“Eu
vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja
plena” (Jo 15,11)
O Evangelho deste domingo é desenvolvimento do
tema do domingo anterior, ou seja, a videira e os ramos. Jesus explica em que
consiste essa “conexão” dos seus seguidores à Videira verdadeira.
Apresentando como inspiração sua união com o Pai,
Jesus vai des-velando a essência de sua mensagem. Sem usar metáforas nem
comparações, Ele nos coloca diante da realidade mais profunda da mensagem
evangélica: o Amor que, vivido na alegria, é a essência divina que mais
nos humaniza.
Trata-se de entrar em sintonia, de “ajustar-se” ao
modo de amar de Deus: amor descendente, amor sem fronteiras, oblativo,
expansivo... e que se “revela mais em obras do que em
palavras” (S.
Inácio).
O(a) seguidor(a) de Jesus encontra-se, assim,
envolvido(a) pelo Amor transbordante
de Deus e, ao mesmo tempo, entra no fluxo desse Amor criativo, “descendo” à
realidade cotidiana e ali deixando transparecer esse mesmo Amor através dos
encontros com os outros.
Portanto, o ser humano, na mística cristã, é o “ponto”
no qual convergem o Amor “que desce
do alto”
e o Amor que flui para o outro, o Amor
que vem do outro e o Amor que retorna à sua Fonte.
João põe na boca de Jesus a senha de identidade
que distingue os(as) seus(suas) seguidores(as). É o mandamento novo, em
oposição ao antigo, ou seja, a Lei. Fica estabelecida a diferença entre as duas
alianças. Jesus não manda amar a Deus nem amar a Ele, mas amar como Ele ama.
Na realidade, o mandamento
do Amor não é lei que se impõe de fora; mas emana do coração alegre de Deus e
de todos nós. É dinamismo expansivo que brota de dentro e nos impulsiona em
direção ao outro, sem buscar recompensa.
Não se pode impor o amor por decreto. Todos os
esforços que façamos por cumprir um “mandamento” de amor, está fadado ao
fracasso. A busca deve estar encaminhada a descobrir o Deus que é amor, dentro
de nós. No fundo, o evangelho deste domingo está nos dizendo que, para o(a)
seguidor(a) de Jesus, a primazia é a experiência de Deus. Só depois de um
conhecimento intuitivo do que Deus é em nós, poderemos descobrir os motivos do
verdadeiro amor.
Nosso amor será “um amor que
responde ao amor de Deus”; e Jesus
deixou transparecer esse amor de Deus até o extremo da doação de si. Portanto, amor
de Deus é a realidade primeira e fundante: descobri-la e vivê-la, é a verdadeira
identidade daquele(a) que segue Jesus.
Qualquer relação com Deus sem um amor manifestado em
obras, será pura idolatria. A nova comunidade não se caracterizará por
doutrinas, nem ritos, nem normas morais. O único distintivo deve ser o amor manifestado. Jesus não funda um
clube cujos membros devem ajustar-se a uns estatutos, mas uma comunidade que
experimenta Deus como amor e cada membro n’Ele se inspira, amando como Ele.
Nenhuma outra realidade pode substituir o essencial.
Se isto falta, não pode haver comunidade cristã.
Jesus não apresenta este mandato do amor como uma lei que deve reger nossa
vida, fazendo-a mais dura e pesada, mas como uma fonte de alegria. Quando entre
nós falta o verdadeiro amor, cria-se um vazio que nada nem ninguém pode
preencher de alegria.
A alegria
é o sentimento central na experiência cristã da Páscoa. Nossa alegria é Cristo ressuscitado. Ele é a
causa de nossa alegria.
A alegria na vida cristã aninha-se e cresce na
vivência do mistério pascal. A ressurreição de Jesus causou uma imensa alegria
na comunidade dos(as) discípulos(as). A alegria é contagiosa. Tem uma dimensão
social e comunitária. Nós não estamos alegres só porque Jesus está vivo, mas
porque nos fez partícipes de sua ressurreição, de sua nova vida. Assim nossa
alegria é a alegria de Jesus.
A vida cristã, por vocação e missão, deve ser alegre.
Toda ela é profecia de alegria e esperança. A participação afetiva na alegria
de Cristo é a forma de expressar o desejo da íntima comunhão no amor que
reforça o seguimento. “A alegria do
Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se
encontram com Jesus. Com Jesus Cristo
sempre nasce e renasce a alegria” (Papa Francisco).
Essa alegria,
da qual nos fala Jesus, não é um simples sentimento passageiro; trata-se de um
estado permanente de plenitude e bem-estar por ter encontrado nosso verdadeiro
ser, luminoso e indestrutível. No encontro com o Ressuscitado surgirá
espontaneamente a alegria, que é nosso estado natural.
A alegria,
portanto, não é um estado de ânimo, mas um estado da pessoa. Por isso, a
alegria não é algo que acontece na pessoa: é a pessoa mesma acontecendo. A
alegria é “gerúndia”: é a pessoa alegrando-se.
Só quando descobrimos quem realmente somos, estamos,
então, em condições de viver para os demais sem limites. O verdadeiro amor é expansivo, é dom
total; e a prova de fogo do amor é o amor ao inimigo. Se há um limite em nossa
entrega, ainda não alcançamos o amor evangélico.
Os santos e santas, por viverem profundamente
fundamentados no amor de Deus, foram testemunhas da alegria. Eles(elas) deixaram transparecer que o amor
que Deus nos tem suscita a alegria e esta motiva, dá energia, gera confiança. Este amor é o que nos faz sair de nós mesmos,
reencontrar-nos e entregar-nos aos demais. E aqui está o “peso” do amor, o
vigor da alegria.
O amor
é o princípio que ordena a vida e a alegria
irradia harmonia e bem-estar àqueles que nos rodeiam. Existe, portanto, uma relação de reciprocidade entre a
alegria e o amor. São como vasos comunicantes: a alegria brota do amor, o amor
se expressa na alegria. É na atmosfera da alegria que o mandamento do amor
revela seu pleno sentido.
Nisto consiste a verdadeira alegria: sentir que um
grande mistério, o mistério do amor
de Deus, nos visita e plenifica nossa existência pessoal e comunitária.
A alegria
que brota do amor é a experiência da vida já ressuscitada; e este amor oblativo
já não busca seu próprio interesse, mas somente o serviço e a glória do Ressuscitado.
O Pai, em seu amor, pronunciou a palavra definitiva de fidelidade que consola e
enche de esperança. Seu amor nos inunda e ativa a alegria pascal: é preciso
devolvê-lo em gratidão e em generosidade para com o próximo.
A alegria
sempre indica que a vida está se expandindo, que ganhou terreno, que conseguiu
ir além de si mesma. Um sinal de identidade da alegria é o olhar profundo,
amplo e expansivo da vida. Mesmo em meio à dor e ao sofrimento, não faltam o bom
humor e a ternura. Quem é cristãmente alegre se desgasta menos, integra melhor
os acontecimentos, é feliz e faz felizes os outros.
Quem vive na alegria se sente sereno, livre, pensa
positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as adversidades, integra suas
contradições, ama sem pôr condições, louva, canta e bendiz sem cessar.
De fato, a alegria experimentada não nos põe na
retaguarda nem nos acomoda; pelo contrário, nos pede que sejamos mais radicais
nos questionamentos e nos compromissos. Está em jogo a glória de Deus e a
dignidade de seus filhos e filhas.
Texto bíblico: Jo 15,9-17
Petição: Sentir em si mesmo a alegria de Cristo; alegria que é dom do Espírito do Ressuscitado. Em Cristo, as alegrias humanas são divinizadas.
Considerar na oração os diversos motivos
que lhe enchem de alegria.
“A
maior prova da existência de Deus é a alegria dos pobres. Eles não tem outro
motivo para se alegrar a não ser em Deus”. (D. Luciano Mendes de Almeida).
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