domingo, 31 de julho de 2016

A Tirania do Ego

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum - Ano C.

“Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!” (Lucas 12,19)

O monólogo do “homem rico”, no Evangelho de hoje, revela que, tudo na sua vida, gira em torno do próprio eu: "meus celeiros", "meu trigo", "meus bens". Em sua vida, não existe espaço para Deus e para o próximo. Tudo é pensado em função de sua satisfação pessoal: solidariedade, partilha, misericórdia são palavras banidas de seu vocabulário.
Este homem reduz sua existência a desfrutar da abundância de seus bens. No centro de sua vida está só ele e seu bem-estar. Deus está ausente. Os empregados que trabalham em suas terras não existem. As famílias das aldeias que lutam contra a fome não contam.
Ele é expressão mais visível do dinamismo negativo que nos desumaniza: a avareza e a cobiça.

De onde vem a avareza e a cobiça? Onde se encontra a raiz do instinto de posse?
A parábola do “homem rico”, dominado pelo “ego possessivo”, é contada por Jesus a partir de uma demanda de alguém que d’Ele se aproxima e lhe suplica que resolva uma questão da partilha de bens com seu irmão, que lhe faça justiça. Jesus sabe colocar-se em seu lugar: Ele não veio ao mundo como juiz jurídico, legal. Como bom pedagogo, Ele parte de uma questão colocada por alguém e vai mais além da exterioridade da situação; ou seja, Ele vai à raiz dos problemas, que está no coração do ser humano.
Para Jesus é mais importante desmascarar a cobiça e a avareza que nos dominam que fazer valer os direitos na partilha da herança.
Podemos dizer que por detrás desse impulso de acumulação se esconde uma experiência de empobrecimento humano. Na origem da avareza, parece existir um vazio afetivo, uma infantil experiência de insegurança e, em último termo, uma desconexão de nossa verdadeira identidade.
O vazio afetivo “exige” ser preenchido compulsivamente: esta é a fonte da ansiedade, que se traduz em variadas dependências, uma das quais, pode ser a afeição desordenada pelo dinheiro ou pelos bens materiais. Neste sentido, a cobiça ou avareza é esforço – inútil e estéril – de preenchê-lo.
Mais em profundidade, a avareza, enquanto necessidade ilimitada de acumular, se explica – como todos os comportamentos egóicos – a partir da desconexão de nossa verdadeira identidade. O que somos – em nossa identidade profunda – é Plenitude. Mas, quando nos distanciamos de nosso “eu profundo” ou o ignoramos, começamos a viver como seres separados e carentes, em luta permanente e esgotadora por dissimular aquela carência que cremos ser. Mendigamos migalhas – “ajuntamos tesouros para nós mesmos” – sem reconhecer que já somos “ricos diante de Deus”.

Esta carência existencial é reforçada pelo ambiente no qual vivemos, marcado pelo consumismo; a publicidade continuamente nos impõe a ideia de que só tem valor quem tem e acumula bens e riquezas.
Nesse ambiente, cada um de nós vai alimentando uma espécie de ego, vivendo centrados em nós mesmos e separados do resto do mundo. Tal ego é possessivo. Muitas vezes manifesta-se como um desejo insaciável de dinheiro e de bens. Daí a obsessão pela riqueza. Toda a nossa economia está baseada na poderosa força impulsionadora do interesse individual. O ego exacerbado quer controlar o seu mundo: pessoas, acontecimentos e natureza. A partir da riqueza, ganha força a busca do poder e do domínio sobre os outros.
O ego compara-se com os outros e compete pelos elogios e pelos privilégios, pelo amor, pelo poder e pelo dinheiro. É isso que nos torna invejosos, ciumentos e ressentidos em relação aos outros. Também é isso que nos torna hipócritas, dominados pela duplicidade e pela desonestidade.
Esse ego não confia em ninguém a não ser em si mesmo. É essa falta de confiança que nos torna tão inseguros. Ficamos inevitavelmente cheios de medos, preocupações e ansiedades. O nosso ego, ou individualismo egoísta, torna-nos solitários e temerosos.
O ego não ama ninguém além de si, atendendo apenas às suas próprias necessidades e à sua própria gratificação. Sofrendo de uma falta total de compaixão ou empatia, ele pode ser extraordinariamente cruel para com os outros.

Como evitar que o nosso ego nos domine e determine nossa vida?
O primeiro passo será desvelar e desmascarar nosso ego com todas as suas maquinações e duplicidade.
Só uma pessoa esvaziada de seu ego pode transformar-se e transformar a realidade.
O nosso verdadeiro eu está enterrado por baixo do nosso ego ou falso eu. Segundo o Evangelho a pessoa cresce e se enriquece na entrega e na desapropriação. Porque só assim deixa refletir algo da maneira de ser de Deus. Nisso consiste também em ser “rico para Deus”.
As palavras de Jesus, nesse sentido, são magistrais: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância...; a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (v. 15).
O Evangelho não nos convida ao conformismo. O primeiro é a justiça, querida por Deus, pregada e vivida por Jesus: que todos tenham pão, moradia, saúde... fruto da comunhão, da solidariedade, novo nome da justiça; isso é o Reino, a Nova Humanidade. Mas pode ocorrer que quando tenhamos o justo, o que nos corresponde como filhos e irmãos, ambicionemos mais. Esta cobiça, pecado de raiz, nunca nos permitirá descansar.

Na vida, todos precisamos de algumas seguranças. E aspiramos condições dignas de vida. Mas, há uma linha que separa a necessidade verdadeira da ansiedade imposta, a segurança do necessário e a insegurança do excesso e do abuso. Há uma tentação muito humana que a todos nós habita: a de ter mais, acumular sempre, apossar-se de tudo... Parece que não nos satisfazemos nunca com aquilo que conseguimos. Tudo se revela insuficiente, e o impulso por acumular – riquezas, bens, relações ou experiências – se converte em voracidade.
É preciso estar sempre alerta para não se deixar determinar pelo dinamismo da cobiça. Até onde chegar na acumulação de bens?
A resposta cristã é “viver como Jesus”: viver confiados nas mãos providentes do Deus Pai/Mãe, buscando o Reino-Utopia como o mais importante. “O resto virá por acréscimo”. A verdadeira riqueza é investir numa única fortuna: a do amor, do favorecimento da vida, a do des-centramento de si mesmo em favor do serviço ao outro, o das obras em favor dos mais pobres e desfavorecidos...
Porque “ser rico diante de Deus” não significa ter “acumulado” méritos, mas deixar cair nossa falsa identidade, tomar distância do ego e, pacificado e aquietado nosso interior, fazer-nos conscientes da Plenitude que somos.
“Ser rico diante de Deus” significa, antes de mais nada, descobrir a nobreza de nossa identidade profunda, identidade unitária e partilhada, a salvo de ladrões, enfermidades e mortes. Trata-se da identidade pela qual nos experimentamos no “céu”, a Presença divina que somos e na qual vivemos.
Texto bíblico Lucas 12,13-21

Na oração: 
Sabemos da perene e escorregadia tentação – uma mentira perigosa que aparece como “verdade” de solucionar as inseguranças e medos de nosso eu através dos impulsos à cobiça que se aninham em nosso coração. Há coisas que são mentira, mas que aparecem como verdade; aí se enraíza seu atrativo.
- Dar “nomes” aos apegos que travam o fluir de sua vida.
- Quais são suas “verdadeiras riquezas” pelas quais investe o melhor que há em você.

domingo, 24 de julho de 2016

PAI-NOSSO: a grande “petição” que nos des-centra

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a Liturgia do 17º Domingo do Tempo Comum - Ano C.

“Pedi e recebereis; buscai e encontrareis; batei e vos será aberto” (Lucas 11,9)

O Pai Nosso é a única oração que Jesus nos ensinou e resume de maneira simples sua mensagem, sua intenção e sua missão. Nela, Jesus expressa intimidade com o Pai e seu compromisso com os outros, especialmente os mais pobres e sofredores. Se rezado com atenção e profundidade o Pai Nosso é também, para nós, um itinerário de expansão de nós mesmos, uma proposta de des-centramento.
Tanto em sua forma reduzida (Lucas) como em sua forma mais extensa (Mateus), a oração do Pai- Nosso não faz referencia a nenhum dogma especificamente cristão: nem Trindade, nem Jesus como Filho de Deus, nem Espírito Santo, nem Igreja, nem Eucaristia, nem sacramento... Também não contém nenhuma referência que seja exclusivamente judaica (nome de Javé, patriarcas, Moisés, Lei, Templo, cidade sagrada de Jerusalém, expiação ritual, tradições nacionais, alimentos puros, purificações, festas...).
Jesus orou como um judeu e assim nos ensinou a orar. Mas, ao mesmo tempo, o Pai-Nosso é uma oração universal, pois pode ser assumida por todos aqueles que creem em Deus e se atrevem a invocá-lo com a expressão “Pai”, pedindo-lhe que seu Nome seja santificado, que venha seu Reino, que o pão seja partilhado, que o perdão seja um estilo de vida.

O Pai-nosso é uma oração universal porque ela é dirigida a todo ser humano, de qualquer raça, cultura, religião, mas em especial àqueles que tem coragem para se esvaziar de si mesmos e se tornar eternos aprendizes, àqueles que procuram a serenidade e a mansidão, àqueles que tem sede e fome de justiça, àqueles que querem construir uma nova sociedade.
Apesar de Deus ter muitos nomes nas diversas religiões, a deslumbrante oração ensinada por Jesus só aponta um nome: Pai. “Pai” é um nome que qualquer ser humano compreende, um nome que não fere nenhuma cultura e não fomenta qualquer sectarismo.
Por isso, tudo o que a oração do Pai-Nosso pede é universal (pai, pão, perdão), sendo, ao mesmo tempo, muito judaico, muito cristão, ou seja, muito humano.
Isso é ser cristão: na intimidade com Deus, poder dizer “Pai” (ou “Mãe”). Saber que estamos envolvidos pelas mãos providentes e cuidadosas do Pai, que somos presença de Deus no mundo (que Ele vive e se expressa em nós), essa é a essência da oração cristã. Nada mais, só isso: “Abba”, Pai/Mãe, proclamado e vivido... para assim crescermos e sermos humanos a partir de Deus.

Como todo judeu, Jesus orava com frequência em forma de súplica e petição. E o Pai-Nosso é uma grande petição. Nela manifestamos nossa atitude filial: reconhecer a Deus o direito de ser Pai.
O ser humano recorre a Deus como pobre, limitado, extraviado... A oração de petição é uma atitude do pobre que tudo agradece e tem consciência de esperar tudo de Deus.
A petição como atitude, nos desarma de nossa auto-referência e nos faz sair de nós mesmos numa dupla direção: ao Pai e aos outros. Ela tem um sentido muito nobre porque com isso confessamos a nossa indigência diante de Deus, manifestamos a nossa confiança e reconhecemos a Sua grandeza, o Seu Santo Nome e o Seu amor para conosco.
Ao mesmo tempo, nossa vida se abre para as necessidades de todos, tornando-nos porta-vozes dos mais carentes. Nesse sentido, a petição arranca de nosso ego-centrismo, expandindo-nos e fazendo-nos participar do mesmo fluxo do amor e do cuidado do Deus Pai/Mãe que tudo sustenta e ampara.

A oração do Pai-Nosso, portanto, resgata-nos da acomodação e nos dá um choque de lucidez. Ela oxigena a nossa mente e implode nosso conformismo; é instigadora e provocativa, uma fonte inspiradora que nos liberta da rotina “normótica” (vida sem criatividade e sem inspiração).
Pedir não é dobrar a Vontade de Deus a nosso favor; é, antes, colocar-nos em sintonia com Ele, e assim entendermos o que é melhor para o verdadeiro bem de todos.
Na petição, expressamos a Deus, com simplicidade e confiança, todas as nossas carências, nosso ser radicalmente necessitado. Expressamos diante de Deus nosso limite e nossa impotência. Manifestamos a Ele nossa confiança plena, baseada justamente no contraste entre nossa mesquinhez e o surpreendente “muito mais” da bondade e do amor de Deus, pois Ele está, a todo momento, comunicando-nos tudo, agindo sempre em nosso favor e para nosso bem. Tudo procede das suas mãos providentes e cuidadosas.

Na expressão “pedi e recebereis”, Jesus procura despertar, naquele que ora, a confiança no Pai.
Isso é o que nos ensina, também, a parábola do amigo inoportuno no evangelho de hoje; o que esta parábola recomenda não é tanto a perseverança na petição, mas a perseverança na confiança; não nos diz que Deus se colocará ao nosso lado pela insistência com que o pedimos, mas que Deus sempre está de nosso lado, querendo dar-nos tudo o que de verdade necessitamos.
Ao entrarmos no fluxo do Amor providente do Pai, a oração de petição dilata o nosso coração para receber aquilo que pedimos. É uma mudança no coração de quem reza. O sentido da petição não está, pois, no pedir, mas nas atitudes fundamentais da pessoa que pede. O que tem sentido não é a petição em si, mas a humilde gratidão, a acolhida agradecida, a confiança incondicional.
As diferentes petições dirigem a nossa atenção no sentido de orientar a nossa vida e as nossas necessidades a partir de Deus. O pólo de atenção passa da nossa necessidade para a bondade de Deus.
Sempre é uma oração em Deus, uma oração daquele que vive para Deus e confiando em Deus.
Aquele que vive assim, sabe com segurança que todas as suas petições feitas “em Deus” são escutadas prontamente. Este é o mistério da oração suplicante.

Um outro aspecto deve ser ressaltado na oração de petição: não é só Deus que ouve o que lhe é pedido, mas aquele que ora, continua a orar, até se tornar ele mesmo, ouvinte do que Deus deseja para todos os seus filhos e filhas. A petição o arranca do individualismo e o situa no horizonte do outro.
Todos somos seres carentes e necessitados. Orar é saber ouvir o que Deus quer de nós: não para fazer Deus entrar nos nossos planos, mas para que nós entremos em sintonia com a Vontade d’Ele.
A oração de petição nos revela se realmente cremos. Nela confessamos que dependemos de Deus e que sozinhos não nos bastamos. A oração bem feita é a pedra de toque de nossa e de nossa humildade. Aqui o que se destaca é a certeza de que Deus nos escuta.
Nesse sentido, a petição nos mobiliza a buscar aquilo que pedimos.
Quando rezamos encontramos a força para fazer o que nós íamos pedir a Deus. Esse é o autêntico sentido da oração de petição.

Texto bíblicoLucas 11,5-13

Na oração: 
- Aqui, não se diz o quê é que se pede. O importante é a atitude de pedir, buscar, chamar...
- É a experiência da paternidade divina que fundamenta nossa certeza e justifica nossa insistência.
- Quem é o centro em sua oração de petição? Você, os outros, a glória e o louvor de Deus?...

sábado, 16 de julho de 2016

HOSPITALIDADE: espaço de coração dilatado, gratuidade e contemplação

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a Liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum - Ano C.

“Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Maria, recebeu-o em sua casa” (Lucas 10,38)

Se existe uma atitude de vida que pede o resgate de sua profundidade e seu poder evocativo original é a da “hospitalidade”. É um dos termos bíblicos mais ricos, que nos ajuda a aprofundar e aumentar a compreensão sobre a relação com nossos semelhantes.
A hospitalidade é uma “experiência existencial”, situa-se no nível do ser. É uma acolhida gratuita. Aquele que é acolhido tem direitos, mas também tem deveres e aquele que acolhe está disposto a mudar sua rotina, e ambos estão disponíveis a renovar, a redefinir sua identidade: “Antes de representar um problema para a minha identidade, ele (o hóspede) é estímulo para uma convivência sempre a reescrever, atualizar, enriquecer...” (Dal Corso, Marco).
A diaconia (serviço) da hospitalidade é um movimento que vem de dentro da pessoa e se estende no vaivém das relações humanas mais distantes e mais próximas. É abertura e disponibilidade àquele que interpela as nossas convicções, nosso modo rotineiro e estreito de viver.
Em contexto de hospitalidade, anfitrião e hóspede podem revelar suas riquezas mais preciosas e trazer vida nova um ao outro. Só quem tem coração dilatado vive a hospitalidade como surpresa provocativa.
A hospitalidade é antes de mais nada uma disposição da alma, aberta e irrestrita. Acolher o outro significa multiplicar a alegria do encontro, da novidade e da partilha, não só do pão mas da vida.

Como comunidade seguidora de Jesus somos chamados a oferecer espaço aberto, hospitaleiro, onde os estranhos possam libertar-se de sua estranheza e transformar-se em nossos companheiros.
Talvez o conceito de “hospitalidade” possa oferecer uma nova dimensão à nossa compreensão de um relacionamento saudável e à formação de uma comunidade festiva e alegre em um mundo que sofre visivelmente de alienação, estranhamento e preconceito.
A hospitalidade envolve a escuta respeitosa daquilo que o outro tem a dizer, em uma abertura humilde do coração e da mente para compreender as diferenças e novidades que o outro nos traz. Aqui revela-se a diferença entre a hospitalidade de Marta e a de Maria, no evangelho deste domingo. A ansiedade e a preocupação de Marta impedem-na viver a hospitalidade com alegria. Seu ativismo compulsivo atrofia sua gratuidade e, quando se elimina a gratuidade, a vida pode perder seu sabor e seu sentido.

Como integrar Marta e Maria?
Marta é a eficácia do amor serviçal e hospitaleiro a um amigo muito querido que foi acolhido com todo carinho na casa familiar. Maria é a gratuidade que escuta absorta a novidade que Jesus traz. As duas dimensões da vida são necessárias.
Marta deve escutar o que diz Jesus e compreenderá que sua vida não fica limitada à tarefa de atender bem a familiares e amigos entre as quatro paredes da vida doméstica, senão que deve abrir-se para cuidar e servir o Reino de Deus que chega por todas as partes.
Maria não só deve estar atenta às palavras de Jesus, mas ao que dizem milhões de pessoas no mundo, suas solidões e suas alegrias, para que a novidade de Deus que se gesta em suas vidas encontre um rosto de lar onde possa ser acolhida e nascer na história.
Todos temos de ser Marta e Maria, o serviço eficaz e a gratuita contemplação de Jesus, irmanados em um modo original de viver a hospitalidade, onde o serviço pequeno e gratuito, a proximidade de portas abertas, o viver a cotidianidade como dom se constituem como a identidade cristã.

Essa é a nossa vocação: converter o “hostis” em “hospes”, o diferente em convidado, o estranho em amigo, e criar o espaço livre e sem medo, no qual a fraternidade pode ser experimentada em plenitude.
Na realidade, aqui se trata de um movimento expansivo onde se dá a travessia da hostilidade à hospitalidade. Tal passagem é repleta de dificuldades: nossa sociedade é marcada pela presença de pessoas temerosas, defensivas e agressivas, agarrando-se ansiosamente ao seu modo fechado de viver, inclinadas a olhar ao redor com suspeitas, sempre à espera de que um inimigo de repente apareça e cause algum dano.
A hostilidade campeia nas redes sociais e a xenofobia circula como um veneno: daí a agressividade preconceituosa no campo político-social-racial-sexual...
De fato, ultimamente, os “estranhos” e “diferentes” tornaram-se mais sujeitos à hostilidade do que à hospitalidade: protegemos nossas casas com cães e trancas duplas, nossos edifícios com vigilantes, nossos colégios com guardas, nossas estradas com policiais, nossos aeroportos com seguranças, nossas cidades com polícia armada...
Nosso coração pode querer ajudar os outros e mostrar simpatia para com os pobres, solitários, rejeitados, minoritários...: no entanto, rodeamo-nos com um muro de medo e de sentimentos hostis, evitando instintivamente pessoas e lugares que possam nos lembrar de nossas boas intenções.
Em um mundo tão competitivo, mesmo pessoas próximas, como colegas de classe, de equipe, de trabalho, todos podem ficar infectados pelo medo e pela hostilidade quando sentem o outro como uma ameaça à sua segurança pessoal.
Muitas vezes, instituições criadas para oferecer espaço e tempo propícios para o desenvolvimento da hospitalidade (família, escolha, religião...), tornam-se tão dominadas pelo “defensismo” hostil que acabam atrofiando e bloqueando o melhor que cada pessoa traz em seu coração.


Hospitalidade não é mudar as pessoas, mas oferecer a elas um espaço no qual a mudança pode acontecer. Não é trazer homens e mulheres para o nosso círculo, mas oferecer uma liberdade sem as amarras de linhas divisórias. A hospitalidade não é um convite sutil para adotar o estilo de vida do anfitrião, mas a dádiva de uma chance para que o hóspede descubra o seu próprio estilo.

A hospitalidade não é uma tática para fazer de nossa fé e de nosso caminho critérios de felicidade; é abrir uma oportunidade para que os outros encontrem sua fé e seu caminho.
O paradoxo da hospitalidade é que ela deseja criar o “vazio”, não o vazio temeroso, mas um vazio amistoso no qual os estranhos podem entrar e descobrir a si mesmos livres como foram criados; livres para cantar suas canções, para falar suas línguas, para dançar suas danças; livres para expressar seus sentimentos e para seguir suas decisões. E isso não só no espaço físico da casa, mas nas redes sociais, nos diferentes grupos de interesse, nos relacionamentos...
O verdadeiro hospitaleiro é aquele que oferece o espaço onde não temos nada a temer, onde podemos ouvir nossa voz interior e descobrir nossa maneira pessoal de sermos humanos. A verdadeira hospitalidade é inclusiva e dá espaço para uma grande variedade de experiências humanas.

Texto bíblico:   Lucas 10,38-42

Na oração: Continuamente nos deparamos com um Deus que chega gratuito e imprevisível em nossa vida, suplicando hospitalidade. Quando Ele é acolhido, nossa cotidianidade se converte em milagre.
- Na relação com os outros, quê lugar ocupa a hospitalidade em sua espiritualidade cotidiana?

domingo, 10 de julho de 2016

A misericórdia desperta o “samaritano” em nosso interior

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para a Liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum - Ano C.

 “A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninguém”.
(Papa Francisco – Misericordiae Vultus)

Os relatos evangélicos destacam que a atuação de Jesus está sempre inspirada, motivada e impulsionada pela misericórdia para com todo ser humano. É a misericórdia a que explica e define Sua maneira de ser e de atuar. O sofrimento das pessoas comove suas entranhas, penetra até o fundo de seu ser e se converte em seu princípio de ação transformadora.
O importante é entender que esta misericórdia não é um sentimento a mais, mas a reação básica de Jesus, que dirige e configura toda sua atuação. Não vem motivada por interesse algum. É amor gratuito que brota de sua profunda sintonia com o mistério insondável de Deus Pai-Mãe, fonte de misericórdia.
A partir desta misericórdia entende-se todo seu compromisso em aliviar o sofrimento humano.
Esta presença misericordiosa de Jesus está presente, de maneira contundente, na parábola do “bom samaritano”, onde o próprio Jesus “pinta” seu autorretrato.
Jesus, o grande samaritano, se aproxima de todos e de cada um de nós para curar as nossas feridas e derramar sobre elas o óleo da sua consolação e o vinho da sua força; Ele se ocupa de nossas fragilidades, nos convida a ir com Ele aos lugares onde a vida está mais em perigo e a confiar na força secreta da compaixão e da esperança teimosa.
Com justiça, os padres da Igreja gostavam de destacar que o primeiro grande Samaritano fora o Filho de Deus feito homem. Ele, em primeiro lugar, se deteve misericordiosamente junto a nós pecadores, descendo de sua “cavalgadura” e fazendo-se nosso companheiro de viagem.

Na parábola, o samaritano se sentiu impactado, se deixou afetar, seu coração se estremeceu..., ao “olhar um corpo estendido no chão”. A partir desse momento, ele “desvia” do seu caminho e se desloca em direção àquele de quem todos se desviavam e “passavam do outro lado”. Gasta do que é seu, dedica tempo, mobiliza toda sua atenção frente ao ferido. Mistura sua vida com a de um necessitado e rompe solidões. Muda seu esquema de vida e se deixa levar pela misericórdia criativa.
Dito de outra maneira: o samaritano começa a viver novos registros do que são a solidariedade, o amor e a liberdade. Seu coração tocado pela compaixão o anima a modelar a vida em prol dos outros.
Quando acolhemos a realidade e nenhuma venda nos impede ver o sofrimento do outro, a reação imediata é a compaixão. A compaixão samaritana não se reduz a um mero sentimento empático; inclui, além disso, a ação por aliviar o sofrimento do outro e o risco de compartilhar seu destino.
Em pouco mais de uma linha, o evangelista Lucas, na parábola do Bom Samaritano, ajunta uma infinidade de ações: o samaritano se compadece, se aproxima, enfaixa suas feridas, coloca-o em seu próprio animal, o conduz à hospedaria e o cuida.
Compadecer-se, aproximar-se, curar, levar, cuidar... tecem a rede de ações que definem a ajuda samaritana, diferenciando-a de propostas meramente retóricas, modelos assistencialistas e ajudas estruturais desencarnadas.
A compaixão derruba as diferenças que podem dar-se na relação ajudador-ajudado. Compadecido e compadecedor se sabem igualmente vulneráveis. A compaixão prevê reciprocidade e move a descer em direção ao outro: “hoje por ti, amanhã por mim”.
A compaixão nos coloca ao lado das vítimas e, a partir daí, nos ajuda a ler o drama interno da história em termos de injustiça, desigualdade e opressão. A compaixão pergunta pelos desajustes estruturais que estão por detrás de cada desgraça. Por que nas catástrofes naturais o número de mortos costuma ser inversamente proporcional ao PIB per capita? Quê “grau de escala Richter de desgraça” é necessário para provocar um sismo em nosso interior e despertar o “samaritano” ali presente?

O ícone do “bom samaritano” apresenta o próximo “em situação”, o próximo concreto, histórico, que interpela e compromete cada um em escolhas decisivas, em relação às quais se demonstra se é ou não “próximo” do necessitado. O “próximo” não é somente o outro para mim, mas eu para o outro.
O “próximo”, no sentido expresso pela parábola, não pode nos deixar indiferentes; provoca uma resposta, compromete em uma ternura concreta, oblativa, capaz de risco, para socorrer o ferido.
Mais ainda, o encontro com este ícone da ternura desperta dentro de nós o samaritano que permanece “adormecido”. Somente a Misericórdia de Deus, que revela seu Rosto no rosto de tanta exclusão, violência e sofrimento, é capaz de despertar o “samaritano” que todos carregamos.
Isso implica em abandonar a estreiteza de nossos projetos e deixar o nosso coração bater no ritmo dos sofredores e excluídos, vítimas da desumanização de nossa sociedade.
O “bom samaritano” é todo aquele que se detém ao lado do sofrimento de outra pessoa, quem quer que seja. Não deve, porém, ser uma parada curiosa, estéril, inútil ou escandalosa, mas de comoção, compaixão, disponibilidade, ajuda concreta. É doação de si mesmo.
Felizes de nós se deixarmos afetar pela mobilização do samaritano!

Diante da presença do homem semi-morto, o sacerdote e o levita dão a volta; o samaritano se aproxima.
Dois itinerários que determinarão não só a sorte da vítima, mas também a dos viajantes. Os dois primeiros, recusando seu auxílio, revelam sua desumanidade, com a desculpa de manter sua pureza religiosa. O samaritano é um exemplo de humanidade, mesmo com o risco de tornar-se “impuro”.
Muitas das ações samaritanas nos colocam em situações de aperto: aproximar-nos até ficar “impuros”.
O compromisso samaritano passa por “manchar-se”, exige tomar partido pelos últimos, arriscar-se a perder subvenções, expor-se a ter o nome na ficha policial. Em suma, ficar “impuro” perante os olhos da “religião oficial” do Estado.
A parábola ainda nos faz cair na conta do profundo valor simbólico que se esconde por detrás do simples ato do samaritano de fazer o ferido montar sobre sua própria cavalgadura. O samaritano conduz o animal para a pousada como um servo conduz seu senhor. A distinção entre aquele que monta e aquele que conduz o animal é muito forte, ainda hoje, no mundo oriental.
Desejar que outro mundo é possível a partir das vítimas, significa pôr-se a seu serviço, descer de nossa cavalgadura e ser presença compassiva junto a elas. São elas as que deveriam marcar nossos modos de vida, nossos consumos, nossas políticas. E para isso é preciso começar por escutar o quê dizem, o quê esperam, por quê lutam, o quê temem?...
Não é fácil escutar a voz das vítimas, a maioria das vezes a encobrimos com tranqüilizadores discursos românticos que convertem a pobreza em um lugar idílico de solidariedade espontânea. Ser samaritano é um estilo de vida.

Texto bíblico: Lucas 10,25-37

Na oração: O evangelista Lucas não deixa dúvida: todos os personagens da parábola “vêem” o homem ferido à beira da estrada.

Adentremo-nos no movimento de olhares proposto pela parábola do bom samaritano, para descobrir as atitudes básicas dos personagens e que nos levam a nos aproximar da realidade tal qual ela é, e a nos comprometer com um “outro mundo possível”. 

domingo, 3 de julho de 2016

MINHA IDENTIDADE “escondida em Cristo”

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o Evangelho indicado para Festa Litúrgica de São Pedro e São Paulo.


“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mateus 16,15)

Nos evangelhos sinóticos, esta pergunta sobre a identidade de Jesus ocupa um lugar destacado. Ela nos oferece as respostas do povo e da comunidade de discípulos, personalizados em Pedro.
Como seus seguidores, devemos continuar nos perguntar “quem é Jesus?”. Aqui não se trata do conhecimento externo da pessoa de Jesus: quando e como viveu, quem são seus pais, em que cultura viveu, qual era seu entorno social e religioso; nem sequer se trata de conhecer e aceitar sua doutrina.
Nosso seguimento está fundamentado no Jesus que encarna o ideal do ser humano querido por Deus, Aquele que nos revela, ao mesmo tempo, quem é Deus e quem é o ser humano. Por isso, a pergunta que devemos responder é: “quê significa Jesus, para mim?”
É preciso deixar muito claro que não se pode responder a essa pergunta se não nos perguntamos ao mesmo tempo: “quem sou eu?” . O encontro com a identidade de Jesus des-vela nossa própria identidade.

Na realidade, a pergunta pela identidade é a mais importante de todas aquelas que podemos nos fazer: “Quem sou eu?” A rigor, essa é a primeira e essencial pergunta. A resposta adequada à mesma nos liberta da ignorância, da confusão e do sofrimento. Faz-nos livres e nos possibilita viver na luz.
Porque o objetivo de nossa vida não pode ser outro que o de viver o que somos. E isso não é algo que devemos “alcançar”, “conseguir” ou “conquistar”..., mas, simplesmente, reconhecer. Trata-se de cair na conta ou compreender quem somos. Ao compreender isso, emerge a plenitude, a sabedoria e a alegria.
Dito de outro modo: a causa de muitos sofrimentos existenciais não é outra que a ignorância ou inconsciência de nossa identidade profunda. O grande místico cristão do séc. XIII, Mestre Eckhart, repetia essa expressão contundente: “Meu solo e o de Deus são o mesmo”.
Em outras palavras: a Rocha é o divino que nos habita. No caminho do Seguimento de Jesus vamos tirando os véus que bloqueiam e obscurecem nossa visão, permitindo que aflore resplandecente nossa radiante identidade.  

No evangelho de hoje, Jesus revela sua identidade (“Messias, o Filho do Deus vivo”) e, ao mesmo tempo, des-vela a identidade de Pedro: “Tu és “petros” (pedregulho) e sobre esta “petra”(rocha) edificarei minha igreja”. Pedro se torna rocha firme (“petra”) quando se apoia na identidade de Jesus (a verdadeira Rocha).
Pedro, que era “petros” (pedra de tropeço no caminho), foi sendo transformado, através da identificação com Jesus, em “petra”, rocha firme da primitiva comunidade cristã.
Dessa forma, o Simão que era “petros”/pedra se converte em “Petra”/rocha firme, porque o mestre des-velou a nobreza que estava escondida no coração dele, ou seja, sua verdadeira identidade sobre a qual o mesmo Jesus iria edificar sua igreja.
Todo ser humano possui dentro de si uma profundidade que é o seu mistério íntimo e pessoal; trata-se do “EU original”, aquele lugar santo, intocável, onde reside o lado mais positivo da pessoa.
É aqui onde a pessoa encontra a sua identidade pessoal; trata-se do CORAÇÃO,  da dimensão mais verdadeira de si, da sede das decisões vitais, lugar das riquezas pessoais, onde vive o melhor de si mesma, onde se encontram os dinamismos do seu crescimento, de onde parte as suas aspirações e desejos fundamentais, onde percebe as dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.
O próprio ser é a rocha consistente e firme, bem talhada e preciosa que cada pessoa tem para encontrar segurança e caminhar na vida superando as dificuldades e os inevitáveis golpes da luta pela vida.
Com confiança em si e na rocha do próprio interior todas as forças vitais se acham disponíveis para crescer dia-a-dia, para a pessoa se tornar aquilo que originalmente é chamada a ser.

Descobrir a própria identidade pessoal é situar-se na linha da orientação e sentido da vida. A pessoa deve ter a capacidade de voltar sobre si mesma e perceber por onde está sendo conduzida e porquê. Concretamente, isso pressupõe uma atitude de atenção e escuta que permitem à pessoa situar-se diante do “para onde” e “para quê”, diante da motivação básica do viver e do agir, diante da “intenção”  com que faz as coisas...
Viver em profundidade significa “entrar” no âmago da própria vida, “descer” até às fontes do próprio ser, até às raízes mais profundas. Aí se pode encontrar o sentido de tudo aquilo que é, o porquê do que se faz, se espera, busca e deseja.
“Descobrir a si mesmo” é descobrir que no próprio interior há um movimento infinito de construção de si, de identidade em expansão... que se torna possível graças a um constante arrancar-se do imobilismo e da paralisia existencial que impedem o fluxo da vida.
        
Nossa existência não pode ser de anonimato e indefinição. Ela exige identidade clara e bem definida.
Normalmente confunde-se a identidade com certas “marcas distintivas”: o nome, a profissão, a posição social, política ou religiosa, a função...
A identidade, no entanto, é dinâmica, histórica, fecunda, aberta ao desconhecido, aventureira...; ela é lugar de expansão e de manifestação da livre circulação do impulso vital, que faz de cada ser humano um “sopro divino vivo”.
Esse movimento não permite mais que se responda à pergunta: “Quem sou eu?”, pois o ser humano não é, ele se “torna”. O ser humano é um contínuo “tornar-se”, um “vir-a-ser”, um “ek-sistir”, capacidade de ir além de si e adiante de si, no movimento de infinita transcendência.
Só transcende quem se aproxima da própria interioridade, do próprio coração.
Ter identidade é viver em contato com as raízes que nos sustentam. Em contato com a fonte e na viagem para dentro, clareia-se a visão de nós mesmos, da nossa originalidade e dignidade.
Há uma força de gravidade que nos atrai progressivamente para o mais profundo de nós mesmos, onde Deus nos espera e nos acolhe, e onde encontraremos a nossa própria identidade e a verdadeira paz.
“Que eu me conheça e que te conheça, Senhor! Quantas riquezas entesoura o homem em seu interior! Mas de que lhe servem, se não se sondam e investigam” (S. Agostinho).
De “petros” a “petra”: esse é o des-velamento que acontece em todo seguidor de Jesus quando escuta e vive sua Palavra, proclamada no Sermão da Montanha.

Nossa identidade profunda é constituída pela fragilidade/petros e pela fortaleza/petra. Só no encontro com Aquele que é a Rocha firme é que transparece a “petra” que está oculta em nosso interior.

Texto bíblico:   Mateus 16,13-19 
                                                                                              
 Na oração: A oração é o caminho interior que faz a pessoa chegar até o próprio “eu original”, aquele lugar santo, intocável, onde reside não só o lado mais positivo da pes-soa, mas o mesmo Deus. Este é o nível da graça, da gratuidade, da abundancia, onde a pessoa “mergulha” no silêncio à escuta de todo o seu ser.
Através da oração a pessoa desce a uma dimensão mais profunda e assim chega à corrente subterrânea.
Aqui ela experimenta a unidade  de seu ser.

Coloque-se diante da verdade de Deus, na verdade de si mesmo:
- Que resposta você daria, agora, se um repórter lhe entrevistasse e lhe perguntasse: “quem é você?” 
- O que você colocaria na sua carteira de identidade que lhe diferenciasse de todas as outras pessoas? Quais  seriam os seus sinais digitais mais originais? Quais os seus sinais digitais divinos? (as “marcas” de Deus);
- O que em você é “rocha” consistente, fundamento inabalável?