domingo, 12 de fevereiro de 2017

A Justiça do Reino

Apresentamos a seguir o texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj (Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI), como sugestão para rezar o  Evangelho do 6º. domingo do Tempo Comum (Ano A).

“Se a vossa justiça não for maior que a dos mestres da Lei e dos fariseus...” (Mateus 5,20)

É uma beatitude ter dentro de nós o desejo de um mundo melhor, no qual haja justiça para todos. Esse desejo jamais se dará por terminado. Há aí uma tarefa sem fim.
A justiça não é uma virtude como as outras; é o horizonte de todas. Todo valor a supõe e toda a humanidade a requer.

A palavra “justiça” evoca, em 1º lugar, uma ordem jurídica (“jus”, em latim), o respeito à lei. A noção moral é mais ampla: a justiça dá a cada um o que lhe é devido.Mas, no sentido bíblico, “ser justo” é “ajustar-se” ao modo de ser e de agir de Deus.

Justiça, então, é integridade do ser humanomisericórdia, bondade e santidade de Deus... Justiça é a sabedoria posta em prática e ensina temperança, prudência ecoragem...

Para os judeus, a justiça é um empenho apaixonado em favor do direito das pessoas. justiça entra em cena nas relações entre Deus e o seu povo, e entre os homens. Ela está presente nos campos jurídico, social, ético e religioso. Ela significa mais agir do que ser.

justiça divina é vista como “a mais sublime bondade” ou uma “força que salva”, é o amor aberto e libertador.

No NT, a “justiça do Reino” se exprime na maneira na forma de proceder com os outros. É uma justiça que radicaliza a nossa vida e nos faz participar já do Reino messiânico. A nova justiça é, antes de tudo, uma exigência de amor entre as pessoas.

Jesus recupera o sentido e o espírito da Lei e não a interpretação casuística. A Lei é mediação para expandir-se em direção aos outros e a Deus. Nela mesma, não tem sentido, desumaniza. É legalismo. Quando a Lei nos abre aos outros ela se revela humanismo; do contrário, cai-se no farisaísmo.

A preocupação de Jesus não era as minúcias da Lei, mas a prática do amor misericordioso, de modo especial em relação aos pobres e marginalizados. Na vivência do amor não podemos descuidar nem da menor lei. Quando estava em jogo a defesa da vida, Jesus não transigia.

Na relação com os outros somos chamados a ir além da Lei. A lei estipula limites; o amor, pelo contrário, não tem limites.

Quando alguém busca a vontade do Pai vai sempre além do que pedem as leis. Para construir o mundo mais justo e humano, que Deus deseja para todos, o importante é contar com pessoas que se pareçam com Ele. A prática da justiça é infinitamente superior à lei.

Quem ‘não mata’, cumpre a lei, mas se não arranca de seu coração a agressividade, o desprezo, os insultos e as vinganças, não se parece com Deus. Aquele que não comete adultério cumpre a lei, mas se deseja egoisticamente a esposa de seu irmão, não se assemelha a Deus. Nestas pessoas reina a Lei, não Deus; são observantes, mas não sabem amar; vivem “corretamente”, mas não construirão um mundo mais humano.

A radicalidade exigida por Jesus aponta para o coração. O texto insiste em priorizar a reconciliação antes de fazer a oferenda no altar. Primeiro a justiça, depois o culto.

E essa interioridade, por sua vez, se expressa no modo de olhar, de agir. É preciso arrancar do coração o olhar possessivo, e a ação egoísta. Segundo a mentalidade oriental, olho direito é o olho consciente, masculino, que domina, avalia e julga, é o olhar do avarento que deseja possuir tudo.
O olho esquerdo é o olho inconsciente, feminino, que aceita, admira, observa e percebe.

A mão direita é a mão do realizador, daquele que se julga capaz de conseguir tudo que deseja; a mão esquerda é a mão feminina, carinhosa, que toca e cura.

Aquele que vê tudo só com seu olho direito, que se apodera de tudo, alimenta uma divisão interior e acaba criando seu próprio inferno e caos interior. Aquele que pensa que pode controlar tudo com sua mão direita, reprime muitos impulsos oblativos e abertos de seu coração, e acabará lançado no fogo de suas regiões reprimidas.
O decisivo é integrar e harmonizar os dinamismos interiores para que o seguimento de Jesus não desemboque numa batalha interior que desgasta e alimenta sentimentos de culpa.

Texto bíblico: Mateus 5,17-37

Na oração:
– A oração do tato é a oração de um corpo que não se apega avidamente, que não se fecha ao outro.
– Tocar a Deus ou deixar-se tocar por Ele não é sentir-se esmagado, mas sentir-se cercado de espaço. A oração é um estreitamento que nos torna livres. Não oramos com os punhos fechados, nem com garras, nem com aguilhão na ponta dos dedos. Só se pode orar com as mãos abertas…

– Diante de Deus, deixar aflorar os sinais de “farisaísmo” presentes no seu cotidiano.

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