... deixando apagar a lâmpada de nossa fé e de nossa
esperança, e sem o azeite de reposição.
A lamparina que arde é a prática da
mensagem de Jesus; o azeite que alimenta a chama, é o amor manifestado. Assim
entendemos porque as jovens prudentes não podem compartilhar o azeite com as
imprudentes. Não se trata de egoísmo; é impossível amar em nome de outra pessoa
ou considerar como própria a entrega que o outro realizou. A lamparina não pode
queimar com o azeite de outro; a chama não pode ser acesa com azeite comprado
ou emprestado.
A parábola do Evangelho nos fala
daqueles que não cultivam sua esperança hoje e pretendem viver do azeite das
lâmpadas dos outros. E ninguém pode viver da fé do outro, nem da esperança do
outro.
O sentido de toda uma vida não pode ser improvisado em um instante. Somente a partir da luz de Deus em nós, descoberta, reconhecida e ativada, poderemos viver antenados com o melhor que há em nosso interior (azeite) e com a realidade que nos envolve, cheia de surpresas.
Todos nós somos portadores de uma lâmpada e todos somos convidados à
festa. Podemos inspirar-nos mutuamente a viver a partir de nossa verdade mais
profunda, a partir da luz que nos
habita; mas, no final, a falta ou não de azeite para a nossa lâmpada depende de
cada um(a), de nossa responsabilidade, de nossa previsão, do cuidado delicado e
agradecido diante de tudo o que foi recebido, da capacidade para sustentar a
esperança nas noites escuras e, sobretudo, do amor e da alegria que alimentamos
no desejo de nos encontrar, dia a dia, com o Noivo, seguros de que Ele sempre
vem.
Só assim seremos luz verdadeira para os outros, iluminaremos – humildemente – as
obscuridades que nos envolvem, e contagiaremos a alegria de sabermos que fomos
convidados à festa.
O que permanece em nosso interior é
o fulgor (luz) que vivemos (que brilha) por dentro, ao fazer memória da nossa
vida, esse “eu profundo” que é mais
“eu” que eu mesmo: “eu” original, iluminado, santo, intocável, faísca de luz
que se volta para Aquele que é Fonte de toda luz.
O “ego” é como um planeta do sistema solar; não tem luz própria.
Adquire sua luz emprestada e, portanto, vive no engano de que pode continuar
sempre assim, no tempo e no espaço.
Por isso, o ego inflado com a luz
que não é própria, busca, de maneira desenfreada, apoderar-se de tudo aquilo
que lhe dá a ilusão de brilhar: poder, riqueza, vaidade... Falsas luzes que um
dia se apagarão.
O “eu original”, no entanto, vai ao
encontro da luz verdadeira, presente no próprio interior, e deixa-se iluminar
por ela; é esta pequena chama que o conduz em direção Àquele que é a Luz, para
entrar e participar do seu festim iluminado.
Por isso, nós somos, ao mesmo
tempo, a lâmpada, o azeite e a luz. Ninguém pode nos emprestá-los, porque é nossa própria vida.
Toda vida se move a partir de dentro.
Dentro de nós devemos descobrir a luz
que iluminará nossos passos; essa chama, se é autêntica, não pode se ocultar,
pois iluminará também a todos os outros. Uma luz que acende outras luzes.
Contemplai admirados essa luz que somos! E, mesmo nosso pequeno “ego” brilhará, atravessado por essa luz como o sereno pelo sol do amanhecer.
A parábola deste domingo, portanto, nos provoca a
uma tomada de posição: “em qual dos
dois grupos eu me encontro? Em qual deles desejo estar?” A narração usa as
imagens das lâmpadas e do azeite como símbolos que marcam a diferença entre um
grupo e outro.
Nossa vida, enraizada na Vida d’Aquele que é a
Luz do mundo, é chamada a irradiar luz, a iluminar a realidade na qual
habitamos, embora, muitas vezes, a noite escura nos envolve.
“Vós
sois a luz do mundo”
(Mt 5,14).
“Em
que situação se encontra minha lâmpada? E minha reserva de azeite? De que modo
colaboro para que o Noivo possa celebrar a festa? Como sou luz em meio a tantas
noites de ódio e violência pelas quais nosso mundo atravessa?” Na realidade, de acordo
com a parábola, todas as jovens carregavam suas lâmpadas; todas elas tinham
sido convidadas à festa; todas alimentavam o mesmo desejo: aguardar a chegada
do noivo. O fato de pertencer a um grupo ou a outro não se impõe a partir de
fora. Cada uma das personagens da parábola, no fundo, foi livre e decidiu com
sua atitude (previdente e sábia, ou imprudente e descuidada), em quê grupo
situar-se.
Hoje em dia existem, nas igrejas e
capelas, as velas para todos os gostos; existem aquelas eletrônicas, que são
ativadas com uma moeda; e existem até aquelas que podem ser acesas a longa
distância, pela internet. Mas, velas originais são aquelas que se consomem na
nobre missão de iluminar. Simbolizam a travessia da própria existência:
queima-se a cera como nós vamos nos queimando, diminuindo-nos com a passagem do
tempo, as dificuldades e as alegrias de nossa travessia humana.
Quando acendemos a chama, é como se
tomássemos consciência de que somos luz na medida em que vamos nos gastando em
iluminar nosso entorno e chegar a ser cera derretida um dia, tarde ou cedo;
passar de luz natural a reencontrar-nos com a Luz total da qual procedemos.
Texto bíblico: Mt 25,1-13
Na
oração:
A
esperança mantém sempre acesa a faísca de luz que todos
carregamos dentro. É ela que nos faz
cair na conta que somos “luz do mundo”,
uma chama que nunca se apaga; somos “sarça
ardente” para os outros, consumindo-nos constantemente, através da vida
doada; somos uma lamparina humilde, brilhando na janela da nossa pobre casa,
indicando aos outros o caminho da segurança e do aconchego.
- Como você deixa transparecer a luz no seu agir cotidiano? Qual é o azeite que brota do seu coração e que alimenta a luz de sua humilde lamparina?
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