segunda-feira, 6 de abril de 2015

Páscoa Feliz

Feliz Páscoa, caríssimos!!
Tenho que reconhecer que infelizmente nem para todos parece ser uma Feliz Páscoa. Muitos ainda sofrem, são humilhados e pisados. Tantas situações assustadoras ocorrem (como o assassinato de uma criança de 10 anos pela força do próprio Estado) que uma grande falta de esperança no próprio ser humano cresce. Vivemos tempos de total niilismo e descrença. Não obstante, algo me chama a atenção na narrativa da paixão e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo: a falta de esperança que tomou de conta dos corações daqueles homens e mulheres que o acompanharam desde a Galileia até Jerusalém. 
Sim! Antes de verem o Senhor ressuscitado, as trevas tornou-se uma possibilidade concreta. Pedro estava desesperado por ter negado o Senhor. Um dos 12 traiu o seu mestre. As mulheres que permaneceram juntas a Jesus até o Calvário estavam em completa desolação. A Boa Nova, as promessas do Reino de Deus e a mensagem do amor simplesmente pareciam ter fracassado. Tudo morreu na cruz. Mas, curiosamente, todos os Evangelhos começam a narrativa da ressurreição apresentando uma imagem: o túmulo vazio. 
A primeira reação das mulheres quando o veem assim é correr para contar. Pedro e o discípulo que Jesus mais amava também correm para ver se é verdade. "Eles viram e acreditaram". De fato, eles ainda não sabiam que o Senhor tinha ressuscitado. Ao contrário, a cena apenas refletia o vazio de suas vidas. Mas é justamente no vazio, caros irmãos e irmãs, que a vida se realiza. É bonito ver que o vazio perpassa todos os quatro Evangelhos, seja na consolação, seja na desolação. A experiência do nascimento de Jesus passa pelo esvaziamento de Deus para se encarnar e daqueles que estavam a volta, Maria e José. 
O sermão da montanha e os milagres são palavras e gestos que preenchem o vazio físico e espiritual de cada homem. A ressurreição é a plenitude ocorrendo no vazio existencial humano. Depois de verem o túmulo vazio, os discípulos voltam a se reunir e ficam juntos escondidos com medo dos judeus. Mas o Senhor começa agora a aparecer ressuscitado para os seus. O sepulcro vazio torna-se pleno e ganha um sentido. Qual o primeiro gesto de cada um deles? Correr para anunciar. A esperança novamente surge em seus corações. 
É interessante perceber que a postura dos discípulos não é de confiança em outros homens, mas sim uma confiança em Deus e na esperança que brota em suas vidas. E isso se manifesta em algo tão grande quanto, que é o desejo de uma vida nova. Na verdade, o sentimento de abandono e descrença decorrente da morte de Jesus aparece, dentre outras coisas, porque a vida nova em forma de desejo parece ser algo impossível de se realizar. Mas a ressurreição ocorre justamente no desejo de uma vida nova. 
Temos assim, amados irmãos e irmãs, um grande sinal: enquanto existir em você o desejo interior de um mundo mais fraterno e justo, mesmo que tantos outros pareçam ser egoístas, ainda há a esperança. E o desejo de uma vida nova somente existe porque você e tantos outros são afetados pelo egoísmo humano e a falta de um olhar para o próximo. 
Que Deus é esse que permanece em silêncio diante de tanta injustiça e violência? Não, ele não está em silêncio. Ele está falando no interior do seu coração, nos seus desejos de uma nova vida que aparentemente parecem ser irrealizáveis. 
A ressurreição é o grande sinal da esperança e ela somente pode ocorrer em nossas vidas quando dirigimos primeiramente um olhar para os nossos desejos mais bonitos e puros. Sem isso, a descrença sempre permanecerá e o sepulcro vazio nem ao menos será visto. Desconsiderar os próprios desejos mais belos seria até mesmo deixar de acreditar em si enquanto pessoa e ser humano. Já houve tempo em que os homens riam ao escutar falar de justiça, amor ao próximo (incluindo até os inimigos), sensibilizar-se com o outro. Todavia, muito já foi conquistado em nosso mundo. Sejamos como esses homens e mulheres que acompanharam o Senhor. 
Olhemos para os nossos desejos mais puros e altruístas. Corramos para anunciar que ainda há esperança!! Eu poderia falar da promessa do Reino que a ressurreição concretiza (ou o próprio Cristo ressuscitado enquanto realidade)! Não obstante, eles não podem ser nem ao menos vislumbrados sem antes olharmos para os próprios afetos e nosso interior, transformando o vazio marcado pela descrença em um vazio que é condição para a plenitude. 
Assim como na celebração de sábado santo que começa com o Círio Pascal (foto abaixo) sendo aceso na fogueira em meio à escuridão, busquemos acender os pavios de nossos corações com o fogo, mesmo que seja pequeno, que ainda existe em nossos bons desejos. 


Sejamos homens e mulheres espirituais e encontremos a alegria dentro de nós para sermos também imitadores do Redentor! Boa semana a todos!

Texto de Hugo Estevam Moraes de Sousa, Mestre e Doutorando em Filosofia (IFCS/UFRJ)

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