terça-feira, 27 de julho de 2021

Pão que Desperta outras Fomes

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ (Centro de Espiritualidade Inaciana), como sugestão para rezar o Evangelho do 18º Domingo do Tempo Comum (Ano B). 

“Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35) 

Depois da multiplicação dos pães, Jesus, ao perceber que o povo não tinha entendido nada do que acontecera, pois tentava fazê-lo rei, retirou-se a uma montanha, sozinho. A multidão ficou satisfeita por ter se alimentado; ela segue Jesus por aquilo que Ele pode dar. No entanto, a identificação com Ele e seu projeto passa longe. Seus interesses vão em sentido contrário à atitude de Jesus de despertá-la para a compaixão e a partilha. Jesus ensina como repartir, isto é, como as pessoas precisam ser umas com as outras.

Jesus empenha-se por uma nova humanização, onde as pessoas possam ser livres, mas elas preferem continuar dependendo de outro (rei). Enquanto as pessoas buscam alguém que se responsabilize por elas, Jesus ensina a responsabilidade mútua, a corresponsabilidade. A abundância de alimento é graça de Deus, mas é igualmente empenho de cada pessoa e de todas juntas.

A solução para uma nova humanidade não é o dinheiro, o poder, o domínio ou um milagre externo, mas saber compartilhar tudo com todos. O problema não se soluciona comprando, o problema se soluciona compartilhando. A verdadeira salvação não está em que alguém solucione nossos problemas, nem sequer em ajudar a solucionar todos os problemas dos outros. A verdadeira liberdade está em superar o egoísmo e estar disposto e dividir com os outros o que cada um tem e o que cada um é.

“Não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas do mundo, mas diante dos problemas do mundo temos nossas mãos” (Congresso de jovens latino-americanos).

No entanto, segundo o relato de João, a multidão continua buscando a Jesus. Há algo n’Ele que a atrai, mas ainda não sabe exatamente por que o busca nem para quê. As pessoas começam a intuir que Jesus está lhes abrindo um novo horizonte, mas não sabem o que fazer, nem por onde começar.

“Do outro lado do mar” Jesus começa a conversar com elas. Há coisas que convém aclarar desde o princípio. O pão material é importante. Ele mesmo lhes ensinou a pedir a Deus “o pão de cada dia” para todos.

Comer nunca significa um mero ato biológico de ingerir alimentos; é sempre um ato comunitário e um rito de comunhão. À mesa, onde se parte o pão do Senhor, o cristão aprende a partir e a partilhar o “pão de cada dia” com os outros.

Além disso, o pão que comemos esconde toda uma rede de relações anônimas; antes de chegar à mesa, ele passou pelo trabalho de muitos braços; há muitas lágrimas e suores escondidos em cada pão, como também há muito de solidariedade e partilha.

Portanto, o pão que é produzido junto deve ser repartido junto e consumido junto. O Senhor resgata em nós a fome e a sede mais profunda de encontro, partilha e vida.

A mesma necessidade básica nos iguala a todos; a satisfação coletiva nos confraterniza. Só então podemos, verdadeiramente, pedir: Senhor, dá-nos sempre desse pão”.

A conversa de Jesus com o povo, com os judeus e com os discípulos é um diálogo bonito, mas exigente. Jesus procura abrir os olhos do povo para que aprenda a ler os acontecimentos e descubra neles o rumo que deve tomar na vida. Pois não basta ir atrás de sinais milagrosos que multiplicam o pão para o corpo. Não só de pão vive o ser humano. A luta pela vida sem uma mística que inspira, não alcança a raiz do próprio ser.

Enquanto vai conversando com Jesus, o povo fica cada vez mais contrariado com as palavras dele. Mas Jesus não cede, nem muda as exigências. O discurso parece um funil. Na medida em que a conversa avança, é cada vez menos gente que sobra para ficar com Ele. No fim só sobram os doze, e nem assim Jesus pode confiar em todos eles. Esse é o eterno problema da vida cristã: quando o evangelho começa a exigir compromisso, muita gente se afasta; quando se trata de seguir e se identificar com uma Pessoa (Jesus), muitos se refugiam na doutrina, no legalismo, no ritualismo..., vivendo um seguimento estéril.

O dinamismo do seguimento é gerar vida, fazer o(a) discípulo(a) viver a partir da verdade mais profunda de si mesmo(a); ou seja, viver a partir do coração, do “ser profundo”.

“Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”.

No gesto da multiplicação dos pães se condensou todo o caminho de Jesus: vida doada na luta contra todo tipo de sofrimento e fome, na mesa partilhada onde as relações humanas alimentam a fraternidade do Reino. Aqui se conecta a essência da Vida de Jesus com a vida dos seus seguidores.

Para a mentalidade bíblica, o pão é um dos sinais primordiais da graça e do amor com que Deus nos sustenta e nos protege. Diante do pão estamos face a uma realidade santa. O pão é tratado com respeito e veneração. O pão é santo porque está associado ao mistério da vida que é sacrossanta.

Em cada pedaço de pão há mais presença da mão de Deus do que da mão do ser humano.

Para o cristão o pão é ainda mais santo porque simboliza a reconciliação final de todos no banquete definitivo do Reino; o pão carrega a promessa de uma plenitude de vida.

O “pão do Reino” já se antecipou e é Jesus mesmo em sua vida e mensagem; Jesus continua presente na história e na vida de cada um através do “pão eucarístico”, alimento dos peregrinos rumo à pátria celeste.

Somos eternos insatisfeitos; nunca nos saciamos de pão e milagres; queremos mais e mais. Isso nos revela que nosso interesse é ter vida assegurada e o estômago cheio.

Esta realidade nos leva a perguntar: que pão nos sacia?

Porque há pães que, enchendo o estômago, nos tiram a liberdade. São pães repartidos em escravidão, pães seguros com sabor de suor e lágrimas; pães de Egito, pães que dão a falsa sensação de saciedade.  

Há pães que nos despertam para confiar em Deus; são pães que chegam providencialmente e de maneira gratuita. Aparecem quando menos esperamos e tem o sabor do caminho e do encontro.

Para qual pão trabalhamos? Ou ainda, a partir de onde pedimos pão? A partir da segurança e da escravidão ou a partir da insegurança e da confiança?

Jesus se apresenta a nós como o alimento que não perece. Buscá-Lo é descobrir o que Deus quer de nós e agradecer o que nos dá para o caminho. Quem o rejeita fica atado aos pães deste mundo que exigem fadiga, competição e escravidão. Quem o aceita, liberta-se dos tempos e espaços e se sacia de confiança.

Que pão buscamos? Que pão desperta outras fomes em nós?

 “O que é que nutre realmente o nosso ser essencial?”

“Não somente o nosso corpo, não somente nosso psiquismo, não somente nossa afetividade, mas o que é que nutre aquilo que não morrerá em nós?”

“O que é que nutre a eternidade em nós?”

“O que é verdadeiramente nutritivo? O que é que nutre a nossa identidade?


 

Texto bíblico: Jo 6,24-35

Na oração:

Não é possível reconhecer o Corpo do Senhor presente na Eucaristia se não se reconhece o Corpo do Senhor na comunidade onde alguns passam necessidades. Pois, se fechamos os olhos às divisões e às desigualdades mentimos ao dizer que Cristo está presente na Eucaristia.

Enquanto não nos mobilizamos a mudar nossa sociedade de maneira que mais pessoas aceitem a alegria de compartilhar o pão e a vida, faltará algo em nossa Eucaristia. Essa “ferida” o cristão deve sempre tê-la presente.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

O gesto de partilha de um menino

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ (Centro de Espiritualidade Inaciana), como sugestão para rezar o Evangelho do 17º Domingo do Tempo Comum (Ano B). 

“Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes” (Jo 6,9)

 

Do pão de trigo ou cevada para o pão do sentido de vida doada; do alimento de cada um para a circularidade do alimento partilhado, em pequenos grupos, sem templo, na gratuidade e frugalidade...

Este é o sentido do texto joanino, proposto para este domingo.

De todos os gestos realizados por Jesus, durante sua atividade profética, o mais recordado pelas primeiras comunidades cristãs foi, seguramente, uma refeição multitudinária, organizada por Ele no descampado, nas proximidades do lago da Galileia. É a única cena relatada em todos os evangelhos.

O conteúdo do relato é de grande riqueza e cheio de simbolismo. Seguindo seu costume, o evangelho de João não o chama “ milagre”, mas “sinal”. Com isso nos convida a não ficarmos nos fatos externos que são narrados, mas descobrir, a partir da fé, um sentido mais profundo.

Longe do templo e das autoridades judaicas, seguido por uma multidão, Jesus sinaliza para uma Páscoa centrada na pessoa dele, aberta a um processo de partilha, comunhão e retorno de vida abundante para todos. O congraçamento de Israel, durante a festa da Páscoa, no Templo, é substituído pelo congraçamento em torno a Jesus, no lugar onde Ele estiver, com a multidão que o segue.

Mas, enquanto a Páscoa no Templo favorece os controladores dele, a Páscoa em torno de Jesus favorece e engrandece a todos.

Jesus ocupa o lugar central na cena; ninguém lhe pede que intervenha. É Ele mesmo que olha, intui a fome daquela multidão e ativa a necessidade de alimentá-la. Como alimentar tanta gente no meio do descampado? Os discípulos não encontram nenhuma solução. Felipe diz que não se pode pensar em comprar pão, pois não têm dinheiro. André sugere que se poderia partilhar o que havia, mas só um menino tem cinco pães e dois peixes. Que é isso para uma multidão?

Segundo João, enquanto Filipe justifica a impossibilidade de solução, André procura uma alternativa e se depara com cinco pães de cevada e dois peixinhos nas mãos de um menino. Filipe ocupa seu tempo e sua inteligência em buscar justificativas para o impasse e desculpas para não ser responsabilizado.

André, no entanto, encara a realidade e se ocupa na busca de solução. Encontra um sinal. Há pão, é de cevada, não de trigo, é pouco, mas o menino, pessoa que está começando a vida agora, coloca à disposição.

Naqueles vastos campos da Galileia, Jesus propõe a grande mesa da comunhão universal, a mesa “fora dos templos” que inclui a todos, sem distinção. O gesto da benção instaura o horizonte da partilha, em que os alimentos são destinados à necessidade de todos, por meio da co-responsabilidade dos participantes no banquete da Criação, sobre cuja mesa Deus preparou pão em abundância para todos.

Todos acompanham com atenção os gestos de Jesus: coração em ação de graças, olhos fixos, ao mesmo tempo, no pão, enquanto o parte, e na multidão ao seu redor. Primeiro dá graças à Fonte da vida. Segundo, contempla o pão, fruto da terra e do trabalho de muitos homens e mulheres, que deve ser partido e compartilhado. Terceiro, convida a repartir e assegura-se de que a distribuição é justa. 

Jesus dá graças por cinco pães e dois peixinhos diante de cinco mil pessoas famintas. É a gratidão sobre o pouco que faz o muito. É pouco, mas é dom de Deus, e dom pode-se multiplicar, pois a graça partilhada tem alcance ilimitado. Nós, geralmente, só damos graças quando temos em abundância, porque, a nosso ver, é a abundância que significa graça.

Depois da ação de graças, o pão se multiplica, tem para todos, o quanto necessitam, e ainda sobra abundantemente. Quanto mais se partilha, mais se tem. A fome desse momento foi saciada, mas a vida continua. Jesus ensina como repartir, isto é, como as pessoas devem proceder na relação de umas com as outras.

A abundância de alimento é graça de Deus, mas é igualmente empenho de cada pessoa e de todas juntas.

Jesus é o primeiro responsável, mas quer partilhar com os seus. Isso exige a participação de todos.

A cena é fascinante: uma multidão dispersa, transformada pelo encontro com Jesus, já é capaz de sentar-se em grupos ordenados sobre a relva do campo, iguais, sem divisão em hierarquia e partilhando uma refeição simples e gratuita. Não é um banquete de ricos; não há vinho nem carnes. É a refeição frugal das pessoas que vivem junto ao lago: pão de cevada e peixe defumado.

Os que tinham algo para comer também foram repartindo com os outros. Na realidade, o verdadeiro milagre foi o da partilha, onde as pessoas famintas não se lançam vorazmente sobre os pães numa luta para conseguir os alimentos escassos. Compartilhar gratuitamente com os outros, com desconhecidos, e não acumular o que sobra, isso sim é milagre.

A comunhão bíblica se realiza entre os “distantes”, por meio de um gesto que não é de poder, mas de esvaziamento, não é de apropriação, mas de partilha, não é de fechamento, mas de abertura das mãos que acolhem, que distribuem...

O dinheiro continua hoje sendo a causa de toda desigualdade. Tudo tem um preço, incluídos os “bens espirituais”. A gratuidade e a partilha são gestos que estão desaparecendo de nossa sociedade.

Jesus abre outra lógica: a da partilha, frente à lógica do mercado, focado na apropriação e na acumulação.

Só se fará efetiva a nova comunidade quando pães e peixes entrarem na lógica do Reino. Sem oferecer o próprio pão, os próprios recursos, a própria pessoa, não há possibilidade de construção do Reino de Deus.

Em cada migalha de pão, em cada pedaço de peixe, há uma história de amores e trabalhos que vão passando de mão em mão, sem cobiça devoradora. Os bens deste mundo carregando dentro uma vocação fraterna e universal. São dons para todos.

Nesta refeição de todo o povo sobre o campo verde não se discrimina ninguém, não se pergunta a ninguém pelo seu passado, sua profissão ou sua situação moral e religiosa. Todos são acolhidos como expressão das entranhas compassivas de Deus, que chama todos a compartilhar sua mesa. Todos se sentem pessoas dignas e amadas.

Esta é a utopia do Reino: tudo está reconciliado: o cosmos, com a natureza verde e em paz; os produtos do trabalho humano, da generosidade do mar e da terra; e as pessoas, numa relação harmoniosa entre si e com Deus, sem exclusões, competições nem privilégios. A sensibilidade solidária de Jesus situa tudo na lógica do amor, que é a única força transformadora da história.

Texto bíblico: Jo 6,1-15

Na oração:

A oração é também questão de densidade de vida, de humanismo, de ativar a sensibilidade para com aqueles que não têm quem os defenda; é revelar que em nosso peito bate um coração de amor infinito, capaz de vibrar e mobilizar-nos em favor dos outros. A oração implica entrar em sintonia com o coração compassivo de Deus voltado para a miséria humana.

- Como seguidor(a) de Jesus, qual é a sua “lógica” diante do contexto social de exclusão e de miséria? A do Reino ou a do mercado neo-liberal?

- A pobreza, a miséria, a fome... despertam em você uma “santa indignação” ou uma acomodação doentia?

- Os gestos de partilha e solidariedade são um modo de proceder contínuo em sua vida?

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Ensinamento com a marca da compaixão

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ (Centro de Espiritualidade Inaciana), como sugestão para rezar o Evangelho do 16º Domingo do Tempo Comum (Ano B). 

“Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão (...)começou a ensinar-lhes muitas coisas”

 

Os discípulos regressaram da missão à qual Jesus os tinha enviado e Herodes acabara de assassinar João Batista. Jesus se retirou para descansar com os discípulos, do outro lado do lago. Precisavam tomar distância, conversar juntos e de maneira tranquila sobre esse momento dramático, em um espaço sossegado, mais íntimo e profundo, sem a urgência permanente que a pressão do povo introduzia em suas vidas e não tendo tempo nem para comer. Não eram pessoas das cidades importantes que procuravam Jesus. Diz o texto de Marcos que saíram “de todos os povoados” e foram “correndo”, com pressa, com expectativa e esperança, ansiosas para encontrar-se com Ele.

 

Ao ver a multidão, Jesus se comoveu até as entranhas, porque “andava como ovelhas sem pastor”, com fome, oprimida pelos impostos, desconcertada diante do presente e com medo difuso diante do futuro ameaçador e inseguro. E Ele começou a ensinar-lhes longamente, muitas coisas, de tal maneira que as horas foram passando sem se darem conta.

Jesus não só transmite um ensinamento, senão que cria uma relação nova com o povo e de uns com outros, segundo o espírito do Reino. Todos somos feitos para nos encontrar com um Tu inesgotável, que ilumine nossa existência e nos transforme inteiramente, de tal maneira que sejamos capazes de estabelecer relações novas com nossa própria história pessoal, com os outros e com toda a criação.

O ensinamento de Jesus revela-se, antes de tudo, como um encontro inspirador que o move a se aproximar de todas as pessoas, revelando-lhes a dignidade infinita que cada uma carrega dentro de si. Trata-se de um encontro que não vem envolvido em roupagens exóticas nem em rituais frios; sua grandeza se expressa numa proximidade tão simples e humana, onde a interação de sentimentos e afetos engrandece a todos.

Nesse sentido, o novo ensinamento de Jesus tem a marca da “compaixão”.

 

Um dos sintomas de desumanização, que está revelando seu triste rosto no contexto atual, é o fato de deixar-nos de vibrar com o que os outros vivem, viver como alheios uns dos outros, blindar-nos uns frente aos outros..., ou seja, incapacitar-nos para a compaixão.

A compaixão está cada vez mais ausente da esfera pública e de nossas relações com o outro diferente e com o outro distante que sofre. Aqui está a chave da incapacidade de nossa sociedade para responder aos desafios atuais.

Vivemos num contexto social onde somos ameaçados por uma forma sutil de “a-patia”. Aqui a compaixão se quebra com excessiva facilidade, se atrofia e se transforma em “sem-paixão”. Com isso, nossas relações se desumanizam.

Tal “sem-compaixão” é uma enfermidade social, um problema coletivo, algo que vai se fechando mais e mais, de tal modo que as pessoas vibram com menos gente, em círculos íntimos, e unicamente com quem faz parte do seu “gueto”.

Acostumamo-nos com a lógica deste mundo, que esvazia nossa capacidade de nos surpreender ou de nos inquietar; impermeabilizamos o coração frente à magnitude das feridas sociais, conformando-nos em responder “não há nada que fazer”. Vão desaparecendo os horizontes de sentido que incluem a alteridade. Qualquer implicação com o outro implica suspeita, frieza, distancia, preconceito...

Não basta a sensibilidade ou o sentimento. Não ficamos indiferentes quando a dor dos outros entra em nossas salas de estar. Mas, tão rápido como chega, o sentimento se vai, e não nos mobiliza porque não tem pontos de conexão com a realidade da exclusão.

 

A “privatização da vida”, a sensação de impotência diante das tragédias, a distância midiática (informação fria da realidade que não nos afeta e não desperta nossa paixão), a distância física, a não-comunicação (não há tempo para falar e escutar, os eletrônicos povoam nossos silêncios, o ativismo impede dedicar-nos uns aos outros), a falta de motivação (por quê deixar o outro invadir minha vida ou encher-me de inquietação?), a dificuldade para compreender a diferença (transitamos nos círculos de iguais ou semelhantes, compartilhamos gostos, modas, inquietudes, status, temos problemas comuns e metas similares, usamos produtos parecidos, lemos os mesmos livros e vemos os mesmos filmes), etc...

Quem olha para as manchetes de notícias, as escolhas e comportamentos atuais, talvez se deixe convencer de que a compaixão está perdendo a referência no elenco dos sentimentos humanos mais nobre. Afinal, produtividade, eficiência, competitividade, revelam-se “pobres” de atitudes compassivas.

 

No entanto, somos seguidores(as) do Compassivo; Jesus não passa “friamente” por nada. Ele não passa indiferente ao lado da fome, da doença, da exclusão, da morte..., não passa friamente ao lado das multidões que vivem como ovelhas sem pastor. Seu sentimento está sempre engajado: Ele é o homem da prontidão de sentimentos, que deixa transparecer uma profunda sensibilidade. Sente-se “tocado” pela dor e miséria.

E jamais fica em sentimentalismos supérfluos; sua empatia e simpatia extravasam-se em ações comandadas pela compaixão: ela flui e jorra de seu coração.

Os Evangelhos destacam os profundos sentimentos de humanidade, compaixão, empatia, ternura e solidariedade misericordiosa de Jesus.

Muitas vezes é mencionado que o Senhor foi “comovido até as entranhas” e teve “frêmitos de compaixão”; trata-se de sentimento eminentemente humano.

Até podemos fazer referência origem etimológica da palavra “compaixão”. E aqui é muito pouco o apelo ao vocábulo latino “cum-passio” (“padecer com”). É preciso um novo passo. Para “compaixão” é preciso ir até o grego antigo. Lá a compaixão está ligada às disposições maternas de conservar a vida. Naquela língua os termos “compaixão” e “útero” são equivalentes. Assim como o ventre materno acolhe a vida, envolve-a, protege-a e a faz nascer, algo semelhante fez o Senhor ao aproximar-se daquelas “ovelhas sem pastor”: suscitou-lhes a esperança com expressões de amor fraterno. Foi uma aproximação generativa, isto é, gerou impulsos para uma nova vida.

 

Num mundo em que o anonimato impera e uma falta de compromisso com o outro parece predominar, é preciso ativar a compaixão, que começa pela capacidade de fixar o olhar nos rostos, desmontando os pré-juizos, ou pela possibilidade de perguntar ao outro por sua vida, seus sonhos, suas preocupações, seus desejos e sua dor. Procurar entender seus motivos sem passar logo a interpretá-los, a etiquetá-los ou a julgá-los. Aprender a escutar suas histórias e a acompanhar suas inquietações.

A moção de compaixão permite que do coração humano brote a “ex-centricidade”.

A experiência cristã não nos imuniza contra a contaminação do “amor próprio, querer e interesse”; mas a pulsão solidária e compassiva para com o pobre e excluído, permanente e profunda, se converte na fornalha que purifica a insaciável auto-afirmação e interesses que todos temos, e vai gestando, pouco a pouco, personalidades ex-cêntricas, livres do domínio despótico do “ego”.


Texto bíblicoMc 6,30-34

 

Na oração:

Ser compassivo implica buscar e ativar uma disposição em sair das fronteiras do conhecido e do habitual, dos circuitos familiares e das dinâmicas mais rotineiras, para entrar em sintonia com as pessoas que são vítimas de estruturas sociais e políticas que geram miséria, dor e exclusão.

- Compaixão ou indiferença? Eis o desafio! Qual delas se manifesta com mais constância em seu dia-a-dia?


terça-feira, 6 de julho de 2021

Seguir Jesus é ter Entranhas Peregrinas

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ (Centro de Espiritualidade Inaciana), como sugestão para rezar o Evangelho do 15º Domingo do Tempo Comum (Ano B). 


“Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado” (Mc 6,8) 

O Evangelho deste domingo marca o começo de uma nova etapa na vida e missão de Jesus. Os discípulos vão estar incorporados à missão que, até agora, era realizada só pelo Mestre.

Depois da experiência de fracasso na sinagoga de seu povo, Jesus não só intensifica o anúncio da “boa notícia” do Reino, mas compromete os seus discípulos nesse ministério. A rejeição dos dirigentes e dos seus conterrâneos o obrigam a buscar outros interlocutores que não estavam “viciados” pelo ensinamento oficial.

Jesus, na Galileia, encontrou os seus caminhos: junto ao mar, nas estradas poeirentas, nas margens... Ele se fez “estrada” para encontrar aqueles que não tinham “lugar”, os deslocados, os socialmente rejeitados e que eram a razão de seu amor e do seu cuidado; fez-se solidário com aqueles que estavam à beira dos caminhos e os convidou a caminhar para um novo lugar. Na Galileia, Jesus teve suas preferências e escolheu o caminho da exclusão e da dor. Por isso, ao enviar seus seguidores, lançou-os na “estrada da vida”, para serem presenças de vida onde a vida era violentada: curar, expulsar demônios...

Para Ele, o caminho é o lugar do novo, das surpresas, dos encontros...

Inúmeros cristãos entendem sua fé só como uma “obrigação”. Há um conjunto de crenças que devem ser “aceitas”, embora muitos não conheçam seu conteúdo nem saibam o impacto que podem ter em suas vidas; há também um código de leis que “deve” ser observado, embora muitos não entendam bem tanta exigência atribuída a Deus; existem práticas religiosas que “devem” ser cumpridas, mesmo que seja de maneira mecânica. Esta maneira de compreender e viver a fé gera um tipo de cristão medíocre, sem desejo de Deus e sem criatividade nem paixão alguma por contagiar sua fé. Contenta-se com “cumprir”. Esta religião não tem atrativo algum; converte-se em um peso difícil de suportar e provoca alergia em muitos.

Na vivência cristã, muitos passam do seguimento do “Homem das estradas poeirentas” ao mero cumprimento de normas, ritos, doutrinas…

No entanto, o caminho de Jesus não vai pelo terreno pantanoso do legalismo e do moralismo, mas pelo terreno firme da misericórdia, do cuidado, do compromisso com a vida...

Jesus tinha alergia a lugares fechados, mofados...; ele preferia transitar pelos lugares abertos, arejados, porque se deixava conduzir pelo Espírito.

Já nas primeiras comunidades cristãs o seguimento de Jesus era vivido de outra maneira. A fé cristã não era entendida como um “sistema religioso”; a vivência do seguimento de Jesus era conhecida como “caminho”, que era a maneira mais acertada para viver com sentido e esperança. Dizia-se que o seguimento era um “caminho novo e vivo” e que foi “inaugurado por Jesus para nós”; um caminho que deve ser percorrido “com os olhos fixos n’Ele” (Heb 10,20; 12,2). Os cristãos eram conhecidos como os “adeptos do caminho”.

Por isso, seguir Jesus Cristo era aderir a Ele incondicionalmente, era “entrar” no seu caminho, recriá-lo a cada momento e percorrê-lo até o fim. Seguir era deixar-se con-figurar”, isto é, movimento pelo qual a pessoa ia sendo modelada à imagem de Jesus Cristo.

A nossa vida é um êxodo, um sair constante do modo fechado de viver para entrar em uma outra realidade nova. O peregrinar é o elemento determinante e com maior valor simbólico para toda a vida. Existem ainda céus por explorar, aventuras por empreender, pensamentos por experimentar e experiências por aceitar; falta-nos ainda muito por saber, por ver, por sentir, por desfrutar...

Precisamos ser discípulos(as) da escola da vida.

É de suma importância tomar consciência que a fé é um “percurso” e não um sistema religioso. E no percurso há de tudo: caminhada prazerosa e momentos de busca, desafio que é preciso superar, retrocessos, decisões, dúvidas e interrogações... Tudo faz parte do caminho, também as dúvidas que podem ser mais estimulantes que as poucas certezas e seguranças vividas de forma rotineira e simplista.

O caminho é coletivo, mas está feito de identidades particulares, onde cada um é responsável e cuidador de seu próprio processo itinerante. Cada pessoa é, onde habita, um fio tecedor de relações e interconexões, uma presença que ajuda a construir uma cultura de diálogo acolhedor, em permanente abertura ao encontro. Esta é a sabedoria divina que se expressa e se faz próxima em todos os detalhes da vida.

Cada um(a) é chamado(a) a fazer seu próprio percurso; cada um(a) é responsável da “aventura” de sua vida; cada um(a) tem seu próprio ritmo. Não é preciso forçar nada. No caminho cristão há etapas: as pessoas podem viver momentos e situações diferentes. O importante é “caminhar”, não se deter, escutar o chamado que a todos nos faz viver de maneira mais digna e ditosa.

“Fazer estada com Jesus” pede de todos nós uma atitude de abertura e de deslocamento frente ao outro, o que implica colocar-nos em seu lugar, deixar-nos questionar e desinstalar por ele... Importa, pois, re-descobrir com urgência o encontro como valor ético e como hábito permanente de vida.

Precisamos nos levantar cotidianamente de nossos ambientes atrofiados, arejar nossa vida, criar vínculos com aqueles que estão à margem; há sempre uma “estrada ferida” que nos espera.

Faz parte do processo de amadurecimento espiritual, abandonar as poeiras que, desnecessariamente, carregamos. Não se trata de esquecer o passado ou de ignorá-lo, abandonando nossa história. Mas há coisas e situações que carregamos que nos fazem ficar presos, impossibilitados de alcançar novos rumos, novas realizações. É preciso sacudir a poeira dos pés, em sinal de verdadeiro desapego. Desapegar-nos de coisas e situações é um processo importante no desenvolvimento de uma espiritualidade que nos faça crescer humanamente.

A orientação de Jesus nos faz recordar a impactante frase-conselho de Frida Kahlo: “Onde não puderes amar, não te demores”. Não há motivo razoável para que permaneçamos onde o amor não pode acontecer e se realizar. Ajuda-nos, ainda, a sabedoria poética de Mário Quintana, de que “amar é mudar a alma de casa”. O amor é sempre saída de nós mesmos. Mas há portas fechadas. Nesse caso, não é espiritualmente saudável permanecer com a poeira nos pés. É preciso sacudí-la, e seguir viagem.

A paixão pelo Reino nos mobiliza a levar adiante a missão, a ir aos lugares do mundo onde há mais necessidade e ali realizar obras duradouras de maior proveito e fruto. Para realizar esta nobre missão, não podemos permanecer sentados. Seguir Jesus exige de nós uma dinâmica continuada, um colocar-nos a caminho em direção às margens. Não podemos viver o chamado do “Rei Eterno” a partir de uma cômoda instalação pessoal. A disponibilidade, o despojamento e a mobilidade são exigências básicas.

Corremos o risco de viver em mundos-bolha; podemos construir nossa vida encapsulada em espaços feitos de hábito e segurança, convivendo com pessoas semelhantes a nós e dentro de situações estáveis. É difícil romper e sair do terreno conhecido, deixar o convencional. Tudo parece conspirar para que nos mantenhamos dentro dos limites politicamente corretos. Todos podemos terminar estabelecendo fronteiras vitais e sociais impermeáveis ao diferente. Se isso acontece, acabamos tendo perspectivas pequenas, visões atrofiadas e horizontes limitados, ignorando um mundo amplo, complexo e cheio de surpresas.

Deixar a vida estreita para entrar no vasto horizonte de vida proposto por Jesus: eis o desafio!

Texto bíblico:  Mc 6,7-13

Na oração:

Deus nos chama a cada dia para o desconhecido, para o novo; Deus nos tira de casa, nos faz sair do que é nosso, da segurança, da comodida-de... e nos faz entrar numa “terra nova”...

 - No “mapa espiritual” de seu interior (sentimentos, desejos, sonhos...) ainda existe uma “terra desconhecida”, que proporciona interesse à vida, suscita curiosidade, lhe impulsiona a caminhar?... 

Ou está tudo amarrado, formatado, atrofiado..., esvaziando seu espírito de busca?

sexta-feira, 2 de julho de 2021

S. Pedro e S. Paulo: duas identidades, uma só missão

Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ (Centro de Espiritualidade Inaciana), como sugestão para rezar o Evangelho da Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos.

“E vós, quem dizeis que eu sou?” – “Quem és tu, Senhor?”

O chamado de Jesus se apresenta de modos muito diferentes nos evangelhos, segundo o temperamento e as circunstâncias de cada pessoa.

Algumas vezes, o convite a seguir Jesus chega ao discípulo por mediação de outro: “encontramos o Messias”, diz André a seu irmão Pedro. O chamado chega a Pedro por meio de André, e a Natanael por meio de Felipe. E assim, o chamado de Jesus se prolonga, se estende e chega até nós.

Sempre é Deus quem tem a iniciativa no chamado, mas Ele chama sempre por mediações: através do próprio desejo e das próprias capacidades, através da profecia e da presença de uma pessoa concreta, através do grito e da necessidade dos sofredores...

Os(as) seguidores(as) de Jesus, movidos pela presença e pela promessa do Pai, se convertem em “pescadores do humano”, ou seja, em libertadores de homens e mulheres, na esperança e no compromisso em favor do Reino de Deus.

A liturgia da festa deste domingo nos apresenta duas leituras bíblicas, com duas perguntas impactantes, pois desvelam a identidade e a missão, presentes tanto naquele que faz a pergunta quanto naquele que responde.

No caso de Pedro, é Jesus quem toma a iniciativa e pergunta“e vós, quem dizeis que eu sou?”

Ao professar a identidade de Jesus (“o Filho de Deus”), Pedro redescobre também sua verdadeira identidade escondida debaixo de uma personalidade impulsiva, primária nas reações, voluntarista...

Mateus, no evangelho deste domingo, nos situa diante de um jogo de palavras entre “petros” e “Petra”, entre uma pedra movediça e a Rocha firme sobre a qual Jesus edificará sua nova comunidade.

O mesmo Simão é ao mesmo tempo “petros” e “Petra”, pedra do caminho e rocha, de tal modo que o sentido da promessa de Jesus seria: “Tu és Pedro/Pedra e sobre essa Pedra/Rocha (que és tu mesmo, Pedro, como pessoa) edificarei minha Igreja”.

Parece claro que petros/Pedro foi o apelido que Jesus quis dar a Simão. “Tu és só um petros”, simplesmente uma pedra movediça, cascalho sem estabilidade e que não serve para ser fundamento de uma casa. Isso parece ter sido Simão no princípio, para Jesus e para a comunidade mais antiga.

Mas, Mateus acrescenta agora que ele recebeu uma revelação especial de Deus, de tal forma que por ela (pelo dom do Pai), por sua confissão de fé, sem deixar de ser petro/cascalho, ele se converteu em Petra/Rocha firme da fé, alicerce da Igreja de Jesus.

A partir desta perspectiva, “esta Rocha” não se refere a Pedro como pessoa-pedra (com suas fragilidades e limitações), mas à confissão de fé que o Pai de Jesus lhe revelou. Apesar de ser pedra do caminho, Pedro recebeu uma revelação de Deus e sobre ela edificará Jesus sua Igreja (não sobre Pedro como pessoa, mas sobre sua confissão de fé). Esta relação entre Pedro (petros-pedra) e sua confissão de fé como Rocha (Petra), sobre a qual Jesus edificará sua igreja, constitui o centro teológico de Mateus, sua contribuição à história da comunidade cristã.

Mateus sabe que não tem sentido edificar a Casa/Igreja sobre uma pedra do caminho, ou seja, sobre cascalhos impróprios para a construção e que podem ser arrastados pela água da torrente. Mas ele sabe também que Simão, chamado Pedro/Pedra, está relacionado com a Petra/Rocha da Igreja de tal forma que nem as portas/poderes do inferno poderão prevalecer sobre ela ou derrubá-la.

Na situação de Paulo, é este mesmo que faz a Jesus a pergunta: “quem és tu Senhor” (Atos 9,5). Ao responder – “Eu sou Aquele a quem tu persegues”, Jesus pôs às claras a identidade violenta, dogmática, farisaica, legalista... de Saulo.

Daí a forte imagem da luz, no caminho de Damasco, que des-vela quem é Saulo e quem é Jesus.

O encontro com esta luz, ilumina os recantos violentos e obscuros da personalidade de Saulo. A partir dessa experiência, Saulo começa a travessia em direção à Paulo. Ele re-ordena seus instintos violentos, agressivos... em favor do Evangelho. Este é o verdadeiro sentido da conversão: não se mata os impulsos humanos, antes desordenados, mas os re-ordena a serviço de uma causa maior.

A tradição afirma que Saulo caiu do cavalo; uma imagem de forte simbolismo, sobretudo para a cultura daquela época: ter um cavalo é símbolo de status, de poder, de vaidade...; “cair do cavalo” expressa que Paulo, para entrar no caminho do seguimento de Jesus, precisou cair de sua prepotência, de seu autocentramento, de seu dogmatismo e preconceito.

Para que haja transformação interior, é preciso “cair ao chão”, voltar ao “húmus”, reconhecer-se como humano, cheio de limitações e fragilidades, mas também possuidor de ricas potencialidades.

Ao cair, Saulo esvazia-se de seu ego para deixar-se conduzir por outros e pelo Grande Outro.

O itinerário Pedro e Paulo, por diferentes caminhos, é um itinerário de humanização, encontro com a própria identidade, uma aventura na descoberta do “mundo interior”, que é o coração, onde acontece o mais importante e decisivo em cada pessoa. Este é o nível da graça, da gratuidade, da abundância de dons e riquezas, onde cada pessoa experimenta a unidade de seu ser e o sentido de sua existência. “Quem sou eu? Para quê vivo? Para quem? Qual é o meu lugar e missão no mundo?”

Toda pessoa possui dentro de sí uma profundidade que é seu mistério íntimo e pessoal.

Viver em profundidade significa “entrar” no âmago da própria vida, “descer” até os fundamentos do próprio ser, até às raízes mais profundas.

A própria interioridade é a rocha consistente e firme, bem talhada e preciosa que cada pessoa tem para encontrar segurança e caminhar na vida, superando as dificuldades no compromisso em favor da vida.

Com confiança em si e na rocha do próprio ser, todas as forças vitais se acham disponíveis para crescer dia-a-dia, para a pessoa se tornar aquilo que originalmente é chamada a ser.

 

Texto bíblico: Mt 16,13-20

Na oração:

É urgente gerar espaços que facilitem reabrir as vias de retorno ao “lar interior” onde é gestada a identidade de cada um e suas opções mais firmes.

Entendemos a “interioridade” como a arte de descer na própria intimidade, nas cavernas interiores, para estar a sós e em diálogo com Aquele que lhe dá o sentido mais profundo à existência e a seu projeto de vida.

Só no nível mais profundo que cada um(a) pode responder, com a própria vida, à pergunta instigante de Jesus: “Quem dizeis que eu sou?”