segunda-feira, 27 de maio de 2019

Eva e Maria

Compartilhamos um reflexão usado em nossa última reunião do Mês de Maio:



Feita pela irmã Grace Remington, da Abadia do Mississip, esta obra chama-se “Eve and Mary” e retrata as duas mulheres – concebidas sem o pecado original – em uma cena bem feminina: a mãe da humanidade natural (Eva) e a mãe da humanidade redimida segundo a Graça (Maria). Alguns detalhes fazem desta obra um exemplo de simplicidade e reflexão.

1) A Virgem Maria toca levemente o rosto de Eva, consolando-a. Sorridente, longe de demonstrar soberba, mostra misericórdia por Eva.  Enquanto Eva, entristecida, segura em uma das mãos a maçã (o fruto proibido, a condenação), com a outra toca o fruto do ventre de Maria (o fruto sagrado, a salvação).

2) A serpente, enroscada na perna de Eva, é pisada, na cabeça, pela Virgem Maria. A mesma que enganou Eva no Paraíso, é derrotada por Maria.

Se por uma mulher (Eva) veio o pecado ao Mundo, por outra (Maria) veio a Salvação.
Que pela intercessão de Virgem Maria possamos ser introduzidos no mistério da redenção misericordiosa de Deus
.

Após as reflexões e partilhas, finalizamos com a seguinte oração: 

Oração à Nossa Senhora, Mãe da Libertação

Mãe do Amor, faça-nos viver o amor: amar ao nosso Deus e aos nossos irmãos.
Mãe da Esperança, faça-nos viver cheios de esperança e ser esperança para os que encontramos no caminho!
Mãe da Justiça, livra-nos dessa tendência para julgar facilmente e faça-nos encontrar a justiça em nosso mundo!
Mãe do Silêncio, ensina-nos que o silêncio é terra fecunda em que a palavra pode renovar e transformar!
Mãe da Verdade, faça-nos coerentes, transparentes, libertos da hipocrisia e da mentira.
Mãe da Vida, livra-nos da morte do pecado, do egoísmo, ressuscita-nos para o essencial, para o SIM.
Mãe da Libertação, liberta-nos do nosso eu pequeno, dos horizontes estreitos e confinados, para que nos constituamos o povo livre que constrói o Reino de Deus.
Amém!

domingo, 26 de maio de 2019

Deus Não é Nosso Hóspede, mas a Essência de Nosso Ser

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 6º Domingo da Páscoa.


 “...e nós viremos e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23)

Continuamos com o discurso de despedida de Jesus, depois da Última Ceia. O tema do domingo passado era o amor manifestado na entrega aos demais. Terminávamos dizendo que esse amor era a expressão de uma experiência interior, relação com o mais profundo de nós mesmos que é Deus.
Hoje o evangelho nos fala do que significa essa vivência íntima. A Realidade que somos, é nosso verdadeiro ser. O verdadeiro Deus não é um ser separado que está em alguma parte da estratosfera, mas o fundamento de nosso ser e de cada um dos seres do universo. Tudo está admiravelmente condensado e expresso nesta frase com a qual se inicia o evangelho de hoje: “viremos a ele e faremos nele nossa morada”. O ser humano está habitado por Deus, no sentido mais profundo que possamos imaginar.
Quem toma consciência de sua identidade profunda, descobre-se habitado e amado pelo Mistério e não pode fazer outra coisa senão amar e experimentar a unidade com todos. Na linguagem do quarto evangelho, Deus e Jesus são o “centro” último do nosso interior, o que constitui nossa identidade mais profunda. Deus Trindade abraça e se expressa em toda a realidade; habita tudo e em tudo se manifesta; envolve tudo e em tudo está presente. É o que experimentaram e proclamaram os místicos: “Meu Eu é Deus e não reconheço outro Eu que a Deus mesmo” (S. Catarina de Gênova).
S. João da Cruz escreve: “A alma mais parece Deus que alma, e ainda é Deus por participação”.

Não se trata, portanto, de que Deus habite unicamente naqueles que cumprem a palavra de Jesus, num retorno à religião dos méritos e das recompensas. Deus habita já todos os seres: nada poderia existir “fora” d’Ele. Tudo é morada de Deus.
Segundo S. Inácio “Deus habita nas criaturas: nos elementos dando o ser; nas plantas, a vida vegetativa; nos animais, a vida sensitiva; nas pessoas, a vida intelectiva. Do mesmo modo em mim, dando-me o ser, o viver, o sentir e o entender. E também fazendo de mim o seu templo” (EE. 235).
Tudo está inundado de Deus; tudo é sagrado, nada é profano
Deus não permanece exterior nós, mas habita no mais profundo de cada um; somos o que somos devido à presença de Deus em nós. A dignidade e o significado último de cada ser humano não provém dele mesmo, mas da presença de Deus em seu interior.
Além disso, nós nunca estamos fora de Deus. Tudo que somos e temos é manifestação de sua força, bondade e amor. Com-viver com Deus tem sempre algo de aventura que assusta e encanta. É a chamada “experiência numinosa”.
Pois, Deus e o ser humano não são adversários, mas “diferenças que se amam”.
Por isso, ao abraçarmos cada pessoa, estaremos tomando nos braços não apenas os seus limites, fragilidades e sombras, mas também o seu infinito mistério: Deus mesmo.
Igualmente, distanciar-se do outro é expulsar-se de Deus, e quem se fecha à novidade do outro, inevitavelmente limita a ação do Criador no próprio interior.
E para onde quer que olhemos, lá está Ele: silencioso, como nosso próprio mistério. Está presente na dis-tante profundeza do universo como suprema fecundidade e nosso Pai, na proximidade dos seres humanos como humildade e nosso irmão, em nós mesmos como sentido e o vigor que nos faz viver.

Jesus viveu uma profunda identificação com o Pai que não podemos expressar com palavras. “Eu e o Pai somos um”. Nós também somos chamados a viver essa mesma identificação. Fazer-nos uma coisa só com Deus, que é presença e que não está em nós como hóspede agregado que chega e sai, mas como fundamento de nosso ser, sem o qual nada pode existir em nós. Essa presença de Deus em nós não altera em nada nossa individualidade. Nós somos totalmente nós mesmos e totalmente de Deus. Viver esta realidade é o que constitui a plenitude do ser humano.
Uma coisa é a linguagem e outra a realidade que queremos manifestar com ela. Deus não tem que vir de nenhum lugar para estar no mais profundo de nosso ser. Está aí desde antes de existirmos. Não existe “alguma parte” onde Deus possa estar, fora de nós e do resto da criação. Deus é Aquele que torna possível nossa existência. Somos nós que estamos fundamentados n’Ele desde o primeiro instante do nosso existir. Deus já não é esse Outro ao qual temos que ir ou esperar que venha, senão que forma parte de nossa realidade, um espaço do qual podemos nos diferenciar, mas não separar.
Descobri-Lo em nós, tomar consciência dessa presença, é como se Ele viesse a nós. Esta verdade é a fonte de toda experiência espiritual.
Os místicos ousam dizer: “temos Deus dentro de nós; é tão unido a nós que Ele é a nossa própria profundidade”.
Aqui está a grande novidade da mensagem e da experiência de Jesus: revelar que o lugar da presença de Deus é o ser humano. Ele é experimentado dentro de nós; mas também é preciso descobri-Lo dentro de cada um dos outros seres humanos. A presença surge de dentro e nos sensibiliza a percebê-Lo no outro.
 “Deixar Deus ser Deus em nosso interior” significa entrar no fluxo da dinâmica divina, ou seja, viver encontros divinizados, sendo presença divinizada, expressando palavras e atos divinizados...
A presença de Deus em nosso interior fica atrofiada quando nossa vida é carregada do veneno do preconceito, da intolerância, do julgamento, da suspeita e do medo do diferente. É justamente essa presença divina no eu profundo que nos diferencia e nos torna originais. Encontrar-nos com Deus na própria morada interna não é fechar-nos num intimismo estéril; implica ampliar o espaço do coração para acolher o outro que pensa, sente e ama de maneira diferente, porque também ele é morada da Trindade.
O Espírito é o garantidor dessa presença dinâmica do Pai e de Jesus em nós: “Ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”. O verdadeiro Mestre – nosso “mestre interior” – que nos irá conduzindo até a verdade é o Espírito de Deus, que se expressa no mais profundo de todo ser humano. É a “voz” de Deus em nós, à qual temos acesso a partir da abertura e disponibilidade interior.
O teólogo Schillebeeckx afirmou: “Se pudesse tirar de mim o que há de mim, ficaria Deus; se pudesse tirar de mim o que há de Deus, ficaria nada”.

Ao nos reconhecermos nessa morada interior, podemos receber a paz da qual fala Jesus; não só isso: descobrimos que somos Paz. Não é a “paz do mundo”, que sempre será oscilante e inconstante, senão a Paz que abraça todas as situações da vida, porque estamos ancorados naquilo que realmente somos.
O “shalom” judaico é muito mais rico que nosso conceito de paz; mas o evangelho de João acrescenta um “plus” de significado sobre o já rico significado judaico. A paz, de que fala Jesus, tem sua origem no interior de cada um. É a harmonia total, não só dentro da pessoa, mas com os outros e com a criação inteira. Corresponde ao fruto primeiro das relações autênticas em todas as direções; expressa a consequência do amor que é Deus em cada um, descoberto e vivido. A paz não é buscada diretamente; ela é fruto do amor. Só o amor, ativado e manifestado no próprio interior, conduz à paz verdadeira. Poder-se-ia dizer que esta “paz” não é algo diferente do Espírito. É a paz de quem permanece ancorado em sua identidade profunda, sem identificar-se com os altos e baixos das circunstâncias, nem se perder com o “vai-e-vem” da mente.
É a paz que supera toda razão, porque nasce de um “lugar” que está mais além da razão, mais além da mente, na compreensão do Mistério que somos, e que não se vê afetado pelo que ocorre em nosso eu.
Texto bíblicoJo 14,23-29

Na oração:
Considerar, como devo, de minha parte, amar as pessoas de tal maneira que me faça transparente, para que através de mim os outros possam conhecer quem é Deus.
- Eu devo deixar “transparecer” a imagem de Deus, através da bondade, justiça, serviço... Deus “habita em mim”, deixando suas pegadas; através delas sou movido a dar testemunho de quem é Deus.

sábado, 18 de maio de 2019

No Princípio está o AMOR

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 5º Domingo da Páscoa.


“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13, 35)

A revelação bíblica afirma que Deus é o Criador e Senhor, que envolve a criação com seu Amor dinâmico e criativo. É um Deus ativo, providente, fonte de vida, que realiza obras admiráveis e santas. Em seu Amor Oblativo, Ele vem ao nosso encontro e nos introduz no movimento de sua própria Vida. Somos seres agraciados (as). Viemos de Deus e voltamos para Ele. “N’Ele vivemos, nos movemos e existimos”.
Aqui nos encontramos como que no centro do mistério único, que é o mistério do Deus Criador e Providente, do Deus que “dá a Vida”, que cuida do universo, do Deus de quem tudo procede e para quem tudo retorna; em síntese, trata-se do mistério do Amor em excesso de Deus.
Portanto, no princípio está o Amor e de suas entranhas tudo procede; cada criatura é uma irradiação de Deus, uma faísca da divindade, um transbordamento do amor de Deus. Tudo fala de Deus, tudo revela o seu Amor. Tudo está “amortizado”; o Amor se faz presença, se faz visível, se manifesta em cada detalhe da criação. No Amor tudo entra em movimento expansivo e aberto.
Jesus, em sua vida, sempre deixou transparecer esse Amor do Pai. O amor de Jesus, extenso e profundo como o oceano, nunca teve fronteiras: envolveu a todos, acolheu a todos sem preconceito de raça, cultura, sexo e religião. O mandamento do amor, mais que um mandato é, antes de tudo, um dom e uma revelação de Jesus a seus discípulos.

O evangelho de hoje também faz parte do discurso de Jesus no evangelho de João, o último e mais extenso, depois do lava-pés. É um discurso que abarca cinco capítulos, e é uma verdadeira catequese à comunidade, resumindo os mais originais ensinamentos de Jesus.
Estamos vivendo o tempo Pascal e, com a ressurreição, o amor rompido renasce; com a ressurreição, o amor auto-centrado nos faz sair de nós mesmos; com a ressurreição, os olhares desconfiados se tornam acolhedores; com a ressurreição podemos aprender a viver a partir de Deus; com a ressurreição o amor oblativo é capaz de mover nossa vida.
Só quem assume a Vida de Deus como sua, será capaz de expandi-la em sua relação com os outros. A manifestação dessa Vida é o amor efetivo a todos os seres humanos.
O distintivo do cristão é o amor fraterno. E o amor é discreto, humilde, conhecedor de sua insuficiência, não é arrogante, não se derrama em palavras, não faz alarde, não vai se proclamando pelas praças, prefere o silêncio, passa desapercebido, prefere as obras às palavras (“o amor deve-se por mais em obras que em palavras” – Santo Inácio).

É o Amor nosso distintivo como seguidores (as) de Jesus? O sinal pelo qual os outros reconhecerão que somos discípulos(as) seus(suas) é a capacidade de amar-nos uns aos outros. Temos insistindo demasiado no acidental: no cumprimento de normas, na crença de algumas verdades e na celebração de alguns ritos. E esvaziamos o essencial que é o Amor. O Reino não se espalha por meio de armas, nem com a propaganda e nem com marketing algum; o Reino se espalha pelo contágio, porque o “Amor é contagioso”.
Porque fracassamos estrepitosamente naquilo que é a essência do Evangelho? Porque dizemos seguir Aquele que é a visibilização do Amor do Pai e o nosso estilo de vida destila doses mortais de indiferença, preconceito, intolerância, julgamento...? Vivemos tempos de ira e de ódio, expressões de um fundamentalismo e de um fanatismo que esvaziam toda possibilidade da vivência do amor oblativo. Estamos nos acostumando a ver o ódio e a vingança como um espetáculo a mais. As mediações digitais e as manipulações ideológicas não nos deixam perceber as verdadeiras consequências do ódio sobre as pessoas.
É preciso resgatar a sacralidade do amor; afinal, ele é o motor de uma vida intensa. O amor ágape se expressa justamente como impulso para o diferente, abertura a quem pensa, sente e ama de maneira diferente.

O mandamento do amor continua sendo tão “novo” que está ainda por ser vivido em sua plenitude. Não se trata só de algo muito importante; trata-se do essencial. Sem amor, não há vida cristã. Nietzsche chegou a dizer: “só houve um cristão, e esse morreu na cruz”; precisamente porque ninguém foi capaz de amar como Ele amou.
Essa é, com certeza, nossa raiz e nossa essência, nossa mais profunda força que, às vezes nos rompe por dentro, outras vezes nos faz subir ao céu. Podemos amar e ser amados. Vivemos desejando encontro, carinho, palavra de compreensão e reconhecimento. Dizemos de Deus, de quem somos imagem, que é a-

 mor. E quando olhamos ao redor e vemos os outros, sonhamos viver a partir da cordialidade de braços que se estreitam, olhos que se compreendem ou mãos que se enlaçam.
O amor tem muitos nomes, muitos rostos, muitas formas e expressões. Tem inumeráveis histórias. É amizade, fé, paixão, enamoramento; é fraterno, filial, paterno/materno; é compaixão pelas vidas feridas ou inspiração por viver intensamente. É encontro, quietude ou tormenta. É aceitação incondicional e, ao mesmo tempo, fé nas possibilidades do outro. Amor é saber compartilhar; e também saber pedir ajuda àqueles a quem confiamos. É desfrutar da presença e encurtar as distâncias. É celebrar juntos a vida e chorar juntos os golpes. Às vezes é sede, e outras vezes é manancial que sacia os desejos. É sinal que estamos vivos, e há ocasiões em que a vida é canto, e outras em que é luto.

Um mandamento novo: “que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei”. O “como eu vos amei” não é só comparativo, mas originante. Quer dizer: “que deveis amar-vos porque eu os amei, e tanto como eu os amei”. Jesus é o cume das possibilidades humanas. Amar é a única maneira de ser plenamente humano. Ele ativou até o limite a capacidade de amar, até amar como Deus ama.
Jesus não propõe um princípio teórico, e depois pede que todos o cumpramos. Ele começa por viver o amor e depois diz: “como eu vos amei”. Quem revela sua adesão a Jesus ficará capacitado para ser filho(a), para atuar como o Pai, para amar como Deus ama.
O amor que Jesus pede não é uma teoria, nem uma doutrina; manifesta-se na vida, em todos e em cada um dos aspectos da existência. A nova comunidade dos (as) seguidores(as) não se caracterizará por doutrinas, nem ritos, nem normas. O único distintivo deve ser o amor manifestado em suas ações.
O amor não é um sonho, é o impulso básico das pessoas criadas livres; livres para doar-se livremente, livres para participar da infinita abundância de vida com que Deus nos cumula. O amor é a vida mesma em seu estado de maturidade e plenitude.


Texto bíblico:  Jo 13,31-35

Na oração:
Repassa sua história de amor. Que nomes são importantes em sua vida? De quê maneira você ajuda o seu ambiente a estar “carregado de amor”?
Em quê circunstância da vida você se revela como pessoa amável?
Quê passos você dá para quebrar o círculo de ódio e violência, que mata o amor na raiz?

sábado, 11 de maio de 2019

Uma Voz que Move

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 4º Domingo da Páscoa.


“As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27)

Todo quarto domingo de Páscoa é dedicado ao tema do “Bom Pastor”; a liturgia não apresenta outros relatos de aparições, mas continuamos com mais um texto profundamente pascal.
No relato deste domingo, a alegoria do Pastor fala de “escuta”, “conhecimento”, “seguimento” e “vida eterna”, que é a chave do tempo pascal; ao mesmo tempo, num aprofundamento progressivo, o texto remete ao Pai e culmina na Unidade, como Fonte de onde tudo procede e para onde tudo retorna.
São estas realidades que nos permitem conectar com o sentido originário da imagem do Pastor, sem cair na literalidade pastor/ovelhas, paternalismo/cordeirinho, poder/submissão..., que acabam provocando uma justificada resistência e rejeição.
Jesus quer estabelecer com seus(suas) amigos(as) uma relação que seja o reflexo daquela que Ele mesmo tem para com o Pai: uma relação de pertença recíproca, na confiança plena, na íntima comunhão.
Para expressar esta realidade profunda, esta relação de amizade, Jesus utiliza a imagem do pastor com suas ovelhas: ele as chama e elas reconhecem sua voz, respondem a seu chamado e o seguem.
Esta parábola é muito instigante. O mistério da voz é sugestivo: desde o ventre de nossa mãe aprendemos a reconhecer sua voz e, quando nascemos, vamos reconhecendo outras vozes. Pelo tom de uma voz perce-bemos o amor ou o desprezo, o afeto ou a frieza, a acolhida ou a rejeição.
A voz de Jesus é única! Se aprendemos a distingui-la de outras vozes, Ele nos guiará pelo caminho da vida, um caminho que supera também o abismo da morte.

O contexto do relato deste domingo é o embate de Jesus com as autoridades religiosas judaicas. Depois de dizer que elas não são suas ovelhas, Jesus descreve com todo detalhe o que significa ser dos seus.
Destaca dois traços, os mais essenciais e imprescindíveis: “Minhas ovelhas escutam minha voz... e elas me seguem”. Não se trata só de ouvir a Jesus, mas de escutá-lo. Muitas vezes só ouvimos e aceitamos somente o que está de acordo com nossos interesses. Escutá-lo significa aproximar-nos sem pré-juízos e acolher o que Ele nos diz, mesmo que isso implique mudar nossas convicções; escutar é pôr toda nossa atenção para tratar de compreender.
“E elas me seguem”. Não basta escutar, é preciso colocar-nos em movimento e entrar na nova dinâmica da vida. Escutar tem ressonância interna e ativa todas as nossas potencialidades ali presentes.
A boa notícia de Jesus consiste em manifestar que há uma nova maneira de assumir a existência humana, uma maneira de viver que esteja mais de acordo com as exigências profundas do nosso ser. Quando alguém é capaz de escutar esse chamado interior e de viver conforme ele, vive uma existência feliz. Vive de acordo com seu mais íntimo e esta adequação entre a vida exterior e a vida interior é a felicidade.

Em um mundo onde há tanto ruído, discursos ocos e palavreado intolerante, não é fácil prestar atenção a alguma voz em especial. O fato é que às vezes vivemos em bolhas onde raramente entram vozes que nos comovam de verdade. E, no entanto, debaixo de gritos, ruídos, músicas estridentes, anúncios, peças publicitárias e frases que apelam ao conservadorismo, continua brotando palavras cheias de verdade. Palavras que valem a pena escutá-las. Talvez, detrás de muitos gestos petrificados, palavras sem sentido, falsas seguranças, estarão vozes que clamam por ajuda, ou simplesmente expressam dor, desejo de paz, de consolo.
O verdadeiro desafio é aprender a escutar, por debaixo desses discursos, a palavra profunda, o canto tranquilo ou a voz que põe em movimento.
Saber escutar o outro é uma simples, mas profunda acolhida humana; trata-se de um ato de hospitalidade, pois consiste em abrir espaço para a presença do outro, sem preconceito. Porque quem escuta de verdade recebe toda palavra como nova e ativa a sensibilidade para deixar-se “tocar” pela voz que alarga a vida.

Vivemos mergulhados num mundo de vozes; um “vozerio” nos cerca: vozes que nos levam à morte, vozes que nos chamam à vida; vozes contaminadas pelo egoísmo, adulteradas pelo medo, deturpadas pela impureza, e vozes que são o eco do paraíso convidando para a festa, comunicando paz, convocando à comunhão... É possível que as vozes do egoísmo, do orgulho e da ambição tentem se disfarçar em voz de Cristo, a fim de arrastar-nos para o vazio e a ruína. Mas o Pastor verdadeiro não fala por ruídos, e sim pelo silêncio; não fala pela força dos pulmões, e sim pelo vento suave de seu Espírito...
Para escutá-la requer-se interioridade e atenção aos sinais de sua presença: pode ser a voz de um irmão pedindo socorro; pode ser a linguagem de um acontecimento alegre ou triste; pode ser uma palavra lida ou proclamada; pode ser uma inspiração misteriosa captada no silêncio...
Na arte do discernimento das vozes, o importante é, através da escuta interior, perceber de onde vem e para onde nos conduz cada voz que ressoa em nós. Se ela nos conduz  para o outro, para o Reino...é clara manifestação da voz do Pastor.

Depois de mais vinte séculos, nós seguidores(as) precisamos recordar de novo que o essencial para ser a Igreja de Jesus é escutar sua voz e seguir seus passos.
Primeiramente, é preciso despertar a capacidade de escutar Jesus; ativar muito mais em nossas comunidades essa sensibilidade, que está viva em muitos cristãos simples que sabem captar a Palavra que vem de Jesus em todo seu dinamismo e sintonizar com sua Boa Notícia de Deus.
Mas não basta escutar sua voz. É necessário seguir a Jesus. Chegou o momento de decidir-nos entre contentar-nos com uma “religião burguesa” que tranquiliza as consciências mas afoga nossa alegria, ou aprender a viver a fé cristã como uma aventura apaixonante de seguir a Jesus.
Parece óbvio afirmar isso: somos seguidores de uma Pessoa (Jesus Cristo) e não seguidores de uma religião, de uma doutrina, de uma moral... Estas são mediações que deveriam nos ajudar a crescer na identificação e vida d’Aquele é o Bom Pastor.
A aventura cristã consiste em crer naquilo que Ele acreditou, dar importância àquilo que Ele deu, defender a causa do ser humano como Ele a defendeu, aproximar-nos dos indefesos e desvalidos como Ele se fez presente, ser livres para fazer o bem como Ele, confiar no Pai como Ele confiou e enfrentar a vida e a morte com a esperança com que Ele enfrentou.
Se, aqueles que vivem perdidos, sozinhos e desorientados podem encontrar na comunidade cristã um lugar onde se aprende a viver juntos de maneira mais digna, solidária e libre, seguindo a Jesus, a Igreja estará oferecendo ao mundo de hoje um de seus melhores serviços.


Texto bíblicoJo 10,27-30

Na oração:
Minha voz, está a serviço de quem?
Da vida ou da morte? Como ela se expressa: com intolerância, julgamento, preconceito? Sou canal através do qual a Voz de Vida chega até os últimos..., ou coloco minha voz à disposição daqueles que estão a serviço da violência e da morte? Sei distinguir as diferentes vozes que se fazem ouvir ao meu redor? Purifico minha voz no fogo do silêncio ou ela é expressão do ruído da superficialidade?

O Senhor nos atrai

Uma reflexão: No Evangelho de quinta-feira, dia 09/05/2019, Jesus disse à multidão: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair." 
Vivemos em uma multidão e o Senhor chama a cada um individualmente. 
Uma sugestão para reflexão e partilha: Como o Senhor me atraiu? E como me atrai até hoje? 
O que realmente me encanta e me atrai no caminho do Senhor?

Curar feridas do passado

O truque jesuíta para curar feridas do passado

Esta prática de 5 etapas de Santo Inácio pode abrir o caminho para a cura


Frequentemente, emoções surgem de uma fonte misteriosa dentro de mim, e eu me vejo ansioso ou irritado, sem saber o porquê. Eu normalmente não sei dizer por que estou tendo um dia ruim e tenho dificuldade em corrigi-lo. Isso porque, como um psicólogo uma vez me disse, não tenho a menor ideia do que estou sentindo em momento algum. O que significa que eu geralmente me comporto de maneiras que não são saudáveis, porque eu estou carregando coisas do passado que nem tenho consciência de que ainda estão me afetando. E só mais tarde eu reflito e entendo a causa.
Tão pequenas quanto minhas mágoas podem ser, eu me esforço para deixá-las para trás. Como sacerdote, eu converso com pessoas que estão buscando aconselhamento e oração, e descubro que as dores do passado e o trauma podem permanecer como uma ferida aberta. Pode ser uma lembrança da infância ou um evento mais recente, mas, de qualquer forma, se não for tratada, a dor do passado continuará a causar um efeito negativo e permanente. A falta de cura interior pode destruir casamentos e amizades. Faz com que nos comportemos de forma autodestrutiva e podemos tornar a paz interior impossível.

Então, como curar e seguir em frente?

Vejamos o que diz Santo Inácio de Loyola, padre do século XVI e fundador dos jesuítas. Sua vida foi marcada por vários eventos indutores de trauma. Sua mãe morreu quando ele era jovem, ele esteve envolvido em várias brigas violentas, assassinou um homem em um duelo, e ainda teve sua perna estilhaçada por uma bala de canhão em batalha. Como resultado da lesão, ele passou por várias cirurgias dolorosas sem anestesia. Foi durante a recuperação que ele começou a contemplar sua vida e começou a fazer mudanças. Por fim, ele publicou seus Exercícios Espirituais, que detalham seu método prático para alcançar a liberdade espiritual. Parte de seu processo, chamado Examen, ajuda a examinar as mágoas, os erros e as motivações do passado.

Aqui está sua meditação diária de cinco etapas que ajuda a trazer à luz o que está doendo e abre o caminho para a cura.

1) Buscar esclarecimento
Santo Inácio indica aqui que devemos ampliar nossa perspectiva. É muito fácil ficar focado em mágoas passadas e permitir que elas se tornem nossa identidade. É extremamente útil nos vermos com novos olhos. Inácio tem particularmente em mente buscar uma perspectiva divina, mas também é bom encontrar apoio de amigos e familiares.

2) Agradecimento
Quando estou ansioso ou me sentindo magoado, minha mente fixa constantemente em minhas preocupações, o que só faz a mágoa crescer. Os psicólogos concordam com Santo Inácio que é importante insistir na experiência positiva para quebrar um ciclo mental negativo. Isso não apagará a dor, mas proporcionará um espaço de ar fresco emocional muito necessário.

3) Conheça suas emoções
Dê uma olhada honesta no seu dia, incluindo as mágoas que podem ter se acumulado e quais feridas passadas ainda persistem. Costumo tirar um tempo sozinho no final do dia para refletir e considerar honestamente onde estou, perguntando a mim mesmo quais emoções estou sentindo e identificando sua origem. Emoções fortes significam que eu tenho algo para resolver na minha alma. Os psicólogos concordam que é vital fazer essa revisão, identificar emoções e trabalhar para compreendê-las.

4) Seja responsável
É difícil, mas não importa quem tenha me machucado, não posso usar isso como desculpa para minhas falhas. Um dos passos para a cura é quebrar o ciclo de ação. Mesmo que eu seja afetado negativamente por mágoas passadas, não posso permitir que a negatividade sature o resto da minha vida e controle o meu comportamento. Quando assumimos a responsabilidade por nossas ações, isso nos liberta para fazer escolhas positivas no futuro.

5) Esteja pronto para o amanhã
Nós não temos que ser escravos do nosso passado para sempre, e o futuro é iluminado para cada pessoa, independentemente das experiências que nos levaram aonde estamos hoje. Santo Inácio aconselha que todos os dias que façamos uma resolução, que seja a melhor versão possível de nós mesmos.

Ao longo de sua vida, Santo Inácio achou que suas meditações eram uma forma eficaz de deixar o passado para trás e progredir em direção ao tipo de pessoa que ele queria se tornar. Sua influência continua a ser amplamente sentida hoje, quando pessoas de todas as esferas da vida usam seus métodos práticos para progredir no autoconhecimento, compreender suas emoções e encontrar a cura.


domingo, 5 de maio de 2019

RESSURREIÇÃO: experiencia que nos tira de um fatal ‘ponto morto’

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho do 3º Domingo da Páscoa.


“...e naquela noite não apanharam nada” (Jo 21,3)

Estamos desfrutando do tempo Pascal no qual tudo na vida dos cristãos (a liturgia, os símbolos, as leituras da Palavra de Deus, as flores, o branco litúrgico, e inclusive, em algumas partes do mundo, o tempo meteorológico) nos fala da vitória da vida. É, sem dúvida, um tempo precioso no qual ressoa o Aleluia da noite de Páscoa e se prolonga na liturgia, na vida e nos corações.
O Evangelho deste domingo nos conduz até à “praia pascal” da Galileia. Depois dos terríveis capítulos anteriores (gritos, sangue, cruz, violência, tortura, morte...), os apóstolos se encontram de novo na Galileia, numa paisagem quase idílica, dedicados outra vez à pesca, como se nada tivesse acontecido. O texto está cheio de simbolismos, de significados insinuados e de sugestões, mas basta recordar que tudo acontece no alvorecer, nessa hora tão charmosa na qual vemos ainda com dificuldade.

O encontro com o Ressuscitado nas praias da Galileia nos motiva a buscar um novo sentido e uma nova inspiração para o cotidiano de nossas vidas. De fato, nem todos os dias são iluminados pelos êxitos; tampouco as noites. Há dias que anoitecem e há noites que amanhecem em meio a muitos fracassos. Nem todas as manhãs nossos pescadores chegam ao porto com suas barcas carregadas de peixes.
A vida tem seus êxitos e seus triunfos. Mas também suas derrotas e fracassos. É preciso saber acolher os triunfos sem que a fumaça do ego cubra nosso coração. E é preciso saber assumir a desilusão do fracasso, sem por isso sentir-nos derrotados. Os triunfos podem alimentar ilusões; os fracassos põem à prova nossa resistência e nossa constância.
Os discípulos, naquela noite não tinham pescado nada, além do cansaço e do frio do lago. Mas não tinham perdido a esperança. A pesca tinha sido um fracasso e, a partir da margem, um estranho personagem lhes sugere que lançassem as redes do outro lado do barco, como se eles não soubessem onde deveriam lançá-las; surpreendentemente eles têm grande êxito na pescaria. Nesse momento, o discípulo amado diz a Pedro: “É o Senhor!”
Adiantou-se a todos sem mover-se do lugar; olhou para frente sem soltar a ferramenta de trabalho; não gritou sua descoberta; simplesmente sussurrou, mas entre admiração e comoção: “É o Senhor!”
Voltou a sentir a água caindo sobre seus pés e o pulsar de um coração na noite do Serviço e do Amor; suas mãos não deixaram a rede de lado, mas seu olhar foi mais além: “É o Senhor!”
E, como sempre, Jesus se encanta com os encontros em torno ao fogo e à refeição. Ele se manifesta nas coisas simples da vida. Não foi preciso palavras. Um coro de silêncios interiores proclamava: “É o Senhor!”, enquanto se espalhava no ar um agradável odor a peixe recém assado.

Podemos considerar que a exclamação do discípulo amado – “É o Senhor”! – mostra o que significa ser contemplativo. O verdadeiro contemplativo pascal olha ao seu redor, à realidade mesma, à vida em sua contradição, com suas obscuridades e suas claridades, com suas grandezas e suas misérias, com seus êxitos e seus fracassos..., e descobre nela os sinais pequenos, frágeis, vulneráveis e, às vezes, aparentemente contraditórios da presença do Ressuscitado em nossas vidas.
Talvez seja este um dos desafios mais importantes da vida cristã neste nosso mundo tão cheio de mensagens, de bombardeio de notícias, de imediatismo e rapidez, de encontros e desencontros.

Nós, seguidores(as) do Ressuscitado neste século XXI, do mundo digital, da pós-modernidade ou da arqui-pós-modernidade, da “cultura líquida” e dos “não-lugares”, deste mundo complexo e fascinante no qual nos toca viver e ao qual devemos amar, podemos ser esses humildes contemplativos que, em meio aos afazeres cotidianos, sussurram com emoção “É o Senhor!” e apontam para o Ressuscitado, presente nas penumbras da vida.

Essa é talvez a missão central da nossa vida cristã hoje: captar com emoção a luz que abre passagem entre as folhas da densa floresta, contemplá-la com gratuidade, indicá-la com humildade e anunciá-la com amor. E, mais ainda, devemos nos sentir chamados a deixar transparecer a luz da ressurreição na própria realidade interior, para poder ser presença iluminante no contexto tão obscuro no qual vivemos.

É a vida inteira que deve ser iluminada pelo acontecimento pascal. Viver, para o cristão, é acolher sua vida, com suas luzes e sombras, à luz do Ressuscitado que, embora não o veja de maneira transparente, continua se fazendo presente nas praias da nossa existência.
Não há obscuridade que não possa ser iluminada; não há situações, por mais difíceis que sejam, que não possam ser revertidas pela presença d’Aquele que está no meio de nós.

Gastamos energia em dissimular nossas falhas e fracassos quando, afinal, é pela sua aceitação que a porta poderá abrir-se para esse Outro que, por sua vez, nos ama incondicionalmente. No segredo do coração podemos pressentir que estes fracassos, estas dificuldades são, talvez, a nossa maior sorte. Porque através deles nos libertamos de nossas ilusões sobre nós mesmos. Eles tendem a nos deprimir, mas também podem ser uma ocasião para nos fazer mais humanos e humildes. Acolher o fracasso é retirar nossas couraças, revelar-nos abertos, tolerantes e compassivos.
Segundo um místico “felizmente Deus criou falhas em nós; caso contrário, não vejo por onde Ele poderia entrar em nossa vida!”.
Nossa vivência da fé pascal também nos revela que Deus tem mais facilidade de entrar na nossa vida pela porta dos fracassos, das feridas, das crises... Aqui é onde nos sentimos mais desarmados, mais abertos e mais sensíveis à acolhida do Deus surpreendente que sempre vem ao nosso encontro. Por outro lado, Deus encontra muito mais resistência de se fazer presente em nossa vida quando nos centramos na busca da perfeição, das virtudes... Aqui estamos “formatados”, fechados em nossa autossuficiência.
Através dos fracassos nos aproximamos de nosso ser essencial e da fonte de recursos que transforma estes fracassos em caminhos de realização.

O Pe. Adolfo Nicolás (ex-superior geral dos Jesuítas) afirmou certa vez: “é preciso celebrar nossos fracassos”. Causa estranheza ao ouvir tal afirmação, pois vivemos em um mundo onde somente os êxitos e vitórias são celebrados. Mas, o certo é que, quando compartilhamos e acolhemos nossos fracassos, derrotas e quedas, surge uma corrente de comunhão especial, nos sentimos mais autênticos e vivemos tais situações duras como parte de uma vida que, ao mesmo tempo, é difícil e preciosa, que desafia e recompensa, que golpeia e abraça. Assim, podemos crescer na consciência de que esses momentos também são constitutivos de nossa identidade; eles se revelam como ocasião privilegiada para ativar outros recursos e possibilidades que certamente não brotariam em tempos tranquilos.


Texto bíblico: Jo 21,1-19

Na oração:
Percorrendo o capítulo 21 do Evangelho de João captamos a profundidade da contemplação inserida na vida ativa.
- Não coloquemos fronteiras ao Espírito que irá moldando nossa visão e nossa escuta e, como João, nos fará proclamar: “É o Senhor!”, sem soltar a ferramenta, nem o computador, nem o carro, nem o bisturi, nem o livro, nem o pincel, nem o microfone, nem a vassoura...