A Campanha da Fraternidade 2015 traz como tema: Fraternidade: Igreja e Sociedade e lema: Eu vim para servir (cf. Mc 10,45).
Anualmente, durante a Quaresma, a Igreja Católica no Brasil promove discussões e ações sobre assuntos específicos, para ajudar os cristãos a refletirem melhor sobre o papel de cada um frente a realidade social em que vivemos.
Texto de apresentação da CF 2015:
“O Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45).
Vida que resgata vidas! O Crucificado como
servo das dores! A morte que liberta da escravidão e concede a dignidade de
servir como Deus serve! Deus servo, Jesus Cristo, que concede a toda pessoa
batizada o dom de ser serviço para os irmãos e irmãs.
Quaresma é tempo de abertura para o
mistério da dor e da morte, da cruz, do Crucificado. Nele, somos conduzidos à
graça da vida plena, à ressurreição. Ressurreição, transformação no mistério da
dor, da morte, da Cruz. Quaresma, caminho de identificação com
Cristo, pede de nós jejum, oração, esmola.
Jejum é um abster-se, um esvaziar-se, um
abrir-se. No vazio de nós mesmos, somos fecundados pela suavidade da
gratuidade. Jesus crucificado, vazio de si, é entrega suave-sofrida ao
Pai: “em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). No jejum, somos
reintegrados!
A oração é aproximação, nova relação,
exposição; busca de atingimento pela amorosidade de Deus. Uma quase súplica de
afeto e de amor: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” (Mt
27,46). A busca de coração pelo Pai. Quanta intimidade!
A esmola, partilha de vida, cuidado
amoroso, liberdade de entrega, serviço! A esmola é envio para o próximo.
Encontro com aqueles que o Estado e a sociedade não querem (Madre Teresa
de Calcutá). Esmola, exercício para o crescimento e fidelidade da nossa
filiação divina: sermos bons e generosos como Deus o é.
A conversão, a mudança de vida que a Quaresma
possibilita, é um itinerário de libertação pessoal, comunitário e social.
A Campanha da Fraternidade 2015 nos convida a refletir, meditar e rezar a
relação entre Igreja e sociedade. O tema é “Fraternidade: Igreja e
Sociedade”, e o lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45). A Campanha vai
ajudar--nos a “aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a
Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como
serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus” (Objetivo
Geral da CF 2015).
Sociedade vem de socius e id. Id, idade,
que diz da força, vigor; força e vigor do socius. Socius é o companheiro.
A força que faz e deixa ser companheiro. Companheiros, os que, unidos pela
mesma força e vigor, formam um grupo. Os que estão unidos pela mesma força
e vigor formam a sociedade. As pessoas que têm mesma pertença e buscam
viver e conviver com um modo próprio de organização, formam uma sociedade.
As pessoas também recriam a sociedade.
Porque formada por pessoas, a sociedade é viva, se transforma. Uma
sociedade é sociedade quando todos participam do conviver e do decidir e
não permitem que uma pessoa seja excluída. Para que a sociedade
possa existir e persistir, deixa-se guiar por valores fundamentais de
Justiça, de Fraternidade, de Paz.
O Concílio Ecumênico Vaticano II recordou
que a Igreja é Reino de Deus, Povo de Deus. “Para cumprir a vontade do Pai,
Cristo inaugurou na terra o Reino dos céus, revelou-nos Seu mistério e,
por Sua obediência, realizou a redenção. O Reino de Deus, já presente
em mistério pelo poder de Deus, cresce visivelmente no mundo”. “O Senhor Jesus iniciou a sua Igreja, pregando
a Boa-Nova, isto é, o advento do Reino de Deus (...). Este Reino manifestou-se
lucidamente aos homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo”. Com
a vinda do Espírito Santo, poderíamos dizer que se completaram os tempos.
Assim, a Igreja é o novo Povo de Deus, a
comunidade dos que creem. “Deus convocou e constituiu a Igreja – Comunidade
congregada por aqueles que, crendo, voltam seu olhar a Jesus, autor da salvação
e princípio da unidade”. Aqueles que têm seu olhar fixo em Jesus vivem na
sociedade. Eles compõem com outras pessoas a sociedade. Os cristãos, como
participantes da sociedade, levam seus valores e compromissos, ajudam a
construir uma sociedade justa, fraterna e de paz.
A Igreja, as comunidades de fé, os
cristãos, são ativos na sociedade. Eles, pelo diálogo e pela caridade, cuidam
das pessoas que são excluídas da sociedade. Ao mesmo tempo, participam
ativamente das discussões e proposições que visam o bem de todos. Como nos
diz o Papa Francisco: “prefiro uma Igreja acidentada, ferida e
enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e
comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja
preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e
procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente
inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos
que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo,
sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de
vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos
encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos
transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos,
enquanto lá fora há uma multidão faminta, e Jesus repete-nos sem cessar:
“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6,37).
A Campanha da Fraternidade deste ano será
uma oportunidade de retomarmos os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Ensinamentos
que nos levam a ser uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa,
samaritana. Sabemos que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos
e filhas de Deus. Por isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as
normas, a organização da sociedade estejam a serviço de todos. Na sociedade, a
Igreja, as comunidades desejam seguir a Jesus: vim “para servir e dar a vida em
resgate por muitos” (Mc 10,45).
Maria,
Mãe de Deus e nossa, nos acompanhe na caminhada quaresmal, para sermos
sempre mais a presença da Igreja que serve a todos. Caminhemos todos com
Jesus para Jerusalém e participemos com Ele da dor, da morte e da
ressurreição.
(Leonardo Ulrich Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília)
Nenhum comentário:
Postar um comentário