domingo, 8 de dezembro de 2013

Amar & Servir sem Fronteiras

Nossa Missão, missão de todo o batizado, de todo cristão... Amar & Servir, com criatividade e amor que ultrapassa fronteiras!

Tweet do Papa Francisco em 07/12/2013:
@Pontifex_pt: "Queridos jovens, convido-vos a colocar os vossos talentos ao serviço do Evangelho, com criatividade e um amor sem fronteiras."

Fonte: Twitter

Sentir Maria, a Imaculada

Texto para oração e reflexão nesse domingo da Imaculada Conceição de Maria.

“Sentir Maria”, a Imaculada

... encontraste graça diante de Deus” (Lucas 1,30)

Certamente, cada “concepção” é um “mistério” de vida sagrada. Cada concepção é “in-maculada” e cada princípio de vida é santo, desde o “ventre” da mãe.
Hoje a liturgia celebra a festa da Concepção, dia do amor “secreto” de Joaquim e Ana, dia que marca o princípio do que será o caminho aberto na vida de Maria, que começa já no “ventre santo” de sua mãe.
Para além da realidade do puro pensamento, o “dogma da Imaculada” pertence á esfera do sentimento cristão. Nesse contexto, a comunidade cristã quis descobrir um “lugar de graça”, uma experiência, uma vida “sem pecado”, e viu que Maria, a Mãe de Jesus, é também Imaculada.

O “dogma da Imaculada” não é um dogma que se impõe à razão e que é preciso crer à força (isso seria imposição doutrinal), mas é o que ilumina e impulsiona o pensamento e o sentimento dos cristãos. Nesse sentido, um dogma que nos faz “sentir Maria”. Esse dogma expressa o fato misterioso de que ela foi transparente ao desejo de Deus, dialogando com Ele em liberdade, fazendo-se mãe do Filho divino. É um dogma aberto a todos os homens e mulheres que, por sua fé e seu compromisso, querem superar a trava do pecado, abrindo-se à vida pura da terra limpa, do amor imaculado, da justiça universal.
Sentir Maria” é reencontrar em nós mesmos aquilo que diz sim à vida, quaisquer que sejam as formas que esta vida tomar. “Sentir Maria” é superar toda expressão de desconfiança, de dúvida, de temor diante daquilo que a vida vai nos dar para viver.
É assim que se fala de Imaculada Conceição. O Verbo é concebido no que há de mais imaculado no ser humano, no que há de mais completamente silencioso e íntimo. Isto supõe que haja no mais profundo da pessoa um lugar onde não existe limitação, mas a fonte de onde nasce a vida.

Em todos nós, algo de bom, de inocente, de imaculado, continua a dizer “sim” ao incompreensível Amor... O ser humano é “capaz de Deus”. É preciso encontrar, entre nós mesmos, este lugar por onde entra a vida, este lugar  por onde entra o amor. É uma experiência de silêncio, uma experiência de intimidade, alguma coisa de mais profundo do que aquilo que se chama o pecado original.
Charles Peguy dizia que “Maria é mais jovem que o pecado”. Isto quer dizer que existe em nós alguma coisa de mais jovem e de mais profundo, anterior ao pecado, que é a beatitude original.
Falamos demais sobre o pecado original e muito pouco sobre a beatitude original. Existe em nós uma realidade mais profunda que a nossa resistência, um sim mais profundo que todos os nossos “nãos”, uma inocência original que todos os nossos medos e feridas... É preciso encontrar a confiança original.
Maria é o estado de confiança original. Assim, os Antigos Padres viam nela um arquétipo da beatitude original, a mulher da pura confiança, do sim original Àquele que É.
Maria é a nossa verdadeira natureza, é a nossa verdadeira inocência original, aberta à presença do divino.
Mas Maria não é Imaculada só (e sobretudo) em sua Concepção, senão em sua vida inteira; Ela se faz Imaculada, em atitude constante de diálogo com Deus e de abertura (entrega) ao serviço dos outros, por meio de Cristo, seu filho. Não reservou nada para si, tudo colocou nas mãos de Deus, para serviço e libertação da humanidade. Maria não dialoga com Deus para si mesma, senão em nome de todos os homens e mulheres e para o bem do mundo inteiro. Rompe assim a cadeia de mentiras, de egoísmo e de violência que tem suas raízes na origem da humanidade. Este é um dogma da Igreja que se reconhece em Maria e que quer também ser “imaculada”, colocando-se a serviço da obra libertadora de Deus.
Por isso dizemos que Maria é Imaculada com todos, por todos, para todos, para “nosso próprio bem e salvação”. Nesse sentido dizemos que ela é Imaculada como referência única de uma humanidade que também é capaz de escutar Deus e de responder-lhe; ela é Imaculada porque nos “des-vela” que também nós podemos romper as amarras que nos desumanizam; ela é Imaculada porque “re-vela” que o ser humano é “lugar” de abertura a Deus, que é possível viver em liberdade, dialogando com os outros, a serviço da comunhão e da vida.

Maria é o verdadeiro Templo, é espaço de presença do Espírito, lugar sagrado onde habita a divindade para, a partir dela, expandir-se depois a todo o povo. Ela é lugar de plenitude do Espírito, terra da nova criação, templo do mistério.  Evidentemente, esta presença é dinâmica: o Espírito de Deus está em Maria para fazê-la mãe, lugar de entrada do Salvador na história.
Ela não é um instrumento mudo, não é um meio inerte que Deus se limitou a utilizar para que fosse possível a Encarnação. Maria oferece ao Espírito de Deus sua vida humana para que através dela o mesmo Filho Eterno possa entrar na história.
Toda envolvida pelo amor divino, Maria soube colocar-se, em total disponibilidade, nas mãos de Deus, para cumprir sua santa vontade: “Eis a serva do Senhor, faça-me em mim conforme a tua palavra”.
Por isso a “Imaculada Conceição” é um dogma teologal, ou seja, expressa a certeza de que Deus quis comunicar-se de maneira transparente com os homens; buscou e encontrou em Maria uma interlocutora privilegiada,  capaz de escutá-lo e responder-lhe, compartilhando seu mesmo desejo de Vida plena. É um dogma sobre Deus, que não quer o “pecado” dos homens e mulheres, mas o amor que cria e dá a vida.
Uma tal comunhão com Deus excluía qualquer traço de egoísmo e de pecado. Só a plenitude da graça (“cheia de graça”) permitiu-lhe ser totalmente despojada de si para cumprir o projeto de Deus. Daqui brota a fé de que Maria, mesmo antes de nascer, foi preservada do pecado.

A festa da Imaculada Conceição leva-nos, portanto, a pensar em Maria como aquela que, movida pela Graça realizou-se como pessoa que acolhe o desejo de Deus e lhe corresponde com seu mais profundo desejo. Ao encarnar-se por meio dela, Deus não se impôs a partir de cima ou de fora, mas deseja e pede sua colaboração; por isso lhe fala e espera sua resposta, como indica o texto de Lucas, uma cena simbólica que pode apresentar-se como diálogo do consentimento: Maria respondeu a Deus em gesto de confiança sem fissuras; confiou n’Ele, lhe deu sua palavra de mulher, pessoa e mãe.
Ambos se uniram para compartilhar uma mesma aventura de amor e de graça, a história divino/humana do Filho eterno.

Para isso, a liturgia desta festa nos convida a focar a atenção no momento da Encarnação de Jesus, como fruto de um profundo diálogo entre Maria e o anjo de Deus. É no seu diálogo de amor fecundo com Deus que podemos e devemos afirmar que Maria é Imaculada. Nessa linha, a Igreja pode afirmar que Maria é (e foi se fazendo) Imaculada ao dialogar com Deus em profundidade pessoal.
Deus mesmo quis conduzi-la desde o momento de sua origem humana (concepção), como conduz cada homem e cada mulher que nascem neste mundo. Ali onde um frágil ser humano (uma mulher e não uma deusa), pode escutar Deus em liberdade e dialogar com Ele em transparência, surge o grande milagre: o Filho divino já pode existir em nossa terra.

Texto bíblico: Lucas 1,26-30


Na oração: entoar um hino de louvor, reconhecendo as “maravilhas” de Deus em sua vida; dar-se conta das beatitudes originais presentes no seu interior: compaixão, bondade, mansidão, busca da justiça e da paz...

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ

Os Sonhos das Três Árvores

Na reunião do dia 02/12/2013, a nossa irmã Bruna Melhoranse nos fez refletir a história que transcrevemos a seguir.
Essa história tem muito a nos ensinar e uma das lições mais importante é que Deus é um Pai atento aos nossos sonhos, que opera tudo para que sejamos felizes, mas é necessário que tenhamos paciência e atenção aos seus sinais.

Os Sonhos das Três Árvores
Era uma vez três árvores. Haviam crescido juntas numa montanha distante; árvores igualmente frondosas, é verdade, mas com sonhos diferentes.
A primeira queria ser, quando cortada, um trono real, adornada com pedras preciosas e torneadas de modo a atrair a atenção de todos no palácio, tendo a honra de ser ocupada pelo rei.
A segunda sonhava em tornar-se parte de um grande navio, cruzando os mares de maneira imponente, levando tesouros, riqueza e ouro de um porto para outro.
A terceira queria ser a árvore mais alta de todas, crescendo em direção ao céu, de modo que todos que a olhassem, fossem levados a erguer os olhos para o Criador do Universo. Sonhos, apenas sonhos.
A primeira árvore foi abatida pelo machado de um forte lenhador, mas não para ser o trono de um rei. Com ela fez simplesmente um humilde depósito de forragem e alimentos para os animais. Diariamente ela servia para alimentar as ovelhas e o gado numa rude estrebaria. Nenhuma honra,  nenhum louvor, nenhuma glória...
A segunda foi cortada também. Mas não para ser um grande navio. Fizeram com ela um pequeno barco de pescador. Nenhum tesouro, nada de moedas de ouro e prata; nenhuma viagem luxuosa através dos mares. Só peixe molhado com a água do mar e redes velhas de pobres pescadores.
A terceira não teve destino melhor. Foi cortada e levada para os fundos de uma marcenaria, onde ficou aguardando algum destino útil. Jamais seria a mais alta e nobre árvore da colina.
Mas algo aconteceu! O tempo foi passando e cada uma delas teve seu destino desviado.
A primeira árvore viveu a aventura maior e a suprema honra no dia em que serviu como primeiro berço do Rei do Universo, quando este, ao nascer, não teve lugar senão na humilde estrebaria. Madeira nobre e honrada em seu humilde serviço.
A segunda viveu o seu dia de glória quando o pescador, dono do pequeno barco, ofereceu sua humilde embarcação para servir de púlpito ao jovem pregador da Galileia que, daquele barco, começou a proclamar a Boa Nova às multidões da Galileia.
Da terceira, foram utilizados dois pedaços, para que, com eles, se fizesse uma cruz. Ela foi carregada nos ombros cansados do Mestre, e no alto da montanha, ficou para sempre apontando o caminho do céu. Ela é, até hoje, símbolo de esperança e salvação. Pois nela morreu o Rei do Universo para salvar a humanidade. Seu sonho realizou-se: ela era a mais alta e mais nobre árvore da colina.
(Autor desconhecido)

Fonte: Link

Viver em estado de Advento

Na reunião do dia 02/12/2013 nossa oração foi baseado no Viver em “estado de Advento”.
O texto nos lembra a importância de estarmos atentos em todos os momentos da nossa vida, até nas atividades cotidianas, pois aqueles que têm fé e esperança no Senhor que vem deve cuidar para não construir sobre a areia e para que não falte o óleo para manter a lâmpada acesa.

“Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24,42)

Advento de novo? Um Advento a mais ou nova oportunidade? Sim, mais uma vez estamos começando o tempo litúrgico do Advento. O risco é vivê-lo como “mera repetição”, como um “tempo parecido” com o tempo anterior.
Na realidade, cada Advento, por mais parecido que seja ao anterior, é totalmente diferente;  ele é original e único, porque as esperanças são novas, os projetos são novos, a vida se renova sempre, o seguimento de Jesus Cristo se aprofunda sempre mais...
Não esqueçamos que o Advento é toda uma possibilidade de vida que temos à frente. Por isso o grande grito deste primeiro domingo é “Vigiai” porque “não sabeis quando virá o vosso Senhor”.
Ninguém vigia o passado que já passou e já não existe mais. Vigiamos o que está por vir, o que está vindo. A vigilância olha sempre o futuro. Um futuro que depende de Deus e depende de nós. Porque uma coisa é a ação de Deus em cada um de nós neste tempo do Advento e outra coisa é o que nós fazemos para que algo novo aconteça.
Nós mesmos somos um “advento”, porque nosso futuro humano depende do que esperamos.
Haverá aqueles que já não esperam nada. Haverá outros que esperam algo novo, mas duvidam. E haverá aqueles que esperam o novo e dedicam sua vida a criá-lo já agora.
Porque em cada momento definimos nossas vidas; em cada momento algo surpreendente pode acontecer em nossa vida; em cada momento nossa vida pode apagar-se ou pode rejuvenescer-se.

No evangelho desse primeiro domingo do Advento, as duas pequenas parábolas insistem na atitude da vigilância.
A primeira delas nos adverte com uma intencionalidade clara: o maior inimigo da vigilância é a dispersão, revestida de rotina e apego ao costumeiro (“comer, beber, casar-se”). Viver vigilantes para olhar mais além de nossos pequenos interesses e preocupações.
Na segunda, a insistência se situa na importância de “estar vigilante”, porque o que está em jogo é nada menos que a segurança da “casa”, ou seja, a consistência da própria pessoa.
Tanto nos sonhos, como nos contos e nas parábolas, a casa é um símbolo arquetípico da pessoa. A partir desta perspectiva, a mensagem de Jesus é um chamado a tomar consciência de quem somos, favorecendo a atitude que nos permite “construir-nos” – a vigilância – e estando atentos àquela outra que nos “rompe” ou arruína – a dispersão.
Podemos compreender melhor o que ambas atitudes indicam quando as relacionamos com a atenção, entendida como a capacidade de viver no momento presente.
A dispersão é o estado habitual de quem se encontra identificado com seus pensamentos, sentimentos, emoções ou reações, ignorando sua verdadeira identidade.
A vigilância, pelo contrário, refere-se à capacidade de não perder-se no emaranhado dos pensamentos nem cair na armadilha das solicitações externas. Requer, portanto, a atitude própria do sentinela: situado estrategicamente em lugares altos e de amplos horizontes, ele recebe a delicada missão de observar, discernir e anunciar, para defender a vida do povo
Tal missão implica numa vigilância investigadora do horizonte, onde se fazem perceptíveis os “sinais”, ou até mesmo os indícios de que algo importante para a vida do povo está prestes a acontecer.
Por isso, o sentinela está treinado para “olhar”  a grandes distâncias, para “olhar”  com precisão.
Seu “olhar” investigador, aguçado pelo amor ao povo e a fidelidade à missão, está em alerta permanente.
Graças a essa distância e observação, vamos descobrindo em nós e em nossa realidade sinais de uma Presença que vem, que está vindo... em nossa direção.
De fato, onde colocamos nossa atenção, aí estará nossa vida (ou nossa falta de vida). A maneira como focamos nossa atenção é fonte de equilíbrio ou de desequilíbrio, de harmonia ou de desarmonia...
Viver em vigilância contínua é estar em atitude de exploração e rastreamento, é nos deixarmos ser surpreendidos, conduzidos, desafiados e, em última instância, transformados pelo Espírito de Deus.
Precisamente a vigilância é rastrear, descobrir os “espíritos-sopros-inspirações” do Espírito no ritmo da vida cotidiana e em meio á realidade que nos cerca.
Rastrear-descobrir-deixar-se conduzir: este é o movimento do tempo do Advento.

Vivemos num contexto marcado pela “dispersão”, seduzidos por estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativado pela mídia, pelas inovações rápidas, magnetizado por ofertas alucinantes...
E então, nós nos esvaziamos, nos diluímos, perdemos a interioridade e... Nos desumanizamos.
A pessoa “dispersa”, por não ter um horizonte de sentido que a atraia, fixa-se no cenário externo, agarra-se ao mundo circundante, apega-se às coisas, na ilusão de alcançar uma segurança almejada. Ela foge de si mesma, tem medo de encontrar-se. Por isso, acompanha o ritmo dos outros, repete a linguagem dos outros, adota os critérios dos outros, e acaba sendo influenciada e dominada por pressões e hábitos externos.
A “dispersão” corrói a interioridade da pessoa e dissolve aquilo que é mais nobre em seu interior. Longe de uma humanidade dinâmica, operante, ousada... o que a pessoa deixa transparecer é uma humanidade neutra, apática, estagnada; é humanidade lenta, afogada na “normose”, estacionada na repetição dos gestos e dos passos. Ela gira em torno de si mesma e não consegue fazer um salto libertador. Isso tudo leva a pessoa a debilitar-se, provocando a redução da vitalidade humana em vez de favorecer o crescimento pessoal.
“Dispersão” quer dizer estar espalhado, estar ocupado em muitas coisas e em diversas direções ao mesmo tempo, estar ausente, esquecido, dividido, distante, apenas por cima das coisas.
Pessoa “dispersa” é massa anônima empurrada pela multidão, vive na superfície de si mesma, desconectada da fonte interior, desarticulada e ocupada com o que não é essencial.

Advento é tempo propício – “kairós” -  para ajudar a superar nossa “dispersão”  e  poder recuperar a densidade humana interna. Para isso, precisamos entrar em “estado de vigilância”, repensar a interioridade perdida, reconquistar a autodeterminação.
E “vigiar” não é repetir-se, mas re-descobrir-se, re-inventar-se, re-encontrar-se, buscar-se de novo.
“Vigiar” é re-ajuntar as energias humanas que haviam sido dispersas e canalizá-las para reabrir  horizontes fechados e gerar diferenças originais fecundas.
“Vigiar” é acordar a autonomia adormecida e emancipar-se, ser pólo de afirmação pessoal e social. É indispensável colocar “ordem” por dentro e descobrir que a pessoa pode inventar-se a cada dia, a cada passo, conduzindo conscientemente a vida em direção à plenitude e não arrastá-la pelo chão.
Quem está em “estado de vigilância” tem a coragem de redefinir-se, de eleger, de assumir-se; é alguém preparado para dar um salto arrojado e criativo.
É nessa direção que o “tempo do Advento”, centrado n’Aquele que vem, mobiliza e re-ordena todas as dimensões da vida e propõe um caminho de humanização. Ele desafia cada um a assumir o potencial humano criativo que estava latente em seu interior.
Estar atentos e vigilantes é uma condição humana e cristã para viver intensamente; viver distraídos e dispersos é perder as oportunidades de muitos encontros, é deixar que o outro passe ao nosso lado sem nos darmos conta, é deixar que Deus passe sem que o percebamos, é deixar passar o momento em que Ele nos chama e perdemos a oportunidade de dar uma resposta vivificadora.
Viver é estar atentos à vida, a nós mesmos, aos demais. Viver é estar atentos às ocasiões únicas, às oportunidades que não voltam; viver é estar com os olhos abertos para contemplar, é estar com os ouvidos atentos para escutar.

Texto bíblico:  Mt 24,37-44

Na oração: + Em quê dimensões da vida você sente a força desagregadora da “dispersão”?
“Vida atenta” é vida com largos horizontes: neste Advento, o que você está “lendo” no seu horizonte pessoal,  social, profissional, familiar, religioso...?

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Santos possíveis

Felizes e bem-aventurados!

Enquanto vivemos em uma sociedade que prega que ser feliz é ter saúde, conforto, bens materiais, o Evangelho nos desafia dizendo que felizes são os:
1)      Pobres no espírito
2)      Mansos
3)      Aflitos
4)      Famintos e sedentos de justiça
5)      Misericordiosos
6)      Puros de coração
7)      Promotores da paz
8)      Perseguidos por causa da justiça
9)      Injuriados e perseguidos por causa de Jesus
Onde os cristãos de hoje acreditam que está a felicidade, ou como algumas outras traduções da Bíblia, a bem-aventurança? Nas referências do Evangelho ou na concepção da sociedade contemporânea?


Na reunião do dia 04/10/2013 da Pré-CVX Amar e Servir, a nossa oração foi com o texto SANTIDADE: capacidade ilimitada de paixão, do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ, o qual foi iluminado pelo Evangelho do 31º Domingo do Tempo Comum, que cedeu espaço à celebração da Festa de Todos os Santos: Mateus 5,1-12
Mas quem são esses “todos os santos”?
As partilhas durante a reunião, ricas em diversidade de opiniões e inspirações, giraram em torno das características dos “santos”.

O discurso das bem-aventuranças, proferido por Jesus e narrado por Mateus, é tido por estudiosos e teólogos como a via da santidade, o caminho para encontrar vida plena naquele que nos chamou à vida.
Embora a Igreja celebre as Festa de Todos os Santos com ênfase nos santos canonizados [pessoas que por suas vidas de amor ao Deus e aos irmãos e por uma extraordinária capacidade de viver os valores evangélicos são declaradas santas pela Igreja], “todos os santos” são aqueles que abraçam/abraçaram a proposta da cruz.

Os canonizados são modelos de vida cristã! Foram pessoas que viveram desafios, tentações, tinham defeitos e pecados, mas souberam viver plenamente as bem-aventuranças.
Outro ponto interessante da discussão foi a ideia de que ser santo não é ser perfeito, não é não ter defeitos, do ponto de vista humano, mas pautar a vida pelo amor, mesmo tendo limitações humanas.
Então a Festa de Todos os Santos é a também a celebração de todos aqueles que vivem os valores do Evangelho, vivem as bem-aventuranças.

Outro ponto interessante do discurso das bem-aventuranças é que as recompensas de duas bem-aventuranças são apresentadas no tempo presente:
Mt 5,3: “Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus.” 
Mt 5,10: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.”
Se dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça é o Reino dos Céus, essas pessoas já são santas, ainda que não canonizadas! Então a Festa de Todos os Santos é também a festa dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça! Santos possíveis, dos quais encontramos tantos todos os dias!
As outras bem-aventuranças têm sua recompensa no tempo futuro: herdarão a terra, serão consolados, serão saciados, alcançarão misericórdia, verão a Deus, serão chamados Filhos de Deus, terão grande recompensa nos céus! Viver segundo os valores das bem-aventuranças nos coloca a caminho da santidade e nos faz santos possíveis!

A Bíblia de Jerusalém acrescenta em nota de rodapé que por meio desse discurso, “Jesus lembra que os pobres também participam das suas bênçãos: as três primeiras bem-aventuranças (Mt 5,3-5) declaram que pessoas comumente tidas como infelizes e amaldiçoadas são felizes, pois estão aptas para receber a bênção do Reino. As bem-aventuranças seguintes se referem mais diretamente à atitude moral do homem”.

Fascinante e desafiador é o Evangelho pregado por Jesus! Como enfatiza o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ: "A santidade implica uma pitada de santa loucura capaz de romper com o que é considerado “normal” ou aceito pela sociedade excludente e desumanizadora na qual vivemos. O santo(a) é, na essência, uma presença transgressora, subversiva e inesperada... Que denuncia e interpela as barreiras e fronteiras impostas pela sociedade."




*** Atualização*** 
Palavras do Papa Francisco publicadas  no Twitter (@Pontifex_pt) em 07/11/2013:
"Os santos são pessoas que se deixam possuir totalmente por Deus. Não têm medo de ser ridicularizados, incompreendidos ou marginalizados."
Totalmente em sintonia com as discussões da última reunião e com as palavras dessa postagem! Viva a comunhão dos santos!
Responsável pelo texto: Cláudia Cruz

SANTIDADE: capacidade ilimitada de paixão


Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus.” (Mateus 5,12)

No dia em que a Igreja faz memória de todos os Santos e Santas, a liturgia escolhe sabiamente o evangelho das Bem-aventuranças. A sabedoria deste texto, surpreendente e genial, está no fato de apresentar um projeto de realização total, de felicidade sem limites. O Evangelho que nos foi confiado é um programa para alcançar a felicidade, a vida ditosa, prazerosa, bem-aventurada.
Na boca de Jesus brilha sempre a palavra chave: “Felizes”.
As nove bem-aventuranças apresentam nove promessas de felicidade plena, nove situações que conduzem a essa felicidade, já a partir desta vida. São nove promessas de esperança. O que está em nossas mãos são as situações de fato, as nove condições para viver o Reino de Deus.
Trata-se, com efeito, de uma felicidade que transcende este mundo. E que, por isso, é para sempre e sem limitação alguma. É essa a condição daqueles que a Igreja considera e venera como santos(as).
Também é preciso levar em conta que as bem-aventuranças falam da felicidade, não no singular, mas no plural. Ou seja, Jesus não fala da felicidade do indivíduo, mas da felicidade relativa à comunidade.
A felicidade não é uma questão meramente individual, mas essencialmente social; a felicidade não se consegue isoladamente, mas comunitariamente.
Em outras palavras, o que Jesus afirma é que a felicidade de cada um está em intima relação com a felicidade dos outros, com quem cada um convive.
Mas, o que mais nos surpreende é que, relendo e saboreando as nove bem-aventuranças, nos encontramos com o inesperado: nenhuma delas indica práticas relacionadas com a religião. Elas indicam condutas relacionadas com a vida, com esta vida, com as condições e atitudes a partir das quais se pode fazer algo eficaz para que esta vida seja mais humana, mais leve, mais feliz.

Aqui está a surpreendente novidade do projeto oferecido por Jesus. Ele não promulgou mandamentos, nem um código de moral, muito menos uma lista de proibições; simplesmente anunciou bem-aventuranças. Ou seja, passamos de uma ética de “deveres e obrigações” para uma ética de “felicidade e ventura”. Joaquim Jeremias disse que o Sermão da Montanha não é Lei, mas Evangelho, de tal forma que a diferença entre um e outro é esta:
“A Lei põe o ser humano diante de suas próprias forças e pede-lhe que as use até o máximo; o Evangelho situa o ser humano diante do dom de Deus e pede-lhe que converta verdadeiramente esse dom inefável em fundamento de sua vida. Dois mundos”.
Jesus compreendeu que o meio mais eficaz e mais direto para nos aproximar de Deus, e para que cada um se realize como ser humano que é, não é estabelecer proibições, mas fazer propostas que mais e melhor se harmonizem com nossa condição humana, com aquilo que mais desejamos.
A experiência histórica nos ensina que os mandatos e as proibições tem cada vez menos força para modificar a vida das pessoas.  Todo mandamento e toda proibição tem certos limites, aos quais alguém se ajusta e assunto encerrado. Enquanto que a proposta da felicidade contém em si uma busca sem limites.
E é aí que se constata até onde chega a generosidade de uma pessoa, a fé e a entrega de alguém a uma causa que se leva a sério.
As bem-aventuranças vão muito mais além de tudo o que os mandamentos significam; elas não se fixam em alguns limites que não podem ser transgredidos, mas marcam algumas metas que nunca chegaremos a alcançar em plenitude. Não são a negação que estabelece o que não se pode fazer, mas a afirmação que nos dá vida e nos deixa profundamente felizes.
Por não serem leis, nem mandamentos, as bem-aventuranças não despertam sentimentos de culpa.
Aqueles que se deixam conduzir pela dinâmica das bem-aventuranças nesta vida, tem garantida a promessa de felicidade sem fim, à qual denominamos vida eterna. É, em definitiva, a Vida de todos os santos(as).  

Ser  santo(a) é fazer das Bem-aventuranças a pauta de seu viver.
Por isso, ser santo(a) é ser humano por excelência, é ter a audácia de reinventar o humano;  é resgatar a paixão por um ideal de vida e por um sonho; paixão pela vitória da esperança; paixão pela humanidade, paixão pelo mundo, paixão pelo Reino...enfim, paixão por Deus.
A festa de hoje realça uma forma de santidade, muitas vezes esquecida: a santidade da vida comum, da resposta à Providência divina em meio às rotinas do tempo, uma caridade tecida nos pequenos gestos...
Diante de uma realidade que ameaça o ser humano pelo anonimato, pelo artificialismo, pela massificação, o(a) santo(a) injeta no interior das “veias” deste mundo a Graça transfiguradora do Amor.
O chamado universal à santidade nos faz confiar profundamente na vida cotidiana, ou seja, no dia-a-dia da vida familiar, no exercício da profissão, nas relações da vida social, nas decisões éticas, na ação cidadã, no campo dos direitos humanos, no campo da economia, na presença ativa da política, no mundo da cultura, no diálogo com os meios de comunicação, na navegação pela internet... como “lugares agraciados” de encontro com Deus e manifestações explícitas de compromisso cristão.
Não tem porque a santidade ser aquela que está acompanhada de virtudes heroicas, mas aquela que se expressa numa vida cotidianamente heroica; os santos vivem intensamente e colocam em prática o chamado de Deus para viver e dar vida a outros. Quer-se dizer, com isso, que santa é a vida e santo é defendê-la; fascinante é ver enormes esforços para propiciá-la.

O santo(a) sente-se cativado, envolvido, amado, entusiasmado, sintonizado, habitado por Deus de tal maneira que seus olhos, gestos, suas atitudes, palavras, seu coração, sua existência transbordam Deus.
Para humanizar nosso tempo, os(as) santos(as) revelam atitudes e critérios que nos fazem mergulhar de cheio nos desafios e problemas que afligem grande parte da humanidade. Os santos, de hoje e de sempre, não são encontrados nos pacíficos ambientes dos templos ou dentro dos limites da instituição eclesial, mas nas encruzilhadas da pobreza e da injustiça, nas “periferias existenciais”, em perigosa proximidade com o mundo da violência e da marginalidade, em situações de risco, onde a luz do amor brilhará mais do que nunca.
Num mundo em que nem todos são capazes de grandes façanhas ou de alcançar sucessos, Deus nos deu a aptidão de encontrar a grandeza no dia-a-dia. Temos apenas que ser santos o bastante para que possamos reconhecer o milagre no ritmo da vida.
“Os santos são muito corriqueiros, eles são absolutamente encardidos nas suas vidas. O que às vezes chama a atenção são dons especiais, de milagres, de levitação, mas fora disso a santidade é um passeio no cotidiano” (Adélia Prado).

A santidade, portanto, como paixão expansiva, implica uma pitada de santa loucura capaz de romper com o que é considerado “normal” ou aceito pela sociedade excludente e desumanizadora na qual vivemos. O santo(a) é, na essência, uma presença transgressora, subversiva e inesperada... Que denuncia e interpela as barreiras e fronteiras impostas pela sociedade.
Somos santos(as). Não somos santos porque sejamos irrepreensíveis, senão simplesmente porque somos, e vivemos, nos movemos e somos sempre em Deus e Deus em nós, também quando nos sentimos medíocres e inclusive fracassados.
Esta é a vocação fundamental à qual somos todos chamados, enquanto seguidores de Jesus Cristo. Ser santo(a)  é ser dócil para “deixar-nos conduzir” pelos impulsos de Deus, por onde muitas vezes não sabemos e não entendemos. Seus caminhos não são os nossos caminhos.

Texto bíblico: Evangelho segundo Mateus 5,1-12

Na oração: Rezar as dimensões da vida que estão paralisadas, impedindo-lhe viver a dinâmica das bem-aventuranças. Viver a santidade no cotidiano é “arriscar-se” em Deus; é navegar no oceano da gratuidade, da compaixão, da solidariedade, da justiça.

Autoria do texto: Pe. Adroaldo Palaoro, SJ