quinta-feira, 31 de julho de 2025

Inácio de Loyola, um Santo para Nosso Tempo


Depois de cinco séculos, Santo Inácio continua sendo uma figura única e paradigmática. O marcante nele está no fato de ter sido capaz de situar-se, de maneira original e através do ritmo de decisões pessoais aprofundadas, no contexto de mudanças de seu mundo e de seu tempo. Ele é considerado o santo dos “tempos novos” que despontavam perante seus olhos deslumbrados. Novos valores emergiam, novos modos de pensar, de sentir, de viver, novas descobertas, novas terras...

Inácio é o homem da mudança, da transição no tempo, dos tempos novos, agitados, turbulentos, de transbordantes mudanças que colocavam em questão tudo o que até então era recebido.

Depois de ter posto seus pés sobre as pegadas de seu Senhor e beijar o solo que Ele havia pisado, Inácio compreende que a “terra de Cristo” era o vasto mundo de seu tempo. Desde então, para além do deserto e da peregrinação a Jerusalém, abre-se diante de seus olhos, outro caminho.
A partir de então, o mundo o aproxima de Deus e a saudade de Deus não o afasta do mundo.

Mas, seu itinerário não é unicamente geográfico. A grande originalidade da história e da vida de Inácio não é a que ocorreu fora, mas a que aconteceu dentro dele mesmo. Sua principal contribuição à história da Igreja e da humanidade não é o que pessoalmente ele realizou em suas atividades de apostolado e de governo, ou sua obra exterior mais conhecida, a Companhia de Jesus, mas a descoberta de seu “mundo interior” e, através dela, a descoberta desse continente sempre inexplorado e surpreendente, que é o coração, onde acontece o mais importante e decisivo em cada pessoa.

Tudo começou em 20 de março de 1521: A “bala” que feriu Inácio na batalha de Pamplona não transpassou tão somente sua perna; atravessou também, de modo igualmente profundo e traumático, todo o mundo de ambições e sonhos de glória que ele havia buscado e fantasiado até esse momento. Todo um sistema de ideais se vê deste modo derrubado.

Foi forçado a um confinamento, de uns nove meses. Nas primeiras semanas debateu-se com a dor e com a morte, mas logo começou a abrir-se, para ele, algo diferente, e desse tempo nasceu um homem novo.

Um castelo interior (um tipo ideal de homem) se desmoronou, ao mesmo tempo que começou a surgir outro edifício humano, não mais centrado na busca de poder e prestígio, mas na força dos grandes desejos e na sedução pela pessoa de Jesus Cristo, que, desde então, ocupará a tela inteira de sua vida.

A partir deste momento, toma como ponto de partida o protagonismo ativo e criativo de Deus em sua história pessoal; Inácio é movido a fazer uma leitura de sua própria história com a chave do protagonismo de Deus. A leitura de alguns livros - “Vita Christi” e “Legenda Áurea” foi, para ele, a primeira porta de acesso ao Mistério.
Da “leitura de textos” à “leitura de si mesmo”: este é o deslocamento que Inácio experimenta em seu interior. Inicia-se uma travessia do “texto escrito” ao “texto da vida”. Leitura provocativa e questionadora, pois ela desmonta uma estrutura fincada em falsos fundamentos e desperta o desejo de construir a vida sobre uma nova base. Uma leitura conflituosa, marcada por resistências e medos…, mas, ao mesmo tempo, uma leitura atenta e centrada, com pausas para reflexão sobre as reações que ela despertava. Leitura que o compromete com outra escrita, carregada de sentido, valor e utopia. Leitura que o ajuda a “ordenar” seu mundo interior. Descobre, então, ser possuidor de uma profundidade que é seu mistério íntimo e pessoal.

“Viver em profundidade” significa “entrar” no âmago da própria vida, “descer” até às fontes do próprio ser, até às raízes mais profundas. Aí se pode encontrar o sentido de tudo “aquilo que se é, daquilo que se faz, se espera, busca e deseja”.

Inácio precisou de tempo para compreender tudo o que se passava com ele. No começo, teve de lutar contra a febre e a dor de suas feridas; quando elas começaram a diminuir, buscou primeiro entreter-se com leituras amenas e finalmente foi encontrado por Aquele que o buscava, através dessa ferida. Aquilo que no início foi vivido como uma derrota e um fracasso, foi seu segundo nascimento.

Como Inácio, talvez busquemos, num primeiro momento, nos entreter lendo “livros de cavalarias” que nos fazem fugir e esquecer a angustiante situação que estamos vivendo; ou talvez, já tenhamos começado a ler textos verdadeiros, textos reveladores e instigantes que nos devolvem a nós mesmos para dispor-nos a uma outra escuta, agora interna.

O novo de tudo isto é que não se trata de uma situação individual, mas coletiva. É agora que nos é dada a oportunidade de nos colocar realmente a escutar e a discernir os sinais. Mas, não sozinhos, e sim, juntos. Talvez seja esta a diferença fundamental com respeito a Inácio de Loyola. Como aconteceu com ele, o desafio está em passar de um confinamento forçado a um distanciamento, livremente acolhido e carregado de presenças.

Dispomos de muitas ferramentas, entre elas, aquelas que o mesmo Inácio nos deixou, para converter este confinamento coletivo em um retiro partilhado, em Exercícios coletivos de discernimento e re-conversão. São muitos os apelos, as inspirações, os movimentos internos, as reações e os impulsos que estão em jogo. Santo Inácio, em seu leito de convalescente em Loyola, começou a dar nomes a tudo isso. Ali aprendeu a discernir e a decidir; ao sair de seu confinamento, não voltou à “normalidade” da vida, mas abriu-se ao novo, sonhando grande, ensaiando outros caminhos, indo ao encontro de um mundo em efervescência.

Que Santo Inácio nos inspire a viver este tempo como momento privilegiado para uma intensificação nas relações, para dar passos novos, para reinventar a vida e carregá-la de sentido.

 Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Ser aprendiz na escola de oração de Jesus

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj como sugestão para rezar o Evangelho do 17º. Domingo do Tempo Comum (Ano C).

“Senhor, ensina-nos a orar...” (Lc 11,1)

 

Na convivência com os “discípulos seus” Jesus foi transparente e presença marcante. Chamou-os para “ficar com Ele”, aprender d’Ele a serem testemunhas de seu Amor incondicional ao Pai e aos irmãos.

Entre os inúmeros desejos e aspirações que Jesus suscitou, uma foi a grande aventura de aprender a orar.

Jesus orava. Orava sozinho, orava com a multidão, e orava com os discípulos.

Às vezes no templo, outras vezes nas caminhadas da Galileia a Jerusalém; sempre orava a realidade iluminada pelo Projeto do Pai: mergulho íntimo e comprometedor.

S. Lucas nos revela que Jesus estava rezando num lugar solitário, afastado. O Pai-Nosso é oração de intimidade que só pode brotar do coração de Jesus num diálogo muito pessoal, filial, com o Pai.

Não é difícil reviver a cena do Evangelho: Jesus orando e os discípulos contemplando o Mestre em oração.

 

Esta prática do Mestre exercia sobre os discípulos um fascínio e um desejo de entrar por este caminho, totalmente novo. Na espontaneidade de aprendiz, um deles expressa o desejo do grupo e pede:

                        “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos”.

Os discípulos não perturbam a oração de Jesus, nem se aproximam d’Ele. Só quando Ele termina de orar é que alguém toma coragem para dirigir-lhe a palavra e fazer-lhe um pedido.

Eles, acostumados a viver com Jesus, sentiam que não sabiam orar, que não conseguiam concentrar-se no amor infinito de Deus, entrar no diálogo silencioso com o Pai, de Quem Jesus tanto lhes falava.

É este desejo de conhecer o Pai que anima os discípulos a pedirem para aprender a orar.

Pai-Nosso é a oração que Jesus deixou como herança aos seus seguidores. É a única oração que lhes ensinou para alimentar sua identidade de seguidores seus e colaboradores no projeto do Reino de Deus.

O Pai-Nosso nos des-vela, como nenhum outro texto evangélico, os sentimentos que Jesus guardava em seu coração. É a melhor síntese do Evangelho, a oração que melhor vai nos identificando com Jesus.

Desde muito cedo, o Pai-Nosso se converteu não só na oração mais querida pelos cristãos, mas na oração litúrgica que identificava a comunidade eclesial reunida no nome de Jesus. Por isso, ensinavam os catecúmenos a recitá-la antes de receberem o batismo.

Esta oração, pronunciada a sós ou em comunidade, meditada e interiorizada continuamente no coração, pode também hoje reavivar nossa fé e nosso compromisso em favor do Reino de Deus.

Com o Pai-Nosso estamos diante do segredo de Jesus comunicado aos discípulos e a nós, seus seguidores.

Jesus ensinou a orar, orando. Ele fez junto com os discípulos uma trajetória de oração; não só apontou o caminho, mas fez o caminho com eles. Conhecer sua oração é entrar no próprio movimento de seu desejo e, de certa maneira, participar de sua vida íntima e de seu espírito.

Jesus ensinava com a vida uma nova maneira de comunicar-se com o Pai.

E mergulhar na intimidade do desejo de Jesus é conhecer também o que este mesmo desejo d’Ele pode revelar a nosso respeito, conduzindo-nos ao mais profundo de nossa humanidade.

E o desejo que Ele expressa no Pai-Nosso nos revela que somos habitados por um “desejo infinito” que só o Infinito pode preencher. De fato, é preciso integrar em nós todas as dimensões de nossa condição humana (corporal, psicológica, espiritual). O desejo se enraíza em nosso corpo, atravessa nossa memória, afeta nosso psiquismo e se abre à Transcendência.

Pai-Nosso expressa bem estas dimensões do desejo porque manifesta o desejo do alimento, o desejo de liberdade, o desejo de ser capaz de perdoar, o desejo de ser libertado do sofrimento, o desejo de não se deixar levar pelas provações, o desejo de que reine em nós um outro espírito, que não reine sobre nós o peso de um “passado ferido” ... Todos estes desejos se expressam e se enraízam na humanidade de Jesus.

originalidade de Jesus, expressa na oração do Pai-nosso, tem dois aspectos principais. Em primeiro lugar, esta oração se dirige ao “Abbá”. Sabemos que Deus, para Jesus, é “Abbá”; sua oração não é dirigida friamente ao Todo Poderoso, ao Juiz universal, ao Senhor..., mas ao “Abbá”, carregado de afeto e calor humano. Também para nós: quando oramos, não somos escravos, temerosos, indignos..., mas filhos e filhas. Isto supõe uma inversão radical na imagem de Deus e de como devemos nos relacionar com Ele. Nossa relação com Deus Pai-Mãe, deve ser aquela de um(a) filho(a) com seu pai/mãe. Tal relação deixa transparecer a certeza e a segurança de sermos escutados e atendidos.

A segunda novidade do Pai Nosso está centrada no “nosso”. Jesus dá a cada um a possibilidade de dizer “nosso”, de entrar em relação com Aquele que “é” e que nos chama à existência.

Nós nos dirigimos ao Abbá de todos, sem exclusão. O Pai Nosso é uma oração que nos situa no horizonte da filiação divina e da fraternidade humana. É a oração dos filhos/as, dos irmãos/ãs. Aqui está o sentido pessoa e comunitário do Pai Nosso.

Por isso, a oração de Jesus é muito mais que uma grande oração de petição. É a síntese das relações de um ser humano com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a própria criação.

Porque, quando dizemos “Nosso Pai”, nós nos tornamos o lugar onde o universo toma consciência de si mesmo e, também, nos tornamos o lugar onde o universo reza.

A expressão “nosso” estende-se a toda a Criação, a tudo que vive e respira.

“Nosso” é uma expressão de recolhimento que reúne o mundo, que integra os diferentes níveis da realidade.

É a expressão que coloca o “eu” no centro do “nós”, lembrando-nos que, na presença da Origem, somos todos cor da argila, somos todos terrosos, mas habitados pelo “Sopro” do Pai.

Segundo São Paulo, nós mesmos não temos a coragem de chamar a Deus de “Pai bondoso”.

É o Espírito Santo quem põe nos nossos lábios a invocação que só Jesus tinha usado em sua oração.

Ou, mais exatamente, é o Espírito Santo que reza em nós com as mesmas palavras de Jesus (Gal. 4,6).

Pai-Nosso é a prece de Deus em nós. Dizer o Pai-Nosso é uma maneira de harmonizar nosso desejo, ainda disperso e superficial, com o desejo de Deus em nós.

Assim, tal oração nasce espontânea no coração de quem busca o Senhor, mas também é uma arte de diálogo com o Absoluto, que se aprende lentamente: “A oração é a arte de amar” (S. Teresa de Jesus). A vida transforma-se numa atitude de oração, onde tudo nos une ao Senhor e tudo vem dela como força e vida.


 

Texto bíblico: Evangelho segundo Lucas 11,1-13

 

Na oração:

O Pai-Nosso é uma caixa de segredos. É preciso abri-la.

- Calmamente, repasse e saboreie cada “palavra” dessa oração de Jesus; deixe que cada uma delas ilumine sua mente, abra sua inteligência, aqueça seu coração e se expresse como “moção” inspiradora e vivificadora.

- Abra sua interioridade para que esta oração vá lapidando todo o seu ser, como um escultor que fere o mármore em busca da sua obra-prima.



sábado, 19 de julho de 2025

O ativismo que nos seca por dentro

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj como sugestão para rezar o Evangelho do 16º. Domingo do Tempo Comum (Ano C).

“Marta estava ocupada com muitos afazeres” (Lc 10,40)

 

O evangelho deste domingo nos situa num ambiente familiar onde Jesus é acolhido na casa de suas amigas, Marta e Maria, em Betânia. Ele está cansado do caminho e sempre encontra nesta casa da pequena aldeia, próxima de Jerusalém, um lugar para descansar do caminho, repor as forças para continuar e recuperar a paz que, às vezes, perdia devido às dificuldades da missão.

Jesus “entra” naquela casa como o último dos peregrinos; mas, para as duas irmãs, Ele se torna o primeiro, o único, o centro, em torno de quem se reordenam toda a atenção e as outras ocupações.

A primeira intenção de Marta é ótima: acolher o Amigo. Mas, logo sua intenção primeira cede lugar às intenções secundárias, que, aos poucos, a envolvem e a afastam do essencial: hospitalidade do Amigo.

É como se a víssemos correndo de um lado a outro, talvez dedicando algum olhar ao hóspede ao princípio, mas à medida que passa o tempo, esse olhar revela-se distraído até se transformar em repreensão à sua irmã. O ir e vir, o afanar-se ofegante terminam por afastá-la da pessoa do Senhor.

Qual foi, então, o erro de Marta? O fato de não entender que a chegada de Jesus significava, principalmente, a grande ocasião que não se podia perder e, por conseguinte, a necessidade de sacrificar o urgente em favor do que é mais importante. Ela revela um comportamento dominante e possessivo. Envolve Jesus em uma embaraçosa discussão familiar. Impõe-se autoritariamente: “Mande que ela venha me ajudar”. Sobretudo, Marta busca, por todos os meios, chamar a atenção. O nome mesmo de Marta quer dizer “dona”, “senhora”, e ninguém se atreve a negar que se comporta como tal.

Marta representa um modelo de hospitalidade que carece da capacidade para “sair de si”; obriga o Amigo hóspede a entrar nos próprios esquemas, nos próprios ritmos, nos próprios desejos. É ela que decide o que deve agradar o hóspede. E não compreende que, ao invés de estar centrada no Mestre, está dispersa e perdida em suas coisas, as quais terminam por converter-se em algo intocável.

Marta fez muitas coisas para agradar ao Senhor, mas lhe negou a única da qual ele tinha necessidade: estar sintonizada n’Ele. Mas, Jesus se comportou com extraordinária delicadeza: admoestou-a e repreendeu com suavidade: “Marta, Marta...!”

O Mestre arranca Marta do plano do mero “fazer”, no qual ela desejaria envolver também sua irmã, e a impulsiona para o plano do “ser”.

Por outro lado, Jesus vê em Maria a mulher discípula, sintonizada com Ele e não dispersa em mil ocupações. Ele rompe com a tradição machista e inaugura uma condição nova para a mulher: ser sua discípula. Ele quer a mulher dedicada à única obra essencial, aquela que se encontra para além das múltiplas ocupações.

Jesus confirma Maria em sua opção fundamental, na atitude que, de modo intuitivo, ela tinha adotado. Consagra-a naquilo que é sua atitude prioritária: a atenção contemplativa, a escuta do Mestre. Nada deverá afastá-la desta presença des-centrada e gratuita

Maria acolhe o Mestre “a partir de dentro”, converte-se em tabernáculo d’Ele; brinda-o hospitalidade naquele espaço interior, secreto, que foi predisposto por Ele e que está reservado a Ele, a seu amor. Põe à disposição aquilo que o Senhor lhe pede, já que este espaço secreto foi criado, foi preparado por Ele e o adornou e consagrou justamente para este fim.

A diaconia feminina se alimenta do encontro e da escuta da pessoa de Jesus; o único e indispensável ministério feminino fundamenta-se na acolhida contemplativa da palavra de Jesus, em sua interiorização, no serviço da gratuidade.

Portanto, a “escuta” e o “serviço”, personalizados nas duas irmãs, não são alternativos, mas expressões da única e privilegiada relação com o Mestre.

A integração e harmonia entre as duas atitudes (escuta e serviço), é o caminho proposto pela dinâmica da espiritualidade cristã; ser “contemplativo na ação” ou “ativo na contemplação”, eis o equilíbrio difícil.

O que Jesus pede a Marta é amá-lo em seu serviço, como Maria o ama em sua atitude de escuta. Tudo o que se faz sem amor é tempo perdido. Tudo o que se faz com amor é eternidade reencontrada.

De fato, diante das preocupações, da agitação cotidiana, dos apegos, das “afeições desordenadas” ... a escuta e o encontro com o Outro e com os outros tornam-se praticamente impossíveis.

Tal situação nos faz prisioneiros da solidão, sentindo-nos abandonados, impotentes, sobrecarregados pelo ativismo vazio e sem sentido...

O ativismo produz, a princípio, a sensação de estarmos muito ocupados e o falso consolo de “sentir-nos úteis”. Mas, de fato, o ativismo nos converte em engrenagens de um sistema massacrante e acaba gerando frustração, impotência e vazio, falta de sentido (para quê? para quem?...).

 

Em sentido mais profundo, o relato deste domingo revela uma riqueza maior. A “única coisa necessária”, “a melhor parte”, que ninguém nos poderá tirar, é a compreensão daquilo que “somos”. O decisivo é “ser”, tanto na ação como na contemplação.

Diante da falta desta compreensão, podemos “multiplicar” nossas atividades e nossos serviços, mas sempre aparecerão a inquietação, a ansiedade, o nervosismo e, sobretudo, a queixa contra quem não age como nós.

Este é para nós o ativismo doentio que nos seca por dentro. Ativismo não é o mesmo que muita ação, pois a ação oblativa nos dirige para fora de nós mesmos e o ativismo nos faz ficar curvados e fechados em nós mesmos. “Contemplativos(as) no ativismo” é contraditório. Não há contemplação no ativismo, mas introspecção paralisante.

Para muitos cristãos, precisamente, a agitação, o ativismo frenético, os serviços múltiplos, as “demasiadas” exigências às quais se dedicam, constituem uma tática dispersante e defensiva que lhes servem para proteger-se das verdadeiras exigências, para não deixar que o hóspede os interpele, para fugir do compromisso cara a cara com Ele; em uma palavra, para esquivar-se do encontro.

A atitude contemplativa típica de Maria não se opõe ao serviço característico de Marta.

Na vida cristã não se trata de eleger entre Marta e Maria; elas representam duas dimensões de uma personalidade cristã que deveria tender a ser unitária, duas dimensões que deveriam estar sempre estreitamente unidas, harmonizadas, integradas. É preciso servir ao Senhor como fez Marta e é preciso escutá-lo como o fez Maria. Pode-se dedicar a diferentes coisas, mas sem perder de vista a única necessária: a centralidade na pessoa de Jesus Cristo.

Em qualquer caso, o relato deste domingo serve como advertência, pois a “dimensão Marta”, presente em nós, tende frequentemente a prevalecer, a dominar tudo, até o ponto de bloquear o espaço aberto à “dimensão Maria”. No episódio que nos ocupa, o que importa é não perder o momento, a ocasião. Em definitiva, não frustrar a relação pessoal com o Senhor. Trata-se de compreender a importância da hora e da ocasião oferecidas. É questão de sacrificar o urgente em benefício do importante.

Devemos estar de sobreaviso, de modo que a Marta cheia de tarefas, inquieta e agitada que carregamos dentro de nós não intervenha brutalmente profanando, molestando, reduzindo, interrompendo bruscamente a oração, cortando o contato vital com o Senhor.


 

Texto bíblico:  Evangelho segundo Lucas 10,38-42

 

Na oração:

Também nós precisamos habitar e saber habitar a nossa própria casa interior; só assim é possível reconhecer o Hóspede que em segredo a habita e a dignifica.

- No centro de sua casa interior está o Mestre ou está “Marta dispersa”?

- Na sua vivência do seguimento de Jesus, como integrar a “dimensão Maria” e a “dimensão Marta”?

sábado, 12 de julho de 2025

O samaritano que nos habita

 Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj como sugestão para rezar o Evangelho do 15º. Domingo do Tempo Comum (Ano C).

“Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas” (Lc 10,34)

 

Toda parábola apresenta-se como uma narrativa breve, de uma beleza especial, fácil de ser guardada na memória dos ouvintes, que podem continuar ruminando seu significado. Normalmente, quem a narra, não faz aplicações concretas, nem apresenta uma “lição de moral”; pelo contrário, deixa aberto o caminho para a criatividade daqueles que a escutam, para que tirem suas conclusões pessoais.

A parábola do “bom samaritano” é inspiradora para a construção de uma nova cultura comunitária, inclusiva e solidária. Nesta narrativa, além do legista curioso, há uma série de personagens e suas atitudes: um homem, os bandidos, um sacerdote e um levita, um samaritano, um dono de hospedaria, tudo determinado por um caminho de “descida” que esconde armadilhas para pessoas que seguem sozinhas pela vida.

A parábola de Jesus des-cobre, re-vela e des-vela uma doença que, no fundo, são os nossos estilos de vida, onde já não há mais lugar para o humano, não há lugar para o encontro, não há lugar para o transcendente, não há lugar para uma vida interior rica... Mesmo no campo religioso, tudo é cronometrado, tudo é apressado. Carecemos de uma vida mais intensa de relações, de proximidade, de abertura ao diferente.

Muitas vezes estamos fisicamente próximos uns dos outros e, ao mesmo tempo, completamente ausentes, frios, insensíveis; outras vezes encontramo-nos e só esbarramos uns nos outros; somos ilhas e não uma comunidade compassiva. O desafio é restabelecer os vínculos humanos de proximidade e de acolhida, do outro, sobretudo aquele que é diferente e que está estendido à beira da estrada da vida.

Na sua essência, o ser humano é um “ser de relações”, está comprometido com os outros; por sua própria natureza, ele se torna pessoa humana somente em interação com os outros; ele possui impulsos naturais que o levam em direção ao convívio, à cooperação, à comunhão...; ele é reserva de humanidade, de compaixão, de bondade... que se expressa numa vida comprometida com a dignidade humana.

Vive-se continuamente em contato com o “outro”. E o outro é pessoa; o outro revela certa magia, ao mesmo tempo sedutor e enigmático; o outro é plural, apresenta múltiplos rostos; é diferente, inédito...

O relato da parábola deste domingo apresenta um doutor da lei, ou seja, um personagem considerado “justo” no imaginário da época, que faz a Jesus a única pergunta verdadeiramente importante: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?”  Lucas utiliza um termo preciso, “herdar”: trata-se de um bem que não é merecido, mas, como a herança, só pode ser recebido.

Jesus, como bom pedagogo, não responde diretamente à pergunta, mas convida o próprio interlocutor a encontrar a resposta. E, de fato, o doutor da lei é perfeitamente capaz de fazê-lo, unindo dois textos da Torá: a vida é herdada quando se ama a Deus e o próximo.

Diante da nova pergunta – “E quem é o meu próximo?” – Jesus responde apresentando uma cena da vida bem conhecida. A estrada entre Jerusalém e Jericó era um lugar muito perigoso para quem se aventurava sozinho, e não raramente, caia em ciladas e emboscadas, colocando-se em risco a própria vida.

O primeiro personagem da parábola não possui características particulares; ele é um “homem”; nenhum esclarecimento sobre linhagem, filiação religiosa ou moralidade. A única característica sobre a qual Jesus insiste é que este homem foi vítima de violência e que morrerá se não encontrar ajuda.

Em seguida, Jesus apresenta dois personagens que, por acaso, se deparam com o infeliz. E aqui o texto deixa claro a identidade deles: são pessoas respeitáveis, religiosas, um sacerdote e um levita; ambos têm a mesma reação: passam adiante. A filiação religiosa e a capacidade de viver a fraternidade não coincidem.

Por fim, entra em cena um personagem que não tem nada de atraente, ele é um samaritano, pertencente a um povo desprezado pelos judeus porque se corromperam unindo-se a outros povos e às suas tradições, negando a fé dos seus pais.

A parábola do samaritano pode ser iluminada por aquela exortação/súplica de Jesus: “eu quero a misericórdia e não sacrifícios” (Mt 12,7) e que aponta para dois modos de conceber e viver a religião (a relação com Deus e com o outro); uma, vivida com o coração voltado para os miseráveis (cor-miser) e a outra centrada no culto e nas leis. E recordemos que Jesus conta a parábola quando lhe é perguntado sobre o essencial para herdar a vida eterna. A urgência de atender alguém que jaz prostrado à beira do caminho não pode ser esvaziada por nenhuma desculpa possível, por mais “religiosa” que seja: o sacerdote e o levita não ficam justificados, porque não têm justificativas válidas aos olhos de Jesus. Ambos chegaram pontualmente ao Templo, mas estavam vazios, porque Aquele a quem buscavam jazia, agonizando, à beira do caminho.

A religião cristã não se define por seus dogmas, doutrinas, ritos, leis..., mas por se “fazer próxima” de quem

está à margem. Implica entrar no fluxo da “proximidade” de Deus, que rompe as distâncias e vem ao encontro de todo ser humano. Deus tem mais facilidade de se fazer próximo através das feridas, fracassos...

Se Jesus disse que quem passou ao largo foram um sacerdote e um levita, os profissionais da religião, o que na realidade está dizendo é que a religião, muitas vezes, desvia a atenção e o interesse das pessoas, fixando-se em normas, ritos, sacrifícios que não alimentam uma sensibilidade solidária para com aqueles que são vítimas e estão à beira das estradas; com isso, a prioridade da religião é justificada sobre qualquer outra coisa, mesmo que seja a vida ameaçada, a injustiça sofrida, a dor humana extrema.

Por isso, tantas vezes, o centro de atenção dos “encarregados” da religião está no culto sagrado, na adoração a Deus, que, na lógica deles, são práticas que devem estar acima daquilo que é meramente humano.

No entanto, para Jesus, a necessidade humana vem antes da observância religiosa; esta, só tem sentido quando é expressão de uma presença compassiva e quando mobiliza as pessoas a se aproximarem e se comprometerem com as vítimas, ou seja, os excluídos, os feridos e desamparados.

Toda parábola tem também uma ressonância em nosso interior e os seus personagens são nossos espelhos; neles, nos vemos. Na parábola do “bom samaritano”, somos todos os personagens ao mesmo tempo. Eles nos habitam. Somos todos caminhantes e no caminho nos encontramos com pessoas feridas, isoladas, abandonadas por pessoas, pelo sistema, pela religião... Com qual deles nos identificamos? Qual deles queremos ser de verdade, para além da nossa função e da nossa autoimagem?

No fundo só seremos samaritanos se nos tornamos próximos, irmãos, compassivos. Só seremos o que somos de verdade se acompanhamos o ferido. Pois, todos somos caminhantes e companheiros de caminho. Cada um vai por seu próprio caminho, é verdade e assim deve ser; mas todos os nossos caminhos, por mais diferentes que sejam, se cruzam um dia, a cada passo, em cada palmo de terra comum. A vida de todos é a mesma vida. O Espírito que nos habita e nos faz viver é o mesmo que atua em tudo e em todos.

Só respiraremos se nos deixarmos inspirar, alentar, levar pelo espírito universal da luz e da compaixão, o espírito do consolo e da esperança. E só então poderemos romper nossos próprios isolamentos, sanar nossas próprias solidões e feridas, exercitar nossa solitude sanadora, nosso ser solidário.

Em chave de interioridade, o encontro com o “samaritano” desperta o nosso ser samaritano; é preciso deixar que ele transite pelas dimensões feridas de nossa existência. Há muitas situações prostradas em nosso “eu interior”: feridas, fracassos, traumas, crises, sentimentos feridos... que não foram acolhidos e nem inte-grados. Nosso ser samaritano, portador do óleo de vida, vai ungindo e aliviando nossos feridos, acolhendo-os na hospedagem de nossa existência.

Quem ativa seu ser samaritano e transita pelos caminhos da exclusão interior, também sentirá despertar uma sensibilidade solidária para com aqueles que estão prostrados à margem da vida.

Texto bíblico: Evangelho segundo Lucas 10,25-37 

Na oração:

- Como reajo frente à surpresa e aos imprevistos da vida? Em quê situações passo ao largo, e por quê?

- Em que sou parecido ao sacerdote e ao levita?

- Que traços do bom samaritano os outros poderão descobrir em meu comportamento? Em quê projetos solidários estou colaborando atualmente?

- Tenho muitas tarefas a realizar, demasiados compromissos que não deixam espaço à gratuidade nem à surpresa inesperada e incontrolável?

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Itinerância comprometida com a vida e a paz

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj como sugestão para rezar o Evangelho do 14º. Domingo do Tempo Comum (Ano C).

“Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘a paz esteja nesta casa!’” (Lc 10,5)

 

No Evangelho deste domingo Lucas recolhe um importante discurso missionário de Jesus, dirigido não mais aos Doze, mas a outro grupo numeroso de discípulos, o qual envia para que colabore com Ele em seu projeto de instauração do Reinado do Pai. As palavras de Jesus constituem uma espécie de carta fundacional onde seus seguidores devem alimentar sua missão evangelizadora.

Jesus “designou discípulos” e não “escolheu”. Designar é nomear para uma função; “desígnio” = intenção, propósito, vontade. Designar 72 discípulos significa que Jesus já os tinha no próprio coração; não foi uma escolha aleatória. Ele designa as pessoas que conviveram com Ele e se deixaram impactar pelo seu modo original de ser e agir.

Jesus envia seus discípulos de “dois em dois”; por que esta insistência em fazer o caminho ao menos junto a outro? Para os judeus, a opinião de um só não tinha nenhum valor em um juízo, e os missionários são, sobretudo, testemunhas. Também, porque a mensagem deve ser proclamada sempre em comunidade.

É preciso ir “de dois a dois”, ou seja, dispostos a caminhar com outros, a comportar-se como cúmplices e companheiros, a negociar metas e compartilhar itinerários, convencidos de que o individualismo já cadu-cou; ajudam-se um ao outro, se sustentam e se apoiam mutuamente.

É importante destacar que há um dado constante em todos os relatos de envio: a casa, como lugar preferencial para os discípulos missionários. E isso não é estranho. É certo que Jesus ensinou nas sinagogas; no entanto, Ele preferia muito mais ensinar a campo aberto, indo pelos caminhos, atravessando vilas e povoados, aproveitando as travessias do Lago de Genesaré... Mas, sobretudo, Ele ia aonde homens e mulheres realizavam suas atividades comuns, no simples contexto do trabalho cotidiano e, de maneira privilegiada, nas casas, começando, desde logo, pela sua própria casa. A casa acaba sendo o espaço alternativo que se adequava melhor à atuação do Mestre, enquanto sua pregação acontecia na itinerância.

A Boa Notícia de Jesus deve ser comunicada com respeito total, a partir de uma atitude amistosa e fraterna, contagiando a paz. É um erro pretender impô-la a partir de uma pretensa superioridade, de ameaça ou de ressentimento. É ante evangélico tratar sem amor as pessoas só porque não aceitam a mensagem. Mas, como vão aceitá-la se não se sentem compreendidas por aqueles que se apresentam em nome de Jesus?

Em primeiro lugar, Jesus convida seus discípulos e a nós a viver em atitude de saída, de encontro com o outro. Ele não funda uma religião onde as pessoas se fecham no ritualismo, no culto, na doutrina, vivendo uma auto-referência e um narcisismo doentio. Jesus move aqueles que o seguem a saírem de si mesmos para se deixarem contagiar pelos outros. Aqueles que vivem fechados em si mesmos não sabem escutar o clamor e os gemidos dos outros e acabam se tornando insensíveis e incapazes de viver uma presença solidária.

Jesus convida a romper distâncias e suspeitas para viver uma proximidade acolhedora com o outro; é preciso viver em situação de saída para que entre o diferente, a novidade, o surpreendente... Citando o poeta Rilke, o ser humano deve viver em situação de despedida.

Infelizmente temos esquecido que “ser cristão” é “seguir” Jesus Cristo: mover-nos, dar passos, caminhar, construir nossa vida seguindo suas pegadas. Nossa vivência cristã, muitas vezes, se restringe a uma fé teórica e inoperante ou se fecha numa prática religiosa rotineira e vazia; não transforma nossa vida em seguimento de Jesus.

Seguir Jesus Cristo é aderir a Ele incondicionalmente, é “entrar” no seu caminho, recriá-lo a cada momento e percorrê-lo até o fim. Seguir é deixar-nos con-figurar”, isto é, movimento pelo qual nossa vida vai sendo modelada pelo modo de ser e viver de Jesus.

Jesus não nos chama para seguir uma religião, uma doutrina, nem fazer proselitismo... Ele desencadeia um movimento de vida e nos convoca a segui-Lo, ou seja, identificar-nos com Ele e com a causa do Reino.

O horizonte do chamado e do envio não é outro que o compromisso em favor da vida e das pessoas, frente àquelas forças que tendem a travar e danificar a mesma vida. A partir desta perspectiva, a “missão” pode reencontrar seu verdadeiro sentido. Enviados(as) em favor da Vida, seus(suas) seguidores(as) sabem muito bem qual é o encargo que Jesus lhes confia. Nunca O viram governando a ninguém; sempre O conheceram curando feridas, aliviando o sofrimento, regenerando vidas, destravando os medos, contagiando confiança em Deus. O que Jesus sempre quis foi “discípulos/as” que lhe “seguissem”, ou seja, que vivessem como Ele viveu: dedicados a curar enfermidades, aliviar sofrimentos, acolher as pessoas mais perdidas e extraviadas, pacificar as relações. Assim nasceu o “movimento de Jesus”.

É preciso sair dos limites conhecidos; sair de nossas seguranças para adentrar-nos no terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo...

É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novos encontros, novas experiências... Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode nos enriquecer...

A vida está cheia de possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, lições que aprendemos e nos fazem um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples...

“Sede itinerantes”: este é o apelo que brota do modo de viver que Jesus elegeu quando se dedicou a proclamar sua Boa Notícia e aliviar o sofrimento humano. Ele não tinha templo, não tinha casa, não tinha onde reclinar a cabeça... Este desapego de todo tipo de segurança é a atitude básica e fundamental que todo(a) discípulo(a) deve adotar. O anúncio não pode ser realizado em lugares fechados ou sentados numa cátedra. Seguir Jesus exige uma dinâmica continuada. Nada pode ser comunicado a partir de uma cômoda instalação pessoal. A disponibilidade e a mobilidade são exigência básicas da mensagem de Jesus.

Mesmo que, com frequência, esqueçamos desse apelo de Jesus, a essência da Igreja está marcada pela mística do envio. Por isso, é perigoso concebê-la como uma instituição fundada para cuidar e proteger uma religião. Ela não foi fundada para preservar ritos arcaicos, doutrinas estéreis, normas vazias... Ela é um “corpo” para a missão; responde melhor ao desejo original de Jesus quando a Igreja é imagem de um movimento profético que caminha pela história, segundo a lógica do envio: saindo de si mesma, comprometendo-se com os outros, levando ao mundo a boa notícia de Deus. “A Igreja não está aí para si mesma, mas para a humanidade” (Bento XVI).

Por isso, é tão perigosa a tentação de viver na retaguarda, centrados em nossos próprios interesses, nosso passado, nossas conquistas doutrinais, nossas práticas e costumes “religiosos”. Pior ainda é quando fazemos isso petrificando nossa relação com o mundo.

Que é uma Igreja rígida, paralisada, fechada em si mesma, sem profetas de Jesus e sem portadores da Boa Notícia da vida e da paz.

Texto bíblico: Evangelho segundo Lucas 10,1-12.17-20

Na oração:

Diante de Jesus, que “passa e chama” a todos, responda: como você vive, hoje, sua missão no trabalho, no seu ambiente, na sua comunidade? Que sentido você quer dar à sua própria vida?... em quê gastar suas forças, capacidades? Como viver, no seu cotidiano, sua vocação de discípulo(a)-missionário(a)?

- Sua comunidade cristã está mais próxima do “movimento de Jesus” ou vive “formatada” pelo peso de uma religião fechada, desencarnada e descompromissada?